Osoroshiku Kawaii - Capítulo 17
Uma semana se passou desde o maravilhoso domingo. Nos três dias que se seguiram ao encontro, tanto Shin quanto Hayato ficaram de cama com uma forte gripe. Só voltaram a se encontrar pessoalmente na sexta-feira, caminho da escola.
Foi uma cena muito engraçada, pois quando Hayato chegou, Zen estava com um emburrado Shin jogado nos ombros. A justificativa do loiro foi: “ele não pode andar, é frágil de mais para isso”.
E Shin, ao ouvir isso, meteu uma joelhada no peito de Zen. Diz a lenda que continuou roxo até anos depois da morte de Zen.
O clima entre o casal estava perfeito. Haviam mais toques entre eles, mais olhares. E a conexão mental que ambos tinham havia aumentado em níveis exorbitantes.
Zen, levou muitos golpes de Shin por fazer piadas a respeito. E era sobre isso que Shin resmungava ao fazer o almoço no sábado. Ele andava de um lado para o outro, falando baixinho enquanto fazia a comida.
Hayato, que vinha todos os sábados para ajudar na faxina, o observou. Ele vestia roupas mais leves e até mesmo tinha prendido a franja.
— Já posso parar? — gritou Zen, do andar de cima.
— Já consegue ver cada acne e espinha que tem no seu rosto no seu reflexo no chão? — gritou Shin de volta.
— Eu não tenho acnes nem espinhas!
— E já sabia disso, ou observou no seu reflexo nesse momento?
Zen não respondeu mais nada. Essa havia sido a punição dada a ele por todas as piadas. Ele deveria deixar a casa brilhando. Tanto que nesse momento ele estava encerando o chão do corredor do segundo andar.
— Você é muito malvado com ele. — disse Akira entrando na cozinha.
— Já limpou seu quarto? — Shin fez questão de ignorar a acusação do irmão mais velho.
— Sim. E você Hayato? — respondeu Akira. O casal teve a impressão de que o escritor fizera aquilo de propósito. Passando a atenção para Hayato.
— Já sim. Limpei os banheiros, o quarto de Shin e o de Aika, a sala, o quintal e os quartos de hóspedes. — enumerou Hayato, levantando os dedos para cada coisa já feita. — Ah, mas ainda falta a biblioteca.
— Esse nós fazemos mais tarde. — avisou Shin, para Hayato, enquanto cortava legumes. Ele nem mesmo se virou para falar. E estava cortando muito rápido.
Akira também reparou.
— Shin, por que está tão irritado? — perguntou o mais velho ali.
— Eu não estou irritado. — ele obviamente estava irritado.
E Hayato não conseguia pensar em nada que o tivesse deixado naquele estado. Sabia que não era por causa de Zen, eles eram melhores amigos a tempo o bastante para que ambos conhecessem os limites um do outro.
Mas não havia acontecido mais nada. E isso pesava em Hayato. Ele não conseguia pensar em mais nada, exceto de que a culpa de alguma forma fosse sua. Mas se fosse Shin teria falado.
E por isso Hayato se encontrava de mãos atadas. E também se culpava por não conseguir adivinhar o que deixava seu namorado tão irritado. Isso significava que não o conhecia bem o bastante.
Mas Akira, que o havia visto nascer, o conhecia.
— Shin, por acaso, o motivo da sua irritação…. — começou ele cauteloso. Shin parou de cortar. — É o fato de você ainda não ter ligado?
Okay, Hayato estava boiando totalmente no assunto. Shin apertou a faca mais forte.
— Shin, você precisa ligar. — avisou Akira.
— É realmente necessário? — o som que saiu da garganta de Shin foi o mais lamurioso possível.
— Você sabe que sim. — Akira respirou fundo, se preparando. Ninguém estava preparado quando ele falou novamente. — Agora que perdeu sua virgindade, seu médico precisa saber.
O rosto, as orelhas e o pescoço de Shin ficaram mais vermelhos que os morangos que ele comprara para a sobremesa.
— Precisa mesmo? — reclamou Shin.
— Você sabe que sim.
— Aquele velho. Vai me encher o saco com perguntas. — e foi então que Hayato entendeu.
O problema não era Shin ter que ir no médico. Seria a vergonha. Hayato se perguntou o quão próximos o namorado e o médico deviam ser. E que tipo de médico seria.
— E mais, certeza que ele vai querer conhecer o Hayato. — continuou a reclamação.
— E o que tem demais nisso? — perguntou Zen ao parar na porta da cozinha.
— Quer que eu te lembre de que ele vive dando em cima de você e do Akira? — questionou Shin, apontando a faca para o melhor amigo.
— Ah, é desse médico que estamos falando. — a expressão de Zen se fechou. Ele estalou os dedos. — Eu ainda vou esmurrar aquela carinha perfeita.
— Espera, deixa eu ver se eu entendi. — se intrometeu Hayato. — Você está irritado por que não quer ir no médico, por que não quer responder perguntas constrangedoras ou por que esse cara da em cima de você e dos outros?
— Os três. — foi a resposta emburrada de Shin. — Mas ele não da em cima de mim. Eu não faço o tipo dele.
— As classificações dele são interessantes. — apontou Akira.
— Quais são?
— O tipo estúpido. — Shin apontou para Zen, que apenas se deu ao trabalho de parecer ofendido. — E então o tipo frio e gentil. — o próximo a ser apontado foi Akira, que abriu o costumeiro sorriso gentil. — E de acordo com ele eu sou o tipo fofo.
— Como foi mesmo que ele disse….? — pensou Zen em voz alta. Foi Akira quem lembrou as palavras exatas.
— “Shin, você é do tipo fofo e eu adoro isso. Mas eu gosto do tipo namora fofo e transa selvagem, você é fofo em cem por cento”, ou algo assim.
— Ele é assim mesmo? — perguntou Zen, para Hayato.
— Eu me recuso a responder.
— Droga.
— Mas voltando ao assunto. — interrompeu Shin. — Não quero apresentar Hayato pro Masahiro, e ponto.
— Resumindo, você acha que esse médico vai dar em cima de mim!
— Exato. Ele gosta de pessoas com cabelos e olhos claros.
— Mas tenho certeza de que até mesmo o Masahiro-sensei tem limites. — Shin olhou o irmão como se ele tivesse acabado de dizer que a Terra era plana. — De qualquer forma, ligue pra ele.
— Tá. — concordou Shin em um suspiro.
— E por falar em ligar…. — começou Akira. — Passou um cara aqui no domingo passado e pediu pra você ligar pra ele, Shin.
— Quem era?
— Eu não conheço. — Akira começou a revirar as bolsos, tirando um papel pequeno e amassado. — Ele deixou o número.
— Me lembre de verificar seus bolsos antes de lavar roupa. — resmungou o pequeno, logo olhando o papel.
O que aconteceu a seguir, deixou todos chocados.
Shin arrancou o papel da mão de Akira, foi um movimento brusco e rude. Ao rasgar o papel, ele deixava claro sua raiva. As sobrancelhas franzidas e a boca apertada em uma linha dura só ressaltavam isso.
Fosse quem fosse o dono daquele bilhete, ele não era alguém de que Shin gostava.
E novamente, algo aconteceu, mas não foi choque que preencheu a cozinha. Foi preocupação.
E o gatilho, foi o estalo que o pulso esquerdo de Shin emitiu.
Ele largou os pedaços rasgados, agarrando o pulso e trincando os dentes. Hayato foi o primeiro a chegar nele.
— Está tudo bem. — soltou Shin, antes que o namorado abrisse a boca. — Foi só mal jeito.
— Bobo, pulsos não estalam daquele jeito por causa de mal jeito. — brigou Hayato. — Deixa eu ver.
A contra gosto, Shin mostrou o pulso. Não dava sinais de que estava quebrado. Mas estava vermelho e tremido.
— Deveríamos ir ao hospital? — questionou Hayato, para Akira, que estava ao seu lado.
— Acho que não. Mas vamos ter que passar a faixa. — constatou Akira, avaliando o irmão mais novo.
— Já falei que ta tudo bem. — teimou Shin. Como se desafiado, Akira apertou o pulso de Shin. Que soltou um ganido, como um cãozinho machucado.
— Eu trouxe a caixa. — anunciou Zen. Ele a entregou a Akira, que a passou para Hayato.
— Shin, explique a ele como fazer. — mandou o mais velho, logo arrastando Zen para fora da cozinha.
— Tem certeza? — sussurrou Zen conforme eles foram para a sala.
— Sim.
— Mas Hayato não parece saber cuidados básicos.
— Mas ele vai aprender.
— O que está planejando, Akira?
— Que Hayato fique na vida de Shin.
— Akira, meu bem, não acho que vamos precisar ajudar pra que isso aconteça.
— Sim, tem razão.
Eles sorriram e deram as mãos. Na cozinha, Hayato fazia com que Shin se sentasse. Ajoelhando a sua frente logo em seguida.
Ele pegou o pulso alheio com delicadeza. E então perguntou, como toda a sinceridade do mundo.
— Como devo fazer?
— Hayato, está tudo bem. É sério.
— Shin. — ele apertou levemente e Shin se encolheu. Se arrependeu imediatamente. — Desculpa. Eu, acho que estou com ciúmes.
— Ciúmes de que?
— Da sua reação. Não faz sentido né?
— Não mesmo. — declarou, rindo levemente.
— O que foi essa reação? Quem é essa pessoa, que te fez reagir assim?
— Eu….
— É algum ex? — sim, por algum motivo, Hayato havia chegado a essa conclusão.
— O que? Não. Não mesmo.
— Ah, certo.
— Você foi meu primeiro, Hayato. — com a mão boa, Shin acariciou o rosto de Hayato. — Em tudo.
— Você também, Shin. — ele beijou a palma daquela mão. — Mas então, como vamos cuidar do seu pulso?
— Ah, você realmente vai fazer isso?
— Pelo que eu pude perceber, isso acontece sempre. — já que Akira não havia se precipitado muito e Zen já sabia o que fazer. — Então eu quero aprender. Pra poder fazer sempre.
Não precisaria dizer que não queria ter que fazer, pois significava que Shin sentiria dor. Mas, sempre que necessário, ele faria.
— Okay. Pegue o vidro verde. — e Hayato o fez. — Tem que colocar um pouco no meu pulso e massagear.
E Hayato o fez. Despejando o líquido transparente. Shin soltou um gemido quando Hayato começou a esfregar e pressionar.
— Se eu soubesse que você era tão bom em massagem eu teria te colocado pra fazer isso mais cedo. — comentou Shin. Os olhos estavam fechados, aproveitando. As bochechas coradas.
— Não seja por isso. Vou passar a fazer massagem em você sempre.
— Assim vai me deixar mal-acostumado.
— Quero mimar você, Shin. — rápido demais, Hayato beijou Shin. — Pro resto de nossas vidas.
— Isso é um pedido de casamento? — apesar da pergunta ser uma brincadeira, também não era.
Aquilo que Hayato havia oferecido significava muito para Shin. Podia parecer normal para quem olhasse de fora. Mas não era.
Shin carregava muitas coisas naqueles pequenos ombros.
Em um silêncio confortável, Hayato continuou a massagem. Até reparar em uma pequena cicatriz no pulso de Shin.
Era quase invisível, uma linha pequena e horizontal. Era a cicatriz que Shin não havia lhe contado.
Hayato passou o dedo por ela.
— Qual a história dessa daqui?
— Eu… — e então Shin estava chorando. Hayato o abraçou.
— Não precisa contar agora. Sabe disso.
— Eu quero contar. — as lágrimas escorriam por seu queixo.
Hayato as beijou.
— Promete não me olhar diferente? — implorou Shin.
— Eu nunca faria isso.
Hayato sentou-se no chão, a frente de Shin. Tomou-lhe o pulso novamente, tornando a massagear. Esperando. Foram longos minutos até que Shin falasse.
— Eu, eu tive uma época ruim. Depois do acidente, eu entrei em depressão…. Era…. Não era bom e nada como eu sou agora. — uma pausa um tanto longa. — Teve um dia, em que eu estava muito ruim. A fisioterapia não estava funcionando e eu tava entrando em desespero. A culpa do acidente estava pesando.
“E então eu só… Só fiz. Eu cortei fundo e uma única vez. E eu… Eu teria….”
— Quem te encontrou? — perguntou Hayato, vendo que ele não continuava. E nem precisava, ele já havia adivinhado.
— O Masahiro. — o médico de Shin. — Foi graças a ele que eu ainda to aqui e que eu ainda to andando.
— Então eu realmente preciso conhecer esse cara. — sem julgamentos, sem pena e sem dó. Shin não precisava daquilo. Ele apenas precisava de aceitação.
Hayato continuou a massagem, ouvindo o baixo “obrigado” do namorado. Alguns minutos passaram.
— Acho que já esta bom, agora é só passar a faixa. — avisou Shin. — É a azul escura. — Hayato o encarou. — Eu era um paciente chato okay? E passei tanto tempo no hospital que ganhei coisas especiais.
— Okay. — Hayato segurou a risada, começando a segunda fase de cuidar de Shin. — Que tipo de coisas especiais?
— Bem, eu pintei o hospital. Ou uma boa parte dele.
— Aquilo foi você? — assustou-se Hayato.
Ele havia ido ao hospital no último ano para consultas de rotina com a mãe e ambos haviam visto a mudança. O lugar que antes era branco e sem graça havia se tornado um redemoinho de cores e vida.
— Foi.
— Existe alguma coisa que você não consegue fazer? — Hayato terminou com a faixa e foi lavar as mãos. Ele terminaria aquele almoço. Não era um cozinheiro de mão cheia como Shin, mas sua comida era comestível e, acima de tudo, ele não produziria lava.
— Eu não sei fazer uma cesta de três pontos de qualquer lugar da casa. — foi a resposta bem humorada.
— Tem razão. — ambos riram. — Mas tipo, eu to curioso, como você conseguiu permissão para pintar o hospital inteiro? E quando que fez isso?
— Eu fiz de madrugada. — não era bem isso que estava perguntando, mas tudo bem. — Aquilo lá era totalmente silencioso, e como eu não conseguia dormir bem, eu passava as madrugadas pintando. Ah, e quanto a permissão, foi Masahiro quem a conseguiu.
De novo aquele nome. Aquele cara.
— Como ele fez isso? Dormiu com alguém?
— Isso mesmo. — era pra ter sido ironia. — Na época, ele tava dormindo com o diretor do hospital.
— Você parace gostar bastante dele. — sim, Hayato rapidamente queria mostrar que estava com ciúmes, mas ele não queria ter que admitir. Ainda bem que Shin não era tão lerdo.
— Não se preocupe. Ele é tipo aquele tio que vai morrer solteiro. E ele deve ter idade pra ser meu pai. — constatou Shin.
— Quantos anos ele tem?
— Acho que trinta. — Hayato suspirou aliviado. — Fora que ele não é meu tipo e também que daria muito problema se eu e ele nos envolvessemos de outra forma que não família e amizade.
— Por quê? — era uma pergunta idiota? Sim, era. Mas Hayato ainda a fez.
— Porque ele tem a minha guarda legal.
— Ehhh? — isso realmente chocou Hayato. — Mas Akira e…. Como assim?
— Você sabe como Akira é, então Masahiro pegou a minha guarda, a de Akira e a de Aika. Ah, e, legalmente falando, ele mora aqui.
— Mas ele nunca está. — Hayato podia dizer isso com certeza pois ele passava mais tempo na casa de Shin do que na próxima.
— É. Ele tem um apartamento e geralmente vai pra lá. — a expressão de Shin se fechou. — Aquele galinha está sempre levando alguém pra cama. Me surpreende que ainda não tenha pegado uma DST.
— Nossa. — isso realmente era muita coisa pra assimilar.
— Ah, esqueci de dizer a coisa mais importante. — anunciou Shin. Hayato o olhou, ele sorria. — Eu amo você, Hayato.
E com isso todas as dúvidas de Hayato foram embora.
*****
Elas voltaram na quarta-feira a tarde. Nesse dia, Shin havia anunciado que teria um compromisso importante. Então Hayato foi para casa.
Seu pai, que Hayato ainda tentava evitar, pediu ajuda do filho para que comprassem alguns materiais de construção e pintura. O velho estava planejando reformar um ou dois quartos da casa.
Estava voltando para casa, com algumas sacolas nos braços, quando viu. Era Shin. Ele caminhava no outro lado da rua, por isso não o viu.
Mas ele estava diferente. De alguma forma. E Hayato logo viu o porquê.
Ele era moreno, com cabelos castanhos escuros até ombros, penetrantes olhos azuis e um físico de dar inveja. Não devia ter nem vinte e cinco.
O estranho sorriu para Shin, abrindo os braços. E Shin, se jogou neles.
Aquela cena foi como um verme no estômago de Hayato, se contorcendo em meio a veneno.
Mas o pior ainda estava para vir. Hayato não era o único encarando a cena. Seu pai também.
— Você conhece? — perguntou o homem.
— Ah, sim. — pensa em uma mentira, pensa em uma mentira. — O baixinho é meu amigo, da escola sabe. E o mais alto é um primo distante. Ele comentou que um familiar tava vindo visitar.
O pai nada comentou, recomeçando a andar. E Hayato o seguiu.
— Tem certeza de que é só isso? — perguntou o pai.
— Claro. Shin não é gay, ou algo assim. — bola fora. Percebeu Hayato, quando o pai ergueu uma sobrancelha.
— E esse Shin, é a razão de você não parar em casa? Está até mesmo dormindo fora. — Hayato agradeceu a mudança de assunto.
— Sim. Ele mesmo.
— Hmm…. — algo não estava bem. — Eu gostaria de o conhecer.
O verme dentro de Hayato ameaçou lhe subir pela garganta.
— O convide para jantar. — e foi isso. Eles não falaram mais nada.
De noite, Hayato nem dormiu. Havia um verme em seu estômago, que estava nadando em vinagre. Além do medo antecipado que estava sentindo do jantar que nem havia sido marcado ainda.
Não pensou duas vezes. Pegou o celular e ligou para Shin.
Publicado por:
- AlluEblys
- Escritora de BL/LGBTQIA+ original. Ela/Dela/A. Me acompanhem nas redes sociais, interação por lá.
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