A Década Depois Da Primavera Livro 01 - Capítulo 02
Quando Zhang perguntou onde estava, olhei para o prédio atrás de mim, grande e imponente e respondi normalmente:
— Em casa… qual é o problema?
— Sabe, o Gerente gostou do seu projeto! — Essa pessoa era a única que estava interessada no meu bem estar. — Logo, logo você vai estar trabalhando em um bom emprego e poderá viver sua vida livremente! — A voz animada de Zhang Yanmei era reconfortante. Ela estava me ajudando a conseguir um emprego.
Essa pessoa era muito boa para mim, minha única amiga. Nos conhecemos logo depois que ela chegou da China com sua falecida avó. No último ano do ensino fundamental, há anos atrás.
Nossa amizade começou timidamente e foi se tornando mais íntima ao longo do tempo.
Eu rapidamente balancei minha cabeça para me livrar dos pensamentos extras em minha mente, não tinha realmente a intenção de incomodá-la, depois de todos esses anos enchendo sua mente com meus problemas, desisti da ideia de contar para ela.
— Estou contente. — Minha voz estava mais rouca do que eu pensava, e não pude deixar de pigarrear.
— Não ouse insultar a inteligência desta mulher! Estou ouvindo tráfego e o barulho constante dos pedestres. Obviamente, você não está em casa! — Zhang não falou mais nada, esperando silenciosamente que eu falasse. Não havia como escapar e não queria mentir.
— Estou no hospital. — Ela não ficou surpresa, já sabia disso. Então, prossegui: — Estou com um grande problema.
— Que problema? Você está bem? — Desta vez, ela estava obviamente surpresa. — Você passou mal de novo?
— Não. É só… — ri amargamente. Olhei para o exame amassado na lata de lixo. — Estou… — Tive que reunir toda a minha coragem para pronunciar a última palavra. — Grávido.
Houve uma longa pausa do outro lado da linha; claramente, ela não esperava que as coisas tomassem esse rumo. Para ser sincero, eu também não esperava.
— Não sei como reagir, Oscar. Apenas… sinto muito. — Nossa amizade nasceu de momentos nublados e pacíficos, amigos que poderiam confortar um ao outro. No segundo seguinte, ela abriu a boca novamente. Desta vez, o que ela disse já era o que eu imaginava. — Agora o divórcio será complicado. O que você pretende fazer?
— Não se preocupe, não vou deixar Dominic descobrir… eu acho — respondi.
— Mesmo que a reação dele seja incerta, estou aqui para te apoiar. — Zhang me fez rir levemente.
— Vou desligar, nos falamos depois — me despedi.
Depois de encerrar a ligação, fiquei ali por um tempo, observando o tráfego da estrada. Sentia-me confuso e, mesmo com minha consciência alertando que não era o certo, liguei para Dominic.
Desbloqueei meu celular e liguei para aquele homem frio. Dom não atendeu na primeira ligação, ele claramente deixou que chamasse até a ligação cair, no entanto, eu insisti e liguei de novo. Desta vez, ele atendeu.
Talvez ele não esperasse que eu fosse tão sem vergonha a ponto de ligar para ele, principalmente depois que decidimos nos divorciar. Mas como esse assunto também estava relacionado a ele, ele não poderia ser tão insensível.
— Há algo errado? — Dom perguntou, indiferente. Por um momento, eu não sabia o que dizer, pois estava em êxtase ouvindo sua voz.
Eu ainda gostava dele, sei que é loucura. No coração não se manda.
— Se não tem nada para dizer, vou desligar! — Dominic estava impaciente. Antes que ele desligasse na minha cara, fez uma pausa, pensando e então acrescentou: — Já entrei em contato com os advogados, como não tem nada nos prendendo a esse relacionamento, o divórcio saí daqui um mês. Eles vão encontrá-lo nos próximos dois dias, você pode apenas esperar em casa — explicou.
— Preciso falar com você… — Dom decidiu não responder, apenas ignorou. — Não me arrependo — declarei, antes que ele desligasse.
De fato, não lamento a decisão que tomei de ter o bebê, mesmo que o médico tivesse uma opinião contrária e não aprovasse minha escolha.
Dominic não era assim no começo; éramos como bons amigos, costumávamos sair para tomar algo após o trabalho. Dom era atencioso, preocupado e um ótimo companheiro. Esse relacionamento estável durou por muito tempo, mas… devido a um mal-entendido, tudo foi se desgastando. Um maldito mal-entendido.
Antes que eu pudesse guardar meu smartphone, uma notificação brilhou na tela fria do aparelho.
Dominic: “Nos vemos hoje à noite, às dez em ponto.”
Não estou surpreso, essa resposta já era esperada. Estou tão habituado a isso que perdi até a capacidade de ficar triste. De qualquer forma, após tantos anos…
Dominic parece ter perdido o interesse por mim. E eu preciso tentar fazer o mesmo, cheguei num ponto em que não posso mais continuar assim.
Fui até o ponto de ônibus. Não esperei muito, peguei o ônibus da linha dois que me levou até meu apartamento, o único lugar onde sinto uma sensação de pertencimento.
Não é um exagero afirmar que este é o meu lar. No passado, logo após nos conhecermos, Dom me pediu em casamento. Embora não seja uma prática comum, a legislação reconhece o casamento homoafetivo, de forma igualitária. Entretanto, mesmo depois de muita luta, essa conquista ainda não é bem aceita, não por todos.
Minha família, sendo tradicional, não acolheu a nossa união e se sentiu envergonhada, o que resultou em um distanciamento, então me mudei para o apartamento que Dom comprou. E nesse ínterim, vivemos juntos há mais de dez anos.
Entretanto, Dominic já não é o mesmo.
Atualmente o apartamento não é o seu único lá. Ele não volta para casa há mais de quatro semanas.
Refletindo profundamente sobre as palavras do médico e o comportamento de Dominic, presumo que grandes tempestades estejam se formando.
Betagem: Arabella
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