A Década Depois Da Primavera - Capítulo 01
Na primavera de 1994 durante a cerimônia de encerramento para os alunos do terceiro ano e a cerimônia de boas vindas para os primeiranistas… Todos à minha volta estavam tão alegres e estavam agitados… Eu fiquei extremamente atordoado.
Foi o nosso último ano frequentando o colegial… E também foi o último dia em que eu te vi, o último dia em que vi o garoto de cabelos azuis, foi minha despedida de você naquele dia.
Queria ter coragem para falar deste segredo, queria poder declarar ao mundo este sentimento juvenil. Não me falta vontade, não me falta desejo.
Mas, para minha desilusão… em nenhum momento você ficou sozinho, todos iam até você para te desejar sorte e também para se despedir de você. Eu o observei apenas de longe, seu sorriso gentil, seu olhar amável, queria você para mim… Mas não o tive, pude apenas lhe observar de longe. Minha coragem estava em falta, tanto naquele dia, quanto durante a minha vida toda. Por um momento você me lançou seu olhar, e eu o mantive com êxito. Mas aí você deu dois passos adiante e eu agir como um covarde, dei um passo para trás.
Mas antes que você pudesse se aproximar de mim, ela veio e o levou para longe, sem ao menos exitar… Você ainda olhou para mim enquanto era arrastado pela Noona, quando foi interceptado por ela e por seu fã Clube. Mesmo neste dia, você e eu ainda não pudemos conversar… convivemos no mesmo ambiente escolar durante três anos e mesmo assim, não conversamos devidamente.
Eu sempre fui de me camuflar, um jovem monótono, quieto e calmo, sendo apenas mais um no meio de todos, mas você… você sempre foi o destaque, sua aura brilhante e iluminada com pétalas de Sakura ao seu redor, cativando à qualquer um. E isto o fez ser o representante de classe e receber diversas cartas de confissões, sendo o destaque nos esportes, assim como na tabela de notas. Também foi o mais votado por nossos colegas de classe para definir o aluno mais carismático e popular da escola. De vez em quando, ainda me pergunto de onde vinha aquelas pequenas, mas lindas pétalas de Sakura que insistiam em permanecer ao seu redor.
Passaram-se tantos anos desde aquele dia… depois de concluir o ensino médio, entrei para a faculdade onde eu tive notícias sobre você, soube que você tinha ido estudar fora, no exterior. E depois de me formar, fui contratado por uma empresa de finanças. Onde eu reencontrei você!
No meu primeiro dia de estágio eu perguntei sobre você, e me contaram que você havia se mudado pouco tempo atrás e se tornou o CEO da empresa. Achei que você não se recordava de mim, e seus cabelos não eram mais azuis, eram pretos. Mas quando seu par de olhos claros e afetuosos caíram sobre mim, você falou meu nome e isso me deixou fascinado. Pela primeira vez, meu nome saiu dos seus lábios e nós pudemos conversar adequadamente.
Dom estava tão diferente, havia se tornado um homem de elite. Um tipo de presidente sociável com seus funcionários e compreensível. Desde então, ele trabalhou diligentemente e meticulosamente, de modo que ele se afastou de mim e se tornou agressivo apenas comigo.
Com você, eu perdi minha dignidade e destruiu a minha juventude, me afastou da minha família e me isolou do mundo não muito depois, e assim, os anos se passaram.
Minha pele estava envelhecendo e ficando flácida e enrugada, meus dedos foram se curvando, meu cabelo castanho foi ficando grisalhos, meu corpo jovem agora está ficando velho e meus sonhos foram decapitados pelo tempo.
Você sabe… Você sabe que o único a quem amei e amo é apenas você. Por este motivo você decidiu me quebrar pouco a pouco, para tentar me fazer te esquecer. Não entendo sua linha de raciocínio, como posso esquecer alguém que praticou agressão física e verbal comigo? Você apenas me fez pensar em como teria sido minha vida se tivesse optado por cuidar de mim mesmo, optado por me amar e viver da minha independência… Sonhar, às vezes, é cruel.
Mas de todo esse sofrimento, uma coisa boa me aconteceu. Eu tive meu pequeno floco de neve, meus cachinhos de anjo. Meu filho, o único por quem eu vivi e busquei forças para continuar a viver até hoje. Estou satisfeito por saber que ele está bem, e que jamais irá esquecer deste homem de cabelos grisalhos.
Ele que, ao contrário do meu marido, está ao meu lado no hospital, em meu leito de morte.
Tudo começou depois da minha cirurgia, quase um ano atrás…
Depois que saí do hospital, joguei a folha de exame na lata de lixo.
Descobri que tenho útero e órgãos reprodutores femininos, o que, segundo os médicos, significava que podia engravidar. Enquanto eu investigava a suspeita de câncer na bexiga, já que havia sangue na urina ― o que, na verdade, era uma espécie de menstruação.
Este diagnóstico veio como uma bomba. Eu nunca me vi como nada além de um cara comum com uma vida sexual normal. Fiquei chocado quando o médico disse que eu tinha um conjunto de órgãos reprodutores femininos completo, funcional e estava menstruando.
Interrompendo meus pensamentos o telefone toca, era uma ligação de Zhang. No momento em que peguei o telefone, antes que pudesse falar, a voz sorridente da outra parte soou alta e clara.
— Oscar, onde você está? — Olhei para o prédio atrás de mim.
— Em casa… qual é o problema? — Sorri amargamente ao perguntar.
— Sabe, o Gerente gostou do seu projeto! — Essa pessoa é a única que está interessada no meu bem estar. — Logo, logo você vai estar trabalhando em um bom emprego e poderá viver sua vida livremente! Peça demissão dessa maldita empresa hoje mesmo! — A voz animada de Zhang era reconfortante.
Eu rapidamente balancei minha cabeça para me livrar dos pensamentos extras em minha mente, não tenho intenção de confrontá-la novamente, e depois de todos esses anos enchendo sua mente com meus problemas, desisti por completo da ideia de contar para ela.
— Ah, estou feliz. — Minha voz estava mais rouca do que eu pensava, e não pude deixar de pigarrear.
— Meu bem, quantas patas tem um gato? — A mulher faz uma pergunta retórica, continuando logo em seguida. — Não ouse insultar a inteligência desta bela mulher! Estou ouvindo tráfego e o barulho constante dos pedestres. Obviamente, você não está em casa! — Zhang não falou mais nada, esperando silenciosamente que eu falasse.
— Dom me disse que vai embora. — Ela não ficou surpresa, ela parecia já saber das notícias. Então, eu continuei: — Eu também vou embora.
— Você quer ir embora? Pensei que você viria morar comigo, então, você vai para outra cidade? — Desta vez, ela estava obviamente assustada. — Aquele lixo te machucou outra vez? — Infelizmente, porque eu gosto dele, ele me usou por anos desde que comecei a trabalhar na empresa.
— Não. É só… — eu ri, amargo. Olhei para o exame amassado na lata de lixo. — Estou doente e… — Tive que reunir toda a minha coragem para dizer a última palavra da frase. — Grávido.
Houve uma longa pausa do outro lado da linha, e ela não parecia ter imaginado que as coisas aconteceriam desse jeito. Sinceramente, nem eu esperava por isso…
— Sinto muito, Oscar. — Era comum ouvir tais palavras da sua boca, nossa amizade nasceu de momentos nublados e pacíficos, amigos que poderiam confortar um ao outro. No segundo seguinte, ela abriu a boca novamente. Desta vez, o que ela disse já era o que eu imaginava. — Agora o divórcio será complicado, o que você planeja fazer?
— Não se preocupe, não vou deixar o Dom saber disso… eu acho — respondi.
— Estou do seu lado, conte comigo! — Sua tentativa para me encorajar me deixou um pouco animado. — Qualquer coisa eu vou te ajudar a derrubar aquele homem frio! — Zhang me fez rir da maneira de como ela fala de Dom.
— Vou desligar, nos falamos depois — me despeço, finalizando a ligação.
Depois de desligar o telefone, fiquei ali por um tempo, observando a estrada movimentada. Sentia-me atordoado e, mesmo minha consciência gritando que não, eu liguei para Dom.
Desbloqueei meu celular, disquei seu número e liguei para aquele homem frio. Dom não atendeu na primeira ligação, ele claramente deixou que chamasse até a ligação cair, no entanto, eu insisti e liguei de novo. Desta vez, ele atendeu.
Talvez ele não esperasse que eu fosse tão sem vergonha a ponto de ligar para ele, principalmente depois que decidimos nos divorciar. Mas como esse assunto também estava relacionado a ele, ele não poderia ser tão insensível ou não teríamos vivido juntos por anos.
— Há algo errado? — Dom perguntou, indiferente. Por um momento, eu não sabia o que dizer, pois estava em êxtase ouvindo sua voz.
Eu ainda gostava muito dele, sei que é loucura. Mas no coração não se manda… infelizmente.
— Se não tem nada para dizer, vou desligar! — Dom estava impaciente. Antes que o homem desligasse na minha cara ele fez uma pausa, pensando e então acrescentou: — Já entrei em contato com os advogados, como não tem nada nos prendendo a esse relacionamento, o divórcio saí daqui um mês. Eles vão encontrá-lo nos próximos dois dias, você pode apenas esperar em casa — explicou.
— Você vem para casa? Quero conversar com você… — perguntei.
— Se não tem mais nada a dizer, vou desligar. — Dom não quis me responder, ignorando minha pergunta.
— Não me arrependo — disse para ele, antes que ele desligasse. Sim, não me arrependo da decisão que tomei de ter o meu bebê.
Dom não me deixou dizer mais nada, e então simplesmente desligou o telefone. Seu modo de ser não era assim, no início do nosso relacionamento Dom era amável e gentil, preocupado e carinhoso.
No início, nós éramos como uma espécie de amigos, saíamos para beber depois do trabalho, esse relacionamento estável durou por cinco anos, mas… por causa de um mal entendido nosso relacionamento foi se deteriorando.
Antes que eu pudesse guardar meu smartphone, uma notificação brilhou na tela fria do aparelho.
Dominic: “Nos vemos hoje à noite, às dez em ponto. Faça meu jantar e esteja apresentável”
Não estou surpreso com seu jeito frio, essa reação já era esperada. Estou tão acostumado ao ponto de não me sentir mais triste. Seja como for, depois de tantos anos… ainda gosto dele, é como a minha doença que não tem cura.
Dominic não gosta mais de mim de qualquer maneira.
Fui para o ponto de ônibus, peguei o ônibus da linha dois que me levou até meu apartamento, o único lugar onde sinto uma sensação de pertencimento.
Não é exagero dizer que é o meu lar.
No passado, Dom disse que nunca se casaria comigo. Quatro anos depois ele me pediu em casamento. Minha família por ser tradicional não aceitou e se sentiu envergonhada e acabaram se afastando de mim, então me mudei para o apartamento que Dom comprou para nós. Infelizmente, o apartamento que Dom comprou não é seu único lá. Mas estou satisfeito.
Aliás, vivemos juntos há mais de dez anos.
Mas, desde então… Dominic não foi mais o mesmo. Ele não vem para casa há mais de um mês, e eu descobri que já estou com dois meses de gravidez.
Betagem by: Arabella
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