Entre Espadas - Capítulo 12
Naquele momento, o fogo se alastrava cada vez mais dentro da cidade, como se cercasse todos os que ali moravam em uma enorme caldeira pronta para reduzir todos a cinzas. Leonardo já estava coberto de ferimentos; sua camisa tinha se desmanchado quando bloqueou a primeira rajada de fogo que caiu sobre eles. Sua pele ardia, mas o garoto ainda estava de pé no meio daquela cidade que aos poucos era destruída. Atrás dele, uma garotinha com seu kimono rosa, agora manchado de sangue, parecia estar se escondendo de algo. E, naquele exato momento, uma barra de notificação se materializou na frente dele.
[A missão inicial “Conheça a Nação de Iwasakiyama” foi completada! Parabéns ao usuário 000075, a liberação do sistema foi concluída!
Uma nova missão foi atribuída ao mesmo:
Título da missão: Massacre na Vila Tatsumaki
Objetivo da missão: Salve a vida de 20 NPCs e do terceiro usuário escondido entre eles!
Objetivo bônus: Derrote o Devorador de Homens
Dificuldade de conclusão: Intermediária
Recompensa da missão: Uma habilidade inata será desbloqueada
Consequência de falha: Caso o usuário falhe nos requisitos desta missão, rachaduras começarão a surgir em seu novo corpo. O sistema e a deusa desejam-lhe sorte neste primeiro confronto!]
[…]
Cinco horas antes – Velho Templo da Vila Tatsumaki.
Já havia certo tempo em que Ryo havia retornado das ruas encharcado pela chuva, naquele momento ele não estava vestindo roupa alguma exceto por uma grande toalha que o cobria enquanto suas roupas estavam dentro de uma grande bacia de madeira a qual Leonardo trouxe dos fundos do velho templo, naquele momento Ryo estava sentado ao canto de uma parede observando enquanto Leonardo torcia suas roupas para retirar a água que havia se acumulado na mesma.
— Sabe, eu estava andando pela cidade hoje. — Ryo disse ainda o encarando enquanto esperava uma resposta do outro para continuar a falar.
— Isso é bom, quer dizer que suas energias já se recarregaram. Devemos conseguir voltar à estrada logo, então. — Enquanto falava, ele continuava a torcer as peças de roupa de seu companheiro com as mãos, o que, algumas vezes, fazia um pouco de água respingar em sua própria roupa.
— Claro, podemos ir quando a chuva passar e eu estiver devidamente vestido, mas… sabe, não é disso que quero falar. — Ele então se levantou de onde estava e foi até Leonardo, que o olhou de baixo para cima, ficando até um pouco vermelho, mas mudou sua expressão assim que viu a seriedade no rosto de Ryo. — Uma sacerdotisa, sério? — O garoto disse, encarando-o como se tivesse acabado de se lembrar que deveria estar com raiva por isso.
— De todas as coisas que você poderia falar, você teve a brilhante ideia de dizer para uma vila inteira que eu sou uma jovem sacerdotisa que adoeceu?! — Ele dizia de uma maneira que deixava clara sua irritação com a situação. — Sério, se já não tivéssemos morrido uma vez, eu mesmo o mataria agora, idiota.
— Olha, eu tenho ótimos motivos para ter feito isso, ok? — Ele parecia querer rir ao ver como o outro reagiu à situação, mas continuou torcendo o restante das vestes de Ryo. — Além disso, qual é? Você está mesmo parecendo uma sacerdotisa com essas roupas, uma muito bonita, por sinal. — Completou, levantando-se após terminar de torcer as roupas dentro da bacia e olhando diretamente nos olhos de Ryo.
— Leo, isso não tem graça. Foi vergonhoso, sem contar que poderia acabar acarretando problemas para mim se eu não tivesse entrado no seu joguinho. — A fala dele era séria enquanto via o sorriso de Leonardo, que achava tudo aquilo muito engraçado, pelo menos para ele.
— Ryo, você está se preocupando à toa. Olha, essa farsa que te irritou foi só uma brincadeira, ok? Além disso, isso permitiu que tivéssemos um lugar para dormir nesses últimos dois meses.— O garoto disse de maneira descontraída, dando um leve peteleco na testa do garoto à sua frente, fazendo-o recuar um pouco. — De qualquer jeito, você está fazendo uma tempestade em um copo d’água. A gente vai embora hoje e você mesmo disse que ninguém te descobriu, não é?
Ele ficou olhando para Ryo, esperando alguma confirmação do que perguntou, mas começou a estranhar quando o viu desviando o olhar para o além e hesitando em confirmar que ninguém mais o havia descoberto. — Toyosaki, olha pra mim — disse, usando uma de suas mãos para segurar o rosto de Ryo, fazendo-o olhar diretamente para ele. — Quem te descobriu? Nem tenta mentir que sua cara já está te entregando, pilantra.
— Hm?! Olha como você fala comigo! Talvez, só talvez, eu possa ter confrontado uma pessoa do exército, mas olha, é totalmente justificável, ok? Ele me provocou. — Enquanto falava, ele estava meio vermelho pela maneira como Leonardo o segurou. — Mas eu o derrotei e cravei a katana no peito dele, então não há por que se preocupar. Quando ele se levantar, a gente já vai estar bem longe daqui. — Ele tinha um sorriso no rosto, orgulhoso por ter derrotado o outro tão facilmente, mas Leonardo, pelo contrário, estava totalmente em choque pelas ações presunçosas de Ryo.
— Tira esse sorrisinho da sua cara agora. — Ele disse, afastando-se um pouco enquanto parecia estar excessivamente preocupado com o que Ryo havia feito. — Escuta, eu sei que você sempre foi meio fraco da cabeça, Ryo, mas você me diz na maior naturalidade do mundo que empalou uma pessoa do exército, e está tudo bem porque a gente vai embora?! Claro, o que poderia dar errado, né?
— Olha, talvez tenha sido uma atitude idiota, eu sei, mas nós vamos embora hoje. Não tem como eles já terem se preparado para revidar nesse meio tempo. — Ele dizia, abaixando-se para pegar as roupas que já não estavam mais molhadas, apenas um pouco úmidas, e foi em direção à sala ao lado para se trocar, deixando Leonardo falando sozinho sobre o que Ryo havia feito e como aquilo era errado.
Quando percebeu que havia sido deixado falando sozinho na sala principal, ele acabou nitidamente frustrado com isso e foi até a porta do outro cômodo, abrindo-a de uma vez. — EI, ISSO É IMPORTANTE, PODE VOLT—” — O garoto se calou assim que seus olhos caíram sobre a pele de Ryo. Ele estava de costas para Leonardo e tinha acabado de começar a se vestir. Presenciar isso fez com que a pele de Leonardo ganhasse uma tonalidade vermelha muito forte e, no mesmo instante em que viu o por completo, ele fechou a porta, deixando-o sozinho, e disse em alto e bom som:
— EU NÃO VI NADA.
[…]
Três horas antes – Capital do País de Iwasakiyama.
— Masaru, você está sendo extrema demais! — Gonkuro disse, levantando-se da mesa onde ele e Masaru estavam jogando e caminhando até parar ao seu lado, em frente ao espelho.
— Extrema? Oh, não, querido, eu não estou sendo extrema, estou apenas me precavendo contra uma maior comoção da população geral futuramente, caso fosse necessário matá-los. — A mulher disse, aparentando ter certeza enquanto falava sobre a possibilidade de futuras comoções. — Além disso, do jeito que eu vejo, sua preocupação sobre eu estar sendo ou não extrema pode estar relacionada ao seu apego às pessoas do seu distrito. Estou certa, terceiro general Gonkuro?
— I-isso não é o ponto, Masaru. Não há possibilidade de você realmente estar considerando fazer isso, não é?! — O homem dizia, cerrando os punhos com certa raiva misturada à sua desaprovação da decisão que sua senhora parecia determinada a tomar, e completou por fim: — Masaru, você não pode achar mesmo que Seiryuu vai concordar em fazer o que você pretende, só porque é algo que você quer, né?! Até ele deve saber que aniquilar uma vila inteira não é a solução.
Gonkuro mal teve tempo para concluir sua última frase quando sentiu a lâmina da Kamayari contra seu pescoço. A intenção assassina emanava não de Masaru, mas da própria arma, era a sede de sangue de Seiryuu. — Gonkuro, pelo tempo em que somos amigos… já deveria saber que meu Seiryuu odeia que falem por ele, principalmente sobre mim. — A mulher disse calmamente enquanto movia a mão para segurar o cabo da arma, parecendo ouvir algo. Ela então respondeu à arma: — Sabe que não deve machucá-lo, é nosso amigo, por mais que às vezes ele seja parcialmente tolo. — A arma pareceu ouvi-la calmamente, e Gonkuro sentiu a sede de sangue que ela emanava se dissipar rapidamente.
Quando a arma por fim se acalmou, Masaru a repousou em cima da mesa e voltou seu olhar ao terceiro general, que ainda parecia suar frio com o que havia acontecido segundos atrás com Seiryuu contra seu pescoço. Isso fez Masaru rir genuinamente ao ver o jeito que seu general tremia.
Naquele momento, ela gostaria de poder ver o rosto do homem para saber o quão em pânico ele poderia ter ficado com a situação. Quando parou de rir, apenas o olhou e perguntou de maneira genuína: — Ainda acha que meu Seiryuu não me apoia nesta situação, Gonku? — Sua voz tinha um tom irônico e brincalhão, parecendo ter deixado de lado sua atitude de minutos atrás.
— Não tem graça, Masaru. — O homem disse seriamente, observando-a rir. Sem esperar que a mulher respondesse, ele foi em direção à porta de saída da sala. Ao chegar à porta, antes de abri-la, ele se virou para olhar para sua senhora. — Independentemente de seguir ou não com este plano, mesmo que eu não concorde, lembre-se de que sou seu aliado mais confiável, Masaru. — O homem não esperou uma resposta de Masaru; apenas se virou novamente, abriu a porta e se retirou do salão, deixando-a ali sozinha com Seiryuu.
[…]
Duas horas antes – floresta na frente da Vila Tatsumaki
Após entregar a Kishin a ordem de sua Xogum, Sakuma estava andando sem rumo na floresta onde Ryo e Leonardo haviam surgido dois meses atrás, sentindo-se um tanto quanto receosa se aquela era realmente a maneira ideal de lidar com a situação. “O massacre de uma vila inteira… Por que isso parecia ser tão errado?” Até mesmo para Sakuma, que nesses novecentos anos já havia levado tantos mortais a encontrar seu fim com suas próprias mãos, isso não parecia certo, pelo menos não totalmente.
A mulher estava imersa em seus pensamentos enquanto andava, ao ponto de sequer notar quando se aproximou demais de um grande lago, só percebendo quando sentiu o frio da água em seus pés e em seu kimono. A sensação de frio em sua pele fez Sakuma voltar a si e olhar em volta, observando então aquele lago de águas cristalinas e profundas. No meio dele, havia uma pequena ilha com um enorme salgueiro. Não demorou muito até que ela notasse algo naquele lugar e falasse para si mesma:
“A energia espiritual desse local… está transbordando… Por que não há outros youkais por aqui?” Aparentando estar até mais relaxada naquele local sem perceber, aqueles pensamentos que pareciam um mar agitado e tempestuoso aos poucos se tornaram uma maré calma trazida com o sol e a brisa quente do verão. Essa sensação fez a raposa sorrir, deixando de lado a aflição.
Logo, ela se afastou das margens daquele lago e uma nuvem vermelha envolveu todo o seu corpo. No instante seguinte, ao se dissipar, revelou não a aparência de uma bela mulher, mas sim a de uma enorme e poderosa raposa negra de nove caudas, de beleza imensurável. Esta era a verdadeira forma de Kaoru, foi assim que veio a este mundo há tantos séculos atrás. A raposa logo se aproximou mais uma vez do grande lago e, com um salto que fazia parecer que ela poderia planar no ar, foi para a ilha ao centro do enorme lago. Quando por fim se encontrava naquela pequena ilha onde estava o salgueiro, a raposa então se deitou em repouso.
Ela permaneceria ali adormecida por algum tempo, sentindo uma brisa calma trazida pela mata em seus pelos, ouvindo o som calmo da água do lago que parecia se movimentar juntamente ao vento e o som das folhas do salgueiro, que mais pareciam parte de uma grande melodia feita pela floresta especialmente para ela. Infelizmente, para ela, aquela doce melodia logo pareceu ficar estranhamente desarmônica com o som dos galhos se quebrando aos passos de alguém próximo à margem do lago, o que fez com que ela finalmente abrisse os olhos, despertando de seu breve descanso. Seus olhos caíram diretamente sobre o que, ou melhor, quem estava na outra margem: uma garotinha de cabelos negros e curtos, usando um delicado kimono rosa florido com uma pequena boneca de pano em seus braços. Estranhamente, aquela garota a olhava como se estivesse encantada ao ver uma criatura tão bela, e em seu olhar Kaoru pôde ver um brilho quando a garota notou que a raposa havia acordado e a olhava diretamente.
— Por que… por que não sinto medo em seu olhar enquanto me encara, jovem…? — A raposa indagou, olhando para a garota. Seus lábios podiam não se mexer, mas suas palavras alcançaram a jovem na outra margem. Ela teve essa certeza quando notou que a garota a respondeu assim que ouviu sua pergunta.
— Bem… é que, na verdade, eu a achei muito bonita, senhorita raposa, e meu pai me disse que coisas bonitas deveriam ser admiradas, não temidas. — A garotinha parecia um tanto tímida ao responder, suas bochechas ficaram rosadas ao falar, e mesmo ao longe Kaoru pôde notar e achar fofo como crianças humanas podem ser tão sinceras. Isso a fez querer provocá-la um pouco.
— Me acha bonita, doce criança? Mesmo sabendo que sou um youkai… ainda por cima uma raposa, não teme que eu decida devorar sua doce alma, jovem…? — Kaoru dizia em um falso tom malicioso, sentando-se para observar qual seria a reação da garota do outro lado da margem.
— Sim! Acho a senhorita raposa muito bonita! E… e eu não me importo se quiser devorar minha alma, mas sei que não fará isso. — A garotinha disse em um tom mais elevado, com um certo temor, não por sua vida, mas pelo medo de que suas palavras não alcançassem a Kitsune ao longe.
Ouvindo as palavras da garota, Kaoru apenas riu de maneira doce por alguns segundos, respondendo à jovem em seguida: — Está tão convicta de que não comerei sua alma assim, jovenzinha? Deixe-me perguntar, jovem senhorita, como chegou a esta conclusão?
A garota teve seu rosto totalmente tomado pela tonalidade vermelha de vergonha ao ouvir os risos da raposa, o que a fez se apressar para responder à criatura, mesmo que gaguejando: — Be-bem, é que seus olhos parecem muito bondosos! E-então a senhora raposa com certeza não é um youkai malvado!
À medida que falava, era nítida a convicção em sua voz e a vergonha em seu rosto por falar de maneira tão aberta. Isso fez uma curiosidade genuína surgir no olhar de Kaoru, pois havia muitos anos que um humano não despertava um interesse tão genuíno nela.
Enfim, com um doce riso após ouvir o que a garota dizia, a kitsune por fim se levantou e saltou para o lado do lago onde a menina estava. Ao ver a criatura saltar em sua direção, a menina recuou um pouco assustada ao ver aquele ser de perto.
Quebrando o silêncio, a raposa, agora diante da pequena criança, abaixou a cabeça e perguntou, olhando em seus olhos: — Sabe, é a primeira vez em muitos anos que vejo uma humanazinha tão imprudente por me julgar como bondosa só por olhar em meus olhos… não vou negar que é do meu agrado. Você realmente me deixou curiosa, qual seria seu nome, docinho?
— M-meu nome é… eu… eu me chamo Akiko, senhorita raposa. — A menina parecia ficar ainda mais constrangida ao notar que a raposa havia se referido a ela de uma maneira que poderia ser considerada quase carinhosa.
— Akiko, é um nome muito bonito. — A voz que vinha da raposa era calma e coberta por certo apreço ao saber o nome de Akiko. — Me lembrarei de seu nome, Akiko. Como me agradou nossa conversa hoje, se um dia eu voltar a encontrá-la, lhe concederei um pedido.
Com essas últimas palavras, quase em um piscar de olhos de Akiko, a majestosa raposa desapareceu de sua visão, sem deixar nada que comprovasse sua presença no local, deixando a pequena menina confusa com suas palavras. Com certeza, por mais que ambas ainda não soubessem, aquela conversa marcaria grande parte de suas vidas. Com uma sensação de conforto, a garotinha olhou para o céu e, ao notar que estava para começar o entardecer, logo se apressou para voltar para sua vila.
[…]
Dez minutos antes – Velho Templo da Vila Tatsumaki.
Durante a tarde daquele dia, os dois garotos estavam se preparando para sair do templo e seguir para a capital do distrito. Enquanto Ryo arrumava o cabelo da maneira que considerava mais prática para a caminhada, Leonardo, ao lado da porta, organizava algumas toalhas dentro de uma bolsa de pano que havia ganhado dos moradores da vila por sua ajuda na colheita e plantação nos últimos dois meses. Junto às toalhas, havia um cantil de água feito de couro e algumas frutas. Enquanto terminava de se organizar, ele finalmente quebrou o silêncio, virando-se para Ryo:
— Toyosaki, antes que eu me esqueça, lembre-se de pegar aquele florete que você arrumou quando estávamos na floresta. — Enquanto falava, ele tentava não manter seu olhar fixo no homem à sua frente, parecia tentar evitar ao máximo olhar diretamente para ele.
— Ah! Quase me esqueci mesmo, obrigado por lembrar. — Terminando de trançar o cabelo, ele então se virou indo para o cômodo ao lado, onde viu o florete ainda jogado no chão, onde o havia deixado anteriormente. Quando o pegou em suas mãos, quase instantaneamente pôde ouvir a voz de “M” em sua cabeça.
— Da próxima vez em que sair, garoto, não ouse me deixar jogado no chão como se eu fosse uma arma qualquer! — A voz de “M” em sua cabeça parecia irritada por ter sido largada no chão.
Ao ouvir a voz de “M”, Ryo fez uma careta como se a voz tivesse feito sua cabeça doer. — Tá bom, tá bom, pode se acalmar, cobrinha. Não vou te deixar jogado, ok? Agora se comporte, vamos sair da vila.
Após terminar sua breve fala com a entidade dentro do florete, o garoto logo voltou para a sala principal com o florete na cintura, notando que aparentemente Leonardo havia terminado de arrumar a bolsa com o que iriam levar e estava sentado à mesa no canto da sala, aparentemente analisando um grande mapa.
Ryo então se aproximou, parando atrás dele e apoiando as mãos nos ombros de Leonardo, que sentiu um arrepio com o toque, e por fim perguntou:
— Esse é o mapa deste país?
Leonardo não respondeu, apenas assentiu com a cabeça, o que fez Ryo continuar falando, inclinando-se um pouco mais sobre ele:
— Nossa, eu não esperava que fosse um lugar tão grande… Pode me mostrar para onde vamos e onde estamos no momento?
— Posso, mas é… — Leonardo então virou o rosto para trás, olhando para Ryo. Seu rosto estava vermelho como um pimentão. — P-pode se afastar um pouquinho? — Sua voz saiu trêmula; aparentemente, o menor toque parecia deixá-lo sem jeito.
Observando o rosto de Leonardo, o garoto riu ao ver o quão vermelho ele estava. Era bonito de se olhar, como se lembrava. Por alguns segundos, o garoto pareceu sentir que era assim que deveria ter sido na primeira vida deles: uma casa no interior onde somente eles conheciam, sem desentendimentos, sem segredos, sem que Leonardo tivesse que ouvir palavras tão cruéis dele sem merecer tal coisa, sem ter nenhuma parcela de culpa do que tanto o assombra. De um jeito estranho, até mesmo para Ryo, ele sentia que esses últimos dois meses foram os melhores dos seus vinte e um anos de vida. Por mais que estivesse adoecido, ele não estava sozinho. De um jeito estranho, “M” estava na cabeça dele mesmo naquele momento e, exteriormente, quando o garoto se via acordando, Leonardo estava sempre lá cuidando dele, de novo e de novo. E naquele momento, um pensamento veio à mente de Ryo:
“Será que ele poderia ter esse cuidado, mesmo se lembrasse de todas as coisas horríveis que eu lhe disse?” Mas, felizmente, esse foi um pensamento momentâneo, ao qual ele já sabia a resposta: é claro que cuidaria. Ele não havia se esquecido das últimas palavras de Leonardo antes de morrerem naquele elevador e antes de partirem juntos nessa viagem que seria longa. Ele responderia àquelas palavras, mesmo que o outro não se lembrasse.
— Não, não posso me afastar. — Ryo disse, abaixando-se para ficar cara a cara com Leonardo, que o encarava ainda sentado naquela cadeira, sem entender o que o garoto estava fazendo.
— O-o que, por que você…? — O garoto estava cada vez mais vermelho, notando a proximidade do outro. — Tão perto… o que você preten…
Antes que Leonardo pudesse continuar sua série de perguntas repletas de vergonha e confusão ao ver o outro tão perto depois de tanto tempo, ele se viu sendo silenciado pelo doce toque dos lábios de Ryo nos seus. Ele não soube como reagir e apenas aceitou a ação que foi tomada e, sem perceber, já havia correspondido. Era como andar de bicicleta; o sabor doce dos lábios de Ryo era como ele se lembrava da primeira vez que o beijou. A maneira como, mesmo inconscientemente, ele praticamente o devorava continuava tão fofa aos olhos dele. Aquela sensação, aquele sabor, aquela boca, tudo isso até o fez esquecer o quão estranha era a ação repentina, principalmente na situação em que os dois se encontravam.
[…]
Enquanto isso, na capital, Masaru estava na parte exterior de seu quarto, olhando para o céu como se calculasse algo. Por fim, quando teve certeza de como precisaria ser feito, a mulher voltou para dentro do quarto, pegou Seiryuu em cima de sua cama e estava prestes a voltar à parte exterior quando ouviu a porta se abrir, o que a fez se virar, mesmo que já soubesse quem era a pessoa, e por fim falar:
— Gonkuro, eu já entendi que não concorda com minha decisão, mas por favor… não me peça para voltar atrás. Sabe que não posso hesitar nas minhas decisões, mesmo por você, velho amigo. — A mulher disse de maneira calma enquanto o observava adentrar ao quarto sem falar nada e andar até estar cara a cara com ela.
— Não vim para pedir que volte atrás, Masaru. Eu… vim como prova de que lhe apoiarei nas suas decisões, minha Xogum. — O homem parecia carregar pesar em sua voz, mas, à medida que falava, ele se abaixou em reverência à mulher. Naquele momento, ele sabia que, por mais que a ideia de ter os moradores de seu distrito mortos o incomodasse, ele precisava ficar ao lado de sua senhora.
Vendo a ação de Gonkuro, ela se sentiu mais aliviada ao ver que ainda tinha apoio e, enquanto se virava para seguir para a varanda do quarto, ela por fim disse: — Obrigada, meu irmão. Perdoe-me pela maneira como falei com você mais cedo.
Ao terminar de falar, a mulher por fim seguiu seu caminho para a varanda e, parando na divisória da parte exterior do seu quarto com o telhado do enorme castelo, segurou Seiryuu em suas mãos e fechou os olhos, parecendo buscar concentração antes de, por fim, falar a Seiryuu.
— Meu Seiryuu, antes que eu continue, por favor, me diga: você ainda me apoia, mesmo agora? — A voz de Masaru parecia conter uma dúvida genuína, quase como uma angústia em seu coração, mas que logo se cessou quando uma voz a respondeu.
— Eu a apoiarei, desta vez… — A voz era rouca, calma e um tanto grave, parecendo até mesmo receosa, e a resposta que somente Masaru pôde ouvir fez suas rápidas dúvidas sobre suas ações se apaziguarem por completo.
A mulher, agora confortada por ter apoio daqueles cujas opiniões realmente importavam, respirou fundo, parecendo querer prender o máximo de ar em seus pulmões. Ela levantou Seiryuu, que parecia emanar um brilho azul intenso, e, enquanto se colocava em uma boa base para lançamento, soltou todo o ar que acumulou em seus pulmões, o qual saía como nuvens de vapor. Aos poucos, seus intensos cabelos vermelhos pareciam queimar em chamas e, quando estava prestes a lançar Seiryuu em direção àquela vila, a mulher disse em alto e bom som:
— Com as chamas que queimam em meu espírito e os raios que residem em você, oh grande dragão, eu o ordeno! — As palavras que saíam de sua boca pareciam um mantra que, a cada palavra, intensificava mais a energia contida na Kamiyari que segurava. — Abra seu voo e, com minhas chamas, transforme meus alvos em pó. — Por fim, quando lançou a Kamiyari, um forte vento jogou várias das peças do quarto longe, além de fazer a máscara que Gonkuro utilizava cair de seu rosto. A última frase de Masaru pôde ser ouvida: — Seiryuu, deixe-os queimar!!
[…]
Quando os lábios dos dois garotos por fim se afastaram, eles se olharam como se tivessem muito a falar, muito a explicar, muito a compensar, mas de algum modo, entre os olhares de ambos, sabiam que aquele não era o local nem o momento para conversarem sobre isso. Mesmo sabendo disso, Ryo estava prestes a falar quando os dois ouviram ao longe um estrondo como um trovão, seguido por gritos na vila e o cheiro de madeira queimada. Aquele som deixou ambos os garotos alarmados e assustados, fazendo Ryo correr até a porta para abri-la e ver o que teria causado aquilo. Chegando à porta, mesmo antes de abri-la, “M” começou a tremer em sua cintura, como se tentasse alertar sobre algo, o que fez Ryo segurá-lo assim que abriu a porta. Mas, infelizmente para ele, dessa vez ele não foi rápido o suficiente.
— DESVIE, GAROTO! — A voz de “M” em sua cabeça foi quase um grito desesperado, mas o garoto não entendeu o porquê dele dizer aquilo, pelo menos não até ser tarde demais.
Quando ele finalmente pôde ver, uma Kamayari envolta de chamas azuis, quase como a forma de um dragão chinês, parecia vir diretamente para ele. Aquela visão o fez paralisar ali mesmo, o que foi tempo suficiente para aquela coisa colidir com seu florete e o arrastar pela casa, deixando um enorme rastro de chamas e destruição. Aquela coisa, seja o que fosse, era forte demais, rápida demais, poderosa demais. Quando se deu conta, Ryo se viu sendo jogado por aquela coisa para cima. Para sua sorte, “M” parecia impedir que aquilo o perfurasse momentaneamente, mas não conseguia impedir que aquilo destruísse o teto do antigo templo, jogando o garoto no ar.
Se vendo no ar, Ryo notou que aquela coisa não estava mais tentando perfurá-lo por baixo, mas sentiu gosto de ferro em sua boca. Aquilo poderia não o ter perfurado, mas com certeza o machucou. Achando que aquilo havia acabado, Ryo quis relaxar, mas essa vontade momentânea se dissipou quando viu, enquanto caía, a imagem daquela vila em chamas e aquele oni do exército que havia enfrentado anteriormente empalando pessoas inocentes com suas lâminas. O garoto queria cair logo e lutar, impedir aquilo, por mais que não conhecesse aquelas pessoas, mas aquele pensamento momentâneo se desfez quando ouviu uma voz em sua mente.
— TOYOSAKI, SE CONCENTRE. NOSSO INIMIGO NÃO É ESTE NO MOMENTO. — Era a voz de “M” gritando em sua mente, e ouvi-lo pareceu trazer Ryo de volta à realidade. — PELA FRENTE, GAROTO! ME USE COMO DEFESA.
Ouvindo o comando, o garoto parou de olhar para baixo e olhou para sua frente, onde a Kamayari parecia vir em sua direção para outro ataque frontal em alta velocidade. Como ordenado, Ryo colocou o florete à frente como defesa, mas estranhamente, assim que se aproximou o suficiente, a Kamayari atacou com seu cabo, o que jogou Ryo para fora da vila por quilômetros. A força daquele golpe era descomunal e, mesmo se defendendo, o garoto sentiu seu braço deslocar com a força, o que o fez gritar de dor. Até bater contra uma árvore fora da cidade, o que fez seu grito ser interrompido pela dor seca de ser batido e jogado em alta velocidade. Aquele golpe fez com que Ryo cuspisse um bocado de sangue e sua visão ficasse turva por um momento, mas clareou assim que algo como um balão de mensagem apareceu à sua frente:
[A missão inicial “Conheça a Nação de Iwasakiyama” foi completada!
Parabéns ao usuário 000060, a liberação do sistema foi concluída!
Uma nova missão foi atribuída ao mesmo:
Título da missão: Massacre na Vila Tatsumaki
Objetivo da missão: Sobreviva ao ataque do Dragão Azul do Leste
Dificuldade da missão: Extrema
Recompensa da missão: Uma habilidade inata será despertada
Consequência de falha: Morte]
Ao ver a mensagem à sua frente, aquilo o deixou ainda mais aflito, não só por algum tipo de sistema estranho ser habilitado, mas pelo nível de dificuldade que lhe foi entregue. Era uma dificuldade extrema, o que sinceramente o fazia pensar que talvez fosse impossível, afinal, somente dois ataques já o tinham deixado nesse estado. Mas naquele momento, talvez por adrenalina ou por causa da ajuda que estava recebendo de “M”, ele não se importaria com a dificuldade que lhe foi atribuída. Ele não iria se deixar morrer de novo.
[…]
Quando Leonardo viu Ryo sendo jogado por algo parecido com um dragão, aquela visão o fez entrar em desespero. Ver o garoto que, há poucos momentos, estava beijando-o ser arrancado de perto dele mais uma vez o fez entrar em pânico. Ele queria seguir aquela coisa, mas apenas o tempo de se levantar foi suficiente para que a estrutura do templo cedesse e desmoronasse com a rajada cortante que aquela coisa estava causando por onde passava.
— RYO?! — Um grito pelo nome de seu companheiro foi a única coisa que Leonardo teve tempo de dizer antes que a estrutura do templo se desfizesse em cima dele, soterrando-o.
A sensação da madeira e dos tijolos batendo contra seu corpo o fez segurar um grito de dor, enquanto se agachava, tentando ir para debaixo da mesa onde estava o mapa, para evitar maiores ferimentos. Mesmo se colocando abaixo dela, parte dos escombros ainda o atingiu, rasgando parte de sua camisa e cortando seu peito. Olhando em volta, procurando uma maneira de sair daquele local, com um pouco de dificuldade, o garoto percebeu que não estava tão longe da entrada e que poderia tentar sair por ali. Por mais arriscado que fosse, ele era rápido e não seria difícil atravessar aquela porta. Então, com uma ideia arriscada, ele se levantou debaixo da mesa, tentando ao máximo evitar que os destroços que caíam rapidamente o atingissem. Quase no último segundo, Leonardo se jogou pela porta, caindo no chão de terra e rolando para frente. Quando se estabilizou no chão, ele olhou uma última vez para o templo, agora destruído e começando a queimar.
Aquela visão era espantosa, ainda mais por não ter ideia se Ryo estava bem. O garoto queria se levantar e correr atrás dele, mas assim que se levantou, a voz de uma criança soou atrás dele, a voz de alguém que ele já conhecia. Era a voz de Akiko, que soava desesperada e chorosa.
— Leonardo-san! Por favor, me ajude! A mamãe…! — A garota chorava enquanto tentava puxar a barra da calça de Leonardo desesperadamente para tentar levá-lo a algum lugar. Vendo a reação dela, ele sabia que não poderia simplesmente deixá-la ali para ir atrás de Ryo. Mesmo com pesar de deixar Ryo lidar com seja lá o que fosse aquilo, ele se virou para Akiko e se agachou, segurando os ombros da menina, podendo notar que ela estava com o kimono manchado de sangue fresco e suja de poeira.
— Kiko! — O garoto gritou para fazer a garota focar em sua voz. Quando viu que ela estava finalmente ouvindo, ele então perguntou: — O que aconteceu na vila? Cadê a sua mãe?
Entre lágrimas, a garota tentava se recompor para conseguir falar, mesmo que gaguejasse. — U-um d-dragão, quando eu voltei… pra casa, a m-mamãe… a mamãe viu aquela coisa e-e me empurrou pra fora, m-mas aquilo entrou em casa e tinha m-muito sangue… Leo, salva a mamãe! — Akiko soluçava e chorava alto à medida que falava sobre o que havia acabado de presenciar.
Só pelo que a Akiko havia dito, aquilo fez os olhos de Leonardo se encherem de lágrimas. Ele a abraçou antes de respondê-la, enquanto a pegava no colo em um abraço confortante, e disse, enquanto começava a correr em direção à casa de Akiko: — Kiko! Eu vou salvar a sua mãe, eu vou salvar você, então não chore. — Mesmo tentando confortar a garota, o próprio Leonardo estava chorando ao ver aquelas pessoas com quem conviveu naqueles dois meses, tendo suas casas queimadas e sujas de sangue.
Quando estava próximo à casa de Akiko, ele avistou o ancião da vila correndo de maneira desajeitada na direção de onde estavam vindo e, ao avistá-los, o idoso gritou: — MEIA VOLTA, DEEM MEIA VOLT—! — Os gritos do idoso foram rapidamente cessados e, em seu lugar, uma risada quase infernal soava de trás do velho, que, mais rápido do que Leonardo pôde ver, teve sua cabeça cortada ao meio.
Ao ver tal cena perturbadora, ele quase vomitou ali mesmo, mas manteve o controle e colocou Akiko no chão atrás dele, pronto para enfrentar seja lá o que viesse na direção deles. A garotinha, por sua vez, se escondia atrás dele como se ali fosse o único lugar seguro da coisa que havia matado o velho na frente deles. Naquele exato momento, algo ainda mais estranho apareceu diante dos olhos de Leonardo: era como um balão de diálogo de jogos:
[A missão inicial “Conheça a Nação de Iwasakiyama” foi completada!
Parabéns ao usuário 000075, a liberação do sistema foi concluída!
Uma nova missão foi atribuída ao mesmo:
Título da missão: Massacre na Vila Tatsumaki
Objetivo da missão: Salve a vida de 20 NPCs e do terceiro usuário escondido entre eles!
Objetivo bônus: Derrote o Devorador de Homens
Dificuldade de conclusão: Intermediária
Recompensa da missão: Uma habilidade inata será desbloqueada
Consequência de falha: Caso o usuário falhe nos requisitos desta missão, as rachaduras começarão a emergir sobre seu novo corpo. O sistema e a deusa desejam-lhe sorte neste primeiro confronto!]
Vendo a mensagem daquela coisa que se auto-intitulou como um sistema, o garoto teve certeza de que seja lá o que estivesse se aproximando, era perigoso, o que o fez falar sem olhar para trás: — Akiko, me escuta, eu vou salvar sua mãe, mas agora preciso que reúna o máximo de pessoas que conseguir e saia da vila em segurança. — A menina não respondeu, apenas obedeceu ao ver a seriedade com que o garoto falava. Ela se virou e correu o mais rápido possível.
Praticamente no mesmo momento em que a garota saiu em disparada, um enorme oni surgiu na frente de Leonardo, vindo da direção de onde o idoso estava. Ao vê-lo segurando duas katanas manchadas de sangue, ele pôde deduzir instantaneamente que com certeza era aquele ser que matou o velho ancião e possivelmente mais pessoas do que ele poderia imaginar.
Ao ver Leonardo, Kishin fez uma expressão um tanto quanto presunçosa: — Ah… você, eu ouvi falar de você… é o estrangeiro que anda com aquele garoto, não é? Ótimo, porque eu estou doido para matar seu amiguinho, mas… me contento com você!
Assim que terminou de falar, Kishin se moveu rápido como uma flecha, empunhando uma katana em cada mão. O oni foi para cima de Leonardo, desferindo golpes quase rápidos o suficiente para atingi-lo, mas felizmente, Leonardo foi mais rápido dessa vez, movendo-se para trás do oni e acertando-o com um chute, que empurrou Kishin alguns centímetros para trás.
— Você… deve ser o cara do exército que o Ryo falou… — Leonardo arfava enquanto falava. Correr constantemente estava o cansando, mas ele ainda não estava em seu limite.
— Sabe, você realmente é bem rápido… e parece ser bom com a katana. — Leonardo falava enquanto se colocava novamente em posição para um combate corporal. — Mas, infelizmente para você, eu já me adaptei completamente a esse corpo, então eu vou fazer você se arrepender de ameaçar meu garoto, seu filho da puta!
Com aquela última frase, ele deu outro chute no rosto de Kishin, o qual bloqueou com os braços, mas mesmo assim foi empurrado para trás. Foi naquele momento que mais uma notificação do sistema chegou.
[Sistema: Os requisitos necessários para a liberação da habilidade inata foram cumpridos! A sua habilidade será desencadeada em dez minutos. Desejamos-lhe sorte durante sua espera!!]
Aquela mensagem fez Leonardo achar que com certeza estava com sorte naquele momento. Sua hipótese estava certa: seja quem for esse terceiro usuário, ele ainda não havia se encontrado diretamente com Kishin, senão provavelmente esta missão nem seria ativada. Mas, seja quem for, ele sabia que Akiko conseguiu; 20 pessoas já estavam fora daquela vila e, entre elas, um deles era um usuário.
— Você… é confiante como aquele verme… — Kishin dizia, se preparando para partir para cima de Leonardo mais uma vez. — Sabe, eu mudei de ideia… eu não vou te matar, não agora. Primeiro, eu vou cortar você por inteiro até ficar irreconhecível e então vou te fazer assistir enquanto mato o seu amiguinho e como a carne dele!! — As palavras de Kishin foram seguidas por uma risada bestial.
Em questão de segundos, o oni já estava perto o suficiente de Leonardo, que dessa vez não conseguiu desviar do ataque, sendo atingido pelas lâminas que deixaram dois grandes cortes em seus braços, fazendo-o gritar de dor. Mas, mesmo diante da dor dos cortes, ele conseguiu segurar um dos braços de Kishin e jogá-lo contra uma das casas destruídas.
— Sabe… eu ia só te ensinar uma lição, seu demônio de merda, mas agora… eu realmente quero te matar. — Leonardo caminhou até onde havia jogado Kishin e, não o vendo, suspirou enquanto o procurava, olhando ao redor e mentalmente dizendo, como se tentasse contatar o sistema sem saber se funcionaria: “Ei, sistema de merda, quanto tempo falta pra liberar aquela habilidade secreta?” Parecendo ouvir a pergunta de Leonardo, outra caixa de diálogo apareceu à sua frente.
[6 minutos até a liberação da habilidade inata!]
Vendo a resposta que lhe foi dada, o garoto mal podia esperar para descobrir o que poderia fazer. Talvez fosse algo que lhe ajudasse a terminar aquele confronto rapidamente.
— AQUI EM CIMA, HUMANO! — gritou Kishin, que pulou de cima de um telhado em direção a Leonardo para cortá-lo. Mas, graças ao grito de Kishin, o tempo de reação de Leonardo foi bom o suficiente para que ele conseguisse segurar a lâmina de uma das katanas com a mão. Mesmo com a dor e com o sangue que emergia da ferida, ele quebrou uma das lâminas em sua mão.
— Já foi uma, só mais uma e você perde sua vantagem. Vamos ver quem é realmente inferior, seu merda — gritou o garoto, enquanto deixava cair ao chão o restante da lâmina partida. Fechando um punho para um soco, ele foi em direção a Kishin, acertando-o no estômago, o que o fez cuspir um bocado de sangue.
O combate entre ambos parecia acirrado. Eles tinham forças semelhantes, e era quase impossível dizer quem venceria aquele confronto, se Leonardo já não o tivesse começado ferido. Em algum momento durante a luta, Leonardo começou a ficar mais lento, lento o suficiente para Kishin cortá-lo, lento o bastante para não conseguir acompanhar os golpes. Ele não entendeu como, mas em algum momento daquele confronto, a última lâmina de Kishin atravessou seu corpo, o que fez seu corpo ficar ainda mais banhado de sangue. Naquele ponto, o garoto já estava sem sangue pela quantidade que havia perdido, o que o fez cair para trás quando Kishin retirou a lâmina. Vendo-o cair, o Oni riu da situação do garoto.
— VOCÊ JÁ NÃO TEM MAIS NADA DE SANGUE! — O Oni apontava, rindo da situação dele caído. — VOCÊ NÃO IA ME MATAR, GAROTO? QUAL É, ASSIM EU MAL VOU CONSEGUIR MANTÊ-LO VIVO PARA VER SEU PARCEIRO MORRER! — Ele ria e gritava para o garoto; na visão dele, era cômico vê-lo morrer.
— SABE, VOU DEIXÁ-LO MORRER AÍ, IMAGINANDO COMO MATEI, COMO É MESMO QUE VOCÊ DISSE? AH, CLARO, ‘SEU GAROTO’. — Virando-se, Kishin estava pronto para deixar Leonardo ali, jogado ao chão como um cadáver qualquer. Mas, estranhamente, um sentimento de medo o fez se virar para onde o garoto estava caído. Era estranho, mas a energia dele estava mudando, e foi neste momento que o sistema notificou Leonardo.
[ A habilidade inata: hemocinese, foi desbloqueada, faça bom uso!]
Vendo a notificação do sistema, os olhos de Leonardo começaram a brilhar em um vermelho escarlate, e o garoto começou a rir como um louco, o que fez Kishin tremer, principalmente ao ver o sangue do garoto começar a retornar ao seu corpo e cristalizar na ferida, como se estivesse estancando-a. Então, levantando-se cambaleante, o garoto por fim disse:
— Eu te disse, Oni-sama, eu vou matar você e agora eu gostaria de mostrar por que sou superior a você, demônio. — Leonardo estendeu a mão, apontando para Kishin, e com seus olhos brilhando naquele vermelho carmesim, disse: — Exploda.
Assim que ouviu as palavras de Leonardo, Kishin achou que ele havia enlouquecido de vez, mas soube que não, assim que sentiu cada veia de seu corpo se romper, como se seu sangue negasse seu próprio corpo. A dor foi forte o suficiente para fazê-lo cair ajoelhado no chão e, olhando para Leonardo com lágrimas de sangue escorrendo de seus olhos, por fim perguntou em seus últimos esforços:
— C-como… você… o que é isso? — Enquanto se esforçava para perguntar, ele viu Leonardo se aproximar cambaleando até ele, tocar um de seus chifres e arrancá-lo com as próprias mãos, fazendo Kishin gritar ainda mais.
— Eu te disse, filho da puta, NINGUÉM VAI AMEAÇAR O RYO E SAIR VIVO! — Com essas últimas palavras, Leonardo usou o próprio chifre de Kishin para cortar a garganta dele, fazendo uma quantidade descomunal de sangue jorrar do Oni, que caiu sem vida no chão.
Aquele combate havia cansado Leonardo. Ele estava gravemente ferido, havia ganhado aquele combate por muito pouco e o cansaço por fim o consumiu, fazendo-o cair no chão desmaiado ao lado do corpo do Oni.
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