Entre Espadas - Capítulo 9
Durante o início do yoake do dia, dentro daquele mesmo templo, tanto Ryo quanto Leonardo ainda se viam desacordados, dormindo da mesma maneira em que acabaram sua discussão na noite anterior. Quando o sol começou, por fim, a iluminar o interior daquele templo Ryo foi o primeiro a despertar, afinal nos últimos tempos era somente isso que ele estava a fazer, enquanto o mesmo abria seus olhos aos poucos, ele começava a sentir que estava sentado e não deitado como deveria estar e então, abrindo seus olhos completamente, ele se viu com a cabeça sobre o ombro de Leonardo, o que o fez cogitar por alguns minutos se ainda estava sonhando com algum acontecimento de sua antiga vida, mas logo essa sensação de ainda estar adormecido se dissipou e o mesmo afastou o rosto do ombro de Leonardo.
Após afastar seu rosto do corpo do outro, ele encarou o rosto de Leo como se estivesse o contemplando por alguns míseros segundos de normalidade, os quais ele já não lembrava mais como era sentir e, com um sussurro quase inaudível, o garoto disse “Você continua irritante…talvez eu cumpra o favor que me pediu quando morremos…mesmo que eu seja o único a lembrar.” Por fim, o garoto se levantou cuidadosamente para não acordar o outro e finalmente, depois de dois meses se hospedando naquele templo, conseguiu dar uma boa olhada no mesmo.
“Parece limpo…deve ser por causa do Leo” Olhando em volta o garoto reparou em um pequeno altar com uma figura de uma mulher, que outrora deveria ser a Deusa a qual estas pessoas cultuavam, uma pequena mesa de madeira com uma cadeira encostada a parede ao outro lado da sala e bem ali, ao lado da única porta de entrada e saída, estava o motivo do garoto ter ficado acamado durante dois meses, Gramr estava apoiada ali contra a parede e, por alguns minutos, Ryo a encarou em silêncio e se aproximou aos poucos até pegá-la com sua mão esquerda e ouvir uma voz familiar em sua mente.
“Decidiu acordar garoto? Por um segundo achei que sua vontade de viver não fosse tão forte quanto parecia desde nossa última conversa..” A voz parecia conter sarcasmo e ironia à medida que mais palavras ecoavam na cabeça do garoto.
“hmph…então ficou mesmo preso a espada, cobra velha?” O garoto falou em voz baixa enquanto se dirigia à saída daquele templo.
“Para alguém que afirma não ser deste mundo, em nossa segunda conversa você parece muito confiante… eu poderia matá-lo por isso seu insolente.” A voz era ríspida, claramente não estava contente em ser lembrado de sua situação.
“Posso não ser daqui, mas sei como as coisas funcionam em situações como a sua e a minha, ambos sabemos que mesmo que queira… você não pode me matar cobrinha e eu não posso me livrar de você” O garoto dizia com uma alta convicção do que falava, se baseando totalmente na sua experiência com jogos de fantasia que retratavam algo do gênero e esperava estar certo disto.
“Tsk, parece que você realmente não é tão tolo quanto pensei, sendo assim já que sabe que teremos que conviver, pelo menos me chame pelo meu nome… não desta forma humilhante a qual fala comigo.” A voz parecia estressada e a espada tremeu na mão de Ryo.
Assim que abriu o shoji de entrada do templo, se direcionando para o engawa e andando em volta ao decorrer que a luz do sol tocava sua pele, o mesmo voltou a falar com a voz “E por acaso qual seria seu nome?”
“Meu nome… pode me chamar de “M” por enquanto, preciso lembrar-me corretamente da pronúncia de meu nome.” M parecia realmente confuso.
“Certo… “M” esta é certamente uma maneira peculiar de querer ser chamado… bom nossa conversa foi agradável M, mas infelizmente creio que isto seja tudo por hora.” Antes que a voz de M pudesse ecoar na cabeça de Ryo mais uma vez o garoto abriu uma das portas shoji do templo e colocou a espada no chão, então fechando a porta, olhou em rumo ao sol.
É um belo dia, foi isto que Ryo disse a si mesmo antes de pegar a corda dourada que agora estava em seu pulso e usá-la para amarrar seus cabelos em um alto rabo de cavalo, voltar para frente do templo, calçar seu sapato e finalmente, em dois meses, sair para as ruas da cidade a qual estava hospedado.
Andando pelas ruas tortas da vila o garoto observa enquanto alguns comerciantes abriam suas lojas à medida que o sol os iluminava, algumas mulheres saíam de suas casas em direção ao que Ryo pensa que deveria ser os campos daquela vila, a medida que andava o garoto se sentia mais revigorado dos dois meses em que esteve dormindo. Diferente até mesmo do que o próprio garoto esperava se sentir nesta atual situação, ele se sentia livre pela primeira vez em dois anos, o ar era fresco por mais que em alguns pontos da vila um odor significativamente forte surgia, provavelmente algo do esgoto, ainda assim isso o alegrava e em meio a distração momentânea o garoto esbarrou em uma senhora de idade, mas logo a segurou para que a mesma não caísse.
“Oh, perdoe-me senhora, eu me distraí por um instante, quase a fiz cair.” O garoto disse enquanto equilibrava a idosa e por fim se afastou com um passo.
“Não se preocupe senhorita.. esta senhora não é tão frágil quanto aparenta!” A idosa disse alegremente e olhou atentamente para Ryo e antes que ele pudesse falar algo a senhora voltou a falar “Oh você não seria a sacerdotisa que estava repousando em nosso templo? A senhorita já se sente melhor?”
Ouvindo a senhora falar atentamente, Ryo parou um pouco seu raciocínio quando duas palavras se fixaram em sua mente “sacerdotisa” e “senhorita”, o garoto ficou momentaneamente sem reação e em sua mente ele dizia para si mesmo “acham que sou uma mulher?…por que…eu mal apareci na vila nestes dois meses…a não ser…” No momento em que o garoto entendeu o que estava acontecendo uma veia saltou em sua testa e ele respirou fundo e tossiu antes de falar.
“Peço perdão senhora, isto deve ser apenas um equívoco.” O garoto disse tentando manter a compostura e, antes que a senhora pudesse continuar essa conversa, o garoto inventou uma desculpa para se retirar e foi na direção oposta da mulher.
“Maldito, eu vou matar aquele… aquele… argh.” O estresse por se tocar do que Leonardo havia espalhado pela vila era ardente, principalmente quando quanto mais as pessoas começavam a aparecer na rua, já que muitas delas, ao ver como ele estava vestido iam até ele cumprimentar a sacerdotisa a qual estava se abrigando na vila deles e, com um sorriso forçado no rosto o garoto cumprimentava uma por uma das pessoas que vinham até ele.
Enquanto isto, ainda no templo, neste meio tempo algumas horas já haviam se passado e Leonardo finalmente se via a acordar após a maneira caótica a qual haviam ido dormir, o garoto se levanta se sentindo totalmente dolorido pela maneira desconfortável há qual haviam dormido e ainda confuso pelo sono ele olhou em volta e não viu ninguém.
“Ele saiu cedo?…não vou me preocupar com isto agora.” Após dizer isso para si mesmo, o garoto andou por toda sala, procurando alguma das coisas de Ryo até ver a espada jogada no chão, a encarar por alguns segundos e sair para fora.
O garoto deu a volta até a parte de trás do templo onde havia um pequeno lago o qual ele cuidou durante esses meses, quando não estava fazendo favores aos camponeses, o garoto então se ajoelhou a beira do lago respirou fundo e submergiu sua cabeça na água e a imergiu após poucos segundos respirou fundo mais uma vez e disse ao vento enquanto usava as mãos para tirar seu cabelo do rosto “Pelo menos assim, você não me enlouquece de uma vez.”
Enquanto estava ali perdido em seus pensamentos de repente o garoto voltou a si quando ouviu um som parecido com de palmas a frente do templo, o garoto então logo se levantou sem sequer se secar e ao chegar na entrada viu uma menina por volta de seus 13 anos com um grande embrulho de pano em seus pés a menina ao vê-lo disse calmamente.
“Senhor, minha mãe me disse para que trouxesse estas coisas para o senhor e sua companheira sacerdotisa pela sua ajuda na manutenção em nossa casa.” A garota dizia parecendo tentar buscar se lembrar de cada uma das coisas que sua mãe havia lhe pedido para os dizer.
O garoto sorriu e pegou os panos que revestiam seja lá o que ele e Ryo tivessem ganhado e abrindo um pouco a porta do templo a colocou mais para dentro, então se virando para a garota sorriu e disse “Akiko diga a sua mãe que estamos muito agradecidos pela bondade dela e que caso precise de algo me chame se ainda estivermos na vila.”
“Ah, senhor, vocês já se vão para fora da vila?” Akiko parecia ter ficado descontente com tal informação.
“Bem, imagino que sim, agora que “ela” acordou, imagino que logo iremos para a capital do distrito.” O garoto parecia realmente pensar sobre o assunto.
“Entendo…mas o senhor disse que a senhorita acordou?! eu posso conhecê-la finalmente?!!” O tom na voz de Akiko logo voltou a ser animado quando soube que a “sacerdotisa” havia despertado.
“Sinto muito Akiko, “ela” não está, mas imagino que por volta do começo da tarde, “ela” esteja de volta.” O garoto disse bagunçando o cabelo da jovem.
“ah, certo! voltarei assim que o primeiro horário desta tarde começar!” A garota disse rindo e afastando a mão do outro antes de se virar, despedindo-se de Leonardo com um aceno de mão e correndo de volta por onde havia vindo.
Após a jovem ir embora, o garoto se virou novamente para adentrar ao templo e voltou a pensar sobre algo com um sorriso brincalhão em seu rosto “agora que acordou…quanto tempo será que ele vai levar até descobrir o que fiz..” Quando adentrou organizando o que havia ganhado da mãe de Akiko o garoto ria pensando em como isso irritaria Ryo o fazendo querer pular em seu pescoço.
Já por volta do meio dia, Ryo se via sentado em uma barraca de arroz a qual o dono havia o oferecido o quanto quisesse comer, sem a necessidade que ele pagasse devido a ser um “presente” para a sacerdotisa recém recuperada o que estava mexendo com aos poucos com os pensamentos de Ryo “Bom, este tratamento até que não é ruim e a comida é tão boa…vou manter essa farsa somente por hoje…” O garoto sorria enquanto comia sem dizer nenhuma palavra sequer.
O garoto comia alegremente, afinal dois meses sem nenhum alimento obviamente o causaria uma enorme fome, a medida em que devorava o arroz em que comia o garoto parecia extremamente alegre e enquanto comia uma voz grave veio de trás do mesmo.
“Ei, você aí.” Uma voz grave e masculina surgiu por trás de Ryo o que o fez se virar e ver uma pessoa um tanto quanto diferente, um homem alto, com chifres em sua cabeça.
“Eu?”
“É, você mesmo que tá comendo como um porco.” O homem disse, estando claramente sério olhando para o outro. “Você não é desta vila, certo?”
Esta pergunta fez Ryo ficar confuso sobre o porquê da curiosidade vinda daquele homem ali presente, o fazendo olhar seriamente para o outro e dizer em alto e bom som. “E quem seria você? para se preocupar sobre onde pertenço.”
“Quem sou eu?” O homem tomou uma postura um tanto quanto presunçosa “Eu sou Kishin comandante do exército do quarto general!”
Ryo não prestou muita atenção ao que o Oni falava, somente segurou sua tigela de arroz na mão enquanto o encarava falar sobre ser um general “Certo, o que alguém do exército deseja comigo?” O garoto perguntava enquanto levava mais uma porção de arroz à boca.
A expressão de Kishin parou um pouco surpreso por o tom de voz da pessoa à sua frente não mudar nenhum pouco para respondê-lo. “Como, uma.. como uma mera sacerdotisa ousa falar de maneira tão leiga com um oficial do exército? não tem medo de ser punida mulher?!”
O garoto largou o prato na mesa da pequena carroça de comida em que estava após agradecer o senhor pela comida, ele se levantou, se distanciou um pouco da carroça e disse para Kishin “Isso está começando a ficar chato, sabia ? primeiramente eu não ligo para sua posição em exército ou seja lá o que e segundamente…” O garoto respirou fundo, como se a raiva de ser confundido com uma sacerdotisa durante o dia todo finalmente viesse à tona “EU NÃO SOU UMA SACERDOTISA, MUITO MENOS UMA MULHER.”
O oni ficou boquiaberto com a audácia do garoto em gritar enquanto falava com ele “Então por que se veste como uma sacerdotisa?! Se não queria ser confundida com uma se vista apropriadamente! e quem pensa ser para levantar a voz para mim ?!” O oni se enfurecia a cada frase trocada com o garoto a sua frente e não sendo alguém conhecido por sua paciência em conversar com outras pessoas o garoto jogou uma de suas katanas a frente de Ryo e empunhou a outra e irritado disse “SE NÃO É UMA MULHER, VAI SER PUNIDO COMO UM HOMEM POR SEU TOM INSOLENTE! É MELHOR PEGAR ESSA KATANA E SE PREPARAR.”
Ryo olhou para a katana no chão e depois para Kishin e pensou olhando para ele confuso “esse cara quer brigar porque gritei com ele? ah é mesmo, nesse tempo existiam pessoas que só sabem conversar entre espadas…bem se ele quer apanhar..” O garoto então deu um sorriso confiante enquanto pegava a lâmina jogada ao chão e a tirou de sua bainha e antes de qualquer movimento disse sorrindo “Certeza disso? eu não vou pegar leve por ser alguém importante…”
“Cale a boca mortal insolente!” Kishin disse partido para cima de Ryo com sua lâmina mirando no pescoço do mesmo.
Ryo somente sorriu para ele soltando um pequeno riso enquanto observava o mesmo correr em sua direção e com apenas uma mão o garoto segurando a Katana, assim que Kishin se aproximou do mesmo com sua lâmina o garoto o conteve sem demonstrar muita dificuldade e disse em um tom um tanto quanto presunçoso “Para alguém que parecia estar confiante que ganharia… sua base está um tanto quanto ruim…não tem força o suficiente para forçar a lâmina contra a minha…”
Kishin se irritava cada vez mais com o que Ryo falava “INSOLENTE, O QUE QUER DIZER COM ISSO?” O oni disse forçando mais a lâmina contra a lâmina de Ryo.
“Oh, não entendeu? Estou te chamando de fraude, nenhum espadachim teria uma base horrível dessas.” O garoto disse forçando a lâmina contra a do outro ao ponto de forçá-lo a se afastar, no mesmo momento o garoto percebeu que Kishin havia deixado seu peito exposto, era uma abertura que somente um idiota não viria como uma oportunidade de um contra ataque.
Naquele momento usando seus dois pés como impulso o garoto saltou com a lâmina em direção ao peito de Kishin e antes que o oni pudesse fazer qualquer coisa para desviar a lâmina na mão de Ryo perfurou o peito dele o fazendo o cair no chão o fazendo cuspir um pouco de sangue “Viu? uma fraude… isso não vai te matar né? você não me parece ser um humano, se morrer só com isso vai ser humilhante comandante.” O garoto riu e fincou o máximo que conseguia a espada no chão, o que fez Kishin urrar de dor. “Ah, sua katana, quase me esqueci, sabe não entre em um combate sem avaliar se pode vencer seu inimigo… Enfim, não espere me ver de novo. Iremos embora hoje.”
Enquanto o oni se contorcia pela dor da katana cravada em seu peito, ele reuniu forças para fazer apenas mais uma pergunta ao garoto que o derrotou de forma um tanto quanto humilhante. “SEU DESGRAÇO, COMO OUSA ME FERIR?…QUEM PENSA SER PARA FERIR UM COMANDANTE?!”
O garoto então soltando a katana se virou para partir do local e um tanto orgulhoso por se sair bem em um combate contra alguém de um lugar onde as eras estavam tão longes da própria, o garoto falou de maneira presunçosa enquanto se afastava “Quem penso ser? sou um mero visitante de outra terra procurando um lugar para viver, mas se deseja saber meu nome lembre se dele se quiser recuperar a honra que perdeu ao ser ferido por sua própria lâmina” O garoto então sorriu enquanto caminha por onde havia vindo mais cedo e disse “Ah é mesmo, eu não o disse meu nome… pode me chamar de Toyosaki Ryo, lembre-se do nome da pessoa que o humilhou hoje.”
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