O Lobo e a Lua - 01 - Prólogo
Em algum momento do passado.
O principal Sacerdote da Casa Kazimier caminha calmamente sobre as patas traseiras, se apoiando em uma velha bengala de madeira. O extenso corredor que o leva diretamente a sala do Conselho, tem as paredes enfeitadas com pinturas que contam os feitos dos grandes guerreiros da realeza, já os enormes pilares cuidadosamente adornados com ouro e lindos entalhes que imitam folhas em suas extremidades são um deleite para os olhos.
Ao se aproximar da enorme porta de madeira, o homem já pode ouvir os murmúrios impacientes dos outros líderes. Um Kazimier convocando uma reunião de emergência pegou todos de surpresa.
– Estou aqui meus irmãos. Se acalmem! – o homem fala em alto e bom som ao entrar na enorme sala. Em suas laterais haviam várias cadeiras de madeira enfileiradas, onde cada alfa que representa diretamente sua casa e seu domínio tem seu próprio assento.
– Finalmente! Achei que nos deixaria esperando o dia todo! – reclamou o lider da Casa Willbur.
– Não foi minha intenção. Peço desculpas! – o Sacerdote se curva e logo depois desvia sua atenção para o atual Rei, lider da Casa Brenhin.
– Meu senhor, estou aqui para dar um comunicado importante. Enviado a mim pelos espiritos… – ele para por um momento, esperando a aprovação do Rei, que apenas acena com a cabeça, indicando que ele pode prosseguir.
– Me foi informado que uma nova profecia surgiu. Vinda diretamente de Gaia, nossa mãe!
– E que profecia seria essa ? – o Rei apoia seu cotovelo no braço da cadeira e desliza seus dedos entre os pelos grossos e negros de sua barba, que se misturam ao resto de seus pelos faciais.
– Um novo Rei nascerá, uma criança com pelos escuros e olhos da cor do sol. Ele será o Rei escolhido por Gaia e trará alegria a casa de seu pai, mas não poderá trazer prosperidade ao reino… – o homem suspira e pode sentir os olhares daqueles lobos impacientes penetrando sua carne. Como uma que flecha acerta a presa.
– O que está dizendo ? Por que meus descendentes não trariam prosperidade ao reino ? Nós governamos por gerações e nenhum lobo passou fome ou frio! – o Rei se levanta, indignado com suas palavras.
– O futuro Rei não poderá governar sozinho, ele precisará encontrar o lobo com pelos brancos e a lua em seus olhos. E desse matrimônio se fará a vontade de Gaia, que trará uma nova era de abundância e prosperidade para todos nós!
– Isso é absurdo! – grita um dos líderes furioso.
– Lobos brancos não são dignos de pisar em nossas terras! – o outro afirma.
– Eu entendo que parece absurdo, conheço a história tão bem quanto os senhores, mas não posso omitir uma mensagem enviada a mim pelos espíritos!
– Um Rei de verdade não precisa de uma mulher para governar um país! – o Rei lhe da um sorriso presunçoso.
– Meu senhor espero que se lembre de que Gaia é uma mulher, e que nenhum reino se constrói sozinho. Não somos seres individualistas, por isso vivemos em alcateia! – o Sacerdote o encara tentando pressiona-lo e logo os alfas ao redor começam a cochichar.
– Não acredito que desperdiçou meu tempo para falar asneiras! Saia daqui! – o Rei esbraveja e aponta em direção a porta. Não aceitaria ter a honra de sua família posta a prova daquela maneira.
– É escolha de vossa majestade acreditar ou não… com sua licença! – ele se curva e sai, deixando para trás alfas indignados e pensativos.
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Cinquenta anos após o anúncio da profecia.
– Senhora, precisa fazer força. O primeiro está quase saindo! – a parteira, que está entre suas pernas a encoraja, então em um grito de dor e amor, a Rainha dá a luz a dois meninos gêmeos. Um com os olhos castanhos como os seus e os de seu marido, mas o outro tem os olhos amarelos como o sol e cabelos brancos como a neve.
– Aqui está, senhora. – a parteira lhe entrega os bebês com cuidado e a Rainha os recebe com alegria. Enquanto os aninha em seu corpo e lhes da seu primeiro alimento, o mais novo monarca bate à porta. Ansioso para ver seus primeiros filhos e futuros herdeiros de seu legado.
– São dois! – a Rainha anuncia contente, mas ao ver o par de olhos dourados o encarando o Rei sente um estranho arrepio percorrer sua espinha.
– Querido, o que foi ?
– Nada! Só estou emocionado! – o homem sorri e se senta ao seu lado. Não havia motivos para temer um recém-nascido.
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Distrito Kazimier.
O Sacerdote está sentado sobre o tronco velho de uma árvore morta, olhando para o grupo de árvores, que balançam suas folhas conforme o vento dita. Enquanto tem seus olhos fixos no que há em sua frente, uma voz doce e suave sussurra ao seu ouvido.
– “Ele chegou.” – diz a voz, então o lobo sorri e dá um longo suspiro.
– Então ele finalmente veio… – o homem franze o cenho e se levanta, voltando para dentro de sua casa. Lamentar pelo o que viria não o ajudaria a se sentir melhor, mas qualquer lobo em sã consciência sentiria a dor das futuras gerações ao ver os animais morrerem, o solo se tornar infértil e a floresta definhar lentamente.
– “Acha que ele conseguirá encontrá-lo ?” – sussurra a voz.
– Não tenho certeza, mas desejo que sim… – o Sacerdote dá uma última olhada no que há la fora, tentando manter viva a memoria de uma linda e verde floresta antes de vê-la morrer. Logo depois fecha a porta da frente e da um longo suspiro.
– Espero que possa encontrar sua lua, meu senhor! – ele sussurra com um meio sorriso em seu rosto. Esperançoso de que o futuro Rei salvará Neverhand.
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