O SUBSTITUTO DESPERTOU - Capítulo 46
A voz era muito familiar.
Na penumbra difusa, um homem caminhava com passos firmes na direção de Yan Heqing. Sua figura alta e esguia tornava-se cada vez mais nítida.
O casaco preto longo estava levemente aberto, revelando um terno da mesma cor, de corte simples, por baixo. Um cachecol de caxemira bege estava enrolado no pescoço, com as pontas caindo naturalmente.
Era Lu Lin.
Yan Heqing não esperava que Lu Lin aparecesse na véspera do Ano Novo. Ele ficou brevemente atônito, mas Lu Lin já havia parado bem diante dele.
O olhar de Lu Lin pousou no rosto de Yan Heqing.
De perto, o semblante do jovem parecia ainda mais pálido.
Recuperando-se, Yan Heqing abriu um sorriso educado. “Sr. Lu, veio me procurar por alguma razão?”
A voz de Lu Lin era grave. “Tenho um trabalho temporário para pagar as despesas médicas. Aceita?”
Yan Heqing perguntou: “Agora?”
“Agora.”
Yan Heqing intuiu que o trabalho não seria simples. “Posso perguntar qual seria o trabalho?”
“Fazer companhia à minha mãe.” O olhar de Lu Lin era profundo. “Ela não está bem de saúde, vive reclusa nas montanhas e raramente vê outras pessoas. O trabalho é entretê-la. O pagamento será feito com salário triplicado em relação ao valor de mercado.”
Uma imagem veio à mente de Yan Heqing: a foto que ele havia visto na casa de Lu Lin.
Então este era o motivo pelo qual Lu Lin nunca passava a ceia de Ano Novo na casa da família.
Yan Heqing permaneceu em silêncio por um momento antes de balançar a cabeça. “Não aceito.”
Os olhos negros de Lu Lin se tornaram mais sombrios, mas antes que ele pudesse responder, Yan Heqing levantou o rosto de repente, encarando-o diretamente. Um leve sorriso surgiu em seus lábios. “Posso ser um convidado? Aproveitar uma refeição na sua casa?”
Yan Heqing subiu até o apartamento para buscar algo enquanto Lu Lin o aguardava lá embaixo.
Observando a silhueta magra desaparecendo no prédio, Lu Lin tirou o celular e fez uma ligação.
Do outro lado, a pessoa demorou a atender.
Nos últimos anos, a audição de Lu Ruchan havia piorado, e normalmente ela levava um tempo para perceber a chamada.
Quando o som de espera estava prestes a terminar, a voz de Lu Ruchan finalmente soou. “A-Lin, está chegando?”
“Não. Vim buscar um amigo.”
Lu Ruchan ficou surpresa. “Trazer um amigo? É a primeira vez. Vou pedir para prepararem mais alguns pratos. O que ele gosta de comer?”
“Comida caseira, leve, sem muito açúcar.” Após uma pausa, Lu Lin acrescentou: “Ele é jovem.”
Lu Ruchan, intrigada, riu. “Quão jovem?”
Nesse momento, as luzes do corredor se acenderam, e Yan Heqing saiu do prédio com uma sacola de papel. Lu Lin acompanhou-o com o olhar. “Dezoito.”
Carregando a sacola, Yan Heqing viu Lu Lin ao lado do carro, enquanto flocos de neve começavam a cair novamente. Ele acelerou os passos, correndo em direção a Lu Lin. “Sr. Lu, podemos ir agora.”
Lu Lin guardou o celular no bolso e abriu a porta do banco de trás do carro.
Yan Heqing ficou confuso. Era para ele dirigir? Ele não tinha carteira.
Lu Lin não o deixou se questionar por muito tempo. “Entre.” Em seguida, ocupou o banco do motorista.
Ele mesmo dirigiria.
Yan Heqing entrou no banco de trás. O interior do carro estava aquecido, um contraste quase irreal com o frio externo. À sua frente, podia ver parte da nuca de Lu Lin acima do encosto do banco.
Lu Lin afivelou o cinto de segurança e ligou o carro.
Yan Heqing colocou a sacola aos seus pés. Dentro dela estavam as suculentas que ele cultivava. Era o presente para a mãe de Lu Lin, já que, naquele horário, todas as lojas estavam fechadas e não havia como comprar outra coisa.
Talvez devido ao silêncio dentro do carro, Lu Lin ligou o rádio.
Era uma estação aleatória, onde dois atores contavam piadas em um estilo exagerado.
Olhando pelo retrovisor, Lu Lin viu o garoto sentado quieto. “Se não gostar, posso mudar para uma música.”
“Não precisa.” Yan Heqing ergueu o olhar de repente, encontrando o retrovisor. “Ouvir piadas no Ano Novo é bem animado.”
Lu Lin desviou o olhar. O carro saiu do bairro e percorreu mais um trecho antes de pegar a rodovia.
Dentro do carro, as risadas exageradas dos comediantes continuavam. Lu Lin voltou a falar: “Por que não continua morando ali?”
“Tenho algumas coisas para resolver, voltar para casa é mais conveniente.”
O carro entrou na rodovia. As luzes iluminavam o caminho enquanto flocos de neve se acumulavam no para-brisa. A neve ficava mais intensa.
“Não encontrou seus credores?”
“Não.” Yan Heqing sorriu, os olhos se curvando. “Eles também precisam comemorar o Ano Novo.”
Lu Lin olhou novamente pelo retrovisor, encontrando os olhos límpidos do garoto.
“Obrigado, Sr. Lu.”
A garganta de Lu Lin se contraiu ligeiramente antes de desviar o olhar sem expressão. “Você já agradeceu.”
“Este é pelo hoje.” Yan Heqing sorriu suavemente. “Na verdade, meu humor estava um pouco ruim hoje. Você me convidar para passar o Ano Novo na sua casa me deixou muito feliz.”
Lu Lin sentiu uma leve vontade de tossir, mas reprimiu. “Por que estava de mau humor?”
“Estava com saudades de algumas pessoas.” Yan Heqing desviou o olhar para a janela, onde a luz dos postes piscava entre longos intervalos de escuridão.
No rádio, as piadas chegavam ao clímax, acompanhadas por risadas estrondosas da plateia.
***
O restante do trajeto foi silencioso entre os dois.
Saíram da rodovia e, após mais um tempo de estrada, subiram a montanha. No meio da serra, uma única casa iluminada destacava-se na escuridão.
Quando o carro parou em frente à mansão, a neve caía em flocos densos, cobrindo o chão. Yan Heqing pegou sua sacola, saiu do carro e subiu os degraus.
Lu Lin abaixou parcialmente a janela. “Entre. Vou estacionar o carro.” E dirigiu até a garagem.
Logo atrás, ouviu-se o som de uma porta se abrindo. A luz iluminou os degraus, e uma voz feminina, calorosa, ecoou:
“Olá, jovem.”
Yan Heqing se virou e viu uma mulher extremamente magra, quase pele e osso, usando um chapéu grosso e sentada em uma cadeira de rodas.
Quase instantaneamente, ele a associou à mulher da foto.
Era a mãe de Lu Lin.
Yan Heqing fez uma reverência educada. “Olá, meu nome é Yan Heqing.”
Lu Ruchan acenou com a mão. “Aproxime-se.”
Yan Heqing ficou confuso, mas deu alguns passos à frente e se inclinou para mais perto de Lu Ruchan. “O que deseja me dizer?”
Lu Ruchan finalmente conseguiu enxergar claramente o rosto de Yan Heqing. Ela sorriu. “Combina muito com o seu nome.” E ele realmente era jovem, até mais novo que Lu Muchi por cinco anos.
Com sua mão seca e envelhecida, deu-lhe um tapinha gentil no ombro. “Entre logo, está frio aqui fora.”
Seguindo-a para dentro da casa, os empregados já haviam preparado os chinelos para os convidados. O sistema de aquecimento estava ajustado para uma temperatura confortável. Yan Heqing trocou os sapatos, tirou o casaco e, ao chegar à sala, retirou um a um os presentes. “Estas são minhas pequenas plantas cultivadas. Espero que goste.”
Eram quatro vasos.
Um pássaro azul rosado, frutas coloridas, jade nevado e uma Crassula ovata dourada. Cada planta estava em um pequeno vaso de porcelana branca e florescia com uma vitalidade impressionante.
Os olhos de Lu Ruchan brilharam de alegria. Ela pegou o vaso do pássaro azul rosado, incapaz de escondê-lo. “Que lindo! Eu com certeza cuidarei bem dele.”
Yan Heqing ainda segurava uma sacola de papel. Quando um dos empregados estendeu a mão para pegar, ele sorriu e balançou a cabeça, recusando educadamente. O empregado retribuiu o sorriso e se afastou.
O som da porta da entrada ecoou. Logo depois, Lu Lin entrou na casa.
Além do casaco e do cachecol, ele também havia tirado o paletó. Usava apenas uma camisa social de risca de giz em tom marrom-claro. Enquanto caminhava, desabotoava os punhos. Lu Ruchan ergueu o pequeno vaso. “Ah Lin, veja só o presente que Xiao Heqing trouxe para mim. Não é lindo?”
Lu Lin olhou para o vaso do pássaro azul rosado.
Era de fato muito bem cuidado.
Ele tirou o relógio do pulso e olhou para a hora. Passava das oito. Deixou o acessório em uma bandeja ao lado e seguiu para a sala de jantar. “Vamos jantar.”
Lu Ruchan, porém, continuou admirando o vaso, observando-o de todos os ângulos antes de finalmente colocá-lo sobre a mesa.
De repente, piscou de forma conspiratória para Yan Heqing. “Eu também preparei um presentinho para você, está na mesa de jantar.”
Ao sentar-se à mesa, Yan Heqing descobriu que o presente era um prato — camarões enrolados em massa de pão com abacaxi.
Um dos empregados sorriu. “Esse prato foi feito pela própria senhora. Da última vez que ela cozinhou, foi há dez anos.”
Lu Ruchan riu e balançou a cabeça. “Não fiz tudo sozinha. Não consigo ficar em pé por muito tempo, então só preparei os ingredientes e misturei no final. O resto deixei para o chef.”
Ela olhou para Yan Heqing. “Ah Lin disse que você não gosta de coisas muito doces. Este prato não é doce, é agridoce.”
Yan Heqing já conhecia o prato. Ele estava no cardápio do casamento de Xie Yunjie. Embora simples de preparar, o processo era trabalhoso. Era preciso rechear cada pedaço de massa com pasta de camarão, algo que geralmente encantava as crianças.
Os outros pratos eram surpreendentemente modestos, todos de estilo caseiro.
Havia aspargos no caldo, barriga de porco caramelizada com abalone, costela de boi cozida no vapor, salada de cogumelos de chá com flores de pepino, camarões com abalone, sopa de costela com coco, frango assado ao vinho, ovos fritos em formato de moeda, peixe amarelo salgado levemente grelhado, costela com castanha e bolo de arroz frito com caranguejo.
E ainda uma sopa de ervilha com hortelã.
Um dos empregados serviu uma xícara, e Lu Ruchan ofereceu primeiro para Yan Heqing. Ela o observava com atenção. “Coma mais carne. Você está muito magro.”
Usando os hashis comunitários, colocou um grande pedaço de costela no prato dele.
Yan Heqing, no entanto, estava distraído olhando para a sopa de ervilha com hortelã. Fora de sua cidade natal, raramente via essa combinação.
Ele pegou a xícara e bebeu metade de um gole. Lu Ruchan foi a primeira a falar. “Gostou? É uma receita da minha terra natal. Ajuda a aliviar a gordura das refeições, perfeita para o verão ou para o Ano Novo.”
Yan Heqing perguntou: “Sua terra natal não é na capital?”
“Não exatamente. Minha família é do sul, mas nasci com a saúde frágil. Não consigo viajar mais de meia hora sem passar mal, então nunca fui longe.” Lu Ruchan suspirou levemente. “Nunca consegui voltar lá, mas Ah Lin foi duas vezes.”
Os avós maternos de Lu Lin haviam falecido, e o último desejo deles era serem enterrados em sua terra natal. Em ambas as ocasiões, Lu Lin cuidou pessoalmente de tudo.
Yan Heqing segurou os hashis e pegou um pedaço da costela. Nesse momento, outro par de hashis comunitários colocou algo em seu prato: um pedaço de massa recheada com camarão.
Logo em seguida, um pedaço de abacaxi.
Yan Heqing ergueu os olhos, vendo Lu Lin recolher os hashis calmamente. “Eu experimentei. Não está muito doce.”
Da última vez, no escritório de Lu Lin, ele havia mencionado que o molho de carne à Pequim era doce demais.
Yan Heqing comeu a costela em silêncio antes de pegar a massa recheada. O prato, servido com molho de salada e leite condensado, era equilibrado no sabor. A doçura era sutil, e a massa crocante contrastava com o camarão suculento e o abacaxi agridoce, criando um prato realmente saboroso.
Ele acabou repetindo algumas vezes.
Depois do jantar, seguindo o costume da casa, Lu Ruchan normalmente se recolhia para descansar.
Mas hoje ela estava especialmente animada e prolongou a noite por mais duas horas.
Ela gostava especialmente de ouvir Yan Heqing falar. A voz do jovem era clara, com um tom sereno e constante que soava particularmente agradável.
Sabendo que Lu Ruchan havia passado décadas em recuperação nas montanhas, com pouco contato com o mundo exterior, Yan Heqing começou a contar algumas de suas experiências enquanto trabalhava, adicionando toques de cor às histórias.
Lu Lin foi até a cozinha e voltou pouco depois com uma travessa de frutas.
Depois do jantar, Lu Ruchan não podia comer frutas. No prato, só havia mirtilos.
Lu Ruchan estava completamente envolvida nas histórias e, quando voltou à realidade, já era quase meia-noite. Ela murmurou baixinho: “Mais um ano se foi.”
Sua voz era tão baixa que Yan Heqing não ouviu. Ele se inclinou ligeiramente. “O que disse?”
Um sorriso apareceu nos olhos de Lu Ruchan. Ela segurou suavemente a mão de Yan Heqing com ambas as mãos, exalando carinho. “Eu disse que às 12 horas haverá fogos de artifício de Ano Novo, por dez minutos inteiros.”
“No jardim, há um local sem obstruções, o melhor lugar para assistir. Todo ano tem gente querendo pagar para vir assistir de lá. Depois, peça ao Ah Lin para levá-lo até lá.”
Ela deu um tapinha na mão de Yan Heqing antes de soltá-lo, sorrindo levemente. “Estou cansada, vou descansar agora.”
Lu Lin se preparou para levá-la ao quarto, mas Lu Ruchan manejou a cadeira de rodas sozinha. “É tão perto, consigo ir sozinha. Você, hein, cuide bem de Xiao Heqing.”
Depois que Lu Ruchan foi para o quarto, a sala ficou em silêncio.
Do lado de fora da janela, sons distantes já podiam ser ouvidos. Faltava pouco para meia-noite.
Lu Lin deu um passo em direção à saída. “Vamos.”
Yan Heqing levantou-se, pegou a sacola de papel e o seguiu para fora.
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