99% Perfeito - Capítulo 03.
— Presidente, eu sou um alfa, não um ômega.
— Que seja. Arrume um ômega e tenha um filho.
— Mas que diabos…
Sua avó, ainda com a habitual expressão de frieza, continuou falando enquanto fingia nem estar o vendo na sala.
— Se formar uma família e tiver filhos, te darei tudo que é meu.
Lee Hwan abriu a boca até não poder mais e acabou soltando uma gargalhada estrondosa.
— Se quer tanto uma criança, por que não pega um em um orfanato?
— Dê luz à sua semente e a crie. Arrume um ômega.
— Qual é o sentido de fazer isso?! — Hwan acabou gritando.
— Ter uma casa para cuidar. Como poderia um homem que sequer é capaz de manter uma só família poder garantir o alimento das cem mil pessoas que trabalham em sua companhia?
Lee Hwan queria gritar, arrancar a cabeça da velha. Furioso em seus pensamentos, pensou“Por que quer me fazer passar por isso?!”, mas, como um bom neto, forçou-se o máximo que conseguia para desenhar um sorriso em seus lábios.
— Se quer tanto assim ter um neto, eu te darei um neto.
Por causa disso, teve que fazer vários testes de compatibilidade, mas a taxa de correspondência nunca passava dos 2% ou 3%, isso acontecia ou por ele ter uma personalidade extremamente difícil ou por seus genes serem muito superiores. O problema é que quanto maior a taxa de correspondência entre um alfa e um ômega, maiores as chances de nascer uma criança saudável. Caso tentassem com uma taxa baixa como 2% ou 3%, a possibilidade de haver complicações na gravidez seria imensa.
Não tinha problema algum em seu sistema reprodutor, o membro que ficava rijo todas as manhãs estava pronto para derramar sua semente imediatamente e, segundo os resultados de seus exames, os espermatozoides eram completamente saudáveis também.
Ah, é claro, ficava com nojo só de pensar em ter que fazer sexo. Não era capaz de se imaginar na mesma cama com outra pessoa, misturando saliva e outros fluídos corporais.
“Só de pensar nisso me sinto doente”.
Se sentia incomodado, então pegou um lenço umedecido com substância desinfetante e limpou suas mãos uma vez mais.
“Se eu conseguir dar um bebê à vovó, herdarei a Companhia e não haverá nada que eu não possa fazer, mas… Prefiro pensar em ter um filho por meio de inseminação artificial”.
Enquanto recolhia os lenços umedecidos para jogar na lixeira, seus olhos voltaram a encontrar o espelho de mão que estava sobre a escrivaninha. Ali também deveria haver uma infinidade de germes, mas, mesmo assim, não hesitou em pegá-lo.
“Não seja tão cruel, pare com isso.”
De repente, se lembrou do homenzinho que encontrou no hotel, que falou com ele daquele jeito sem saber que ele era o verdadeiro dono daquele lugar. Ele devia estar assustado, mas suas expressões… Enquanto falava, mantinha os olhos bem abertos, por alguma razão, aquela cena ficava voltando à sua mente de uma forma estranha.
O espelho de mão que segurava, com certeza, pertencia àquele homem.
Normalmente, não tocava nas coisas de outras pessoas, pois estavam cobertas de germes. Ou, caso tocasse, teria deixado com seus funcionários para que lidassem sozinhos com os objetos dos “achados e perdidos”, mas, daquela vez, Hwan tinha dificuldade de entender a natureza de seu próprio comportamento impulsivo.
Quando observou o espelho que estava desgastado na parte de trás, viu seu próprio rosto refletido. O cabelo bem penteado, olhos negros que refletiam tão bem sua frieza, pele pálida. Olhou seu rosto por alguns instantes como se estivesse olhando um estranho, mas logo desviou o olhar.
A imprensa estava sempre ansiosa para apontar suas câmeras para o rosto de Lee Hwan, já que tinha boa aparência, mas seu olhar era capaz de deixar qualquer pessoa incomodada, a qualquer momento que fosse. Ele não tinha mesmo intenção alguma de sair com um ômega para que desse a luz a um filho seu, nem sequer se sentia bem para fazer algo assim. Tudo de que precisava era de um bebê.
Ele voltou a pegar o espelho de mão e, de repente, seu nariz sentiu um cheiro. De jeito algum. Ele levou o espelho ao nariz e respirou profundamente. Havia um cheiro diferente, como se viesse do meio de árvores. Não era seu próprio cheiro. Era um aroma doce, como se fosse de morangos, e estava a milhões de anos-luz dele.
Um pensamento acabou passando por sua mente, pegou seu telefone e apertou um botão.
— Sim..? Precisa de algo, Diretor?
A voz do secretário Park, que parecia exausta, ressoou através do telefone.
— Não me importa onde ou como, consiga para mim uma amostra de DNA.
Ele não era daquele tipo de pessoa que acreditava em intuição, mas, dessa vez, pensou que pudesse ser uma boa.
— Por favor, faça um teste de compatibilidade com ele.
Só dessa vez.
…
— Não..? Eu acho que deixei no meu quarto nesse dia.
Haejin trocou o telefone de lado, colocando em sua outra mão.
— Nós já procuramos muitas vezes, mas não encontramos nenhum espelho de mão.
Ele pensou que tivesse deixado o espelho de mão em seu quarto naquele dia, mas os funcionários do resort diziam que não encontravam em lugar algum, por mais empenhados que estivessem em sua busca. Se não foi ali, então onde o havia perdido?
Tentando procurar algo em sua memória, Haejin acabou se lembrando do homem alto que viu parado no corredor naquele dia e, estranhamente, um aroma diferente pareceu invadir seu nariz através das memórias. Era um cheiro diferente, que nunca havia sentido antes.
Haejin balançou a cabeça em negação, se desvencilhando daqueles pensamentos.
— Por favor… Procure de novo.
Ele implorou outra vez, embora já não tivesse mais certeza de que seu espelho estivesse lá. Ele se virou para o computador e, por alguma razão, o rosto borrado do homem que viu naquele dia surgiu no monitor.
“Tenho certeza de aquele homem cheirava a… alguma coisa.”
O cheiro dele era completamente diferente do cheiro das outras pessoas, o que poderia ser? Não sabia por que ficava se lembrando dele, mas Haejin chegou até mesmo a pensar que gostaria de sentir de novo aquele cheiro guardado só em sua memória.
— Não é hora para pensar nisso. — Disse a si mesmo, batendo com as mãos sobre a cabeça. Ter perdido o espelho de mão ainda o deixava muito triste. — Onde diabos eu deixei..?
O espelho era de madeira, velho e usado, mas era a única lembrança que tinha de sua mãe. E agora havia perdido.
Raramente perdia alguma coisa, por causa de sua personalidade extremamente cuidadosa. Nunca perdia sua carteira ou celular, nem mesmo esquecia seu guarda-chuva nos dias chuvosos, pois sabia, desde bem jovem, que tinha que se cuidar bem.
Mas aquele dia foi especialmente agitado. Não era sua primeira viagem a trabalho e trabalhou como sempre, mas de forma inusitada perdeu o presente de sua mãe que era mais importante para ele. Haejin queria chorar. Ele teve uma enxaqueca depois de tanto tempo sem. Seu estômago estava doendo por causa da gastrite e sua esofagite o estava deixando tonto.
— Vamos trabalhar…
Falou para si mesmo e segurou o mouse, por mais chateado que estivesse, tinha que trabalhar e, desse modo, começou a digitar as informações do relatório.
Logo a tarde chegou. Durante o almoço, os membros da equipe ficaram extremamente preocupados com as expressões tristes dele, claramente estava mal, e o observaram no caminho de volta entre a empresa e o restaurante. Haejin ganhou muito chocolate e bebidas, então ele tinha que sorrir e dizer “está tudo bem” para que não causasse problemas aos membros da equipe ou deixá-los preocupados em “dar comida e animar” ou para que parassem de perguntar “quer que eu te ajude a procurar?”
Enquanto trabalhava durante a tarde, recebeu uma ligação de um número desconhecido. Mesmo assim atendeu.
— Alô?
— Boa tarde, senhor Kang Haejin?
Uma voz alta e clara falou do outro lado da linha. Aquela voz era profunda como de um ator (n/t: ator no sentido de “voice actor”, dublador, locutor) fez com que Haejin paralisasse por um momento. Ele já havia escutado aquela voz antes.
— Sou eu, quem é?
— Eu tenho aqui um objeto perdido, acredito que pertença a Kang Haejin.
Antes que mais palavras fossem ditas, Haejin saltou de sua cadeira e abriu um sorriso enorme aos outros membros da equipe, saindo rapidamente para o corredor e mantendo o celular próximo do rosto.
— Objeto perdido? Está falando do meu espelho de mão? É sério mesmo?!
— Sim.
Quando perguntou, estava feliz e lhe respondeu com uma voz ligeiramente risonha. Essa voz… É realmente perturbadora, pensou Haejin.
— Quando pode me devolver? Pode escolher qualquer lugar que eu vou te ver!
Haejin estava tentando se lembrar de sua agenda, tentando ignorar o coração acelerado pela empolgação… Só um pouco depois se sentiu estranho. Quem lhe ligava usava um número pessoal, não era um número comercial. E se fosse alguém que tivesse pego seu contato com o resort, ligaria direto no telefone da empresa onde trabalhava.
— Ah, é claro… Com quem estou falando? Me diga quem você é e como conseguiu meu número para que eu possa acreditar em você.
Ele escutou um pequeno suspiro do outro lado da linha e uma voz um pouco cansada o respondeu.
— Sou Lee Hwan, diretor executivo da Keystil Leisure.
— Lee Hwan? Você é Lee Hwan? — Os olhos de Haejin se arregalaram.
— Eu soube que o senhor Kang Haejin esteve no complexo, então pedi a sua empresa suas informações de contato pessoal.
Dessa vez, usava um tom mais frio. Haejin piscou algumas vezes, se apoiando perto da janela que havia no final do corredor. As flores brancas estavam desabrochando para o verão. Haejin falou com cuidado, observando atentamente as flores que se movimentavam conforme a brisa.
— Por que você… Bem, poderia ter me ligado no escritório. Oh, não me entenda mal, não estou ofendido com a sua ligação, apenas me pegou de surpresa!
— Há algo que preciso te dizer pessoalmente.
Keystil era a empresa superior à agência de viagens onde Haejin trabalhava e o diretor executivo Lee Hwan era tão popular quanto uma celebridade, então… Por que uma pessoa assim pediria uma reunião a sós com ele? O que tinha para dizer? As expectativas acabaram vindo e iluminaram o rosto de Haejin.
“Será… Uma promoção?”
Trabalhava com tanta dedicação que, talvez, tivesse chamado a atenção do diretor. Acidentalmente, poderia ter lido seus arquivos e se perguntou quem era aquele gênio. Todas aquelas possibilidades cresceram mais e deixaram Haejin emocionado, mas logo balançou a cabeça e tentou se acalmar.
— Senhor Kang Haejin?
— Oh! Sim, sim!
Ele respondeu abruptamente e houve um momento de silêncio, as orelhas de Haejin formigaram.
— Eu gostaria de conhecê-lo pessoalmente e lhe devolver o espelho. A qualquer hora estará bom para mim, então pode me avisar quando estiver bom para você.
Como se estivesse esquecido de que a outra pessoa não estava em sua frente, Haejin balançou a cabeça em concordância.
— Bom, eu te enviarei mensagens nesse número, então.
Fuuu, todo o ar escapou de seus pulmões e seu peito parecia que iria explodir quando desligou o telefone. Uma pétala branca entrou pela janela aberta e descansou bem nas costas da mão de Haejin, de repente, se deu conta de que havia no ar um cheiro de uísque e olhou para trás, mas não havia nada ali. E o cheiro desapareceu rapidamente.
Nesse momento, Hwan desligou o telefone e apoiou a parte superior do corpo suavemente contra o encosto da cadeira. Ele tomou um gole de café frio, normalmente teria gritado com o secretário Park, mas o café frio estava estranhamente saboroso naquele dia.
Hwan acabou não conseguindo se conter e sorriu, mostrando todos os dentes. Era quase como um sorriso de um psicopata ao ver uma vítima, mas ele estava realmente feliz.
— Tempo? Ele vai ter tempo, dará um jeito. — Murmurou para si mesmo.
Ele olhou para o espelho de Kang Haejin que estava sobre a escrivaninha e para o exame logo ao lado dele.
— Posso não ter outra chance como esta.
Quando viu a porcentagem nos exames, as laterais de seus lábios se levantaram ainda mais, no máximo sorriso.
COMPATIBILIDADE: 99.99%
Publicado por:
- Fujoshi da Depressao Scan
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