A Década Depois Da Primavera - Capítulo 12
Quando minha consulta encerrou, segui as instruções do médico e fui à farmácia pegar novos medicamentos. Ao sair do hospital, decidi comprar o que faltava para a criança.
Assim que olhei-me, notei que minhas roupas eram péssimas combinações para se usar. A camiseta era grande e parecia um vestido, era minha favorita. As linhas de expressão enfatizavam minha insatisfação, tomei a decisão de ir comprar roupas mais confortáveis e apropriadas, que não fossem da minha época universitária.
Com esse pensamento, entrei no shopping mais próximo. O shopping era tão grande que mal conseguia me orientar, perguntei-me há quantos anos não vinha a um lugar como esse. Fiquei parado olhando em volta por um período de tempo antes de encontrar uma loja de roupas masculinas que chamasse minha atenção. Quando entrei, vi uma extensa exposição de roupas, fiquei um pouco apreensivo e perdido.
Encontrar roupas para um homem gestante não era fácil, mas era possível ver alguns setores.
— Com licença, posso ajudá-lo? — Um vendedor apareceu atrás de mim, sorrindo com sua habitual recepção.
— Estou aqui para comprar roupas de gestante — disse, passando minha mão pelas araras cheias de roupas.
— Para alguém gestante, você está bastante magro, você pode considerar isso. Deve servir para você. — O vendedor me avaliou, apontou para uma peça de roupa que o manequim usava. — Não teremos dificuldades para encontrar peças de roupas, você tem um corpo proporcional.
— Vou ficar com elas — Olhei a peça de roupa, não era tão ruim.
O vendedor parecia chocado quando enfim olhei para ele, minhas palavras de alguma forma parecia ter atingido ele.
— É caro…? — perguntei.
— Está em torno dos mil todo o conjunto. — Sua reação dizia ter se deparado com vários clientes que não conseguiam se decidir entre uma única peça de roupa. Nunca havia encontrado um cliente que comprasse algo tão descuidadamente sem verificar o preço.
Ele permaneceu enraizado no local em estado de choque, coagido.
— Certo, eu pago — O vendedor ainda estava surpreso por vender uma peça de roupa tão cara em menos de um minuto. — Apenas me ajude a dar uma olhada. Desde que seja do meu tamanho adequado, vou comprá-lo. — Sentei no pequeno sofá perto de mim, olhando-o evidentemente despreocupado. Já que encontrei uma boa loja, não tinha mais com que me preocupar no quesito roupas para mim.
— Vou separar todas as peças que vão ficar bem em você. — O vendedor olhou para mim apreensivamente.
Fiquei observando a pequena movimentação dentro da loja, enquanto descansava minhas pernas. O lugar era bem frequentado, uma loja de elite. Sua arquitetura era chique e cuidadosamente preparada para atender clientes importantes. Na minha juventude, nunca entrei numa delas. Não tinha condição.
— Temos essas peças que vão lhe cair como uma luva, veja como são bonitas. — O vendedor trouxe peças e mais peças de roupas, todas bonitas como ele disse, todas ficaram perfeitamente bem em mim. — Viu? Você gostou?
Ele aparentava estar mais empolgado do que eu ao escolher cada peça.
— Sim, são boas. — Peguei algumas peças e olhei uma por uma, todas bonitas. Eram realmente ótimas, não muito folgadas, o que era raro em um varapau como eu.
— Qual o sexo do bebê? — perguntou. — Também passei por isso, tenho uma menina em casa. — Deixei as roupas de lado, olhando-o um pouco surpreso com sua pergunta.
— É um menino. — Observei-o atentamente enquanto sentava-se ao meu lado.
— Você está sofrendo um pouco com a gravidez, não está? Enjoos, sono frequente, desejos estranhos, desconforto, estou errado? — Ele riu respeitosamente, esperava uma resposta. Não falei, contudo, acenei que sim. — Você vai levar mais alguma peça? Quer uma água ou um suco? — Ele se levantou para voltar ao trabalho.
— Não quero mais nada — respondi.
Sob o olhar chocado da recepcionista, completei a transação de vendas mais rápida na história da loja. Depois de fazer minhas compras, fui até o vestiário para vestir minhas roupas novas e fui embora.
Como o dinheiro não era meu, não importava. Mais cedo o recusei, no entanto, as peças de roupas não eram apenas minhas, também vestia o bebê.
No momento em que tinha tudo que precisava, depois de vagar pelo shopping procurando as últimas coisas para a criança, percebi que o céu havia escurecido e camadas de nuvens comprimiam-se ameaçadoramente no alto.
Lembrei o que Dom havia dito mais cedo sobre ligar para ele vim me buscar, o problema era que ele não atendeu minha ligação. Tentei mais três vezes e nada dele retornar, nesse caso, por quê mandou ligar se não ia atender? Havia me metido em uma situação particularmente embaraçosa. O céu estava escuro e soltei um suspiro desanimado. Os postes de luz estavam acesos e o ar do lado de fora estava úmido e solitário, sinalizava que uma chuva forte estava chegando.
Depois de alguns passos, percebi a sombra de alguém logo atrás. Olhei discretamente pela janela de vidro da cafeteria, vi um homem usando um boné de beisebol marrom. Seu olhar era medonho, havia algo de errado, todavia, ele não ousava olhar diretamente para mim. Sua postura era bizarra.
Pretendia livrar-me dele silenciosamente sem pestanejar. O som dos meus passos criavam ruídos excêntricos, como os passos de um diabrete perseguindo sua presa. Porém, perto de uma esquina vi que não era apenas um homem me seguindo. Presumindo que não seria capaz de lidar com isso tão facilmente, só pude colocar os fones de ouvido — disfarçando — e ligar para Dom.
No entanto, a ligação não foi completada e meus perseguidores estavam mais perto. Fiz outra ligação, desta vez para a polícia. Informei ao atendente que alguém estava atrás de mim tentando me pegar. O atendente perguntou onde estava, mas não cheguei a revelar a localização exata. Estava gaguejando muito, minhas palavras não saíam coerentes. Por conta disso, a chamada acabou sendo transferida para a polícia estadual e não para o departamento de polícia local. Na ligação era possível ouvir apenas uma gravação, uma voz feminina perguntando minha localização. Foi então que percebi que era inútil continuar tentando. A ligação não iria dar em nada.
Estava pronto para pedir ajuda às pessoas ao redor, embora, ao olhar para frente, meus passos congelaram. Um sentimento moribundo mergulhou em mim, era demasiado forte, ardia por todo meu corpo.
Havia entrado em um longo beco sem perceber.
Ao longo do beco havia apenas postes de rua que brilhavam em um amarelo lúgubre, alguns prédios antigos e a superfície da estrada estava cheia de buracos. Em contrapartida, havia uma rua bem iluminada e movimentada do outro lado do beco. E um pouco mais na frente, residia a empresa de Dom, depois daquela rua.
O trovão soou de repente e gotas de chuva do tamanho de grãos começaram a cair. Meu coração começou a bater de forma irregular. Respirei fundo algumas vezes para tentar acalmar meu coração palpitante e estabilizar meus passos para seguir em frente.
Minha mão estava no bolso, tentava digitar e enviar uma mensagem extremamente curta para Dom enquanto caminhava apressadamente. O ar frio colidia contra minha pele a cada passo que dava, como uma lâmina cega.
O som da chuva ecoava em meus ouvidos. A pessoa atrás de mim começou a se aproximar e seus passos criavam ruídos enquanto pisava na poça de água. Ele estava chegando cada vez mais perto.
Olhei para a claridade da rua não muito longe, então comecei a dar passos cada vez mais rápidos. Desta vez, realmente estava correndo.
Tudo ficaria bem, desde que pudesse sair desse beco.
Naquele instante, não sei que súbito autodomínio se assenhoreou de meu espírito. Recuando quanto podia daquele lugar sórdido. Sentia pavor, esse sentimento não era exatamente um pavor de mal físico, e, contudo, não saberia defini-lo de outra forma.
Meu cabelo estava encharcado, grudava suavemente em meu rosto. As gotas de chuva caíram em meus olhos, o que tornou minha visão turva. Tudo o que podia fazer era correr entre os borrões da chuva para onde havia luz na esperança de encontrar alguém.
Foi então que o vi…
Outro homem parado no meio do beco escuro. Seu sorriso transcendeu a diabrura, tive a certeza de que nunca esqueceria aquela sensação assustadora pelo resto da minha vida.
Betagem: Arabella(WD)
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