Mais de um milhão de beijos - Capítulo 4.3
“Bem-vindo, jovem mestre.”
Por volta da meia-noite, o mordomo curvou-se profundamente em saudação ao belo e elegante homem que desceu de uma Ferrari. Andreas, que o olhou de relance, perguntou enquanto se afastava.
“Onde está o meu pai?”
“Está esperando na sala de estar.”
Andreas não perguntou mais nada e seguiu para a sala de estar. Enquanto atravessava o amplo hall, seus passos firmes e regulares ecoavam no vazio. Tão absorto em seus pensamentos, ele nem sequer ouviu a voz tagarela de sua irmã que vinha da sala de chá.
“Andreas, o que aconteceu? Chegando em casa tão cedo.”
Andreas, que caminhava com um olhar inexpressivo, parou e olhou para Delphi ao ouvir seu grito de repente, quando ela o avistou ao passar pela porta escancarada da sala de chá. A reação de surpresa de Delphi era mais do que natural. Ainda não era nem uma da manhã. Era a hora em que, normalmente, ele estaria bebendo e se divertindo à vontade.
Parado no corredor do lado de fora da sala de chá, olhou para dentro. Petrina, que estava sentada ao lado de Delphi no sofá bebendo chá, cumprimentou-o com o rosto corado. Petrina Angelis era filha de outro magnata da indústria naval e as famílias eram amigas íntimas. Ela era três anos mais velha que Delphi e dois anos mais nova que Andreas, mas era óbvio para qualquer um que ela era completamente apaixonada por Andreas. Infelizmente, ela era a noiva de Ferris, arranjado por suas famílias. Claro, Andreas não tinha nenhum interesse nela. Andreas não demonstrou nenhum interesse em sua reação fervorosa e apenas acenou levemente para Delphi antes de passar pela sala de chá e tentar seguir em frente. Mas Delphi não o deixou em paz.
“Espere um momento, Andreas. Estávamos conversando justamente sobre você.”
Andreas franziu levemente a testa e parou de andar novamente.
“Nossa, ser assunto de mulheres é assustador.”
“Não fale da boca para fora e venha aqui logo.”
Em outra ocasião, quem sabe, mas hoje ele não estava interessado e nem no clima para entrar no jogo dela. Ele disse “Depois”, gesticulou com a mão e tentou ir embora, mas Delphi gritou apressadamente.
“Você fez uma aposta com o Nick! Que história é essa?”
Entendi.
Andreas não teve escolha a não ser parar e olhar para ela novamente.
“O boato já se espalhou tanto assim?”
“Em Atenas não, em toda a Grécia, não deve ter ninguém que não saiba! O que aconteceu? Por que Nick apostaria com Andreas?”
Essa reação dela era natural. O oponente era ninguém menos que Nick. Andreas estalou a língua interiormente diante da situação que ele mesmo havia causado e respondeu sem ter outra escolha.
“Vamos deixar essa conversa para depois. Agora, preciso ver o pai primeiro.”
“O pai? Por quê?”
À pergunta surpresa de Delphi, Andreas respondeu apenas dando os ombros. Ele se virou e começou a andar novamente, mas desta vez Delphi não o impediu. Ao mesmo tempo, o rosto de Andreas voltou a ser inexpressivo. Sem demonstrar nenhuma emoção.
Após bater levemente na porta e esperar um instante, Andreas abriu a porta da sala de estar, e um forte aroma de charuto invadiu o ar. Giorgios Charisteas, sentado confortavelmente em um sofá, bebendo chá e fumando um charuto, pousou sua xícara ao ver seu segundo filho aparecer em resposta ao seu chamado. Andreas caminhou resolutamente, com passos largos e parou diante dele.
“Me chamou?”
“Sim, sente-se.”
Só depois de receber permissão, Andreas finalmente se sentou no sofá em frente ao dele, e Giorgios começou a falar.
“A festa passada foi muito bem organizada, mesmo com pouco tempo.”
O local originalmente escolhido para a festa era o navio de passageiros recém-construído. Foi decisão exclusiva de Ferris mudar apressadamente o local para o hotel de Andreas duas semanas antes. Giorgios sabia disso, mas não fez nenhuma objeção. Felizmente, a festa foi um sucesso razoável, mas Andreas não conseguia entender por que ele estava mencionando algo que havia acontecido quase um mês atrás. Giorgios, que o elogiaria como algo natural se tivesse sucesso e o criticaria impiedosamente se falhasse, começou com uma observação bastante branda, o que fez Andreas curvar os lábios em um sorriso breve e irônico.
“Não fiz muita coisa. O organizador e o gerente é que trabalharam duro.”
Giorgios o encarou fixamente antes de perguntar.
“Não te vi naquele dia, você nem sequer compareceu?”
“Dei uma passada lá. Dei os parabéns ao Ferris e, como parecia que tudo estava correndo bem, fui embora mais cedo.”
O rosto de Giorgios endureceu. A dúvida sobre qual parte era essa, logo foi resolvida.
“Então você realmente encontrou o Ferris.”
“Houve algum problema?”
‘Não ouvi nenhum relato de confusão.’ Giorgios continuou a falar para Andreas, que estava tentando se lembrar.
“Você não lhe deu nenhum conselho sobre negócios ou algo assim?”
Então era isso.
Só então Andreas se tocou e respondeu com indiferença.
“Eu apenas disse para ele reconsiderar o contrato com a Goldman. Parece que realmente houve um problema.”
Giorgios mordeu o lábio e soltou um suspiro.
“Eu disse para ele ter cuidado, pois parecia que estavam se expandindo de forma imprudente, e ele disse que analisaria seriamente, mas da noite para o dia rescindiu o contrato. Ele tentou me convencer de que havia analisado seriamente, mas…”
“Parece que não deu certo.”
Giorgios lançou um olhar ressentido para Andreas, que completou sua frase por ele.
“Perdi todo o dinheiro investido. Mal consegui evitar uma falência em cadeia, mas recuperar os fundos vai ser praticamente impossível. Por que diabos você provocou o Ferris?”
A flecha voltou-se para Andreas. Ele respondeu com um rosto inexpressivo.
“Eu apenas dei um conselho.”
“Você não sabia que o Ferris não daria ouvidos a você?”
Contendo a vontade de soltar uma risada sarcástica, Andreas continuou a falar.
“Negócios devem ser tratados racionalmente, não emocionalmente. Além disso, aceitar ou não um conselho é escolha da pessoa. Não acho certo transferir a responsabilidade para quem deu o conselho.”
“Andreas, você é o segundo.”
O pai repetiu mais uma vez o que ele já dizia há mais de 25 anos.
“É o primogênito quem herda a família. Você ainda não consegue aceitar isso? Eu te dei o hotel, contente-se com isso.”
“O que mais você quer que eu faça?”
Andreas perguntou com uma voz que involuntariamente saiu ríspida.
“Não estou quieto como você deseja? Não pus a mão em nenhum negócio, nem tenho intenção de pôr, nem de cruzar com o Ferris. E agora está dizendo para eu não dizer nem uma palavra sequer? Eu não tenho nenhuma intenção de cobiçar o que é do Ferris. Nunca nem pensei em querer isso.”
Giorgios não disse mais nada e tragou a fumaça do charuto. Depois de um momento de silêncio, Andreas falou novamente.
“Se não tiver mais nada a dizer, vou me retirar. Se quiser, pode ficar com o hotel também, não me importo. Dê tudo para o Ferris, já que nem sequer me lembro de ter dito que queria.”
Andreas, que cuspiu as palavras como se estivesse enjoado, disse um breve ‘pois bem’ como despedida e saiu da sala de estar. Giorgios observou a porta fechar silenciosamente antes de soltar um suspiro profundo.
Eu sei. Sei que Andreas não tem culpa.
Mas esta é a tradição…
Ferris, como primogênito, herdará tudo da família Charisteas. Como sempre foi.
Eu não odeio Andreas.
Giorgios repetiu mais uma vez essa sua autojustificativa que ele já havia repetido tantas vezes.
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Tradução: Yani
Revisão: Ana Luiza
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