A Maldição do Lobo Vermelho - 0 Prólogo - Uma história de ninar
Sob o parco refúgio de uma cabana velha e esburacada, mãe e filho se aconchegaram, dividindo um bocado de palha seca como cama e o calor do corpo como agasalho.
— Mãe? Por que seus cabelos são tão diferentes dos meus? — perguntou a criança enquanto penteava as mechas longas e ruivas — Na vila… falam que a senhora é uma…
— Bruxa? — completou sorridente após virar e encarar os olhos curiosos — Meu pequeno, as pessoas tendem a temer aquilo que não compreendem e o medo dos homens os levam a agir de forma irracional. Não se preocupe com esses comentários, apenas finja que não escutou, tudo bem?
— Mas, mãe? — As bochechas morenas ganharam um tom avermelhado ao retrucar.
A jovem mulher se endireitou e puxou o filho para mais perto, acariciando os cabelos negros que contrastavam vividamente com a pele pálida da mão.
— Sem mais! Fengári, está na hora de dormir. Deite-se que irei contar uma história.
“Para evitar a destruição do universo durante a impiedosa guerra celeste, Théos, o grande deus pai, concebeu nove mansões no céu e aprisionou a verdadeira forma dos filhos em cada uma delas. Com os poderes selados, as divindades caíram em sono profundo, enquanto Théos reconstruia tudo que antes fora perdido.
Após o árduo trabalho, o deus pai foi magoado pela solidão e resolveu despertar os filhos para um majestoso banquete. A fim de evitar um novo conflito, enviou mensageiros às mansões, para que servissem como receptáculos das poderosas entidades. Desta maneira, a real forma dos herdeiros permaneceria presa nos cárceres celestes enquanto eles poderiam andar livremente pelos céus.
Assumindo a forma de uma gigantesca ave prateada, Tellus foi o primeiro a atender ao chamado, pousando a destra do trono.
Ele permaneceu sozinho pelo tempo de uma eternidade, aguardando paciente o regresso dos irmãos enquanto o poderoso patriarca regia novas leis para o universo. Como recompensa a sua lealdade, Theos concedeu ao deus alado uma companheira, para que dividissem o peso dos dias.
Fazendo-o dormir, o grande deus retirou alguns fios prateados do filho para dar vida à prometida. O processo foi longo e nesse meio tempo seu irmão Solis que, assumiu a forma de uma majestosa pantera dourada, também acordou.
Assim que chegou na mansão do pai, o segundo filho avistou a mais nova criação, Selene, e se apaixonou perdidamente. Ela também ficou encantada com os tons dourados da pantera e rogou ao grande deus que a permitisse compartilhar a vida com Solis. Théos, porém, a alertou que já estava comprometida e proibiu que os dois se vissem novamente.
Ao acordar, Tellus foi arrebatado pela beleza prateada da companheira e sem desperdiçar tempo, a levou para sua mansão, prometendo voltar quando todos os irmãos se reunissem. No dia do grande banquete, Selene aguardou na morada celeste de seu prometido, já que devia se abster de encontrar Solis. Porém, a pantera dourada tinha um plano para rever a amada.
Assim que chegou no castelo do grande deus, Solis enviou um lobo mensageiro até Selene, instruindo-a a tomá-lo como receptáculo para que pudessem se ver. Com o adiantar das horas, ele aproveitou que a maioria dos deuses estavam muito bêbados ou muito distraídos e foi ao encontro da donzela. Porém, Théos estava desconfiado e seguiu o filho, flagrando a desobediência.
O patriarca ficou tão irritado que rasgou o dia em duas partes, ordenando que Solis caísse em sono profundo durante as horas escuras e apenas acordasse nas primeiras horas claras. Já Selene, estava condenada a permanecer adormecida durante o período chamado dia e acordar apenas com as primeiras horas do período chamado noite.
Quando Tellus descobriu a traição, ficou furioso e descontou a raiva nos animais usados como receptáculos. Rasgando o manto negro que Selene vestia, o jogou sobre a pantera dourada, para que sua cor brilhante, nunca mais seduzisse outra pretendida.
Vendo o lobo que tinha os pêlos prateados como os cabelos de Selene, o ódio cresceu ainda mais e com a espada perfurou o próprio coração, manchando completamente o animal de vermelho. Dessa forma, eles simbolizariam vergonha em suas tribos e o eterno lembrete da traição.
A pantera sentindo-se injustiçada se defendeu, dizendo que era apenas um instrumento, que não tinha poder de descumprir as vontades de Solis, já o lobo, foi de boa vontade a mansão de Tellus buscar Selene, desobedecendo às ordens.
O lobo argumentou que também não teve escolha, mas Théos estava furioso e decretou que daquele dia em diante, não haveria paz entre os reinos e que o rancor entre panteras e lobos não seria esquecido até que todo o sangue derramado por seu filho retornasse a ele.”
— E é por isso que a guerra nunca tem fim, as tribos acreditam que apenas matando os lobos vermelhos o sangue será restaurado e a paz será concedida novamente — suspirou.
Os olhos do pequeno brilharam, completamente concentrados na magia escondida por detrás das palavras da mulher.
— E isso é verdade mamãe? — perguntou por fim.
— Isso é apenas uma lenda, meu amor. Um conto para explicar a sede de sangue e poder das pessoas. A paz não tem nada haver com a vontade dos deuses, ela depende apenas de nós e de nossas escolhas. Lembre-se sempre disso, o futuro é você quem decide.
Publicado por:
- GSK
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Escrevendo, desenhando, editando e fazendo mais algumas artes por ai.
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