Osoroshiku Kawaii - Capítulo 14
Bluestone Alley — Congfei Wei
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A chuva ainda caía lá fora. Os raios ainda cortavam o céu. Os trovões ainda ressoavam pelas paredes. E Shin ainda tremia nos braços de Hayato.
No entando, sua preocupação estava temporariamente afastada do medo de Shin. Ambos estavam molhados por terem pego a chuva. E Hayato estava preocupado que Shin ficasse doente. Ele sabia que seu pequeno tinha a saúde frágil.
Hayato precisava fazer com que Shin tirasse a roupa molhada e tomasse um banho quente.
— Shin, amor, sei que está com medo. Mas você precisa tirar essa roupa pra não ficar doente. Tem que tomar um banho quente. — o tom de Hayato estava repleto. Ele retirou seu livro dos braços de Shin, o colocando de lado.
— Eu não quero ficar sozinho. — mais um trovão, Shin se encolheu mais.
— Eu fico com você. — ofereceu Hayato. Seu coração quase parava com a preocupação que o corroia.
— Eu não quero que você me olhe. — e era óbvio que Shin, aquele que sempre pensava em tudo, pensaria nesse lado.
— Eu prometo que não vou olhar, se isso te deixar mais calmo. Mas você precisa….
— Não é isso!
— O que foi, Shin?
— Não é que eu não quero que você me olhe…. Eu apenas….
— Apenas?
— Tenho vergonha do meu corpo.
Como a situação havia rumado pra esse tipo de conversa? Outro trovão soou e Shin apertou mais sua camiseta. Hayato o sentia gelado e ele estava tremendo. Ambos estavam gelados.
— Shin, você é lindo. — começou Hayato, erguendo com uma das mãos o rosto de Shin, os olhos negros que tanto amava estavam marejados. — Eu amo você. E um dia, também vou amar seu corpo.
— Mas, eu tenho cicatrizes…. Do acidente.
— Shin, quando você escolher me mostrar elas, eu vou beija-las desse modo… — para demonstrar, Hayato afastou a franja de Shin e beijou a cicatriz em sua temporã. — Com todo o meu amor.
— Obrigado, Hayato.
Outro trovão e Shin escondeu seu rosto no peito de Hayato. Que se levantou, com Shin ainda em seu colo, e seguiu para o banheiro. Ele colocou Shin no chão ao lado da banheira.
— Eu vou colocar a banheira pra encher e depois vou fechar os olhos, okay? — um aceno de cabeça positivo foi sua resposta. Ele encheu a banheira com água quente. — Eu vou fechar os olhos agora.
Ele ouviu quando Shin começou a tirar a roupa. O som do tecido molhado deslizando pela pele. Hayato se culpou por achar o som totalmente erótico. Que Shin o perdoasse por seus pensamentos pervertidos.
O som das roupas caindo no chão foi o próximo a ser ouvido e depois veio o som do corpo de Shin deslizando na água.
— Pode abrir os olhos. — Hayato o fez e sua primeira visão foi Shin, afundado na banheira até os ombros. — Agora é sua vez.
— O que?
— Eu vou fechar os olhos e você entra. A banheira é grande o bastante pra nós dois. — o rosto de Shin estava corado.
— Ma-mas Shin….
— Você também não pode ficar doente.
Não houve mais discussão. Shin fechou os olhos e Hayato tirou a roupa, entrando na banheira. Cada um ficou em um lado, encolhidos. Era nítida a vergonha que ambos sentiam.
— Isso é estranho. — comentou Shin.
— Sim.
Nesse momento, dividindo uma banheira com Shin, Hayato percebeu o quanto o relacionamento deles havia evoluído.
No início de tudo, Shin nem mesmo o olhava nos olhos. Ele evitava contato físico ao máximo e nem mesmo falava muito. Após eles se tornarem amigos, ele ainda mantinha uma distância. E até mesmo no começo do namoro foi assim.
Agora, Shin sorria, falava sobre o que tinha interesse, compartilhava seus pensamentos e desejos. As vezes tomava a iniciativa para um beijo ou abraço. Ele havia mudado.
E Hayato, também. Ele, que acreditava fielmente que não poderia ter medo de nada, se descobriu tendo medo, sentindo medo. Mas Shin o estava ajudando a lidar com isso.
Seu medo não era do julgamento da sociedade, ele já havia aprendido a não ligar para a opinião hipócrita de pessoas que ele nem conhecia. Seu medo era do julgamento do pai, afinal, aquele era o homem que o havia criado.
Mas Shin foi compreensivo. Ele o escutou e o aconselhou e juntos, eles arranjaram uma solução. Hayato não se assumiria para o pai, não agora pelo menos. E Shin havia aceitado o fato.
Eles haviam passado por muitas barreiras. Olhar nos olhos, dar as mãos, se abraçar, a primeira briga, o primeiro beijo e todos os que vieram depois.
Eles ainda eram jovens, mas já estavam se provando. Haviam possibilidades em sua frente. Hayato não sabia ainda o que fazer de sua vida. Ele não tinha idéia de quais e por quantas barreiras teria que passar. Teria que superar.
Ele apenas tinha a certeza de que o faria com Shin ao seu lado.
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Ele estava adorável. Era o pensamento de Hayato. Aquele pensamento e a imagem de Shin vestindo apenas um roupão preto estavam pregados em toda sua mente.
A chuva ainda caia lá fora, mas os trovões haviam dado uma trégua. O que fazia com que Shin conseguisse pensar de forma coerente.
— Será que Aika está bem? — dizia ele, andando de um lado para o outro. — Zen não sabe cozinhar e Akira é capaz de explodir a cozinha se tentar.
— Eles não podem ser tão ruins assim! Ou podem? — perguntou Hayato, que estava sentado na cama.
— Não queira ver eles na cozinha. Será que Akira lembra como pedir pizza? E se os biscoitos acabarem? E se ele tentar fazer miojo e produzir lava?
Hayato estava tentando segurar a risada, pois Shin estava realmente preocupado, mas foi mais forte que ele. Ele explodiu em uma gargalhada que lhe trouxe lágrimas aos olhos. Ele riu mais ao ver a face emburrada de Shin.
— Já terminou? — perguntou Shin com seu típico bico.
— Desculpe, desculpe… — pediu Hayato, respirando fundo para tentar parar de rir. — É que a possibilidade de fazer lava com miojo parace realmente interessante.
— Já aconteceu.
— Ta falando sério?
— Acho que eu tinha catorze na época. — Shin olhou para o teto, colocando a mão no queixo, como se isso fosse o ajudar a lembrar. — Mamãe e Papai haviam dito na cara dura que iriam passar a noite em um motel e nos deixaram sozinhos. Não foi a primeira vez que eles fizeram isso, já que Akira e eu sabíamos nos comportar.
— E o que aconteceu depois? — disse Hayato, ao ver que Shin pausou.
— Akira tentou fazer uma pizza doce. Ele começou pelo recheio. — Shin riu ao se lembrar. — Ele misturou bala, sorvete, chocolate, pasta de amendoim, geléia de morango e chiclete. E mais um monte de açúcar, calda de chocolate branco e leite em pó.
— Que nojo.
— Sim. Depois ele jogou água e refrigerante na panela com a mistura e tapou. Ele foi fazer a massa da pizza e esqueceu da outra panela.
— Queimou?
— Quando olhamos tinha lava derretendo o fogão.
Os dois explodiram em gargalhadas.
— A mãe de Zen, viu que algo estava errado e ligou para os bombeiros. E acho que eu tenho fotos do que restou do fogão. — divagou Shin.
— Mentira! Eu quero ver.
— Podemos procurar quando você for lá em casa.
— Sim. Vamos fazer isso. — estava combinado.
Nesse momento, um trovão soou. Hayato estava ao lado de Shin mais rápido que um raio. Ele o abraçou, tentando o proteger.
— Eu odeio isso. — resmungou Shin, a voz chorosa.
— Sim, eu sei. Eu estou aqui.
— É igual. — uma pausa. — É exatamente igual ao som da batida.
Shin não precisava explicar. Hayato o apertou mais em seu abraço, acariciando suas costas. Ele podia sentir no abraço que Shin estava tenso. Então, Hayato começou a cantarolar uma melodia.
— Bluestone Alley… — disse Shin, apreciando. — Não sabia que conhecia música clássica.
— Eu nem mesmo sabia o nome dessa canção. — de súbito, Hayato teve uma idéia. — Shin?
— Sim?
— Dança comigo?
Hayato foi encarado pela estrela solitária que brilhava nos olhos de Shin. Ele lhe sorriu e Hayato soube que aquilo era um sim.
Eles não precisavam de uma música de fundo, pois em suas mentes, Bluestone Alley já tocava.
Hayato o guiava lentamente, eles giravam e deslizavam para lá e para cá. Havia um clima de paz e amor entre eles. A atenção de ambos estava totalmente focada no parceiro.
Shin nem mesmo percebeu quando um trovão soou. Era como se eles estivessem em uma bolha, onde nada poderia os atingir.
Bem, exceto a cama. Eles caíram deitados, Hayato por cima de Shin. O susto os fez esquecer a música, mas os fez dar risada. Isto é, até que se encararam.
Os rostos se aproximaram gradativamente e então o celular de Hayato tocou.
Ele foi atender. Na cama, Shin sentia o rosto pegar fogo, se perguntando. O que teria acontecido depois daquele beijo?
— Quem era? — perguntou Shin, quando Hayato voltou depois de uns minutos.
— Minha mãe. Queria saber se estava tudo bem. Ela disse que amanhã não vamos ter aula, parece que a escola ligou avisando que alagou. Também avisei que vou passar a noite fora de casa. Akira mandou uma mensagem avisando pra você não se preocupar, que ele e Aika vão ficar bem. E….
Shin com certeza tinha muitas coisas com que se preocupar. Tipo, não fazia sentido a escola avisar que não teria aula em um dia de domingo. Eles geralmente avisariam na segunda de manhã.
Mas a única coisa que Shin conseguia pensar momento, é que ele e Hayato passariam a noite ali.
Estavam em um hotel, de noite e sozinhos. Eram dois jovens com os hormônios a flor da pele e namorados ainda por cima.
Era óbvio que “sexo” já havia passado pela mente dos dois. Mas eles nunca haviam conversado sobre isso um com o outro. E eram totalmente inexperientes.
Hayato, já havia pensado nessa possibilidade pelo menos umas vinte vezes desde que haviam chegado ali. Ainda mais durante o banho que compartilharam.
Mas Shin só havia percebido que “sexo” era uma possibilidade naquele momento.
— Shin? Está tudo bem? — perguntou Hayato, apertando seus ombros. Shin se afastou com o susto. Mágoa brilhou nas íris verdes de Hayato. — Eu fiz algo?
— Não, você não fez nada. Desculpa. — Shin tornou a se aproximar de Hayato. Ele o abraçou.
— É a chuva? — os trovões haviam parado.
— Não, eu gosto da chuva. Meu problema é apenas com os trovões.
Eles ficaram em silêncio, ouvindo a chuva cair.
— Shin?
— Sim?
— Quero que me prometa uma coisa.
— O que?
— Quero que quando estiver com medo, me abrace. Não importa onde estivermos ou quem estiver vendo. Quero que me abrace apertado e que não solte.
— Apenas com a condição de você fazer o mesmo.
— Então eu prometo.
— Eu prometo.
Envoltos em um abraço, aqueles dois eram a representação de um dos lados do amor.
Aquele que cuida e que se deixa ser cuidado.
Publicado por:
- AlluEblys
- Escritora de BL/LGBTQIA+ original. Ela/Dela/A. Me acompanhem nas redes sociais, interação por lá.
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