A Noite Em Questão - VI
BERLIAC
O corpo foi encontrado submerso, havia uma ala afastada do hotel aonde ocorria um evento de degustação dos novos vinhos Bogart’s, um homem saiu, era por volta das onze horas, só foram desconfiar na madrugada quando os faxineiros sentiram um cheiro terrível percorrendo o ambiente, pensaram em lavar tudo, fazer uma limpa e desinfetar, pensando se tratar de um ninho de ratos mortos atraídos pela abundância de alimentos da noite anterior, surpresos eles ficaram ao puxar as cordas do poço e se depararem com uma água vermelha e escurecida, quando o balde caiu um rio de sangue se formou, o inspetor foi o primeiro a girar a rolha do poço, olhou para baixo, logo ele sentiu o cheiro fúnebre e asqueroso vindo ao ar, lá embaixo há poucos metros estava o corpo de Jerome Knight P.H. Davies, CEO da Davies Corporation, empresa esta da sua família a anos, filho mais novo do grupo Knight, enviaram os pêsames aos parentes por volta das quatro horas da manhã, o corpo foi levado meia hora depois, há apenas alguns quilômetros de distância do restaurante aonde eu estava, enquanto eu me perdia na noite Jerome Knight foi brutalmente assassinado e teve seu corpo, ou melhor, parte do seu corpo jogado dentro de um poço.
A sensação era inquietante, olhando para o céu azul que nascia diante de meus olhos eu me perguntava se seria aquilo um sinal de sorte ou de azar, havia algo mais, o coração, o coração havia sido arrancado, era o que me fazia estremecer e pensar com cuidado, Jerome era um alfa dominante, assim como Walker Siobhan, assim como eu, o cheiro é o mesmo, terra molhada, água de chuva, tudo se mistura perante o medo, não ouso me mexer.
Eu havia o visto na caça á raposa, ele havia esbarrado em mim acidentalmente, eu me imagino em seu lugar, ele saiu para jantar sem saber que aquela seria a ultima coisa que faria, o seu cavalo era grande de pele clara, peito nu ao vento e cabelos brilhantes, eu já não me lembro mais dos seus olhos, o meu coração começa a doer, é algo estranho, aquele homem tão alto, tão forte como eu, o que poderia tê-lo matado? O que neste mundo poderia ser tão forte ao ponto de tirar a vida de alguém que esta no topo da cadeia alimentar? Afinal o que poderia matar dois alfas dominantes sem deixar rastros?
Se eu fechar os olhos agora posso sentir o cheiro dele permeando minhas roupas, tal olor inexplicável me fez perder o controle, é frio quando se esta distante, quando se aproxima aos poucos começa a esquentar o seu corpo inteiro, a pele escura brilhava sobre a luz do luar, peito nu, pude ver, porém nada se comparava ao brilho das gotas de água escorrendo pelo seu pescoço, sua aura escura e misteriosa, tamanha ternura tinha em seu olhar, era próximo, ao mesmo tempo distante, era escuro, mais escuro do que a noite, no centro brilhava refletindo a lua, belíssimo, de fato, eu lembro de ter me aproximado, lembro de ter chegado tão perto, ao ponto de quase toca-lo, quando pude sentir os seus feromônios perdi o controle, um calor infernal permeou o meu corpo, subindo da genitália até o pescoço, era como dançar nu de frente para uma fogueira, o calor era irreal, quente e macio, apertado, infernal.
Minha visão começou a falhar aos poucos, logo tudo se desfocou, a única coisa que eu via era aquele ômega, quando ele se afastou fiquei perdido porém eu o segui, quando toquei sua pele pela primeira vez senti um arrepio subindo pelos meus dedos, dado certo momento eu estava tão próximo dele que se abrisse a boca poderia devora-lo por completo, eu olhei em seus olhos, o calor dentro de mim se alastrava cada vez mais, me perdi em meus pensamentos, imaginei-o nu diante de meus olhos, como se estivesse se despindo aos poucos retirando aquela calça surrada e jogando os suspensórios de lado, vi seus cabelos, pareciam macios como nuvens de uma manhã ensolarada de verão, desejei possuir seu corpo lá mesmo, porém me faltava a coragem, mesmo que tentasse me manter são e firme diante daquele ômega por dentro um turbilhão de sentimentos me atingira feito um onda bruta, meu coração, eu mal podia ouvir as batidas de meu próprio coração, agarrei seu rosto no instante em que senti dentro de mim um ardência percorrendo meu peito, seus lábios, carnudos e escurecidos, tão macios da fora que eu fantasiava, quando pressionei-os contra os meus me senti completo, foi mais forte do que eu, foram meus instintos, não é por minha causa que aquele infame acidente ocorreu, foi ele, tudo isso é culpa dele, ele me seduziu, ele me arrastou para a fogueira, dançando nu com o diabo, seu olhar, seu cheiro, ele me atraiu até aquele beco, me seduziu com o seu corpo desnudo e brilhante, com seu olhar, quando já me tinha em seus braços ele me atacou.
Sinto o arder sobre a minha face, o arranhão, sim, eu me lembro, tal este que me tirou do transe, quando percebi o que havia feito me senti tonto, minhas pernas bambearam, cambaleei para trás, eu o vi, diante de meus olhos, de pé me encarando com seus olhos pretos bem abertos; “Bastardo!” Eu gritei, perdi o controle, pela primeira vez havia baixado a minha guarda e pela primeira vez alguém me atacara, ele não disse nada, seus lábios não se mexiam, foi quando me dei conta de que estava sozinho, estremeci, o medo voltou para mim de forma avassaladora, como pudera eu, grato e orgulhoso de minha fé tocar aquele pária? Aquele demônio.
Pareceu-me tão inofensivo que vim a me esquecer da real razão de estar lá, eu não deveria, não deveria tê-lo seguido noite adentro, eu deveria ter voltado para a suíte, na realidade eu jamais deveria ter saído de lá, talvez se eu tivesse ficado com o grupo e jantado no hotel nada disso teria acontecido, eu não teria esse corte e talvez Jerome Knight não teria morrido, isso é tudo culpa minha, eu envergonhei a minha própria raça, eu baixei a guarda e por conta disto um homem morreu.
Deixei que a besta corresse solta pela noite e alguém acabou pagando com a vida pelo meu erro, dei dois passos para trás foi quando voltei imediatamente ao hall, não havia mais ninguém, estava vazio, aos poucos ia amanhecendo, eu apertei meu passo até entrar no elevador, a agonia pulava em mim a medida que o elevador a subindo, passando assim por todos os andares, já no corredor não ouve hesitação, avancei sobre a porta, minhas mãos tremiam e eu sentia vontade de vomitar, quando finalmente o cartão liberou o acesso entrei na suíte feito um louco e tranquei a porta, agora, jogado sobre o chão podia finalmente ouvir as batidas do meu coração delator, as lágrimas escorrem pelo meu rosto, estou tremulo, apavorado, não me sinto seguro, eu sei que não estou seguro, afinal há um assassino a solta e ele parece estar disposto a fazer mais vítimas, mas oque mais me assusta é o fato das que suas duas vítimas, Walker Siobhan e Jerome Knight P.H Davies, ambos Alfas Dominantes no topo da sociedade e da cadeia alimentar.
Deitado sobre a cama posso sentir o cheiro de terra passando pela janela, olho para a escuridão ao meu redor, vejo as cortinas ofuscando o brilho do sol que luta para entrar e iluminar o quarto, o azul se perdeu em meio aos meus pensamentos, agora, portanto, vejo as tonalidades amarronzadas e escuras se intensificando, meu coração já não bate com tanta frequência, sinto que aos poucos vou morrendo cada vez mais, como se caminhasse dentre um corredor extenso deixando partes de mim pelo caminho, estava com sono, meu corpo pesava, meus olhos também, porém, eu tinha medo, medo de fechar os olhos e ver aquele rosto, medo de fechar os olhos e me deparar com aquele olhar em meio aos meus pensamentos.
Fui me aquecendo aos poucos e deixando os temores e tremores indo embora, precisava descansar depois de tanta turbulência, a minha mente ainda não havia compreendido por completo o real cenário no qual eu me encontrava, logo fechei os olhos, quando a escuridão se tornou familiar deixei que meu corpo se tornasse parte das cobertas, não havia nada que pudesse me parar, por um momento foi tão bom que pensei estar flutuando, flutuando por lugares aonde ninguém se quer alcançaria, me imaginei saindo pela janela, indo pelos ares, tocando nuvens, sentindo o sol sobre a minha pele, olhando para baixo podia ver todos eles, os crucificados, indefesos, párias desta sociedade, mesmo juntos ainda sozinhos, todos eles amontoados ao redor do edifício, era como o céu.
Fui me perdendo naquela sensação e adormeci, caí em um sono profundo, daqueles assustadores que te fazem deixar de sentir a própria pele, um sono silencioso, um sono perigoso que me desconectava da vida real, foi quando começou, de repente em meio ao breu senti o vento batendo contra o meu rosto, essa sensação, eu a amo, porém junta a ela subia ao ar o cheiro de terra molhada, por algum motivo eu não havia estremecido, muito menos sentido medo, pelo contrário parecia mais encorajado em abrir meus olhos, de certa forma assim o fiz.
Ao meu redor surgiram árvores altas e escuras, o cheiro se alastrou, permaneci de pé, olhava para frente, acho que no fim das contas sabia que não conseguiria correr, sabia que mesmo se tentasse acabaria escorregando e deixando o desespero tomar conta de mim, foi quando o vi, estava de pé diante do rio, a água era calma, escura como a noite, refletindo a lua pálida, ele estava lá, parecia perdido como um anjo caído, porém eu sabia que ele não era um anjo, sua mão deslizou até o suspensório, ele o deixou cair de lado, foi desabotoando a camisa branca aos poucos, eu não podia ver seus rosto mas sabia que ele estava paralisado, a cabeça inclinada, mirada ao céu escuro como se mirasse a uma bela paisagem, quando a camisa caiu pude ver seu torso exposto, pele escura e vivida, brilhante perante a luz do luar, depois tratou de tirar os sapatos, as meias, por fim a calça, estava nu, nu diante de meus olhos, naquele mesmo instante começou a caminhar lentamente em direção ao rio.
A água ia o consumindo aos poucos, comecei a ficar tenso, sentindo um calor infernal, aquele mesmo calor, aquela sensação curiosa que começava na ponta dos pés e subia até a genitália, foi quando saí de perto das árvores, comecei a me aproximar sem medo de ser notado, aos poucos pelo canto da boca em meio a sussurros eu me via sussurrando o seu nome; “Odon, Odon, Odon…” Começou a ficar cada vez mais quente, alcancei-o quando a água estava batendo em sua cintura, segurei-o, o mesmo não lutou para se soltar de mim, toquei suas costas e lentamente ele virou a cabeça, seus olhos, escuros como a noite, belíssimos, não consegui dizer nada, tudo que via ali era teu corpo nu, escuro e brilhoso perante a luz do luar, seu olhar me incendiou, senti e vi teus cabelos crespos, o fogo começou a arder em mim, foi neste momento que senti tuas mãos me puxando, lutei para voltar até as margens do rio porém foras mais forte que eu, ao me puxar senti seus lábios tocando os meus, pressionando assim como eu o havia feito sobre seu feitiço, me puxou para o fundo do rio, de lá eu não voltei.
Abri meus olhos ofegante, de alguma forma o meu coração não batia fortemente como de costume, era como se ainda estivesse naquele transe, eu senti o calor dentre as minhas pernas, não era preciso olhar dentro de minha calça para saber o que era aquilo, meu rosto enrubesceu, como podia ter tais pensamentos pecaminosos justamente diante de uma situação como aquela? Fiquei envergonhado de minha própria persona, jamais poderia me imaginar em tal situação, mesmo que eu não devesse estar fazendo aquilo eu não poderia simplesmente ignorar a minha condição, são instintos, minha mão deslizou para dentro da cueca, fechei os olhos para me poupar da humilhação, não é culpa minha afinal, por que fizera o mal tão forte e sedutor? Comecei a buscar em meio a minha mente as memórias, não foi difícil no fim, eu vi tudo, vi o grande muro de pedras, recanto de paisagem, vi torneira, água corrente e gélida, vi Odon, de pé, seminu, vi a água escorrendo pela sua pele, lembrei de seus olhos, seu olhar, lembrei de seus lábios, lembrei de tudo, a medida em que voltava a vê-lo em meu sonho tudo se esquentava, ia tirando as roupas e entrando no rio, tirando as roupas e entrando no rio, como um looping infinito, todas as vezes eu olhava para ele, focava em cada arte de seu corpo, procurava me lembrar de cada detalhe, com meu corpo ia fazendo cada vez mais rápido sentindo um arrepio na barriga, assim como em uma montanha russa, havia tanto tempo que eu não me tocava que havia esquecido o quanto era bom.
Estava acostumado a ter sempre um corpo diferente ao meu dispor, desta vez estava experimentando algo novo, ia me aquecendo, era como se houvesse uma fogueira debaixo da cama, comecei a ouvir o barulho aos poucos, sempre o mesmo som, o que antes era seco aos poucos foi se tornando molhado eu me remexia na cama, esfregava a ponta dos pés sobre o ar, mordia os lábios lentamente, com cuidado para não me ferir, meus olhos abriam e fechavam como se estivesse tendo um tique psicótico, vou apagando aos poucos, me deixo levar pelo pecado da carne que em mim fala mais alto, me torno então um servo da luxúria e do prazer carnal, um pecador.
Publicado por:
- Ambroise Houd
- Escritora amadora, leio e escrevo sobre temáticas de misterio, assassinato e suspense policial, atualmente estou escrevendo a Novel A Noite Em Questão que está disponível neste site.
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