Mais um Clichê de Omegaverse... SQN! - 8. 60% de Verdade
8. 60% de Verdade
A casa de Ricardo ficava afastada do Centro, num condomínio antigo e luxuoso de muros altos, com espaço suficiente entre os vizinhos para que o dia a dia não fosse compartilhado.
Diante da fachada vitoriana, Solie pensou se tratar de uma casa densa, antiga e escura, porém ao cruzar a porta pesada, se surpreendeu ao se deparar com um ambiente moderno, claro e amplo.
Depois de entrar com suas duas malas, pode observar a sala de estar aberta, onde era possível contemplar o pé direito alto e portas infinitas envidraçadas que davam vista para um jardim extenso e bem cuidado. Passando pelos sofás e mesinhas confortáveis, descia um degrau indo em direção à parte de trás da sala, onde ficava a sala de jantar compartilhada com uma espaçosa cozinha modernizada e aparelhada. No andar de cima ficavam 4 quartos e o escritório.
Mais uma vez se surpreendeu com algo vindo de Ricardo, sua casa era realmente única.
Percebendo o quanto Solie estava encantado com o ambiente, Ricardo se sentiu impelido a falar sobre.
– Essa casa era originalmente dos meus avós, depois de meus pais e há dois anos quando decidiram viajar pelo mundo, passou a ser minha. Ano passado fiz uma reforma geral e a modernizei. Com exceção da fachada, não sobrou quase nada do projeto original.
– Realmente achei interessante a mudança de ambiente da fachada para o interior, é completamente inusitado. Acredito que você foi bem radical na transformação – comentou Solie admirado – Não teve pena de mudar as coisas e perder a memória dos seus avós e dos seus pais?
– Hummmm, tanto para meus pais, quanto para mim, essa casa nunca foi fonte de boas memórias.
– Oh… A história é tensa então.
– Sim. Meus avós, quer dizer, na verdade meu avô era rígido e absurdamente controlador. Ele tinha essa mentalidade de que os filhos tem que seguir o caminho dos pais e queria que seu único filho herdasse sua empresa de compra e venda de imóveis, mas meu pai não tinha essa intenção.
– Entendo. E seu pai queria fazer o quê?
– Ele conta que na época em que começou a sofrer pressão do meu avô para fazer faculdade de Administração de Empresas, conheceu minha mãe e ela o levou a se questionar se era aquilo que queria. Meu avô obviamente foi contra.
– A outra faculdade?
– A tudo! A possibilidade do meu pai escolher o próprio caminho e também ao relacionamento com minha mãe, pois já tinha negociado um casamento que era do seu interesse.
– Uau!!!
– Ele já tinha traçado o caminho e futuro do meu pai.
– E seu pai?
– Resumindo um história muito longa, depois de muita guerra, chantagem, brigas e ameaças do meu avô, meu pai juntou os panos e fugiu com minha mãe mochilando pelo mundo, sem paradeiro, sempre fugindo dos detetives que meu avô colocava atrás deles.
– O quê? Hahahahahaha, seu pai era muito louco!!! E sua mãe também! Mas… e a família dela?
– Minha avó materna também era contra. Os dois, meu avô paterno e minha avó materna já tinham casamentos arranjados para meus pais. Por isso, eles fugiram viajando de país em país por dois anos. Só pararam quando minha mãe engravidou de mim.
– Então você nasceu fora?
– Não, nasci aqui. Perto do parto, meus pais voltaram ainda escondidos e foram morar num bairro do subúrbio.
– E seus avós descobriram?
– Sim, mas os dois ignoraram meus pais quando souberam que minha mãe estava grávida.
– Sério? Nossa, que triste.
– Mas meus pais dizem que se sentiram aliviados por não precisarem mais fugir. Com isso, firmaram diversos negócios internacionais com os amigos e contatos que desenvolveram nas viagens e meu pai foi fazer Faculdade de Relações Internacionais. Ele trabalhava, estudava e ajudava minha mãe e ela trabalhava e me criava. Depois que terminou a faculdade, entre um emprego e outro, contatos importantes e indicações, meu pai virou Diplomata.
– Caramba! Que história!
– Mas a história dessa casa é que meu avô deserdou meu pai, como se isso fizesse alguma diferença! – Ricardo falou rindo – Daí deixou essa casa, já depredada e abandonada por ele há anos, como uma forma de punição.
– E a empresa? Faliu, alguém herdou?
– Os executivos assumiram. Hoje em dia é um grande conglomerado. A ironia disso, é que no fim, meu avô deixou boa parte das ações dele em meu nome.
– Agora meu coração apertou um pouquinho mais por omitir algumas verdades dos seus pais, eles parecem ser muito legais.
– São. De uma forma que nem mesmo eu compreendo.
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Alguns dias antes…
“Definitivamente, definitivamente não tem como contar que em menos de 24 horas conheci um homem num bate papo aleatório e assinei um contrato de namoro seguido de casamento falso. Sem chance. Não tem como”.
Solie podia contar todo tipo de asneiras e doideiras para seus amigos, porém, por mais que quisesse manter a promessa de confiança e transparência mútua com sua família, não conseguia abrir a boca para contar esses pequenos detalhes muito relevantes, que deixariam seus pais estupefatos ou mesmo decepcionados com ele.
Perder o apoio e o respeito de sua família, o deixava em pânico.
Ele teria que arcar com as consequências de sua escolha. Dessa forma, resolveu criar um enredo parcial, omitindo a parte sórdida e floreando o contexto para que ficasse palatável.
– Só 60% de verdade Ricardo! Vamos excluir que nos conhecemos num bate papo e também que temos um contrato.
– E como nos conhecemos então? – Ricardo de braços cruzados, estava aborrecido com a proposta de Solie, ele queria falar a verdade a seus pais para que não alimentassem ilusões desnecessárias sobre casamento e filhos.
– Humm, deixa ver… – Solie sentou para pensar uma versão que fosse menos absurda para ambas as famílias – Ah! Digamos que você me contratou para ser seu Personal Stylist, ficamos amigos, rolou esse lance na sua empresa, você me fez a proposta e eu como sou muito legal resolvi te ajudar. O que acha? Ah! Mas tem que ser a mesma história para nossos pais, sem tirar nem pôr!
– Hum, pensando bem, acho que omitir essa história do bate papo é bom para ambas as partes – respondeu Ricardo ainda refletindo.
– O contrato também!!! E nada de falar sobre dinheiro.
– Ok, tudo bem. O importante é saberem que nosso relacionamento é falso.
– Fechado!
.
.
.
Com a desculpa de que há muito não via seus pais, Solie viajou para sua cidade natal a fim de contar a novidade.
– Mas Solie, por quanto tempo vocês vão fingir isso?
– Ah, ainda não pensamos nisso, mas não é nada demais e não quero que fiquem preocupados, nem nada do tipo. Só vim aqui falar sobre, porque vou passar um tempo entre minha casa e a casa de Ricardo.
– Mas ele não é um alpha? – muito preocupada perguntou Sara, mãe de Solie – Como você irá viver na mesma casa que um alpha?
– Mãe, nós já pensamos em tudo! Ficaremos fora quando eu estiver já próximo do ciclo de calor e ele no rut. Ah! E também, Ricardo gosta de mulheres alphas, além disso, ele não faz o meu tipo, mãe! – mentiu tentando acalmar sua mãe – Como te disse somos amigos. Por favor, não fique preocupada, nada irá acontecer – falou abraçando a mãe e lhe dando um beijo na bochecha.
– Não acho isso certo – Sara o afastou aborrecida e ainda preocupada – Alphas e ômegas convivendo juntos sem um relacionamento é algo perigoso meu filho, por mais que vocês não se sintam atraídos.
– Mas mãe, sempre tive meus casos com alphas e betas mesmo sendo ômega e isso nunca foi um problema, por que um relacionamento falso para ajudar um amigo é problemático?
– Você por um acaso sai com algum dos seus casos quando está no ciclo de calor? Que eu saiba, você foi educado para ter liberdade com responsabilidade, então não faz isso! Por que não? Porque além de correr o risco de ser violado contra sua vontade, pode ficar grávido. Você sabe o que significa conviver com um alpha sem ter um relacionamento ou estar marcado? Seu ciclo pode ser alterado devido aos feromônios do alpha e vir quando menos esperar! E aí, não importa se ele gosta de mulheres alpha ou você de outros caras, os feromônios farão a escolha por vocês e uma gravidez indesejada pode vir dessa situação!
-… – Solie se encolheu sem saber o que responder.
– E além disso, vocês vão se casar no papel? Quer dizer, quando você encontrar além que ame, já será um divorciado!
Enquanto isso, seu pai ainda estava calado.
– Pai? – Solie olhou para seu pai com um olhar especulativo, querendo saber o que se passava.
– Pelo que te conheço, você já tomou a decisão e só está nos comunicando. O que você quer que eu fale? – ele se levantou, lhe deu as costas, se retirou para o quarto e de lá não saiu mais. Seu pai estava profundamente aborrecido com a notícia.
– Pai! Pai!!! – Solie angustiado o chamou, mas não obteve resposta. Seu pai não retornou até que fosse embora naquele dia e nem mesmo suas mensagens nas semanas seguintes.
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É, já era de se esperar que os pais não iram gostar, né?
E aí? Vc contaria que conheceu um cara num bate papo e resolveu casar por que estava entendiado e não tinha como pagar as dívidas?
Qual estória mirabolante inventaria?
Conta aí!
Publicado por:
- Nick Blezeira
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🌈 Apaixonada pelo Universo BL 🏳️🌈
Escreve sobre personagens empoderados.
Autora de 🔥AGÊNCIA DE ALPHAS🔞 e
♥️ MAIS UM CLICHÊ DE OMEGAVERSE... SQN!💐
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