Takara - Capítulo 4
Como definir o dia de domingo para os ômegas? Folga? Descanso? Paraiso? Todos se encaixavam. Geralmente era um dia calmo. Tendo a paz instalada no lugar.
Era dia de relaxarem. De esticarem os pés e de dormir. Era o dia em que não tinham trabalho. O tão amado dia. Todos dormiam até tarde. Todos em silêncio.
Exceto por Eiji e sua turma. Como eram ômegas dominantes, também tinham o dobro da energia. O que resultava em todos os sete se juntando em um quarto com bebidas, doces e feromônios.
O que eles faziam? Reclamavam, no geral. Isso quando Eiji não puxava alguém do grupo para outro quarto. Todos ali já haviam dormido entre si e com o Eiji.
Todos ouviam conforme Konoha contava sobre um alfa idiota que ela chutou o saco durante a semana.
Eiji, seguia cercado por suas filhas. Atsushi cochilava em seus braços. Gina babava em seu colo. Kaori se apoiava em suas costas, lendo. Enquanto Hana prestava atenção a história.
Konoha finalizou dizendo que, como sempre, ela apenas pagou uma maldita multa de indenização. Ainda acrescentou em um sussurro que talvez aquele alfa não tivesse filhos.
Todos gargalharam. E então foi a vez de Eiji falar.
— Não é bem uma reclamação — disse ele. Olhando de relance para Sakura, que corou. — Eu vou ser pai. Sim, de novo.
Todos olharam para Sakura.
— Como sabem que sou eu? — perguntou.
— Você foi a última de nós a passar o cio com o Eiji — apontou Chika.
— Você precisa aprender a usar camisinha, Eiji — brigou Jun.
Eiji o encarou. As palavras que ele diria estavam escritas em seus olhos.
“Não foi isso que me disse ontem, quando transamos”
— Certo. Sem briga — apartou Chika, que conhecia os dois muito bem.
— Não estamos brigando — disseram juntos.
— Aham — até mesmo as filhas de Eiji ecoaram a palavra.
— Bullying — juntos novamente.
— Ah, falando em cio…. — começou Maki, a gêmea ruiva mais velha.
— O nosso é o próximo — completou Saki.
As duas tinha catorze anos, o aniversário de quinze seguia próximo. O primeiro cio sempre vem depois dos quinze.
As gêmeas possuiam cabelos ruivos, alaranjados. Sardas cobriam a pele de ambas. E os olhos verdes eram como pedra de jade. Elas eram idênticas até o último fio de cabelo.
A única forma de as diferenciar eram os feromônios. Mas apenas Eiji havia aprendido a diferença. Isso resultava em histórias altamente engraçadas, ainda mais pelo fato das duas sempre trocarem de lugar.
— Você consegue lidar com as duas? — perguntou Chika, sempre a mãe preocupada.
— Vou torcer pra não sejam idênticas até nisso — respondeu Eiji. Lidar com o cio de um ômega era complicado, dois de uma vez seria equivalente a um suplício.
— Ava, eu vou arrumar um dildo pra esse momento — contou Saki.
— É uma boa idéia — concordou a irmã.
Eiji teve a impressão de o dildo não seria usado nelas. E passou a rezar para que elas não entrassem no cio ao mesmo tempo.
O assunto continuou, como todos os domingos. Um tempo depois Hinata e Azumi se juntaram, trazendo comida e dando bronca em todos por não terem ido almoçar.
Todos foram dormir bem tarde. Eiji levou Kaori e Hana para dormirem com ele, enquanto Gina foi com o pai e Atsushi com a mãe. Eiji precisava respirar fundo e contar até dez para se lembrar que aqueles dois também tinham direito de ficar com os filhos.
Era madrugada já quando Eiji foi acordado por Kaori.
— O que foi, querida? — perguntou ele, a voz rouca.
— Você está quente, Papai — respondeu ela.
Eiji entendeu a situação em segundos. Ele estava excitado. Odiava quando acontecia.
Devido aos altos níveis de drogas em seu sangue, ele ficava excitado facilmente. E com muita freqüência. Isso fazia a temperatura de seu corpo subir como se ele estivesse com febre. O que não era bom.
Ômegas tinham a temperatura a baixo da media normalmente, e eram muito frientos.
— Desculpe, querida — pediu Eiji se levantando. — Volte a dormir, okay? Papai vai ir no banheiro.
Levantou-se da cama, vestiu o roupão e se dirigia para a porta quando Kaori falou.
— Papai, por que você não me beija?
— C-como assim? — perguntou ele, surpreso.
— É que… — Eiji voltou o caminho e se sentou ao lado da filha na cama.
— Pode me falar — pediu ele, com carinho. A filha estava assustada, por algum motivo.
— Você sempre beija todo mundo. A tia Hina, a tia Chika, a tia Sakura, as tias ruivas, o tio Jun, o tio Mitsuo e o tio Azumi — ela realmente havia se lembrado de todo mundo que Eiji beijava. — Quando perguntam o porquê de você fazer isso, você responde que beija quem você ama. Você não me beija por que não me ama?
Oh céus. Haviam lágrimas escorrendo pelo rosto de Kaori. Ele não queria aquilo. Não queria sua filha chorando.
Eiji a pegou nos braços, a acalentando comp um bebê. Pois ela era isso. Podia ser incrível, podia ser uma menina forte, mas ainda era sua filha; sua bebê. Para Eiji não importava se ela tinha cinco, quinze ou cinquenta. Kaori era sua menina.
— Está tudo bem. Tá tudo bem — sussurrou Eiji, levantando e passando a andar pelo quarto. Cantando a melodia de um anime com a garganta.
— Você me ama, Papai? — perguntou a pequena em meio ao choro. Não paravam de sair lágrimas dos olhinhos dourados.
— Você é minha vida, Kaori — se Eiji estava vivo agora, era por causa do nascimento de Kaori, que o deu um propósito quando ele tinha apenas quinze anos. — Eu amo você, minha pequena leitora.
Kaori o abraçou no pescoço em meio ao choro, dizendo que também o amava. Eiji catarolou um pouco mais alto, culpando-se pelo que causava no coração de sua pequena.
Ele não poderia a beijar. Céus, ele não tinha limites quanto a esse assunto, mas era sua filha. E Eiji tinha a impressão de que, apesar das palavras que ele sussurrara a filha diversas vezes; ela ainda ficaria com um pé atrás.
Ele não poderia culpa-lá. Afinal, ela era apenas uma criança. Sem contar que Eiji era ausenta por causa do trabalho. E as coisas ficariam ainda piores quando chegasse o momento da separação.
Quando notou, Kaori já dormia em seus braços. Eiji a colocou na cama, ao lado da irmã. E então ele saiu do quarto.
Deu dois toques na porta do quarto de Konoha antes de entrar. Sua amiga já estava acordando quando ele se jogou na cama ao lado da mesma.
— E então? O que foi agora? — perguntou ela, se esticando. Os cabelos platinados espalhados pelo travesseiro.
— Preciso de ajuda.
— Se quer transar vá procurar uma das meninas ou o Jun.
— Não é esse tipo de ajuda — ele havia até mesmo esquecido que havia acordado por estar excitado. Não tinha mais cabeça pra bater uma, ou pra acordar alguém.
— Então o que é? Fala logo que eu quero dormir.
— Kaori me perguntou o porquê de eu não beijar ela! — Konoha sentou na cama com tudo. Os olhos cegos arregalados.
— Eu ouvi isso direito?
— Infelizmente — e então Eiji contou a história. — O que eu faço?
— Primeiro vamos resumir a lógica da Kaori — Konoha respirou fundo, e quando falou foi com uma voz infantil. — “Papai beija quem ele ama, mais, Papai não me beija, resultado, Papai não me ama.”
— Desnecessário.
— Por que não beija ela? — Eiji a encarou. — Não me olhe desse jeito — ela era mesmo cega? — Não estou falando pra você enfiar a língua na boca dela, mas um selinho não mata ninguém. Você me da selinhos.
— Você tem quase a minha idade. E ela é minha filha. Não é a mesma coisa, mesmo que seja só um selinho.
Apesar de Konoha não se sentir bem com homens, ela não reclamava dos selinhos de Eiji. Céus, o primeiro beijo de ambos foi um com o outro.
— Então por que não faz algo só pra ela? — sugeriu a garota.
— Tipo o que?
— Um beijo na testa?
— Eu também beijo a testa das minhas outras crias e de vocês — ele referia-se a seu grupo.
— Então algum gesto!
— Tipo?
— Aquele daqueles dois irmãos lá. Daquele anime — Konoha assistia anime com os outros narrando o que acontecia pra ela.
— Itachi e Sasuke? De Naruto?
— Isso. Faça algo desse tipo.
— Não consigo pensar em nada.
— Então fale com Kaori. Ela é inteligente, vai entender. Ela pode decidir por vocês dois — mandou Konoha. — E faça isso no seu quarto. Eu quero dormir.
Eiji entendeu isso como um sai fora. E realmente era. Ele deixou o quarto a ouvindo resmungar que deveria ganhar remuneração por ser a melhor amiga de Eiji.
Ele logo voltou ao quarto. Kaori e Hana continuavam dormindo. Ele se deitou, deixando um beijo na testa de cada uma e um sussurro de “eu amo você”. Passou seus braços por elas, as abraçando e usando como aquecedor pessoal e por fim, adormeceu.
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Na mesma tarde de domingo, voltando um pouco no tempo, enquanto Eiji e seu grupo fofocavam, a outra peça primordial dessa história quase sofria um ataque cardíaco pelo stress.
Seu nome era Shimizu Daisuke, um homem alfa recessivo de vinte e cinco anos. Herdeiro de uma das maiores empresas do Japão.
Depois de uma semana estressante no trabalho, tudo que ele queria era relaxar na banheira. Mas não. Ele estava sentado no escritório da mansão do pai.
De acordo com a mídia, Shimizu Kazuo, era um homem de negócios e família. Ele havia feito a empresa decolar e ainda tinha tempo para a esposa e os dois filhos, Daisuke e Rika.
Mas para o próprio Daisuke, que o pai não o ouvisse pensando assim, ele não passava de uma pedra no sapato. Não o levem a mal, ele amava o pai. Mas o pai, atualmente, não passava de um velho chato que pegava no pé no filho.
Antes, que ele lhe enchesse o saco para assumir a empresa, mas não. Kazuo queria que o filho se casasse. O que estava fora de cogitação.
Daisuke odiava aquele sistema. E ele próprio não o entendia muito bem.
Ele era um alfa, mas era recessivo. Isso era motivo de desgosto para o restante da família. Eles culpavam sua mãe, uma ômega nascida nos bordéis.
E ainda havia o fator primordial. Shimizu Daisuke, era demissexual. E nunca havia tido um relacionamento.
Sim, ele era virgem, antes que perguntem.
E tirando a mãe e os outros ômegas da família, pois tinham alguns, ele nunca havia entrado em contato com os feromônios de ômegas prostitutos.
Ou seja, ele não entendia o motivo pelo qual os coitados eram tratados como escravos sexuais. Ele não entendia. E repudiava.
E esse era o motivo pelo qual não queria se casar. Seu pai, queria que ele escolhesse um ômega de sua preferência para ser comprado. Assim como sua mãe, Amaya, fora comprada.
E isso era desumano.
Daisuke encarou o pai, esperando que a secretária voltasse com seja lá o que o velho mandara buscar.
— Como está sendo morar sozinho? — questionou o pai.
— Normal. Estou fazendo aulas de culinária no tempo livre e estou conseguindo manter as coisas limpas — respondeu o filho.
Os dois eram um espelho um do outro. Ambos tinham cabelos negros, pele branca e olhos azuis cor de gelo. A altura era praticamente a mesma e até mesmo os contornos do rosto eram parecidos.
Ambos eram lindos. Mas Daisuke era um jovem cheio de vitalidade, enquanto o pai, um alfa dominante, estava na casa dos quarenta e seguindo em frente.
Finalmente a secretária voltou. Com uma pilha de papéis nos braços, estes que ela deixou na mesa, a frente de Daisuke. Ele não tocou nos papeis.
Perguntou assim que ela saiu.
— O que é isso?
— São pretendentes!
— Alfas?
— Ômegas.
— Não.
— Apenas olhe.
— Não.
— Daisuke!
— Pai, não. Eu não quero me casar — ele resistiu ao impulso de passar a mão pelos cabelos, estava tentando abandonar o titulo. — Por que insiste tanto nisso?
— Porque eu, como pai, quero te ver feliz.
— Um casamento forçado com alguém que eu não conheço não vai me fazer feliz.
— Fez a sua mãe feliz — Daisuke duvidava muito disso, mas segurou a língua. — Eu não tenho muito tempo filho. Quero ver minhas crias se casando. Sua irmã até mesmo já está de data…
Daisuke o interrompeu batendo na mesa. Inutilmente liberando feromônios, fracos demais.
— Como é? — se segurou para não gritar.
— Eu recebi algumas propostas de casamento e aceitei uma. Sua irmã vai se casar, quer você queira quer não.
— Ela tem catorze anos.
— A mesma idade que sua mãe tinha quando eu a comprei.
— Minha irmã não vai ser vendida.
— Ela é uma ômega.
— Pai! — protestou.
— Não, Daisuke — o pai liberou os próprios feromônios, atingindo o filho em cheio. — Já está decidido. E mais, sua irmã será treinada para agradar o marido.
— Você ao menos se escuta?
— É assim que esse mundo funciona, Daisuke — Kazuo já estava irritado. — É assim que ele gira. Não diga mais nada sobre sua irmã, pois já tomei minha decisão.
— Certo — concordou a contra gosto, sentando-se de volta na cadeira.
— Agora que isso está resolvido — não estava resolvido, Daisuke não deixaria as coisas assim. — Quanto ao seu casamento…
— Pai — era como um filhote implorando pra não tomar banho.
— Você tem um ano para conhecer um ômega dominante, tanto faz se é o homem ou mulher, esta pessoa deve ser capaz de lhe dar um filho. Se apaixone, se é o que quer, e compre — o pai o olhou como se o desafiasse a dizer “não”. Daisuke desviou o olhar. — Está decidido. Pode ir agora e leve os papeis.
De cara amarrada, Daisuke pegou a pilha e saiu do escritório. Saiu da casa, sem nem ao menos falar com a mãe a irmã; estava irritado demais para ter uma conversa decente. Entrou no carro e dirigiu para o prédio de apartamentos em que morava.
Pegou o elevador até o quinto andar, ele tinha preguiça de morar muito no alto. Os papéis em sua mão nunca pareceram tão pesados.
Foi recebido por seu gato, Panqueca, um gato preto e branco de pelo volumoso e olhos amarelos.
Sentou-se no sofá, deixando-se ser lambido com aquela língua áspera. Depois de meia hora, olhou para os papéis ao lado.
Lembrando das palavras do pai, e agindo no impulso, ele agarrou aquelas fichas e as atirou contra a parede.
Ele não se casaria.
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Na segunda foi dia de voltar ao trabalho. Começou cedo, nas primeiras horas da madrugada. Eiji estava a caminho do seu sexto cliente daquela manhã, o roupão ondulando conforme ele andava até o quarto designado.
Parou a porta, respirando fundo. Estava tentando tirar o ódio e a palidez de seu rosto. Ele abriu um sorriso, o que dava apenas aos clientes que mais odiava. Ou seja, noventa e nove por cento deles.
Abriu o quarto, entrando logo em seguida. O alfa o esperava. Era um cliente recorrente, então Eiji já sabia o que fazer.
Ele manteve o sorriso, as mãos não tremeram ao desfazer o nó do roupão vermelho. Deixou que ele caísse aos seus pés enquanto soltava os cabelos negros.
O olhar que o alfa lançou ao seu corpo nú era o mesmo de um predador olhando um pedaço de carne.
Eiji quase podia sentir as mãos ásperas e brutas o tocando. Quase podia sentir as paredes do quarto se fechando a sua volta, conforme o maldito soltava feromônios. Querendo o levar a submissão.
Eiji sorriu mais. Um sorriso que só quem o conhecia sabia o verdadeiro significado. Ódio.
Eiji sorriu com um ódio congelante e então caminhou até o inferno.
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Trabalho. Trabalho e trabalho. Domingo. Trabalho, trabalho e trabalho. Domingo. Trabalho.
Assim passou quase um mês. Janeiro chegou ao fim e fevereiro veio as portas. Não havia acontecido muitas coisas. Não havia conseguido arrumar um gesto especial para fazer com Kaori, e isso além o estava frustrando. Além de que….
Eiji não havia avançado nada em seu plano e se manteve comportado. Com isso significa que ele não quebrou o nariz de mais ninguém. Mitsuo não deu mais as caras, ocupado com o trabalho e com aquilo que Eiji procurava.
Este, que tinha a impressão de estar esquecendo de alguma coisa. Ele se lembrou em uma quarta feira, quatro dias antes do dia dos namorados[1]
Ele foi chamado ao escritório do velho Okane. E quando abriu, lembrou o que havia esquecido.
Sua cliente especial finalmente viera.
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[1] — O dia dos namorados no Japão é dia 14 de fevereiro.
Publicado por:
- AlluEblys
- Escritora de BL/LGBTQIA+ original. Ela/Dela/A. Me acompanhem nas redes sociais, interação por lá.
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