Osoroshiku Kawaii - Capítulo 16
Onze, doze, treze… Ah, qual número vinha depois do treze? Pensou enquanto observava as gotas de chuva escorrerem pelo vidro da janela. Ela recomeçou a contagem.
Um, dois, três, sete, nove, doze, treze… Qual número vinha depois do treze? Aika nunca conseguia lembrar. Ela estava no sofá da sala, observando conforme as gotas da chuva escorriam pelo vidro.
Tentava passar o tempo conforme esperava que a pizza chegasse. E seu pequeno coração também se enchia de preocupação com Shin. Aika sabia o quanto ele tinha medo de trovões.
A pessoa ao seu lado também permanecia em silêncio. Ele sempre estava ali. Ao lado de Aika. Tinha sido assim desde o acidente, mas antes, ele estava sempre ao lado de sua mãe.
Os olhos azul celeste dele seguiam a tempestade, como se a desafiasse, a incitasse. Os cabelos brancos seguiam bagunçados.
— O que você está fazendo? — perguntou ela.
— Falando. — foi a resposta dele. Aika gostava de ouvir sua voz. Era boa.
— Com a tempestade?
— Sim.
— Você pode?
— Posso.
— E o que está falando pra ela?
— Pra ela parar com os trovões.
— Está cuidando de Shin-onii-chan?
— Sim.
— Por quê? — Aika o admirava por ele aguentar suas perguntas.
— Porque somos família. — ele sempre dava a mesma resposta. E Aika não o entendia. Afinal, sabia que ele não era humano. Sua intuição lhe dizia que… mesmo que a alma dele, tivesse um dia sido humana, já não era mais.
Faziam eras desde que ele caminhara por aquela terra como um humano.
— Qual o seu nome? — perguntou ela, mudando de assunto.
— Nome? Eu não tenho um.
— Então quem é você?
— Eu não sou ninguém.
— Então o que você faz? Quando não está comigo? — inquiriu ela.
— Eu cuido.
— De que?
— De almas.
— De que tipo?
— Das sofridas. Das que apenas querem paz.
— Das suicidas, então. — apontou a pequena. Olhos azuis celestes de voltaram para ela. Os trovões haviam parado.
— Como você conhece isso? — uma criança de apenas quatro anos não deveria conhecer esse assunto.
— Eu estudei. — ela recebia educação em casa. Mas ele duvidava que Shin e Akira fossem ensinar algo do tipo para ela. — Qual o seu nome?
— Eu não tenho um. — as íris azuis apenas piscaram para a mudança de assunto. Aquilo era comum naquelas conversas.
— Como pode não ter um nome?
— Eu tinha um.
— E o que aconteceu com ele?
— Eu me esqueci.
— Então por que não escolhe um nome novo? — sugeriu Aika.
— Me falta criatividade.
— Então eu vou escolher por você. — decidida. Assim era aquela criança. — Seu nome agora é Jin.
— Por que Jin? — ele perguntou aquilo, mas já sabia a resposta. Aquilo vinha se repetindo durante sua existência e a daquela família. De novo e de novo e de novo.
— Ora, vem de Jisatsu*. — explicou a pequena, como se fosse a coisa mais óbvia do mundo. — Já que você cuida das almas suicidas, esse vai ser seu nome. Você não gostou?
— Gostei sim. — ele lhe acariciou os cabelos, a vendo sorrir. — Eu tenho que ir agora, okay?
— Vai cuidar de alguém?
— Vou.
— Mas você vai voltar não é? — ela realmente era muito fofa.
— Tem medo que eu não volte?
— Tenho. O papai não voltou.
Jin olhou para a gata preta dormindo no sofá ao lado. Vendo novamente a verdade que apenas ele e Aika sabiam. A gata havia morrido naquele acidente e a alma que habitava aquele corpo era a alma da mãe daquelas crianças.
— Não se preocupe, Aika. Eu sempre vou estar com você. — prometeu Jin, para logo em seguida entrar em uma sombra e desaparecer. Ele voltou um segundo depois. — O número que você quer é catorze. — e desapareceu.
A campainha tocou, despertando Aika. Akira desceu as escadas correndo para atender.
— Vai cair. — avisou Aika. Dito e feito. Pelo menos Akira não estava de óculos.
— Por que você sempre acerta? — resmungou ele. Aika gargalhou.
******
A feição dele adormecida era adorável. Hayato já devia estar o observando dormir há pelo menos meia hora. Durante esse tempo, não havia tido mudança na expressão de Shin.
Hayato já havia levantado e escovado os dentes, pensara em buscar comida, mas não queria acordar Shin e nem queria que a refeição esfriasse.
Por isso ele apenas se deitou na cama e o observou. Os cabelos seguiam bagunçados, os lábios vermelhos e as bochechas coradas. Sua face repousava calmamente no travesseiro do motel, completamente em paz.
Hayato estava se achando maluco, mas ele podia jurar que era palpável a felicidade de Shin. Mesmo adormecido, era possível ver o quanto havia ficado feliz com a noite anterior.
— Hayato… — chamou Shin em seu sono, bem baixinho. Apesar de falar, ele seguia adormecido.
— Estou aqui. — sussurrou Hayato, acariciando o rosto do pequeno. Preocupação veio como um tiro.
Shin estava queimando de febre. E Hayato não havia notado. Antes que a culpa pudesse pesar, veio o pensamento de que tinha que cuidar de Shin.
A febre devia ter se iniciado por causa da chuva que ambos pegaram. E como Shin tinha uma saúde delicada, Hayato não poderia lhe dar qualquer remédio.
O melhor a fazer seria leva-lo ao hospital, mas não havia nenhum por perto e o clima estava frio, o que não seria bom para Shin. De súbito, Hayato se lembrou que poderia ligar para Akira, irmão mais velho de Shin.
E foi isso que fez. A chamada foi atendida no segundo toque.
— Como está Shin? — foi o comprimento de Akira.
— Ele está com febre, pegamos muita chuva ontem. — informática Hayato.
— Certo. Ouça com atenção. Na carteira de Shin tem uma cartela de comprimidos, dê dois pra ele e o alimente com coisas saudáveis e leves.
— Certo, há algo mais que eu posso fazer?
— Pode me responder uma coisa?
— O que é?
— Vocês fizeram sexo? — Hayato quase teve uma parada cardíaca.
— É… É…. — Hayato não tinha idéia do que dizer.
— Não estou bravo. Apenas quero que me confirme que foi mútuo dos dois lados.
— Mas é claro que foi. Eu nunca forçaria Shin a nada. — a resposta de Hayato foi imediata.
— Sim, eu sei. Só precisava de uma confirmação. — alívio percorreu Hayato, mas não durou muito. — Eu só não esperava que acontecesse tão cedo.
— Posso imaginar o porquê. — comentou Hayato, procurando a carteira de Shin em meio as roupas.
— É, você realmente entrou de cabeça na vida de Shin. Hayato, depois quero conversar com você.
— Certo. Vamos marcar um dia. — aquela não era a hora de ficar apreensivo, mas Hayato ainda se sentiu tremer em expectativa.
— Okay e Hayato, mais uma coisa.
— O que?
— Boa sorte. — o tom de Akira se tornou brincalhão e zombateiro. Antes de desligar, Hayato ainda o ouviu resmungando. — Apesar de que eu acho que você vai gostar.
E a linha ficou muda. Hayato por fim achou a carteira, pescando de dentro dela a cartela de comprimidos. Redondos e azuis fortes. Diferentes. Deviam ser feitos especialmente para Shin.
Algum instinto superior apitou, dizendo a Hayato que seria melhor ele buscar comida antes de acordar Shin. E foi o que fez. De alguma forma; conseguiu mingal de arroz quente, algumas gelatinas e outras coisas.
E então veio a missão de acordar Shin. O pequeno tinha abraçado o travesseiro que Hayato havia dormido. Sob a coberta, o corpo permanecia nú.
Hayato inspirou fundo, subindo na cama. A cartela de comprimidos e uma garrafa d’água em mãos.
— Shin, amor, acorde. — Hayato o cutucou na bochecha, logo em seguida fazendo carinho em seu rosto. Ele seguia quente. — Shin.
Repetiu a sequência até que Shin acordasse. A íris negra permanecia enevoada pelo sono, mas pelo menos ele estava acordado.
Ou não. Shin voltou a enterrar o rosto no travesseiro, apertando o outro mais forte.
— Não quero. — resmungou manhoso. Hayato estava começando a entender o que Akira quis dizer com “boa sorte”.
— O que você não quer, amor? — perguntou Hayato com doçura.
— Não quero tomar o remédio. — ele já sabia que precisava.
— Por que, meu bem? O gosto é ruim?
— Não. Ele não tem gosto.
— Então por quê? — as orelhas de Shin ficaram vermelhas. Ele se encolheu. — Shin, amor, está tudo bem. Pode me contar.
— É que… Eu estou doente né? — Hayato acenou com a cabeça, fazendo um “uhum” com a garganta. — E é preciso cuidar de pessoas doentes doentes né? — Hayato estava percebendo onde ele queria chegar.
— Sim. E quando eu estou cuidando de alguém doente, eu dou muitos carinhos, beijos, abraços e mimos.
— Que… Que tipo de… mimos? — ah, céus. Aquele garota era tão fofo que chegava a ser assustador.
— Mimos. — foi a simples resposta de Hayato. Ele não poderia forçar Shin a tomar o remédio, então teria que o convencer. — Quer saber quais?
— Sim. — resposta imediata.
— Mas, eu só vou contar pra quem toma o remédio direito. Melhor, eu vou mimar quem tomar os remédios direito.
— Então…. Eu…
— Humm…
— Eu… Vou tomar os remédios.
Hayato sorriu, radiante. Ele arrumou os travesseiros e ajudou Shin a sentar. O esforço deixou ele mais vermelho e levemente ofegante. Mas pelo menos ele não parecia com dificuldade para sentar e nem parecia estar com dor.
Isso aliviou parte da preocupação de Hayato. Ele entregou os dois comprimidos a Shin, que ingeriu com a ajuda da água.
— Já tomei, agora eu quero meus mimos. — e Hayato estava certo. Shin, quando doente, se tornava manhoso, carente, mimado e exigente. Mais do que o normal. E ele também era direto no que queria.
Hayato não se importaria de ver aquilo mais vezes, desde que Shin não tivesse que ficar doente pra isso.
Em silêncio ele pegou o mingal de arroz, levando a colher até os lábios de Shin. Este, aceitou aquilo com um sorriso e com os olhos brilhando.
A experiência de alimentar Shin era adorável. A expressão de deleite que ele fazia ao provar do mingal aquecia o coração de Hayato.
Cedo demais, o mingal acabou.
— Certo. — disse Hayato. — Agora você vai tomar um banho e depois pode comer o restante dos doces.
— Hmp, não quero. — Shin virou o rosto, fazendo bico.
— E por que você não quer?
— Não quero ficar sozinho. — a frase foi resmungada por aquele bico adorável. O que fez com que Hayato o mordesse. — O que?
Atirado, mas tímido. Hayato poderia se acostumar com isso.
— Então, que tal tomarmos juntos? — sugeriu Hayato. O rosto de Shin se iluminou.
— Sim, vamos. — ele sorriu. Hayato retribuiu e o pegou no colo.
A banheira já estava cheia, em uma temperatura adequada pra banhar alguém com febre. Entraram juntos e Hayato lavou Shin.
Aprenciando a forma como tudo aquilo parecia natural.
Depois, ao voltarem pra cama, Hayato alimentou Shin novamente, até o momento em que o pequeno avisou que estava cansado.
Então Hayato se recostou na cabeceira da cama, com o livro dado por Shin em suas mãos, enquanto seu namorado deitava em seu colo.
Havia chegado na metade da história quando Shin despertou. Ele se encostou em Hayato, observando a ilustração da página.
— O que achou? — perguntou Shin. Sua febre havia passado e ele já se encontrava totalmente bem. Mas ainda queria ser mimado.
— Isso está perfeito. Tanto a história quanto as ilustrações. — elogiou Hayato. O rosto do menor corou.
— Vou te dar outro. — anunciou Shin. As bordas desde haviam molhado.
— Não. Eu quero este. — seria inútil discutir com Hayato. Então Shin jogou sua carta na manga.
— A editora vai lançar a versão colorida. Mas já que você não quer… — Shin arrastou a palavra.
— Eu quero. Quero sim. — Shin quase podia ver as orelhinhas de cachorro e um rabo balançando.
*****
Ao final do dia, finalmente deixaram o motel depois de uma longa discussão sobre quem pagaria. Shin conseguiu ganhar, mas ficou combinado de que seria Hayato a arcar com os gastos do próximo encontro.
No meio do caminho pra casa, ainda pararam pra comprar moletons para ambos já que Hayato insistia que Shin não podia pegar frio.
Era como se ele tivesse se tornado muito, mas muito super protetor. Até mesmo queria carregar Shin até em casa. Mas no final, andaram lado a lado, de mãos dadas e moletons combinando; um de gato e um de cachorro.
Hayato deixou Shin em casa, este que foi recepcionado com abraços por parte de Akira, Aika e Zen, lambidas de Kuro e arranhões e miados de Shiroi.
Enquanto a recepção de Hayato foi diferente. Sua mãe foi ao encontro quando ele entrou. E lhe fez apenas uma pergunta.
— Usou camisinha?
Ao passo que Hayato respondeu com um alegre.
— Sim.
*****
Jisatsu significa suicídio em japonês.
Publicado por:
- AlluEblys
- Escritora de BL/LGBTQIA+ original. Ela/Dela/A. Me acompanhem nas redes sociais, interação por lá.
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