Black Sky - 37. Entrelaçamento
“Fiquei incomodado por causa de outra pessoa… Isso não é estranho?”
A parte de trás do banco do piloto era um pouco alta. Enquanto Sa’e falava, suas pálpebras estavam ligeiramente caídas, seus olhos puxados para baixo, diminuindo bastante sua aura dominante. Até mesmo Chu Si ficou momentaneamente atordoado com esse olhar incrivelmente atraente e se esqueceu de afastar o dedo de Sa’e Yang em seu queixo.
Esta era uma maneira bastante íntima de falar. Era quase como se eles fossem muito próximos.
De fato, a maneira como Sa’e Yang falava e agia com ele frequentemente causava esse equívoco…
No começo, não era exatamente assim.
Ao longo dos anos no Sanatório Falcão Branco, Sa’e Yang quase nunca falava direito com Chu Si. Claro, Chu Si raramente dava a ele um olhar gentil também. Eles poderiam ser considerados inimigos se esbarrando em uma estrada estreita a cada encontro, cada conversa contaminada com pólvora pesada.
Especialmente nos últimos anos, Chu Si chegou a fazer as pazes com quase todos — exceto Sa’e Yang, que parecia sempre ser capaz de fazer Chu Si revelar instantaneamente seus espinhos escondidos sob a pele. Ninguém poderia segurá-los.
Pensando bem, suas conversas foram realmente muito breves. Incluindo as trocas de palavras inevitáveis na escola militar, eles não conversavam nem metade do que Chu Si falava com os outros colegas.
Chu Si há muito havia esquecido os nomes e rostos daqueles colegas de classe. Por outro lado, Sa’e Yang, com quem ele falou menos e teve o pior relacionamento, deixou a impressão mais profunda nele naqueles doze anos.
O relacionamento deles só melhorou depois de pouco menos de seis meses no campo de treinamento. Talvez a mudança abrupta de ambiente os tenha forçado a amadurecer significativamente e sair da fase teimosa, ou talvez por outra coisa…
Se alguém encontrasse um ponto de virada específico, seria por volta do tempo em que eles deixaram o acampamento pela primeira vez para atuar como reforços para uma missão mal sucedida. Os dois que nunca haviam estado em um time antes foram forçados a formar pares. Surpreendentemente, havia uma excelente conexão entre eles — melhor do que com qualquer outra pessoa.
Chu Si nunca esteve tão à vontade — ele não precisava se preocupar com seu companheiro de equipe o atrasando, já que Sa’e Yang era muito mais forte do que qualquer um de seus parceiros; ele também podia se mover sem restrições, já que Sa’e Yang era tão provocador e insano em todas as missões que Chu Si sentia vontade de seguir o exemplo.
Depois de uma missão de vida ou morte, Chu Si ficou muito hesitante.
Ele sempre percebeu coisas como essa em retrospectiva. No momento em que ele pôde admitir relutantemente que não desgostava de ser colocado junto a Sa’e Yang, ou que até mesmo gostava da emoção disso, Sa’e Yang começou a falar com ele como fez depois, tensão misturada com intimidade, enquanto o próprio Chu Si não sabia nem dizer quando exatamente isso mudou, pois ele involuntariamente se acostumou a isso.
A relação relativamente cordial continuou por algum tempo, embora com uma pitada de relutância.
Era a segunda vez deles trabalhando como parceiros durante a missão no Planeta Nas. Quando Chu Si estava se sentindo completamente sem esperança, Sa’e Yang inesperadamente voltou para carregá-lo para fora da caverna, trazendo Chu Si com segurança de volta ao campo de treinamento com sua própria cabine de teletransporte.
Tecnicamente, Sa’e Yang salvou sua vida…
Deitado nas costas de Sa’e Yang e semiconsciente, ele se opôs por instinto, um reflexo condicionado por suas experiências de infância. Ele lutou racionalmente por um tempo, mas seu coração acabou amolecendo, assim como no momento em que foi pego por Jiang Qi no beco quando tinha oito anos.
Ele podia apontar a razão psicológica do abrandamento de seu coração quando tinha oito anos — o instinto da criança em confiar nas pessoas, ou que Jiang Qi estava na idade de ser seu pai, dando-lhe um vislumbre de esperança de amor familiar.
Dessa vez, ele não conseguia apontar.
O que era ainda mais difícil de dizer era que a atmosfera sutil enquanto Sa’e Yang o carregava na caverna, em vez de se dissipar rapidamente, se intensificou nas missões seguintes.
Algumas coisas acontecem silenciosamente, mas surpreendentemente rápido.
Como resultado, em uma missão dois meses depois, quando Sa’e Yang o prendeu contra um tronco de árvore, as pontas de seus narizes se tocando e seus lábios separados por apenas alguns milímetros, Chu Si surpreendentemente não teve intenção de socá-lo.
Naquele momento, atrás deles estava a equipe de exploração armada da Cidade de Prata. A bomba de teste explodiu a menos de cem metros deles, o líquido altamente corrosivo e irritante espirrando por toda parte e queimando a grama e as árvores da floresta.
A névoa que enchia o ar era insuportavelmente ácida. O som das sirenes e as várias vozes vindo dos comunicadores militares se misturavam aos ruídos de fundo. Esse tipo de situação de vida ou morte sempre parecia energizar Sa’e Yang. Sempre que achava estimulante, ele ficava louco e derrotava seus oponentes.
Mas Chu Si nunca esperou que ele de repente ficasse perturbado de uma maneira diferente.
Eles estavam apenas buscando refúgio do líquido corrosivo que jorrava pelo tronco da árvore, mas Sa’e Yang abruptamente abaixou a cabeça e se aproximou.
Ele também estava semicerrando os olhos. Parecia perturbado e arrogante; era impossível dizer se ele estava apenas emocionado no calor do momento ou outra coisa.
Isso foi o mais próximo que eles já estiveram um do outro, tão perto que suas respirações estavam se entrelaçando. Ainda assim, os milímetros entre eles nunca se reduziram a zero porque a aeronave que os levaria chegou e pousou.
Em seguida, houve um fogo cruzado frenético. A equipe alvejada estava tentando desesperadamente partir com suas aeronaves, enquanto amaldiçoava os ancestrais de seus inimigos a plenos pulmões. Em meio a isso, era um caos total enquanto a equipe tentava tratar, desinfetar e verificar suas condições físicas — nem Chu Si, nem Sa’e Yang podiam perder tempo para mencionar aquele momento na floresta.
Então veio o conflito civil ainda mais complicado no Exército Falcão Branco entre a academia militar e o quartel general, o caos envolvendo o campo de treinamento, o Sanatório e além. Mesmo aqueles que faleceram foram envolvidos, incluindo Jiang Qi.
Chu Si ficou totalmente esgotado por isso.
Quando tudo acalmou, já era o final daquele ano. Aquela atmosfera sutil há muito tempo tinha sido enterrada no caos. Não havia mais necessidade de mencioná-la.
Quando Chu Si e Sa’e Yang se viram novamente, foi no dia em que Sa’e deixou o acampamento mais cedo por motivos especiais.
Aquele dia marcou o décimo terceiro ano desde que se conheceram. Naquela época, suas conversas eram em sua maioria cheias de provocação e sarcasmo, enquanto o restante era uma mistura de indescritível ambiguidade e brincadeira. O encontro mais pacífico foi apenas naquele momento em que eles se cruzaram no jardim botânico que se conheceram, despedindo-se a poucos passos de distância.
Na verdade, aquele era o caso raro em que Chu Si estava mentalmente à vontade — foi na época em que ele encontrou uma pista que poderia provar que Jiang Qi ainda estava vivo, e também a época em que ele finalmente deixou cair sua defesa, hostilidade e o menor indício de estranheza em relação a Sa’e Yang.
Em todos esses anos, além de Jiang Qi, um membro da família, Sa’e Yang era o único com quem ele podia baixar a guarda.
Naquela época, Chu Si não conseguia definir claramente o que Sa’e Yang era para ele, pois a única referência que ele tinha era Jiang Qi. Mas seus papéis eram muito diferentes: Jiang Qi era sua família e Sa’e Yang não.
Sa’e Yang também não era um amigo. Ao contrário deles, os amigos nunca ficariam em desacordo por mais de uma década e sem nunca ter uma conversa franca.
Independentemente disso, era bom o suficiente que o relacionamento deles estivesse caminhando para um entendimento tácito e para a confiança.
Esses pensamentos duraram até o terceiro ano depois que Chu Si deixou o acampamento. Naquele ano, meio mês antes do aniversário da morte de Jiang Qi, Chu Si recebeu uma missão há muito esperada envolvendo uma das mais misteriosas bases de pesquisa do Instituto de Pesquisa do Exército Falcão Branco, localizado na Junção Bordo Vermelho, entre os quartéis generais e o governo central.
Os estudos mais cruciais e secretos dos militares foram todos armazenados na Base Bordo Vermelho, onde Jiang Qi costumava ficar três meses por ano.
Mesmo Chu Si não tinha ideia do tipo de pesquisa e dos assuntos envolvidos ali.
Mas, em uma série de missões naquele ano, Chu Si descobriu um projeto de pesquisa na Base Bordo Vermelho sobre o renascimento de uma lista de pesquisadores — incluindo Jiang Qi, que havia sido explodido em pedaços.
A lista e o projeto de pesquisa enigmático deram a Chu Si uma resolução após muitos anos de perseverança — Jiang Qi provavelmente estava vivo ou poderia ser revivido.
Embora parecesse absurdo, isso finalmente deu esperança a Chu Si após dezoito anos de espera.
Mas no final, ele teve que assistir a última esperança desmoronar junto com a Base Bordo Vermelho, que foi instantaneamente reduzida a cinzas.
E a Base foi destruída por Sa’e Yang, que tinha desertado[1] de repente.
Nos anos seguintes, todas as missões de Chu Si estavam relacionadas à busca de Sa’e Yang. Nas informações e nos registros que cresciam cada vez mais, ele finalmente conseguiu se convencer de uma coisa: Sa’e Yang não era constrangido por nada. Ele pode ser o companheiro de equipe mais poderoso hoje e renegar o time no dia seguinte. Ele não seria e nunca poderia ser influenciado por nenhum outro fator. Ele era perigoso, egocêntrico e desenfreado.
Ele acabou voltando para sua impressão inicial de Sa’e Yang, percebendo que ainda era a mais próxima da verdade. Que ironia.
Todas as suas esperanças foram destruídas pela pessoa que o salvou. A pessoa em quem ele uma vez tentou confiar acabou ficando contra ele.
Esse sentimento complicado incomodou Chu Si por muitos anos, apenas diminuindo lentamente quando Sa’e Yang finalmente entrou na Prisão Espacial. Nos anos de supervisão, o relacionamento deles lentamente se transformou nesse estado indiferente e ambíguo.
Chu Si olhou por um momento para os olhos claros de Sa’e, que permaneceram inalterados mesmo depois de décadas. Ele afastou a mão de Sa’e que estava enganchada em seu queixo. “Se você tem um motivo, fique o tanto que quiser.”
Com isso, ele se virou e pegou a filmagem gravada por Carlos Blake.
A filmagem estava incompleta e inconsistente, mas a maioria dos trechos combinava com as informações até agora.
Assim como Carlos havia dito, a Cidade de Prata já havia entrado em ação e as forças mecha estavam avançando em direção à região do Planeta α. Enquanto isso, os outros planetas também estavam ocupados: dois planetas que costumavam ter uma relação próxima com Aquila γ já haviam circulado na fronteira da região; não se sabia se eles estavam lá para ajudar ou se tinham segundas intenções.
No entanto, permaneceu sendo impossível localizar os militares e o governo central, e entender a situação atual. Carlos Blake só tinha encontrado dois fragmentos [de planeta] até agora.
Essa última filmagem foi gravada quando ele pousou no último fragmento.
A imagem estava muito bagunçada e instável. Era vertiginoso e confuso.
Chu Si ainda podia sentir a pressão nas costas de sua cadeira. Sa’e ainda estava encostado nela, talvez assistindo à filmagem com ele, talvez pensando em outra coisa.
Apenas quando Chu Si estava vagamente distraído, a filmagem mudou repentinamente. Um edifício muito familiar passou rapidamente.
Chu Si congelou por um momento antes de rebobinar imediatamente, parando no prédio.
Aquele era…
Ao que ele ampliava lentamente a imagem, Sa’e Yang falou de repente. “Eu estava me perguntando sobre algo há muito tempo.”
Chu Si pausou o dedo, mas não se virou. “Difícil imaginar que você iria refletir sobre algo por um longo tempo.” Seu olhar permaneceu na filmagem, seu tom muito casual, como se fosse uma resposta improvisada enquanto estava ocupado com outra coisa.
Sa’e Yang se moveu novamente e parecia estar apoiando a cabeça com a mão. Ele riu, sua voz baixa passando por trás do assento. “Me surpreende também.”
Estranhamente, a risada parecia uma auto-zombaria.
Chu Si finalmente se virou para ele.
Sa’e semicerrou os olhos, a luz refletida neles enterrada sob a sombra de seus cílios, que cortavam a luz em incontáveis pontos luminosos. “Fiz algo que sempre quis fazer e não me arrependi, nem me senti culpado. Mas por que isso me incomoda? Eu pensei sobre isso por muitos anos.”
Chu Si franziu a testa e olhou para ele por um longo tempo. “Já descobriu por quê?”
“Mn.” A voz de Sa’e era baixa. “Porque deixou alguém chateado.”
Ele piscou, as partículas de luz em seus olhos lembrando o atlas estelar que conseguia conter o universo. “Fiquei incomodado por causa de outra pessoa… Não é estranho?”
◇
[1] Desertar é o termo militar usado para referir-se à fuga do serviço militar; deixar a tropa sem autorização 《fonte: dicio.com.br》
♡
O que diz a autora?
Desculpe, adormeci no meio da escrita Orz…
Eu traduzo todos os nomes das cidades e das instituições, mas esse Red Maple/Bordo Vermelho me parece melhor em inglês… em crise
Bem, o próximo capítulo é o último disponível até agora na tradução do inglês. Eu já tentei uma vez traduzir diretamente do texto original, mas não fiquei satisfeita com a qualidade. TALVEZ, eu arrisque novamente. Caso fique uma coisa coerente, vou atualizando.
No próximo capítulo, digo se deu bom ou não
Obrigada pela leitura ♡
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