A Noite Em Questão - V
ODON
Nada poderia explicar a sensação que tive ao ver aquele homem pela primeira vez.
“Eu me chamo Odon.” Digo, seu olhar caí sobre mim, ele parece perdido, se aproxima cada vez mais, tento ao máximo esconder o meu pavor enquanto sinto um arrepio subindo pelas minhas costas, bem atrás do meu pescoço, ele me observa, vendo seus olhos cinzentos brilhantes e levemente esverdeados me lembro exatamente de quem ele é, o mesmo homem que vi no celeiro, no mesmo momento hesito, um piso em falso me denuncia, no instante em que faço isso ele parece sair do transe, olha nos meus olhos; “Não tem medo?” Ele questiona, eu o encaro. “Tenho, mas você também tem.” Respondo, ele continua me observando, a minha resposta parece ter lhe causado atrito, ele arqueia as sobrancelhas. “O que te faz pensar assim?” Ele me pergunta, olho para ele, diante da luz da lua consigo notar o quão alto este homem é.
“O que poderia me fazer pensar de outra maneira?” Rebato sua pergunta com outra, o deixando sem resposta por um momento, noto um tom de surpresa em sua face pálida, ele agita os braços, olha ao redor; “Bem, vejamos…” Murmura o homem; “Eu sou bem maior do que você.” Ele diz, olho para o seu corpo, vejo que não mente. “Não me faz diferença alguma.” Digo. “Eu não o conheço, por esta razão não devo teme-lo.” Respondo, desta vez lhe arranco um leve sorriso, vejo seus dentes brilhantes, ele continua me encarando; “Esta certo.” Ele diz. “Não deveria temer o que tanto considera desconhecido.” Fala. “O que você faz aqui?” Questiono-o, não é surpresa a sua reação, noto que ele sabe que não deveria estar lá, afinal era a área dos empregados, noto seu olhar mudando, eu me viro, torno a descansar meu braço sobre a água corrente; “Como conseguiu este arranhão?” Ele me questiona, olho para baixo. “Ela era pequena e ágil, tinha pelagem alaranjada.” Respondo. “Uma raposa.” Ele completa; “Parece que encontrou-a antes de todos nós.” Ele diz, olho para o braço, o sangue já não transborda mais, ele apenas brilha perante a luz, já não é mais avermelhado, agora o vejo escuro como o petróleo, observo por alguns momentos, a raposa passou pela grade externa, nunca havia visto uma na vida, estendi minha mão, por um momento ela me observou, seus olhos eram tão negros quanto os meus, ela se aproximou, tudo que pude sentir foi suas unhas sobre minha pele, no fim a infeliz mergulhou entre os arbustos e sumiu.
Volto a mim, permaneço em silêncio e me ajoelho diante da torneira, a sombra do homem paira sobre mim, mesmo me sentindo assustado penso em ignora-lo até que perceba e vá embora, o que ele por si não faz, seus passos fazem barulho, ele chega bem perto, tanto que quase pode me tocar; “Seus olhos são tão belos.” Ele diz, eu me viro, olho para ele, parado diante de mim feito um fantasma, sua expressão é vazia, aberta para expectativas e especulações, eu olho para baixo; “Obrigado.” Respondo em agradecimento, voltou a olhar para a água, isso é quando sinto a sua mão passando pelo meu rosto, eu me assusto, não ouso me mexer.
Leva meu rosto ao seu encontro enquanto me encara; “Odon.” Ele suspira. “Seus cabelos também são muito belos.” Diz, novamente agradeço, desta vez não consigo desviar o olhar, tento olhar para a lua;
“Nem pense nisto.” Ele diz, continuando a segurar o meu rosto, logo ele me solta e se apruma. “Cheguei mais perto.” Ele ordena, imediatamente sinto meu coração acelerando, olho ao redor, há apenas a escada porém sei que ele me alcançaria antes que pudesse gritar, a esta altura todos já devem ter deixado o restaurante; “Por quê?” Questiono, ele me observa. “Eu quero sentir o seu cheiro.” Após ouviu tais palavras sinto um frio percorrendo a minha espinha, não era como se eu tivesse muitas opções, ele era muito grande, um alfa, não apenas um comum, um alfa dominante, e ele não havia soltado seus feromônios, ainda, mas sei que planeja fazer isto.
Eu me levanto, estou sem a minha camisa, dou um passo para trás, encosto minhas costas sobre as pedras gélidas da parede, ele se aproxima, sinto a sua respiração no meu pescoço, sinto a sua mão sobre a minha face, seus dedos deslizando sobre a minha orelha, ele não sorri, permanece neutro com aquela mesma expressão vazia, olho para baixo, não alcanço o chão, apenas para baixo, tento fechar os olhos, devo gritar, mas eu tenho medo das consequências deste ato, está situação é um tanto quanto aterrorizante, um homem como este se aproxima de mim nesta noite tão limpa, no momento ouço a sua voz, bem perto do meu ouvido;
“Por um momento você quase conseguiu me enganar.” Ele disse, começou a abrir um sorriso, confuso não lhe dei confiança, nem se quer ousei levantar o olhar; “Eu me pergunto como alguém como você foi capaz de fazer uma coisa como aquela.” Falou passando a mão em meu rosto, o levantou, me fazendo olhar para ele; “Nem pense em desviar o olhar.” Disse me repreendendo.
“Eu não sei do que o senhor esta falando.” Digo, ele sorri, vejo seus olhos brilhantes que parecem sorrir também, suas mãos deslizando sobre minha face e o meu pescoço tudo isso parece irreal, tanto quanto um pesadelo daquele que não se acorda tão depressa, quero fechar meus olhos e acordar no meu quarto sabendo que tudo não se passou de um sonho ruim, eu estou com medo, eu estou com muito medo, olho no olho ao pouco fui perdendo o medo da escuridão, aqueles olhos cinzentos metiam mais medo do que qualquer monstro que poderia se esconder no escuros a noite, acontece que aquele era real, do tipo que estava em todos lugar, começo a sentir uma vontade grande de chorar e de gritar, fica tudo entalado na minha garganta, querendo sair a todo momento.
“O lobo caminha entre as ovelhas.” Ele diz olhando nos meus olhos. “Ele pode falar como elas, pode agir como elas, ele pode até cheirar como elas.” Sua voz é baixa, como um sussurro, ao mesmo tempo é firme e grossa de modo que parece me repreender a todo segundo. “Mas ele não é uma delas.”
“Não entendo.” Respondo passando meu braço sobre o seu peito e o afastando, logo me aprumo e trato de pegar a minha camisa, ajeito os meus suspensórios, ignoro a sua presença; “Não vai poder se esconde por muito tempo.” Ouço sua voz, desta vez mais alta. “O que isso significa?” Questiono.
“Significa que eu estou de olho em você.” Ele exclama de modo bruto, ele agarra o meu braço com força, no mesmo instante tomo um susto, logo me viro, ele se aproxima rapidamente, sinto sua mão prestes a alcançar minha face novamente, desvio o rosto, desta vez ele não poupa esforços em me puxar, seus lábios estão tão próximos, seus olhos brilhantes também; “Eu pensei ter visto de tudo nesta vida mas jamais imaginei me deparar com alguém como você.” Diz, sua voz firme e nervosa me assusta, sinto como se estivesse em um interrogatório, o coração bate fortemente, repetidamente, sem parar, como o tic-tac de um relógio, sinto como se estivesse contando os segundos de minha vida, parece que vou vomitar, parece que o meu coração vai sair pela boca, novamente vem a mim aquela vontade, vontade de chorar até me afogar em minhas próprias lágrimas, por fim virar um peixinho e sair nadando no rio de mágoas que eu mesmo criei; “Eu me pergunto se esse é o rosto de um assassino.” Ele disse. “Seriam esses os cabelos de um assassino?” Questionou enquanto me acariciava o couro cabeludo. “Seriam esses os olhos de um assassino?” Suas mãos estavam sobre minha face novamente, estava passando de todos os limites, o brilho dos seus olhos cinzentos pareciam os olhos verazes e mortais de um predador noturno, era como se estivesse prestes a me atacar.
Já não conseguia mais respirar, ele estava soltando os seus feromônios, suas mãos sobre minha face me apertando, seus olhos que brilhavam feito pedras preciosas, seus feromônios, assim que ele se aproximou pude sentir seus lábios tocando os meus brutamente, me pressionando, era a primeira vez que eu beijava alguém, comecei a espernear, tentar das socos e empurrões, era impossível, ele não me soltava, era mais forte que eu, assustado, desesperado senti as lágrimas escorrendo, abri as minhas mãos, precisava ter calma, precisava ter muita calma, arqueei os meus dedos, em menos de um segundo arranhei a sua face direita.
Ele gritou, foi um barulho alto, tão alto quanto a um rugido, ele pôs a mão sobre a pele, saía sangue, seus olhos brilhavam, ele me encarava, seu olhar era mortal, ele tentou dizer algo mais parecia sentir muita dor; “Bastardo!” Gritou, eu me assustei, estremeci, dentre seus dedos pálidos escorria o líquido vermelho rubro, eu cambaleei para trás, vi seus olhos voltando ao normal, era como se novamente estivesse saído de um transe, parecia perdido, olhou para mim e se afastou com a mão sobre o rosto, a afastou da pele, parecia sentir o vento sobre a sua carne, o arranhão não foi profundo, uma linha do tamanho de um dedo mínimo pintava o vermelho em sua pele pálida, ele parecia espantado, como se fosse aquela a primeira vez em que sangrava em toda a sua vida, parecia um fantasma parado ali, de pé, com os olhos bem arregalados.
Não hesitei, me virei, passei por ele sem hesitar, mesmo com a minha camisa mal abotoada e suja de sangue comecei a correr, passando pelo beco escuro e pela grande escadaria do hotel, precisava chegar ao dormitório, precisava ao menos encontrar alguém, porém a noite era escura, fui me embrenhando entre as árvores e mudando a minha rota, estava tonto e estranhamente cansado, aliviado pelo cheiro do alfa ter se perdido em meio ao aroma da noite, não muito tempo depois caí sobre a terra ao lado das raízes expostas das grandes árvores da floresta que cresciam para fora do solo, meus olhos se fecharam no imediato, eu simplesmente adormeci.
Publicado por:
- Ambroise Houd
- Escritora amadora, leio e escrevo sobre temáticas de misterio, assassinato e suspense policial, atualmente estou escrevendo a Novel A Noite Em Questão que está disponível neste site.
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