A Década Depois Da Primavera - Capítulo 18
Respirar com esforço, aspirar o suficiente para abastecer meus pulmões exigia dedicação. O suor formou uma linha única, pura e salgada, como as águas do oceano. Percorreu do pescoço até a barra da camisa e ali permaneceu.
Os batimentos do meu coração estavam um pouco acelerados. Essa sensação me transportava para outro planeta tão distante quanto a lua. Lá, para mim, a gravidade era o único elemento que me mantinha de pé. De resto, fui tomado por intermináveis sensações físicas.
Embora meu obstetra tenha me orientado a seguir suas recomendações, a caminhada de uma hora exigia um esforço considerável de mim. Sentia sede, cansaço e transpirava. Não era algo agradável. E o cachecol só piorava a situação.
— Você parece cansado, vamos até a lojinha de conveniência comprar algo para bebermos — sugeriu Luciana gentilmente.
Não permaneci muito tempo no hospital. Os dias transcorreram normalmente após o incidente. Foi exatamente como Luciana e Zhang haviam dito, ficamos mais próximos. E Dominic voltou ao trabalho, como de costume. E as marcas no meu corpo sumiam diariamente, mesmo que algumas lembranças insistissem em perdurar.
Caminhamos até a lojinha mais próxima, apreciando o belo crepúsculo. Já eram 17:00h. Apesar do horário, o clima estava quente e abafado, então foi uma boa ideia comprar água para nos refrescar.
Decidi esperar no estacionamento, debaixo de uma árvore curvada. Quando Luciana entrou na lojinha de conveniência, a cena que se seguiu me deixou atônito.
Uma mulher e um menino ajudavam uma garotinha que passava muito mal, notei que ao redor não havia ninguém. Sem outras alternativas, tive que ajudá-los. Fiquei de joelhos ao lado dela, sem tocá-la.
— O que aconteceu? — indaguei. A garota estava deitada no chão, com uma expressão agonizante. Sua testa estava banhada de suor e seu rosto pálido, segurava com sua mão direita o próprio peito, olhando com pânico e desespero para a mulher.
— Ela tem problemas cardíacos e esquecemos seus medicamentos! — A criança se retorcia no chão, franzindo o cenho. Sentia que seu coração era estrangulado, sufocando-a continuamente, enquanto encolhia o corpo à medida que a pressão no peito aumentava. — Não acredito que consiga levá-la sozinha e também não estou com meu celular. Não há como deixá-la no banco do passageiro nesse estado!
Afrouxei as roupas e acessórios apertados da criança, para facilitar sua respiração e proporcionar-lhe um pouco mais de conforto.
Olhei na direção da loja onde Luciana estava. Por que demorava tanto? Não parecia que ela viria agora. Liguei para uma ambulância e disseram que não chegariam logo. Estavam presos no engarrafamento longe daqui. Deram orientações, disseram que nós mesmos teríamos que levá-la.
— Vamos para o hospital, eu vou ajudá-los. Você está de carro? — A mulher acenou com a cabeça, mas explicou que seu carro tinha pouca gasolina e ela não sabia se chegaríamos lá. — Ainda há táxis a essa hora, podemos chamar um caso seja necessário —. Eu mencionei um plano B. A mulher estava extremamente ansiosa e continuava olhando para a menina enquanto mordia os lábios, parecia que ela iria chorar a qualquer momento. — Não entre em pânico — pedi.
— Obrigado. Vamos levá-la até o carro. No hospital, poderemos pegar os remédios — ela falou, observando o quão fraca a criança estava. — Querida, aguente mais um pouco. Titia não vai deixar nada de ruim acontecer com você. —. As mãos dela tremiam e em seus olhos havia lágrimas.
Apesar da dor, a menina tentou acalmar a tia. Ela era bastante corajosa.
Não tive escolha senão pegá-la gentilmente e colocá-la no meu colo, apesar da minha situação. Não podia esperar por Luciana. A menina colocou seus braços em volta do meu pescoço e abraçou-se em mim.
A tia deles pegou o menino e trouxe conosco, quando olhei para eles vi que eram gêmeos, um casal. Ela pegou os seus pertences e caminhamos até o carro.
Tive dificuldade por causa da criança nos meus braços. A mulher não estava em condições para dirigir, sugeriu que eu ficasse ao volante e ela com a menina. A mulher sentou-se no banco do passageiro e olhou para o menino, pedindo-lhe que colocasse o cinto de segurança. Ela estava doente de preocupação e frequentemente olhava para a sobrinha. Conforme o tempo passava, pior a menina ficava.
— Estamos quase lá — tentei dar um pouco de ânimo às duas. Minha voz estava calma, apesar do nervosismo.
Após passarmos por um cruzamento e virarmos à direita, a criança não aguentou mais. Ela desmaiou devido à agonia. Então solicitei que ficassem atentos aos batimentos cardíacos e à respiração. Neste momento, o carro começou a desacelerar, a gasolina tinha acabado. Tive que estacionar à beira da estrada. A mulher começou a questionar o que faríamos, sentindo-se perdida.
Peguei meu iPhone para chamar um táxi. No entanto, o aparelho estava descarregado, foi quando lembrei que esqueci de carregá-lo, pois pensei que voltaríamos logo. A bateria estava apenas cinco por cento, mas foi o suficiente para solicitar um táxi, no entanto, ia demorar cerca de vinte minutos para chegar.
No final, fiquei imóvel por alguns segundos analisando as opções restantes, tentei acalmar a mulher. Saí do carro.
Olhei ao redor e não havia muita movimentação, apenas alguns carros que passavam por nós sem parar. Gritei alto, pedindo que viessem ajudar, que ajudassem a levar a criança ao hospital, no entanto, nenhum deles parou. Hoje realmente não era um dia de sorte.
Estava ofegante por ter gritado tanto. Olhei para o rosto pálido da menina, tive a intuição de que ela não conseguiria esperar mais e fui procurar ajuda pelos arredores. Se não fosse rápido, ela ia morrer! Excluí essa ideia. No final, não encontrei ninguém, apenas uma bicicleta velha em um canto. E o tempo passando.
Presumia que a mulher não conseguiria manusear uma bicicleta no seu estado atual, peguei a criança no colo e a levei na direção da bicicleta com alguma esperança de que conseguiria ajudá-la. Ela estava roxa, perdia sua cor. Isso era ruim, realmente ruim.
Felizmente, a bicicleta não estava trancada, agradeci internamente ao bondoso desconhecido que a deixou aqui sem qualquer segurança, ia devolver ela em breve.
— Pegue, venha até o hospital São Marcos e traga isso. — Entreguei meu iPhone para ela, como uma espécie de garantia de que não estava sequestrando sua sobrinha.
— Mas esse hospital é particular, não tenho como pagar. — Ela estava angustiada, suas mãos tremiam cada vez mais.
— Não se preocupe, vou arcar com os custos. O importante é ajudá-la.
Não demorei mais nem um minuto, comecei a acalmar-me e a reunir coragem para colocar a menina no suporte traseiro da bicicleta, a apoiando contra o meu corpo e subindo cuidadosamente na bicicleta. Tive receio de que ela não estivesse segura dessa maneira, então usei o meu cachecol para amarrar o corpo ao meu, como se fosse uma corda. Surpreendente, não ficou tão desconfortável quanto imaginei inicialmente, foi tolerável. Não machucou minha barriga.
Comecei a pedalar com dificuldade, já que fazia um bom tempo desde a última vez que andei de bicicleta. Enquanto pedalava, era impossível não me preocupar com a possibilidade de a menina cair. Decidi estender meu braço para segurá-la enquanto guiava a bicicleta com o outro. Foi desafiador, o caminho parecia mais longo, a linha reta se estendia a cada pedalada. O calor era meu cúmplice e só aumentava ainda mais.
Pedalei até todo meu corpo suar, consegui terminar a última curva da rua com dificuldade. Quando vi a placa do hospital, meus nervos se acalmaram um pouco. Gritei alto pedindo para que os paramédicos viessem, e quando vi eles chegando com a maca, fui relaxando.
— O que aconteceu com ela? — Uma enfermeira perguntou enquanto verificava a garota desmaiada.
— Ela estava com dor no peito e de repente desmaiou no caminho para cá. Sua tia disse que tem problemas cardíacos — expliquei.
— Provavelmente é um bloqueio do fluxo sanguíneo para o músculo cardíaco. Vamos, ela precisa ser atendida imediatamente! — Eles a colocaram na maca e a empurraram apressadamente. Outra enfermeira ficou para trás e falou comigo. Perguntou se eu estava bem, me ofereceu água e aceitei.
— Você pode ir e fazer o procedimento de internação, e depois vá para a sala de espera. — Olhei para ela em silêncio e depois acenei inexpressivamente.
Corri de um lado para o outro para terminar os procedimentos de internação, assinar o consentimento para a operação e pagar as taxas de hospitalização. Quando terminei, fui para a sala de espera, soube que a cirurgia já havia terminado. Ainda não tinha notícia da menina, estava ansioso.
A tia da criança enfrentou um grande desafio para nos localizar. Ela consultou a enfermeira do hospital em busca de informações e, posteriormente, veio até nós. Ao chegar, deparou-se com sua sobrinha deitada, mergulhada em um sono profundo. Ela estava cercada de equipamentos médicos e recebia soros intravenosos. Após contemplar tranquilamente o estado da menina, finalmente conseguiu acalmar-se. Devolveu-me o aparelho e expressou sua gratidão por minha ajuda.
Seu nome era Maria, conforme mencionou em sua breve apresentação. Aquelas crianças eram seus sobrinhos, filhos de seu irmão mais velho que estava em uma viagem.
Dentro do quarto, ela acomodou-se ao lado da menina, observando-a atentamente. O médico fez algumas visitas para monitorar seu estado e nos informou que a pequena Margaret teve muita sorte, quase foi a óbito. Mesmo que o caso tenha evoluído para um quadro de infarto, a intervenção aconteceu rapidamente, evitando assim um desfecho trágico.
Após ouvir o médico, Marie refletiu sobre o quão imprudente foi por ter esquecido os remédios, colocando a vida de sua sobrinha em perigo. Fiquei com eles por mais um tempo, saí da sala e liguei para Luciana. Com certeza ela estava preocupada. Encontrei e conversei com Thomas, meu médico. Ele estava muito ocupado e não conseguimos conversar muito.
Pouco tempo depois de finalizar a ligação com Luciana, fui abordado no corredor por um grupo de homens vestidos com ternos pretos. Por um momento, pensei que fossem seguranças do hospital, devido a algum equívoco nos papéis de internação. Porém, não eram funcionários.
Eles se aproximaram de mim, todos parados, olhando-me fixamente sem fazer nada mais. O simples ato de encará-los despertava em mim um sentimento aterrorizante, anunciando um contexto desfavorável, um cenário sombrio. Um deles, audacioso e avarento, trazia em sua mão um buquê repleto de Acônitos e Belladonnas.
Sabia perfeitamente que tipo de flores eram aquelas. Os acônitos causam asfixia e as sinfonias da Belladonna induzem parada cardíaca. O que planejavam?
O silêncio que valsava entre nós foi abruptamente interrompido quando uma explosão ecoou pelos corredores do hospital, em uma parte não tão próxima. O som cristalino do vidro se quebrando transformou-se em um barulho infernal. Gritos e passos ecoavam de todos os lados. O chão tremeu levemente pela força da explosão. Meus colegas não demonstraram nenhuma reação. Naquele momento, compreendi imediatamente que eles eram os responsáveis e não temiam nada. Os homens de preto eram assassinos capazes de colocar uma bomba em um hospital sem que ninguém soubesse.
Betagem: Arabella (WD)
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