Reminiscência - Corações Indômitos - Ch. 05 | Dissolvido
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— Comandante! Você não pode ir! É loucura!
— Escutem! — A voz de Lucas chegou aos ouvidos daqueles que ainda estavam vivos, pela linha de emergência. Um alerta de nível preto surgiu no painel em frente aos olhos de cada um deles. Nunca houve um alerta daqueles, desde o Grande Nirvana. — Eu irei sozinho daqui em diante. o dever de vocês é retornar à sede e relatar tudo o que houve.
Lucas estava à frente de todos. Sua armadura nano tecnológica estava danificada, por isso era possível ver algumas partes de seu corpo exposto. Ele deveria estar sentindo muita dor.
— Em batalha, esta é minha última ordem. — Todos podiam escutar a respiração ofegante daquele homem, ele já havia passado do seu limite há muito tempo. — Não deixem que a Estrela Negra desapareça. — Fez uma pausa. — Ling Xian, você estará no comando.
Em nenhum momento ele havia olhado para trás, mesmo quando sua silhueta se perdeu diante de cem zergs de alto nível. Ele os enfrentaria sozinho e, por fim, ele pereceria.
Naquele momento, até mesmo o vice comandante, precisou ser segurado para não ir atrás de seu melhor amigo.
— Lucas! — Seu grito desesperado chegou até mesmo a aqueles que já não tinham vida.
₊˚ʚ ᗢ₊˚✧ ゚.
— Lira, faça uma varredura e escalone os níveis de dor.
[Starnet encontra instabilidade, não é possível completar o comando]
— Tente novamente e trace uma rota até as coordenadas. Grave todas as cenas e baixe no chip. — A voz de Benjamin tremeu. — Em seguida, tente encontrar Braden.
Uma explosão veio de trás, finalizando uma sequência. O calor era tão grande que era possível sentir através do traje. Os prédios, próximos aos outros desabaram, concreto e ferro desceram como uma tempestade mortal.
De cima, Benjamin viu a rua lotada de pessoas ser soterrada.
— Marechal, está acordado?
— Sim. — Ben podia sentir sua voz rouca, bem próxima ao seu ouvido e ele se arrepiou.
「Rota traçada, iniciar navegação automática」
— Segure-se firme. — Benjamin o alertou e o ajudou a colocar as mãos dele em torno de sua cintura.
“Isso vai quebrar todos os meus ossos…”
◤DEVIDO AO NÍVEL DE PERIGO, O SISTEMA DE AUTODESTRUIÇÃO PLANETÁRIO SERÁ INICIADO EM 45 MINUTOS. MORADORES, DIRIJAM-SE ORDENADAMENTE AOS POSTOS DE CONTROLE EXISTENTES◢
◤LINHAS DE EMERGÊNCIA ATIVADAS◢
「Chamada sendo conectada…」
「Chamada sendo conectada…」
「Dr. Clive na linha」
〔Onde estão?〕Um sussurro veio do outro lado da linha.
— Próximo ao centro, já estou saindo da área de perigo.
〔Não vamos conseguir chegar até a base no deserto. Nos deparamos com algumas baratas gigantes no caminho.〕
— O que eu… — Antes que pudesse completar, uma explosão os atingiu de perto.
A moto perdeu o equilíbrio no ar e foi jogada para longe. Ambos giraram no ar e Benjamin sentiu o aperto em sua cintura mais forte.
Ao mesmo tempo, ele abriu o baú da moto e tirou a maleta e saltou da moto no ar e se jogou no telhado de uma casa. Ambos rolaram no chão.
O céu escureceu e o zumbido de asas pareceu mais alto. As explosões pareciam um plano de fundo quando a nuvem de louva-a-deus se tornou mais visível. O chiado das baratas percorrendo as ruas e uma pressão sinistra chegou a cada átomo do corpo. O que era aquilo?
“Merda, preciso levantar!”
O corpo todo doía e tremia de medo. Aquela pressão era de um zerg de alto nível, mas parecia vir de todos lados. Provavelmente havia mais de um, não! Deveria ser uma centena! A respiração de Benjamin vacilou e um gemido de dor escapou de seus lábios. Ele havia sido atingido.
— Ele está aqui… — O sussurro ao seu lado, pareceu ainda mais distante.
Bang.
Um tiro, foi seguido de uma risada maníaca.
Benjamin virou o rosto para ver uma sombra pular de um prédio em chamas e cair bem próximo de onde estavam. A pessoa estava com alguma arma na mão e atirando para cima.
Assim que parou de atirar, deu um chute na cintura de Benjamin, que grunhiu de dor.
— Ugh!
A pessoa, cujo o chute fez Benjamin voltar a vida, se agachou ao lado de seu corpo.
Benjamin viu o seu corpo muito próximo e a pessoa apertou o botão na lateral do pescoço, abrindo o capacete. Benjamin conseguiu respirar melhor.
— Uou, não esperava que fosse alguém tão jovem! — A mulher com um sorriso no rosto parecia muito amigável, embora sua risada maníaca proporcionava medo. — Você é um jovem soldado?
Foi quando se lembrou da pessoa ao seu lado.
— Lucas!
Num ímpeto, Benjamin deu um pulo e saltou para verificar a pessoa ao seu lado.
— C-Como v-você está? — Benjamin perguntou, todo seu corpo tremia, fosse de medo pela pressão no ar, fosse por preocupação pelo Marechal.
Ele verificou todo o seu corpo com os olhos, mas não encontrou nenhum ferimento. Somente poeira devido a queda.
— Estou bem. Ajude a levantar, não podemos ficar aqui. — Lucas respondeu.
A voz do Marechal fez a mulher ao lado se assustar. Ela arregalou os olhos e seu corpo todo estremeceu.
— Marechal?
Lucas, ainda atordoado pela queda e pela dor, encarou a mulher por algum tempo antes de associar sua memória àquela pessoa.
— Major Hilsman? — Ele pergunta com incerteza.
— Marechal! — Ela imediatamente bate continência. Seus olhos estão marejados e as lágrimas, já prontas a desabar.
— Não é o momento! — Benjamin interrompeu a conversa.
Ele abriu a maleta, já segurando uma arma em sua mão. Em seguida, apertou o gatilho e um jato de partículas azulado saiu do cano da arma.
Um zerg, que pulava no ar para cima deles, foi desintegrado.
Sem esperar a reação dos outros dois, Benjamin jogou o objeto na direção da Major e já passou a mão em Lucas para ajudá-lo a se levantar.
— Use isso. — Com a outra mão ele passou a alça da maleta pelas costas. — Ativar comando de voz, linha vinte e sete.
〔Sistema comprometido devido à quebra de peças fundamentais〕
Roar.
Quem estivesse vivo em Akasha podia ver e ouvir aquela coisa. Um gafanhoto gigante de olhos vermelhos cobriu o céu. Não era como os pequenos zergs que se encontrava frequentemente, nem como aqueles mutantes que evoluíam ocasionalmente.
Não era possível ver o seu corpo por inteiro. No céu avermelhado, seus olhos eram ainda vívidos devido a coloração escura de seu corpo. Brilhou daqueles orbes brilhantes uma intenção assassina que paralisou todas as forças vivas no pequeno planeta. Suas garras afiadas cortaram o céu abrindo uma fenda espacial.
De dentro da fenda, a luz das estrelas irradiou intensamente. Uma nebulosa colorida em tons quentes, do rosa ao laranja indo até o amarelo tornou-se a única beleza naquele céu.
Por um segundo, o tempo e o espaço pareceram parar, mas em seguida, outro grito escandaloso quebrou a imersão e a beleza.
Outra horda de zergs saltaram para fora da fenda e junto com eles, uma tempestade quântica atravessou a fenda espacial. A enorme quantidade de elétrons livres no ar gerou uma revoada de raios, que desciam sobre a terra.
As descargas elétricas em contato com o solo abriam crateras e aquelas que se encontravam com os prédios, feitos de um dos materiais mais resistentes, se partiam após a explosão como se fossem frágeis cascas de ovos.
Dizia-se que milhares de anos atrás, existiam lendas e mitos do apocalipse, contudo, nada se assemelhava a esse caos. Aquelas criaturas saltavam da fenda desesperadas, jogando-se umas contra as outras, sem rumo e direção.
A sensação era de que elas foram criadas para serem apenas máquinas suicidas.
— Estamos mortos. — Hilsman afirmou, como se previsse o que aconteceria mais tarde. — Marechal, aquele…
— Sim. — Lucas confirmou.
A luz, embora fortaleça as sombras, o que está diante dela se revela. As sombras se afastam para mostrar o que está escondido. Lucas teve certeza pela enorme cicatriz no corpo daquele animal.
Foi o zerg de nível desconhecido que liderava a enorme horda há um mês antes, o líder pelo qual quase foi morto.
Ao notar essa certeza, a ferida em seu abdômen doeu. Parecia ressoar com a chegada desses animais espaciais.
— Vamos. — A Major gritou e saltou para o prédio seguinte. — Vou abrir caminho. Protejam-se.
Se eles sobreviveram ou não, parecia não depender somente deles mais.
◤A AUTODESTRUIÇÃO INICIARÁ EM 20 MINUTOS, POR FAVOR DIRIJAM-SE AO…◢
A transmissão foi cortada quando surgiu uma explosão do centro de defesa. Eram onde estavam os postos de controle.
As naves que não conseguiram levantar voo ou aquelas que se preparavam para sair estavam sendo atacadas e mordidas por todo tipo de criatura.
Tirando pelos gafanhotos, os zergs aranhas eram os mais difíceis de se lidar. Seu exoesqueleto era o mais resistente dentre todos os zergs, além de que, sua visão extraordinária retira todas as possibilidades de um ataque furtivo, possuem mobilidade impressionante, além de suas teias serem incrivelmente resistentes.
Elas são quase invencíveis em seu território, e uma horda delas é tratado como sinônimo de morte. E, naquele momento, haviam centenas desses zergs aranhas.
Benjamin sentiu a ânsia de vômito aumentar.
A major em sua frente, atirava para todos os lados. Vez ou outra Benjamin, jogava para a mulher cartuchos recarregáveis da arma, que parecia algo entre uma metralhadora e um rifle.
A compreensão tática entre os dois precisou ser imediata e eficiente, pois um erro lhes levaria à porta da morte.
No percurso, com a major liderando, os três conseguiram escapar da visão das aranhas e das inúmeras baratas que rastejavam como pragas pelo solo e chegaram no local próximo a nave.
Embora tivesse uma expressão de poker em seu rosto, Benjamin foi o mais afetado. Ele não estava acostumado a uma visão tão sangrenta do próprio local que morava. Estava tudo coberto de sangue e caos. Provavelmente, em menos de meia hora, não restava muitas pessoas ou sequer existia mais alguém vivo.
Não se tornou incomum, em cantos e nas ruas, encontrar cadáveres pela metade ou poças de sangue vazias, corpos incinerados ou amassados. Os zergs matavam e deixavam suas vítimas expostas, para o deleite de sua raça. Eles não precisavam comer humanos para sobreviver, o que se tornou um verdadeiro mistério.
Eles apenas matavam por prazer.
A nave de Lucas estava escondida por um campo de força invisível que só poderia ser ativado ou desfeito, por alguém ou algo mais poderoso, ou pelo seu DNA. Uma das seis naves mais misteriosas e seguras que existiam.
E, nesse ponto, o Marechal estava mais uma vez inconsciente. Porém, a Major, já sabendo dos protocolos usuais da nave, picou o dedo de Lucas e o colocou diretamente no campo de força. Ele estremeceu e se desfez em raios multicoloridos.
Era uma pena que Benjamin estivesse nervoso demais para apreciar tal espetáculo.
— Ajude a abrir os olhos dele. Para entrar, a nave requer reconhecimento de retina. — Hilsman falou e já se posicionou para facilitar o reconhecimento.
Infelizmente, nesse momento, Benjamin não conseguiu mais segurar e vomitou. Fosse pelo estresse ou o enjoo que sentia crescer a cada segundo, despejou tudo que tinha para fora.
A Major mandou-lhe um olhar examinador, como se estudasse toda a pessoa de Benjamin.
— Venha logo, cacete! — Ela falou apressada. — Não temos tempo!
Não muito longe dali um estrondo eclodiu.
Boom.
O líder de horda havia atravessado a cidade até a divisa com o deserto.
— POOoorrA! — O grito da Major saiu instável e abriu forçadamente as pálpebras de seu superior. — Vem logo, porra!
Benjamin deu um passo para trás e caiu no chão. Sua mente girou quando a adrenalina subiu. O coração em seu peito estava tão acelerado que Benjamin achou que poderia escapulir do seu corpo.
Ele definitivamente achou que morreria ali. Gafanhotos têm pernas fortes e sua característica principal era seu salto. E, com a velocidade absurda que essas criaturas possuem, ele nem perceberia quando iria morrer.
◤A AUTODESTRUIÇÃO INICIARÁ EM SETE MINUTOS◢
O aviso da I.A. no terminal do pulso, o fez cair em si.
Gafanhotos, por maiores que fossem, ainda eram insetos. E insetos, quando se deparam com um aglomerado por luz, instintivamente são atraídos por elas, já que a usam para se orientar.
“É isso!”
— Major! Quanto tempo até a nave ligar? — Benjamin gritou.
— Mais dez segundos. — Hislman respondeu de volta.
“É o suficiente!”
— Atire quando eu pedir. — Finalmente estava mais calmo.
Benjamin tirou uma esfera luminosa de dentro da maleta. Ela não era maior que a boca de um copo americano e sua densidade era alta, junto com a pressão exorbitante dentro da esfera, tornava-a perfeitamente uma bomba de luz.
A princípio, Ben a criou para se tornar um abajur com holograma de uma nebulosa, mas quando percebeu, já havia transformado em algo mais perigoso.
No final, ele deveria agradecer ao seu eu do passado.
Ele se levantou rapidamente e jogou a bola de luz no ar. Ao mesmo tempo, o líder zerg se preparou para saltar.
Benjamin correu.
— Agora Major!
O jato de partículas em contato com a superfície da esfera causou uma agitação molecular sem precedentes.
A energia dentro da esfera se espalhou pelo ar e com a explosão, no céu noturno, uma nebulosa se formou.
「Sistema RTX-500 conectado」
Fosse por sorte ou azar as cores e o brilho, por alguns segundos chamou a atenção daquele inseto gigante.
「Preparar para salto em 3,2,1…」
Mas foi o suficiente. Quando o líder zerg procurou por sua presa ela já havia escapado.
—— Isso foi perigoso. — Hislman, ofegante, falou e, logo depois, perguntou. — Onde conseguiu aquilo?
Benjamin, após mais uma vez vomitando, ergueu a cabeça meio zonzo.
— Meu…
Nesse momento, um raio de luz passou ao lado da nave em direção à Akasha 07.
A destruição de um planeta pode ser vista de longe, e as muitas naves que haviam saído a tempo, presenciaram mais uma derrota da humanidade.
A sucção e a reversão da matéria, eclodiu numa enorme onda de força que arrastou estrelas e satélites ao redor, também conduzindo a força tudo que atravessasse o caminho.
A chuva surgiu no espaço e refletiu o clima de todo um planeta. A melancolia por terem perdido suas casas.
O silêncio após uma derrota era mais doloroso que uma ferida aberta.
Os seres humanos são fracos, e por serem fracos sabem que diante do impossível eles fogem, mas por causa disso, eles fogem sempre com algo em mente, preparando-se e manipulando o que for preciso para um contra-ataque efetivo.
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