Takara - Capítulo 3
Ela o aguardava mais a frente no corredor. Estava com o tablet em mãos, pronta para fazer o que lhe fosse pedido. Passou a caminhar ao lado de Eiji quanto este passou por ela.
— Quer saber a rotina da semana agora ou amanhã? — perguntou Hinata.
— Amanhã. Estou mais interessado em outra coisa — e ao dizer isso, Eiji empurrou Hinata contra a parede. Sua perna no meio das dela, sua mão subindo pelas costas, por baixo do tecido da camiseta, até o sutiã.
Ele encontrou o fecho rapidamente, o soltando. Sentiu os seios ficarem mais leves contra seu peito. Sua boca desceu até a orelha alheia, assomprando levemente.
Eiji continuou explorando aquelas costas, até o momento em que achou o que queria.
Tirar as quatro ampolas[1] da costura do sutiã requeria cuidado, mas as mudar para o bolso interno escondido na manga de seu roupão requeria mais cuidado ainda.
Ele ainda arranhou levemente aquela pele antes de fechar o sutiã e se afastar. Ele observou uma Hinata ruborizada ajeitar suas roupas.
— Tive treinamento e ainda assim você me arrepia — resmungava ela.
— Eu estaria arruinado se não fosse bom de cama — lembrou Eiji. Ele tornou a se aproximar da beta, erguendo seu queixo. — Você sabe o quanto é boa pra mim, não é, Hinata?
Ele não esperou uma resposta e a beijou. Um beijo cálido, apenas para aquecer. O motivo? Não havia um. Eiji apenas beijava.
Ele gostava de beijar. Era algo que seus clientes não faziam. Então ele havia adotado a prática. E a fazia com todos que tinham um lugar especial em seu coração.
— O que mais você tem pra mim? — questionou Eiji ao seu afastar e lamber os lábios.
— Apenas informações sobre sua cliente especial — Hinata já estava acostumada aquilo, então rapidamente controlou sua respiração.
— Ótimo. Me fale tudo.
— O nome dela é Shimizu Rika, ela tem catorze anos e é uma ômega nascida na alta classe — começou a listar. — O pai é um alfa de negócios, a mãe é uma ômega que foi comprada e ela também tem um irmão mais velho. Ela está prometida em casamento já tem dois anos.
— Isso é estranho — interrompeu Eiji. — Quando um ômega nasce entre alfas, eles costumam cuidar para que nada do inferno os corrompa. Então por que me contratariam para…. Espera quem é o noivo dela?
— Um alfa que frequenta muito essa casa — Eiji poderia apostar que era seu cliente.
— Entendo agora. O filho da puta quer que ela seja treinada.
— Exato.
— Em resumo, uma puta treinada e particular — Eiji pensou por um momento, um sorriso travesso se abrindo. — Vamos apostar em quanto tempo ele vai demorar pra vir aqui depois do casamento?
— Eiji, você não presta — gargalhou Hinata.
— O quê? Errado eu não estou.
— É, verdade.
— Mas então, o que mais você tem da adorável Rika?
— Os quinze dela será no próximo mês, é provável que ela chegue aqui antes da data; pra previnir o cio.
— Ah, que ótimo. E lá vou eu tirar a virgindade de uma ômega de alta classe. Diz pra mim que ela não é mimada.
— Você vai ser mais carinhoso com ela do que qualquer alfa jamais seria. E sobre ela ser mimada, veja você mesmo.
Hinata lhe mostrou uma foto no tablet. Na tela, mostrava uma garota com cabelos castanhos claros, pele levemente bronzeada e olhos cor de gelo. Apesar da cor fria que pontuava aquelas íris, Eiji era capaz de sentir, mesmo através da foto, um doce calor primaveril.
Apenas olhando aquela foto, Eiji podia afirmar com certeza de que a garota era inocente e pura. Talvez demais. Ah, como ele iria odiar aquilo! Ter que corromper, apresentar seu mundo e ensinar aquilo que sabia há alguém assim.
— Tem algo mais pra mim? — perguntou Eiji.
— Eu já recebi sua lista e os itens já foram comprados, devem chegar em uma semana.
— Ótimo. Hinata, preciso que acesse minha conta e pague a taxa de um ano.
— Para quem?
— Para Sakura, a partir de hoje ela não trabalha mais.
— Vai ser pai de novo?
— Sim.
— As meninas já sabem?
— Ainda não. Sakura só teve coragem de me contar de madrugada.
— Mas você já sabia sem ela precisar dizer.
— É minha cria. Temos mais algo a discutir?
— Não, está tudo normal — conferiu Hinata no tablet.
— Certo, então já vou indo — Eiji passou a andar sozinho no corredor, mas parou logo, lembrando de algo. Sem se virar, ele disse, a voz muito seria. — Mais uma coisa, Hinata!
— O que?
— Quanto tempo? Quanto tempo eu ainda tenho?
— Cinco anos — respondeu ela, a voz pesada. De alguém que sente a perda de alguém querido, antes mesmo de ela acontecer.
— Hinata, seja sincera comigo. Você acha que eu consigo? — silêncio foi a resposta. — Certo, então é assim. Pelo menos quando meu tempo acabar eu vou poder reencontrar minha mãe.
Era impossível. Eiji sabia disso. Mas isso não o impediria de tentar.
Seguiu pelo corredor. Estava pensando seriamente em quais brincadeiras faria com seus filhotes quando uma porta se abriu. E dela saiu Mitsuo.
Eiji abriu um sorriso malicioso e provocou.
— Mas já terminou? Tão cedo? Ou você ta ficando velho ou Jun não aguenta mais — Mitsuo o encarou, arquendo a sobrancelha escura, como se dissesse “acha mesmo que estou velho depois de ontem a noite?”. Eiji sorriu mais. O alfa revirou os olhos. — Estava fodendo ele esse tempo todo?
— Acha que eu sou o que? Um coelho?
— Você ta mais pra um cavalo — Eiji achou que Mitsuo lhe esmurraria, mas não aconteceu. Pensou em provocar mais, mas realmente não queria ser esmurrado, então apenas perguntou. — Como estão as coisas?
— Eu que deveria perguntar isso.
— Estou falando das coisas entre você e Jun.
— É complicado. Tudo que mais quero é tirar ele daqui — suspirou o alfa, abaixando a cabeça e assim fazendo as longas mechas onduladas tamparem a face.
— Só ele? Assim eu fico com ciúmes — apesar de dizer isso, Eiji também dejesava que o amigo saísse daquele mundo. Não apenas por ser ômega, mas também por ele viver se metendo em brigas com outros ômegas que insistiam em lhe chamar no feminino. A quantidade de brigas que Eiji tinha que parar era exorbitante.
— Besta — um riso de lado. — Jun não me deixa compra-lo — a única forma segura de tirar um ômega daquela vida.
Alfa e ômega se encararam. Viram a verdade que apenas poucos sabiam. A verdade sobre o que acontecia com os ômegas que pagavam sua dívida e não pulavam. O porquê de eles não entrarem em contato.
Mitsuo havia lhe contado tudo, e desde então, Eiji cuidava para que ninguém pagasse a dívida. Não até que eles tivessem resolvido tudo.
— Já achou o que eu preciso? — questionou Eiji.
— Ainda não.
— Saco.
— Eiji.
— Meu tempo ta acabando. Eu só tenho cinco anos — ele não poderia entrar em pânico. Não o ajudaria a encontrar respostas.
— Eu sei disso — frustração cobria a grossa voz. — Mas ômegas são apenas cinco por cento da população. Isso são cerca de trezentas e vinte e cinco mil pessoas. E desse número, menos de um por cento são ômegas machos. Já é difícil encontrar um de vocês, que dira um que está recentemente grávido.
— Nesse ritmo eu mesmo vou ter que engravidar.
— Desculpe, vou me esforçar mais.
Foi apenas pelo tom de Mitsuo, um tom tão verdadeiro e de alguém que realmente estava dando tudo de si, que Eiji disse.
— Não. Me desculpa. To descontando minha frustração em você — Eiji soltou o cabelo do coque e começou a brincar com as mechas negras. — Meu tempo ta acabando, as meninas estão crescendo, cio’s estão chegando, o maldito do Kame está me ameaçando.
— Sabe que é só você falar e eu compro as meninas.
— Eu sei mas…. Ainda quero aproveitar elas. Pelo tempo que me resta.
— Então se certifique que elas saibam onde acertar pra fazer sangrar.
— Repito as lições que me ensinou sempre — as lições de um assassino. A arte de matar.
Eiji ganhava a vida com sexo. Mitsuo ganhava a vida com sangue.
— Mas mesmo assim, não se esqueça que quem elas podem vir a matar será um homem e um alfa — advertiu o moreno.
— Quando acontecer vai ser alfa com alfa — pois iria acontecer. Seriam tolos se negassem a possibilidade.
— Elas ainda são muito pequenas.
— Minhas filhas são alfas — o tom de Eiji não deixava aberto a discussão.
— Certo. Mais alguma coisa que queira reclamar?
— Não é exatamente uma reclamação mas…. Eu vou ser pai. De novo — chocolate encarou ouro. — Sakura está grávida.
— Nunca achei que eu deveria ter que te ensinar o que é camisinha.
— Seu estúpido — ambos sorriram para a provocação. Mas não durou muito.
— Mas sério Eiji. Você já tem quatro filhos, cinco, quantos mais planeja ter? Sei que é difícil pra vocês evitarem isso, mas eu estou preocupado. Isso só vai machucar você no final.
— Eu estou ciente — era um dos fatos que as vezes não lhe deixava dormir a noite.
— Nós vamos conseguir Eiji — não havia muita certeza naquela voz, mas ele estava tentando. Por Eiji. Então o ômega tentaria também.
— Mas é claro que vamos. Afinal, é meu plano.
— Arrogante.
— Errado eu não estou. Agora vai! Some! Evapora!
— Eu também te amo — gritou o alfa, zombateiro, antes de sumir.
Eiji deu a língua, mesmo que ele não pudesse mais ver, e então entrou no quarto. O ambiente estava cheio de feromônios. Os de Mitsuo, eram viris e cheiravam a chocolate com canela. Os de Jun, eram suaves e cheiravam a chocolate com café.
A primeira coisa que viu foram os brinquedos jogados no canto do quarto. Mudou logo sua atenção para a cama, onde avaliou a silhueta adormecida.
As costas estavam expostas, ele devia ter rolado pro lado. A pele negra mostrava os indícios da brincadeira SM. Eiji se aproximou, sentando na beirada da cama.
Jun permaneceu adormecido. Eiji correu os olhos pelo tronco nu; desde o abdômen plano, passando pela suave curva do seio pequeno e então o pescoço marcado por chupões.
Ele observou o rosto. Os lábios grossos e vermelhos. Os cílios longos que guardavam olhos cor turquesa. A cabeça raspada.
Jun era uma beldade.
Eiji sorriu, tomou fôlego e falou.
— Acorda, vagabundo — e então estava sacudindo o menor.
— Eiji, eu vou te matar. Vai se foder — a voz harmônica seguia rouca.
— Talvez mais tarde, agora acorda, levanta que nós temos uma filha pra mimar — era seguro dizer que Eiji não tinha medo da morte.
Ele não precisava se preocupar com o trabalho de Jun, afinal, sabia que Mitsuo havia pagado o dia inteiro. Assim como fizera com Eiji. Dando um dia de folga aos dois.
— Eu estou cansado. Gina vai entender — ele estava prestes a dormir de novo.
— Tenho certeza de que ela também vai entender que agora tem apenas um pai. Tudo bem, sabe? Pelo menos não vou ser obrigado a dividir ela — fez menção de levantar da cama, e então Jun agiu.
Ele agarrou o roupão de Eiji e puxou. Ele caiu na cama e logo o outro estava em cima de si.
— Não se atreva a falar merda pra minha filha.
— Primeiro, nossa filha. Segundo… — Eiji se apoiou nos cotovelos para deixar uma lambida na clavícula de Jun, o arrepiando. — Se queria me montar, era só pedir. Sabe que eu não gosto de violência.
— Não gosta, mas mesmo assim atende Mitsuo — ele ignorou a brincadeira, mostrando que estava com raiva. Eiji ficou sério também. Ele se sentou, fazendo o mais novo deslizar para seu colo. Passou seus braços pela cintura fina.
— Jun, é apenas trabalho — Eiji não poderia falar a verdade. Não ainda. — O que você e Mitsuo tem é especial. É algo que não acontece. Se apaixonar…..
— Eu tenho medo.
— Eu sei — Eiji deixou um beijo nos lábios em formato de coração. E apenas isso. Não havia nada que ele pudesse fazer.
Aquela situação era um inferno. Mitsuo e Jun se amavam, um alfa e outro ômega. E era tudo complicado demais.
— Mas agora, se realmente queria me montar era preciso apenas….. — o tapa que calou a boca de Eiji foi mais do que merecido.
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[1] Ampola: Recipiente pequeno de vidro, usado para guardar amostras tanto sólidas quanto líquidas.
Publicado por:
- AlluEblys
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