O Lobo e a Lua - Capítulo 5
06:05 horas da manhã.
Desmond abre seus olhos ao ouvir batidas na porta e ainda meio sonolento grita de dentro do quarto pedindo para que a pessoa do outro lado entre. Nanber abre a porta e se depara com ele enroscado ao corpo de um lobo jovem e suas partes intimas cobertas apenas pelos lençóis da cama, a moça fica levemente desconcertada com a cena, mas precisa acorda-lo.
– Desmond, acorde! – ela toca em seu ombro e logo ele acorda, um pouco atordoado e dolorido.
– Bom dia, por que está aqui ? – ele procura por seu robe em meio aos lençóis, Nanber o retira do chão e o entrega. Desmond se veste rapidamente e agora pode conversar apropriadamente.
– Uma Rainha tem deveres a cumprir. Levante-se e venha tomar banho. – ela caminha em direção ao banheiro e para próximo a porta.
– E mande esse garoto embora, amantes jovens são um problema! – Desmond olha para o lado e se assusta ao ver que não dormiu sozinho. Não se lembrava bem da noite passada, mas a dor em suas costas era a prova de que estava se divertindo.
– Ei moleque, acorde. – ele o empurra, fazendo com que o rapaz quase caia da cama.
– Ah! Bom dia, senhora… – o guarda acorda assustado e tenta beija-lo, mas Desmond segura seu rosto e o empurra para longe.
– Saia! – seu tom autoritário ressoa pelo cômodo, deixando o guarda nervoso e estranhamente excitado.
– Sim! – o jovem lobo assente com a cabeça e começa a recolher suas roupas.
– Ei, venha mais tarde e traga alguns amigos para se divertirem. – Desmond se levanta da cama, se aproxima do guarda e acaricia os pelos na região de sua bochecha, o deixando envergonhado e ao mesmo tempo encantado por sua beleza.
– Sim, senhora! – ele segura sua mão e beija a palma dela, em seguida termina de se vestir e sai.
– Que bom garoto. – Desmond sussurra para si mesmo e sorri. Havia encontrado algo bom em meio a tantos olhares de repúdio.
– O banho está pronto. – Nanber que esta parada com próxima a porta com seus braços cruzados o avisa ao mesmo tempo em que procura por algum vestígio do jovem lobo.
– Obrigado, estou mesmo precisando! – ele caminha animado até o banheiro e ao chegar se esparrama dentro da banheira de água fresca.
– Quer que eu lave seu cabelo ? – ela o questiona enquanto se acomoda atrás dele.
– Sim, por favor.. – Desmond se recosta e sente um pouco de alivio na dor em suas costas. Nanber molha seus cabelos com cuidado com a ajuda de um jarro feito de cobre, ela pega o shampoo em barra produzido no país e começa a esfrega-lo com cuidado em algumas partes de seu couro cabeludo.
– Sabe que posso sentir sua raiva daqui, não é ? – ele fala de repente, rompendo o silêncio.
– Não estou com raiva.
– Então está chateada ?
– Talvez. – ela dá de ombros e Desmond ri.
– Ele é apenas uma criança, mau aprendeu a segurar uma espada.
– Quantos anos ele tem ? – Desmond questiona um pouco nervoso. Tocar em menores era sem sombra de duvidas a sua principal e provavelmente única regra.
– Acabou de chegar a fase adulta, mas ainda é visto como uma criança pelos mais velhos. Ele não tem experiencia com a vida e sendo sincera, talvez você tenha sido o seu primeiro.
– Hum… isso explica o porquê ele se movia como se estivesse desesperado! – ele ri, mas acha adorável que tenha sido o primeiro.
– Não preciso de detalhes, okay ? – seu rosto fica levemente corado.
– Certo, certo, mas me fala uma coisa, por que estão recrutando homens tão jovens ? Se ele não sabe lutar ou usar uma espada, não deveria estar fazendo outra coisa ?
– Desde que as coisas ficaram difíceis muitos homens experientes morreram, e para suprir essa falta os jovens são convocados pela Casa Martinus.
– Eu não sabia… – ele murmura se sentindo um pouco culpado.
– Tudo bem, não é sua culpa.
– Eu posso ajudar em alguma coisa ? Você e sua família… – Desmond se levanta de repente e se vira para ela.
– Desmond eu sei o porquê está aqui e eu não o julgo por isso, mas por favor não finja que se importa. – Nanber o interrompe e o deixa sem palavras. Não havia como contrária-la pois era verdade, estava ali apenas para proteger a si mesmo.
– Terminei. – ela suspira e molha seus cabelos retirando o shampoo, em seguida se levanta e sai.
– Merda… – Desmond resmunga e afunda seu corpo na banheira.
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– E o que pretende fazer com ele ? Deixa-lo aqui é perigoso. – Lyter se recosta na cadeira e encara o Rei.
– Eu não sei, mas não posso simplesmente prende-lo. – Ambrose esfrega a testa e sente uma leve dor se espalhar pelo local. Esse assunto estava o deixando louco.
– Sabe que não pode continuar encobrindo seus crimes, não é ? Nós perdemos três guerreiros talentosos e promissores só essa semana!
– Sim, ele está ficando cada vez mais violento, mas o Conselho está me pressionando para que Azael participe.
– Malditos velhos intrometidos… – Lyter resmunga e revira os olhos.
– Minha única opção é mantê-lo aqui.
– Acha que pode controla-lo ?
– Não será uma tarefa fácil, Azael é mais esperto do que parece e pode fugir a qualquer momento, mas não tenho escolha. Prefiro que ele esteja onde posso vê-lo.
– Vou pedir aos guardas para ficarem atentos.
– Sim, faça isso. Não quero que haja outra comoção como da ultima vez!
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Desmond caminha pelo corredor indo em direção a biblioteca, onde esperava encontrar o velho Bosco. Ao chegar ele o encontra próximo a uma estante foleando um livro de capa verde.
– Preciso de ajuda!
– Sobre o que ? – o lobo para e volta seu olhar para ele.
– A profecia, conhece ela ?
– Sim.
– Ótimo, me fale sobre isso! – Desmond se aproxima da grande mesa de madeira e se senta, o lobo se senta ao seu lado e pode notar sua ansiedade.
– O que exatamente quer saber ?
– Tudo!
– A profecia surgiu a mais de cinquenta anos quando o atual Sacerdote da Casa Kazimier anunciou ao Rei, avó do atual Monarca, que o descendente de sua familia não faria o reino prosperar. Um lobo com o sol em seus olhos teria que encontrar o lobo com os olhos de lua, e só assim Gaia continuaria derramando suas bênçãos sobre Neverhand. Desde então o Rei tem procurado incessantemente por esse lobo, até que encontrou você. – ele o encara com um olhar gentil, como se estivesse feliz por sua presença.
– O lobo com os olhos de lua… – Desmond sussurra e toca em seu rosto, próximo ao seu olho. Nunca imaginou que seus olhos brancos que sempre causavam espanto poderiam ter algum valor.
– Agora que estão juntos tudo deveria voltar ao normal, mas pessoalmente penso que é mais complicado que isso.
– Por que não ?
– Penso que a profecia vai muito além de apenas união carnal ou política. Talvez seja apenas sobre amor.
– Amor ? Isso é impossível! Ambrose me vê apenas como uma arma que pode usar para ter glória!
– E você ? Como o vê ?
– Como um babaca que me salvou e me deu um teto, mas nada além disso! – Desmond nega com todas as suas forças qualquer sentimento que tenha até ele. Não podia admitir sentir nada além de gratidão.
– Bom, se as coisas são como diz então nós estamos condenados. – o lobo lhe dá um meio sorriso.
– Espere, tem outra forma de acabar com isso ? – ele franze o cenho e espera aflito por qualquer fagulha de esperança.
– Não. É a vontade da deusa. – seu tom muda e agora o lobo tem um olhar triste. Não havia outro jeito.
– Então isso nunca vai acabar ?
– Nunca é uma expressão muito forte. Tenhamos fé de que um dia seu coração estará pronto para amar. – o lobo lhe mostra um sorriso gentil e um olhar esperançoso, mas Desmond sente o peso da culpa em seus ombros, pois sabe que nunca seria amado.
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Desmond caminha de volta para seu quarto pensativo sobre o que havia ouvido do velho Bosco. Todas as suas palavras faziam sentido e esse era exatamente o problema, como salvar um país apenas com amor se isso parece impossível ? Ele não conseguia parar de se questionar ou tentar arrumar alguma outra solução.
– Merda de profecia… – ele resmunga e abre a porta do quarto, ao entrar se depara com Nanber e outra moça, que cochicha em seu ouvido e parece ansiosa com algo.
– O que está acontecendo ?
– Senhora! – a moça se vira para Desmond e o encara com um olhar de medo. O que o deixa em alerta.
– Nós trouxemos os presentes do casamento para que você abrisse, mas encontramos algo… – Nanber para por um momento e suspira. Não encontrava palavras para descrever o que havia visto.
– O que é ? – Desmond avança em direção aos presentes e vê uma pequena caixa branca no topo da pilha formada por outras caixas maiores. Dentro dela há um pequeno coelho branco com seu pescoço torcido e seus órgãos expostos, que naquela altura já estavam apodrecendo.
– Senhora, por favor não olhe! – ela tenta impedi-lo, mas Desmond já havia visto e entendido a mensagem.
– Nanber, tire ela daqui por favor. – ele esfrega os olhos e respira fundo. A voz da garota estava o deixando irritado.
– Venha. – Nanber guia a moça para fora, que a encara confusa, mas obedece.
– Quem fez isso ? – ele fecha a caixa e cobre seu nariz.
– Eu ainda não sei.
– Tem como descobrir quem deixou o presente ?
– Isso seria difícil, não há assinatura.
– Jogue o animal fora e deixe a caixa aqui. – Desmond lhe entrega a caixa de presente.
– O que vai fazer ?
– Vou resolver do meu jeito.
– Eu entendo. – Nanber concorda com a cabeça e caminha em direção a porta.
– Nanber, não deixe Ambrose saber disso.
– Sim. – ela se curva e sai carregando a caixa. Desmond caminha até a pequena varanda de seu quarto em busca de um pouco de ar fresco. Estava claro que não o queriam ali.
– Vontade da deusa, não é ? Que grande merda! – ele esbraveja e encara o horizonte. Não entendia nada daquilo.
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