Osoroshiku Kawaii - Capítulo 18
Um toque. Dois. Três. Caixa postal.
Ligou novamente. Caixa postal.
Dois toques. Três. Quatro. Estava quase desligando quando a chamada foi enfim atendida.
— Sim? — não foi Shin quem atendeu. Era a voz de alguém que Hayato não conhecia. A voz de um homem.
— Quem é? — algo se acendeu dentro de Hayato. Uma pequena chama de insegurança.
— Depende de quem está falando — isso era tudo que Hayato não queria ouvir. Ele precisava saber quem era aquele cara. Nunca havia ouvido sua voz, verificou o número para ter certeza de que havia ligado certo.
Já passavam da uma da manhã. Quem era ele e por que havia atendido o celular de Shin?
— Eu sou Mizushima Hayato — respondeu a contra gosto. — Quero falar com Shin.
— Ah, ele meio que não pode falar agora.
— O que isso significa? Quem é você?
— Ah, eu sou Yamazaki…. — uma pausa. E então a voz dele estava distante. — Shin, desculpe te acordar okay? Volte a dormir sim?
Hayato nunca agradeceu tanto por ele e Shin conversarem muito por chamada de voz, assim o celular de Shin pegava todas as vozes do ambiente em boa qualidade.
— Eu me sinto estranho — foi a voz de Shin que falou.
— Precisa vomitar? Quer que eu pegue algo? — e novamente foi aquele cara que falou.
— Não. Mas estou muito desconfortável. Desde quando essa cama é tão dura? — cama? Onde diabos ele estava? E por que sua voz estava arrastada? Era quase como se ele estivesse…. dopado.
Algo se apertou no peito de Hayato.
— É uma cama apenas pra uma noite — respondeu o Yamazaki.
— Eu quero a minha cama — e então a voz de Shin estava chorosa. Hayato permaneceu em silêncio, escutando.
— Shin, não chora por favor.
— Eu quero minha cama, quero chocolate e quero Hayato aqui — Shin chorou mais alto, fazendo com que lágrimas enchessem os olhos de Hayato.
— Shin, por favor, faça silêncio. E não se mexa, vai retirar a agulha — agulha?
— Por que ele não pode estar aqui? Por que o Marley teve que morrer? — do que Shin estava falando agora?
— Shin, não grite por favor. Vai acordar os outros pacientes — aquele cara parecia muito desesperado. Mas espere… Outros pacientes? Shin estava no hospital?
— Quem pintou tudo de branco? — queixou-se Shin. E Hayato teve sua confirmação. Shin estava no hospital.
Ele encerrou a ligação. Vestiu as primeiras roupas que encontrou. Pegou a carteira e as chaves de casa e então saiu o mais silenciosamente possível. Ainda lembrou de deixar um bilhete para a mãe explicando. Ele só se atreveu a calçar os sapatos quando estava na rua da casa.
E então, se pôs a correr. Ele correu o caminho até o hospital. Parou em uma loja de conveniência vinte e quatro horas, comprando todos os doces que sabia que Shin gostava.
Foi direto na recepção do hospital, que tinha seu balcão pintado com formas geométricas e coloridas.
— Shinkai Shin. Em que quarto ele está? — sabia que era aquele hospital. Shin já o havia informado em qual ia.
— O horário de visitas já…. — a atendente se interrompeu. Devia ter visto como Hayato parecia desesperado, pois disse. — Quarto duzentos e treze, segundo andar.
Hayato murmurou um obrigado e então foi. O mínimo da educação o lembrou de não correr no hospital. Mas isso não o impediu de fazer isso nas escadas. Ao inferno que esperaria o elevador.
No entando, deu uma corrida básica ao quarto. E entrou de uma vez ao ouvir o choro alto.
A primeira coisa que notou foi Shin, sentado na cama de hospital e com lágrimas a rolar pelo rosto. Na verdade, foi a única coisa que notou.
Hayato correu pra ele, ignorando a outra pessoa presente no recinto.
— Hayato — chorou Shin quando foi abraçado.
Hayato o embalou em seus braços. Acariciando seus cabelos e costas. Ele ouviu um suspiro de alívio.
— Ainda bem que ele se acalmou — soltou o homem. Hayato o encarou. Sua mente logo apontou que aquele era o homem com que havia visto Shin se encontrando naquela tarde.
Depois, ele registou que o homem vestia roupas de médico. Como um jaleco branco e aquela coisa que médico usa ao redor do pescoço que Hayato não queria lembrar o nome.
— Quem é você? — questionou Hayato.
— Ah, eu sou Yamazaki Masahiro — então ele era o médico de Shin. — E você é o Hayato não?
— Sou. O que Shin esta fazendo aqui?
— Nós nos encontramos hoje pra conversar e então eu arrastei Shin pro hospital.
— Como assim?
— Ah, é que ele pode ser muito teimoso sabe? O certo seria ele fazer consultas mensais, mas já fazia uns dois meses que ele me evitava. — explicou.
— Então você o arrastou para fazer uma…. bateria de exames?
— Isso.
— E por que Shin está assim? — choroso, mimado e parecendo bêbado.
— Ah, é o efeito dos remédios — e então Masahiro apontou para o soro que Shin estava recebendo na veia. — E antes que pergunte, achei melhor Shin passar a noite aqui pra que possamos retomar os exames logo cedo. Mas estou curioso pra saber porquê você veio correndo.
— Eu fiquei preocupado. O que fez o Shin chorar assim? — ele era emotivo mas não aquele ponto.
— Ah, acontece que Shin, sempre que nos encontramos, me faz assistir filme com ele.
— Que tipo de filme?
— De cachorros ou que tenha qualquer tipo de animal — é, isso era a cara de Shin. — Hoje nós assistimos Marley e Eu. Esse é o motivo do choro.
Por que Shin não o havia chamado para assistir? Ele assistiria qualquer coisa.
— Caso esteja se perguntando…. — continuou Masahiro. — Shin não o chamou pois não queria o ver chorar.
— Qual a lógica? — enquanto falava, entregava a Shin a sacola com doces. Começou a comer em silêncio.
— A maioria dos filmes com cachorros nos fazem chorar e Shin não queria ver você chorando. E mais, ele não queria forçar você a assistir algo que não gosta.
Hayato não o respondeu. Ficou em silêncio e refletiu. Shin achava que ele não fosse gostar dos mesmos filmes que ele e Hayato tinha certeza que a culpa era dele. Afinal, havia dito que só assistia filmes de terror e ação.
— Vou conversar com ele amanhã — mesmo que Shin estivesse ao seu lado, não fazia sentido conversarem agora, já que ele não estava com a mente sã. — E como sabia que eu estava pensando nisso? No porquê de Shin não ter me chamado.
— Depois de anos trabalhando nesse rumo a gente aprende a ler as pessoas. Saber qual melhor forma de dar uma triste notícia…. São coisas que aprendemos na marra.
— Entendo — Hayato voltou sua atenção ao namorado. — Shin, não coma tanto doce. Pode fazer mal.
— Por quê? — o tom choroso ainda estava ali.
— Já está tarde, é hora de dormir não de comer doce — explicou, com carinho. — Deixe um pouco pra amanhã.
— Okay.
Se prestarem atenção, vão ouvir o baque que o queixo de Masahiro fez ao atingir o chão. Resmungou algo sobre como chamaria Hayato para o ajudar a arrastar Shin até o consultório.
— Bem, imagino que você não queira ir pra casa né? — o olhar de Hayato para o médico foi resposta o bastante. — Quer que eu traga uma maca? Ou prefere enfrentar aquele sofá?
Um sofá minúsculo que ficava escostado na parede.
— Vá pro lado, amor — foi a decisão de Hayato.
Shin obedeceu com um sorriso. E após retirar os sapatos, se acomodou ao lado do menor. Shin se enroscou em seu corpo, da melhor forma que conseguiu. Ainda recebia soro na veia, a agulha estava em sua mão esquerda.
Em questão de segundos ele adormeceu. Hayato fechou os olhos, tentando pegar no sono. Ainda estava acordado quando Masahiro pôs uma manta em cima dos dois.
Ele se demorou, os observando.
— Estou tão feliz — disse, em voz baixa. — Você merece Shin. Durmam bem.
E então, Hayato adormeceu.
Acordou de manhã, com o quarto iluminado. Recordou-se imediatamente da madrugada. E ao abrir os olhos, primeiro viu Shin, que seguia adormecido. E então ele viu Masahiro, que retirava o soro da mão de Shin.
— Bom dia — disse.
— Cala a boca — mandou Shin. É, talvez ele não estivesse tão adormecido assim.
— Já acordou? — perguntou o médico.
— Masahiro — a pessoa em questão tremeu ao ouvir seu nome ser proferido com tamanho ódio. — Cala a merda da boca que eu quero voltar pro meu sonho.
O sonho devia estar muito bom para que Shin não quisesse acordar. Hayato riu, fazendo seu peito vibrar. Shin por fim abriu os olhos. Olhou para Hayato, olhou para o nada e então olhou para Masahiro.
— Não foi um sonho? — perguntou, a voz hesitante.
— Não — respondeu Masahiro. O rosto de Shin assumiu uma coloração vermelha como a de um morango. Virou-se, escondendo o rosto no peito de Hayato.
— O que foi amor?
— Não acredito que me viu daquele jeito — bêbado, para dizer o mínimo.
— Não ligue pra isso.
— Estou com vergonha.
— Não foi tão ruim.
— Tem razão, foi péssimo — Shin podia ser um tanto quanto mal humorado de manhã.
— Eu achei fofo.
— Mesmo?
— Mesmo. Ah e Shin, pode me dizer quando quiser assistir um filme — a pessoa citada se encolheu ainda mais contra seu peito.
— Desculpe. Está bravo?
— Um pouco e um pouco magoado.
— Desculpe.
— Apenas não esconda mais seus desejos.
— Não vou.
O casal se encarou e sorriu.
— Eu estou com ciúme — soltou Masahiro.
— Eu vou dar na sua cara — grunhiu Shin.
— Poxa, eu quero um namorado também.
— A culpa é sua se levou um fora do último, seu babaca.
— Que maldade, Shin — por incrível que pareça, ele fez beichinho.
— Não vou retirar o que disse. Você que lute.
— Seu chato.
— Galinha — e assim se seguiu uma série de xingamentos. Hayato, que apenas observava a troca de farpas, achou engraçado a relação dos dois.
Shin tratava Masahiro como um amigo e vice e versa. Hayato pensou até mesmo que Shin tratava Masahiro da mesma forma que tratava Zen, se não pior.
— Okay, chega. Você tem exames pra fazer — mandou o médico.
— Café da manhã antes, seu estúpido — Shin ainda estava no pique pra xingar.
— Eu vou pedir pra uma enfermeira trazer.
— Não. Eu não estou internado e nem de dieta, apenas passei a noite por comodidade — reclamou Shin. — Então trate de ir comprar. Ninguém merece comida de hospital.
— Você não acha que está muito abusado ultimamente?
— Eu vou ligar para a Masaki — ameaçou Shin.
— Volto em dez minutos — e então saiu da sala.
— Quem é Masaki? — questionou Hayato.
— Ela é a prima do Masahiro. Todo mundo morre de medo dela, principalmente o Masahiro. Ela é muito maluca.
— Em que sentido?
— Bem…. Ela tentou assar o Masahiro uma vez — disse e riu, sendo acompanhado.
— Pera, é sério?
— Sim, e isso não é nada perto das outras coisas.
— Acho que eu também teria medo dela. Você tem?
— Não. Ela é a minha psicóloga — Shin olhou ao redor, procurando ouvintes. — Não conte ao Masahiro, mas a maioria das vezes em que ele apanha é porquê eu deduro ele.
— Shin, você realmente é muito malvado.
Os dois gargalharam e conversaram, parando apenas para escovarem os dentes. Não demorou até que Masahiro voltasse com um café saudável, mas gostoso.
Mentira, ele comprou marmita pronta.
Depois, ficou decidido que Hayato o acompanharia nos exames. E assim eles ficaram. Shin recebeu os exames feitos no dia anterior, fez novos exames.
Pausaram para o almoço e então a bateria continuou. No final da tarde, a única coisa que faltava era Shin tirar sangue.
— Já não fizeram esse tipo de exame? — questionou Hayato.
— Ah, não. Esse não é um exame. É como se fosse uma doação de sangue — contou Masahiro.
— Por que isso?
— Devido a doença da minha família nós não podemos receber muitos tipos sanguíneos — contou Shin. — Então nós armazenamos pro caso de uma emergência.
— Não ter esse sangue quase custou a vida de Shin — antes que Masahiro terminasse de falar, Shin o chutou.
— Fica quieto.
— Certo, certo — choramingou enquanto começava a retirar o sangue. — Acho melhor você cochilar, isso vai demorar um pouco.
— Não vou sair do seu lado — disse Hayato.
— Certo — dito e feito, dormiu em segundos.
— Podemos conversar, Hayato? — perguntou Masahiro, depois de meio minuto de silêncio.
— O que?
— O que você pretende com Shin?
Sério? Mais um a lhe perguntar isso? O mais engraçado é que quem deveria fazer esse tipo de pergunta, seria a família de Shin. Nem Akira havia perguntado aquilo.
Tudo bem que ele podia ser o responsável de Shin perante a justiça, mas não precisava perguntar daquela forma.
— Apenas o básico — chegou a conclusão que era melhor responder de uma única vez. Pra acabar rápido.
— Como assim? O que quer dizer com o básico?
— Quero dizer com passar o resto da minha vida ao lado dele. O que vier junto é lucro.
— Lucro?
— Sim; família, amigos, amor, animais, a maravilhosa comida que só ele sabe fazer e muito mais. Apenas estar ao lado dele basta.
Um minuto de silêncio. Dois.
— Ainda bem que eu gravei isso. Vou colocar essa conversa pra rodar no casamento de vocês — foi a resposta de Masahiro, acompanhada de um sorriso. — Bem vindo a família, Hayato.
Okay, talvez ele não fosse tão ruim assim.
Publicado por:
- AlluEblys
- Escritora de BL/LGBTQIA+ original. Ela/Dela/A. Me acompanhem nas redes sociais, interação por lá.
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