Xia Niangniang - Capítulo 4
Concubina cega diz, “Nossa, por que você não disse isso antes!”
Ele não pode ver que Xiao Bao está ajoelhado, “Rápido, vá preparar um bule de chá.”
Xiao Bao olha para seu mestre, então se vira para olhar para o imperador, com medo de se mover.
Inconsciente da situação, concubina cega disse ao homem, “Como é que você está aqui? Você não tem que estar no seu posto?”
O imperador diz, “Acabei de terminar e no meu caminho de volta resolvi vir visitá-lo.”
Concubina cega sente-se excepcionalmente feliz, “Normalmente não recebo muitos convidados. É raro ter uma pessoa que só quer vir e conversar.”
O imperador diz, “Se quiser, posso visitá-lo com frequência.”
Os olhos de concubina cega se curvam em um arco agradável, “Agora, isso é uma promessa.”
Ele puxa a manga do imperador para o divã macio, “Sente-se aqui onde é macio.”
O imperador levanta a bainha do manto e se senta, depois age atônito, “Não vi isso da última vez que vim aqui. Quem deu a você?”
Concubina cega sorri alegremente, “Quem me daria tal presente? Xiao Bao o encontrou. Ninguém o queria de qualquer maneira, então é um desperdício jogá-lo fora.”
Como se entendesse, o imperador diz, “Então é assim. Você realmente pegou uma jóia aqui.”
Xiao Bao terminou de preparar o chá na casa principal e o leva para servir. Concubina cega pergunta, “Qual jogo de chá você usou?”
Xiao Bao diz, “O jogo com as flores de ameixa, mestre.”
Concubina cega concorda.
O imperador brinca sem pensar, “O que isso importa? Por que você usaria um jogo de chá de flor de ameixa no verão?”
Concubina cega ri, “Isso importa. Eu só tenho dois jogos de chá, um com bambu verde e o outro com flores de ameixa. Yu Li quebrou o jogo com o bambu verde para que fique com rachaduras. O jogo com flores de ameixa é novo por isso, só o tiramos durante o Ano Novo ou outras festividades.”
O imperador pega a xícara de chá que Concubina cega lhe entrega, planejando secretamente enviar um novo jogo de chá no dia seguinte.
Eles tomam chá por um tempo até que concubina cega pergunta, “Onde fica seu posto de guarda?”
O imperador pensa e diz, “Eu guardo a residência do imperador.”
“A residência do imperador?” Exclama concubina cega. “Está tudo bem para você deixar seu posto assim?”
“Sim,” diz o imperador.
Concubina cega ainda se sente preocupado, “E se você for descoberto e for punido?”
O imperador pondera por um momento e responde com seriedade, “Não acho que o imperador vá me punir por isso.”
Ele parece confiante.
“Isso é bom,” concubina cega concorda, acreditando na mentira.
Xiao Bao está de pé ao lado, com uma bandeja de sândalo em sua cabeça*, começa a suar frio.
(*Sim ele tem mesmo uma bandeja encima da cabeça; por quê? Eu não faço idéia.)
Da manga, o imperador tira um objeto embrulhado em um lenço e o entrega à concubina cega, “Isso é bom. Experimente.”
(EmpireoT: essa frase parece que o imperador ta oferecendo drogas.)
Concubina cega desfaz o nó do lenço e apalpa. São pinhões.
Ele coloca um par na boca para provar. A fragrância agride seus sentidos. Eles têm um gosto bom.
O imperador pensa que quando concubina cega come pinhões, ele (Concubina Cega) se parece com uma raça de pequenos animais agarrando o alimento com as duas patas e mordiscando-o meticulosamente.
Concubina cega diz, “Você pode deixar o palácio imperial com frequência?”
O imperador ri, “Por que você pergunta isso de repente? Claro que posso.”
Ao ouvir isso, Concubina cega fica com inveja, “Sério? Não saio do palácio há vários anos.”
O imperador diz “Sério?”
“Mm-hmm,” responde Concubina cega, “Na verdade, desde o momento em que entrei no palácio, eu nunca sai. Mais tarde, quando fui transferido para o palácio frio, tive ainda menos chance de sair.”
O imperador pensa e diz, “De acordo com as regras do palácio, isso está certo.”
Concubina cega abaixa a cabeça, comendo seus pinhões em silêncio.
Seu rosto tem um leve ar de solidão.
“Você realmente quer sair?”
Concubina cega faz um som de concordância, “Eu quero tanto sair que não suporto.”
Sua voz abaixa visivelmente, “Mas não posso sair… Também, não é conveniente.”
Seus olhos cinzentos escurecem.
Desde que entrou no palácio imperial, ele nunca mais saiu.
Depois, ele não conseguia nem dar um passo para fora do palácio frio.
Normalmente, ele tenta não pensar nisso porque, assim que o fizer, ele se sentirá triste.
O imperador pergunta, “Se você saísse, o que faria?”
“Daria um passeio pelas ruas movimentadas. Ouviria as crianças correndo. Sentiria o cheiro de pastéis doces flutuando no ar. Depois, compraria um tanghulu*. Seria ótimo.”
(*Tanghulu (chinês simplificado: 糖葫芦) também chamado de bingtanghulu. É uma comida tradicional chinesa. É feito amarrando frutas silvestres com varas de bambu e mergulhando-as em maltose. Tradicionalmente se é usado a fruta do espinheiro-alvar/ espinheiro- branco, atualmente é encontrado com outras frutas também.)
O imperador pergunta “Só isso?”
“Claro,” concorda Concubina cega, “é só isso.”
Ele deixou escapar descuidadamente o que escondeu no fundo do coração e se sentiu um tanto nervoso. Ele tateia em busca de Yu Li para puxá-lo para seus braços.
Se ele estiver segurando Yu Li, ninguém notará suas mãos tremendo violentamente.
A linha de visão do imperador passa por concubina cega, “Está ficando tarde. Eu deveria estar voltando.”
“Oh, sim,” concubina cega levanta a cabeça. “Não seria bom ser descoberto.”
O imperador sorri, “Você se lembra disso.” Seu leque dobrável bate entre as sobrancelhas de concubina cega.
“Claro que sim,” diz concubina cega, “só espero que você não se meta em encrenca, caso contrário, eu não seria capaz de te ver mais.”
Em resposta, o imperador disse “Isso é verdade.”
Concubina cega sorri alegremente, “Obrigado por sua companhia.”
O imperador diz, “O que há para agradecer?”
Concubina cega diz, “Porque ninguém nunca veio aqui antes. Você é o primeiro.”
Depois de hesitar, ele continua, “Às vezes Xiao Bao vai embora e Yu Li não está aqui. Fica muito quieto e não há vento. Então eu me pergunto se ainda estou vivo ou se já morri.”
—
Quando o vento fica mais forte à noite, o imperador já partiu há muito tempo, então concubina cega carrega Yu Li para dentro de casa.
Xiao Bao carrega a comida para a mesa, junto com o jantar de Yu Li, que ele coloca ao lado.
Concubina cega coça a juba macia de Yu Li, leva-o até o prato de comida e deixa-o cair no chão.
Xiao Bao coloca os pauzinhos nas mãos de Concubina cega, diz, “Mestre está muito feliz hoje.”
Depois de dar uma mordida, concubina cega balança a cabeça exultante, “Alguém veio me visitar.”
Xiao Bao pergunta, “O mestre quer que ele visite com frequência?”
Concubina cega ri, “Naturalmente.”
Então pergunta, “Xiao Bao quer que ele venha também?”
Xiao Bao mal-humorado engole um bocado de arroz e depois de um longo tempo, diz “… mm.”
Concubina cega come alguns bocados da comida, então de repente pensa e pergunta rapidamente, “Eu não disse nada de errado hoje, disse?”
Xiao Bao morde seus pauzinhos, hesitante, “Por que mestre diria isso?”
Concubina cega está um pouco envergonhado. “Não falo com ninguém há muito tempo, então antes eu estava tão feliz que disse coisas como querer sair do palácio e comprar tanghulu. Eu fui ridículo? Espero que ele não ria de mim, ou ele não voltará da próxima vez.”
Xiao Bao faz um sanduíche com um pedaço de vegetal entre seus pauzinhos e o coloca na tigela da Concubina cega. “O Mestre não disse nada de errado. Essa pessoa não estava rindo de você.”
“Ele não estava?”
“De modo nenhum,” diz Xiao Bao com firmeza. “Eu estava assistindo o tempo todo. Não se preocupe. Essa pessoa não achou você nem um pouco ridículo.”
Concubina cega diz, “Isso é bom” e abaixa a cabeça para comer.
Xiao Bao diz, “Mestre, não coma apenas arroz. Coma mais carne também. Hoje tem carne de porco.”
Os olhos da Concubina cega costearam*, “Sério?”
(*costear: Rodear, contornar.)
Xiao Bao diz, “Sério.” Ele pensa e depois acrescenta, “Pode ser porque o tempo esquentou e nos deram mais carne. Coma mais, mestre. Não deixe nenhuma. Haverá mais amanhã.”
Concubina cega fica feliz, “Isso é fantástico.”
Então ele diz, “Dê um pouco para Yu Li também. Ele nunca consegue comer nada de bom ficando conosco.”
Xiao Bao diz, “Eu sei. Não se preocupe.”
Depois que os dois terminam o jantar, já é tarde.
Concubina cega não pode ver, então ele dorme cedo.
Xiao Bao acende as velas e as cobre com o quebra-luz*. Ele espera Concubina cega enquanto ele se lava e o leva para a cama.
(*Acessório das luminárias, candeeiros, velas, etc., que tem a função de preservar os olhos da incidência direta da luz)
Concubina cega diz, “Quantas vezes já disse isso. Posso fazer isso sozinho.”
Xiao Bao não pode deixar de dizer, “Quem foi que só teve que derramar água para se lavar, mas queimou a mão ao fazer isso?”
Concubina cega baixa os olhos, culpado, “Fui descuidado.”
Xiao Bao diz sem expressão, “Não vamos discutir isso.”
Concubina cega sussurra baixinho, “Não posso ver, mas não sou aleijado.”
O rosto de Xiao Bao permanece sem expressão.
No inverno passado, concubina cega disse exatamente as mesmas palavras. Xiao Bao sentiu seu coração bater dolorosamente no peito, então, no final, ele permitiu que concubina cega se lavasse sozinho. Como resultado, concubina cega queimou a mão no segundo dia.
Agora, até mesmo pensar nas mãos da concubina cega cobertas de bolhas o preocupa.
Xiao Bao olha para as pupilas cinzentas e cegas da Concubina cega e sai, fechando a porta atrás de si.
Concubina cega deita a cabeça no travesseiro.
Mesmo que ele não possa ver, ele ainda gosta de ter as velas acesas porque a luz das chamas é quente.
Ele pode dizer onde está a janela ou onde está a mesa quando eles são iluminados, e assim se sente seguro.
Quando ele pensa nesta tarde, seu rosto ainda esquenta.
Por que ele disse essas coisas. Pelo menos ele as disse apenas a um guarda. Se as tivesse dito ao imperador, teria perdido a cabeça.
Mas aconteça o que acontecer, ele ainda quer sair uma vez.
Antes de morrer, apenas uma vez.
Ele quer respirar o ar de fora e caminhar além das paredes do palácio sem impedimentos.
Exatamente como há muito tempo, quando ele ainda estava livre.
Concubina cega pensa no tempo anterior a ele entrar no palácio e sorri.
Quão feliz ele tinha sido quando tinha ambos, mãe e pai.
Eles viviam juntos como uma família, sentavam-se juntos para jantar à mesa, como se fossem ficar juntos para sempre.
Concubina cega afunda mais fundo na memória. A suave luz das velas reflete em suas pupilas. Parece que seus olhos de repente ganharam vida.
Um par de olhos brilhantes em um rosto de porcelana pálida.
Os servos do palácio estavam certos. Eles são realmente lindos.
—
Editado por Dog_Gostoso.
Publicado por:
- Empireo
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