Mais de um milhão de beijos - Capítulo 3.2
Aquele grupo, que não era nada além de uma ‘reunião de playboys’, existia desde antes de Andreas entrar para a universidade. Reformado após ele ter cumprido o serviço militar, o grupo era perfeito para escapar da realidade. Os herdeiros ociosos de famílias ricas se juntavam para causar problemas ou beber e dar festas a noite toda, fazendo apenas coisas fúteis aos olhos de qualquer um. Atualmente, era o lugar mais adequado para Andreas.
O lugar onde a turma sempre se reunia era fixo: geralmente no barco de Andreas ou no de algum outro cara, onde faziam uma bagunça e passavam a noite festejando, ou então perambulavam por bares e clubes. A escolha para hoje foi bares e clubes. Diante da insistência do grupo de que era a sua vez de pagar, Andreas deixou Delphi em casa e foi direto para o hotel.
“Você está um pouco atrasado.”
Andreas, sem precisar de ajuda para encontrar o grupo chamativo, dirigiu-se diretamente a eles e disse enquanto puxava uma cadeira para se sentar. O grupo começou a conversar animadamente.
“Por que você se atrasou de novo, Andreas? Você nunca chega na hora.”
“É sempre a mesma coisa. Precisamos criar alguma punição. O que vocês acham?”
“Chegar atrasado com aquela Ferrari é inacreditável. Não me diga que era algum tipo de produto defeituoso?”
A voz insatisfeita que surgiu por último em meio ao falatório era de Nikos Dukakis. A família de Nikos, os Dukakis, juntamente com os Charisteas, eram magnatas da indústria naval na Grécia, estando entre os mais poderosos do setor. Graças a isso, ele cresceu com Andreas desde a infância, sendo seu melhor amigo, mas também um rival amigável.
Desde os tempos de escola até agora, Andreas competiu constantemente com ele. A pontuação está em torno de 3 a 1 – embora perdesse uma vez a cada quatro, a maioria das vitórias era de Andreas. A última vitória de Andreas foi colocar as mãos em uma Ferrari de edição limitada. Nikos, que perdeu o pedido por um triz, sempre relembrava o assunto e o provocava. Andreas olhou para ele com um sorriso tranquilo.
“Nick, um homem guardar rancor por coisas passadas por tanto tempo não é nada cavalheiresco.”
“Guardar rancor? Quem? Eu só falei isso porque você se atrasou.”
Diante da reação dele, que logo se irritou e ainda corou, Andreas apenas riu brevemente. Mas essa reação pareceu incomodar Nick ainda mais.
“Escuta aqui, ficar menosprezando as pessoas com esse rosto sorridente não é nada legal.”
Ao contrário de Nick, que estava sério, Andreas negou ainda com um sorriso no rosto.
“De jeito nenhum. Eu não faço esse tipo de coisa, menosprezar as pessoas.”
“Não me faça rir!”
Nesse momento, Nick soltou uma bufada sarcástica.
“Com licença. Gostariam de fazer seus pedidos?”
Andreas, que estava prestes a pegar um charuto e colocá-lo na boca, parou no meio do caminho ao ouvir a voz calma. Virando a cabeça lentamente para trás, ele de repente se lembrou de um fato que havia esquecido. Ah, é verdade, esse homem estava trabalhando aqui.
O belo bartender de físico esguio estava ali, com a mesma compostura impecável de antes. Por um breve instante seus olhares se cruzaram, e ele pareceu surpreso, piscando os olhos, mas logo retornou a uma expressão inexpressiva. Andreas se perguntou, de repente, o que será que esse homem estava pensando.
“Os pedidos?”
O sorriso e as palavras adicionais o trouxeram de volta à realidade.
“Um momento, daqui a pouco.”
“Entendido.”
O homem fez uma reverência educada e se virou. Andreas rapidamente verificou o crachá dourado preso ao peito dele. Ji. Pensando bem, Theron o havia chamado de Ji. Andreas observou as costas dele por um momento antes de se virar novamente, e logo franziu a testa.
“Vocês estão estranhos. O que estão olhando com essas caras?”
Não era apenas Andreas que estava observando as costas de Yeong-hoo. O resto do grupo, que o seguia com olhares perdidos, finalmente recobrou a consciência e começou a falar atropeladamente.
“Viu só? Eu não disse?”
“É tão impressionante quanto ouvi dizer. É quase um desperdício ele trabalhar em um bar como este. Ah, claro, é um bar excelente, mas, sei lá… ele parece que combina mais com outro lugar.”
“Como, por exemplo, em uma cama?”
A observação obscena provocou uma onda de risos, e alguém rapidamente acrescentou:
“Olha só aquela cintura fina. E aqueles pulsos finos? Dá vontade de agarrar quando ele abaixa o copo. E aquela voz… dá vontade de derrubá-lo ali mesmo.”
“Você só quer ouvir ele gemer, não é?”
“Exatamente, é bem isso.”
Mais uma vez, a risada irrompeu em ondas, e Andreas piscou os olhos.
“O que é isso? S sugestão foi nos divertirmos aqui hoje… “
“Sim, exatamente.”
O grupo concordou sem hesitar.
“Eu o vi pela primeira vez na festa do Ferris, e desde então tenho vindo dia sim, dia não.”
“Cheguei até a pedir diretamente para ele, então nem preciso dizer mais nada.”
“Na última vez, eu bebi cinco doses de uísque puro. Depois, ele me olhou com aquela cara e perguntou: ‘Senhor, você está bem?’. Quase me mijei de tanto rir.”
“Ainda bem que estava bêbado, assim escapou da vergonha.”
“Ainda bem, porque senão não teria conseguido ficar de pé.”
Mais uma vez, as observações obscenas e as risadas jorraram, e Andreas involuntariamente franziu a testa. Qual é a desses caras? Herdeiros de famílias renomadas de Atenas, perdidamente encantados por um mero bartender.
A preferência do alvo não lhes importava. Se o charme falhasse, havia dinheiro. Nunca houve um caso em que não tivessem sucesso. Andreas também não se importava se o alvo era homem ou mulher, mas ele nunca imaginou que eles ficariam tão obcecados a ponto de tagarelar daquela forma em grupo. Afinal, era só um bartender. Andreas estalou a língua sem acreditar, quando uma cena inesperada chamou sua atenção. Nick, até então em silêncio, estava olhando fixamente para o bartender. Andreas nunca tinha visto Nick com aquela expressão vazia. Ele ficou pasmo, além de achar patético.
“Até você ficou hipnotizado também?”
“É decepcionante vocês ficarem tão obcecados e tagarelarem só porque gostaram da aparência. Estão agindo de forma infantil para a idade de vocês.”
Quando Andreas falou, balançando a cabeça em desaprovação, o protesto veio imediatamente.
“Infantil? Você também estava hipnotizado olhando para ele.”
“Seja sincero, o mais hipnotizado entre nós era você.”
“É verdade, eu pensei que o Andreas ia derrubar aquele cara ali mesmo.”
“É que ele tem muita energia.”
Mais uma vez, a risada irrompeu, e Andreas respondeu calmamente.
“Eu tenho meus motivos. Eu conheço aquele cara.”
“Como assim? De onde?”
Nick finalmente se intrometeu. Olhe só para aquela cara de pasmo, e aqueles olhos vazios. Andreas sorriu por dentro, com desdém, e continuou a falar calmamente.
“Impossível esquecer, foi intenso.”
“Conta aí, o que aconteceu?”
Nick, impaciente, perguntou novamente. Andreas só respondeu depois de acender o charuto que estava na boca e soltar a fumaça.
“Não é nada demais. Ele só inclinou o rosto para perto do meu e inalou profundamente a fumaça que eu soltei.”
“Fumaça? Você quer dizer, do cigarro?”
Com o grito de alguém, Andreas sorriu despreocupadamente.
“Ele fechou os olhos bem na minha frente e fez uma expressão doce, quase o beijei.”
“Que êxtase!”
“Seu maldito, como é que tal sorte só acontece com você? O mundo é injusto!”
Ouvir essas palavras de homens que nasceram com privilégios especiais não era algo comum. Andreas sentiu uma superioridade inesperada e esboçou um sorriso enigmático. Em meio ao burburinho e à agitação do grupo, Nick, que piscava os olhos confuso, finalmente falou.
“Há quanto tempo vocês se conhecem?”
Andreas demorou-se propositalmente à pergunta cautelosa, como se estivesse tentando se lembrar, antes de responder.
“Hum… acho que mais de um mês.”
“Então faz um pouco mais de um mês que ele começou a trabalhar…”
Ao ouvi-lo murmurar como se falasse sozinho, Andreas logo percebeu o que ele estava pensando.
“Será problemático se você levar embora um funcionário, Nick.”
“Levar embora? Do que você está falando? Esse tipo de pensamento…”
Apesar da negação, o rosto de Nick ficou vermelho. Andreas pensou ‘sabia’ e soltou uma longa baforada de fumaça.
“Aquele cara é importante para o nosso hotel. Se você tentar tirá-lo de lá por capricho, vou te dar uma resposta bem sincera, então pense bem.”
A essas palavras, Nick retrucou com irritação.
“O que é que ele tem de tão importante? Você nem sabia que ele trabalhava aqui.”
“Por que eu não saberia? Eu já estava ciente.”
“Mentira, você ficou surpreso ao ver aquele cara aqui. Mesmo se soubesse, com certeza tinha esquecido. E com essa, ele é importante! Se for, me fala, onde e como ele é importante.”
Nick, pela primeira vez, olhou sério e avançou. “Olha só”, pensou Andreas, franzindo levemente a testa. Se Nick tivesse desistido facilmente, Andreas também teria deixado para lá. Mesmo que mais tarde Nick tivesse persuadido Yeong-hoo com palavras doces e o tivesse levado, Andreas talvez nem se importasse. Mas a reação de Nick atiçou o espírito competitivo de Andreas. Ele soltou uma longa baforada de fumaça do charuto antes de começar a falar.
“Ótimo, que tal uma aposta?”
“Aposta?”
Com essas palavras, o grupo imediatamente pareceu ficar muito atento, com os olhos brilhando enquanto os encaravam. Nick também pareceu ficar tenso por um instante. Andreas continuou a falar calmamente.
“Vou provar o quão importante aquele cara é para este bar. Eu aposto isso nele.”
Andreas, como se quisesse exibir, pegou a chave de sua Ferrari e a colocou sobre a mesa. O grupo exclamou “Oh!”. Quando Andreas o encarou com os olhos semicerrados, Nick hesitou por um momento antes de acenar com a cabeça em concordância.
“Ótimo, eu aposto meu iate e meu cavalo.”
Mais do que o iate, o que realmente despertou o interesse de Andreas foi o último item mencionado.
“Cavalo? Você quer dizer Ílios?”
“Sim.”
Ílios, um thoroughbred puro-sangue, era um dos poucos casos em que Andreas havia perdido para Nick. A promessa de entregar aquele cavalo fez os lábios de Andreas se curvarem em um sorriso relaxado.
“Ótimo, então vamos começar a aposta.”
“Qual é a aposta?”
Nick perguntou, tenso. Andreas lançou um rápido olhar para Yeong-hoo antes de começar a falar.
“Vamos ver até onde ele consegue ir fazendo pedidos. Que tal… uns vinte tipos? será suficiente?
“O que é isso?”
“Você vai apostar tudo isso por uma coisa tão simples?”
Em meio às vozes de desapontamento que vinham de todos os lados, Andreas respondeu com calma.
“As coisas mudam se adicionarmos estas condições: faremos vinte pedidos, mas nada de anotar, ele terá que memorizar tudo. E claro, não poderá nos perguntar novamente.”
A essas palavras, reações de interesse começaram a surgir, uma a uma, tardiamente.
“É razoável.”
“Com vinte tipos, é uma história diferente.”
“Se ele não puder perguntar de novo…”
Agora, tudo dependia da resposta de Nick. Sob o olhar atento de todos, Nikos, após ponderar cuidadosamente, abriu a boca com uma expressão firme.
“Se aumentarmos o número de variedades para trinta, incluindo vinhos, e dissermos o pedido apenas uma vez, além de limitarmos o tempo a uma hora, então eu topo.”
Nick olhou para ele, esperando uma resposta. Andreas hesitou por um momento. O elogio de Theron era extremamente raro, e embora ele só tivesse visto Yeong-hoo de relance, percebeu que suas mãos eram bastante rápidas. No entanto, mesmo assim, as condições propostas por Nick eram exageradas. Existiria alguém no mundo capaz de fazer tudo isso? E mesmo se existisse, quantos seriam? Certamente não aquele bartender novato. Contudo, fora Andreas quem propusera a aposta primeiro, e seu instinto competitivo nato, superou sua razão.
“Fechado.”
Andreas sorriu tranquilamente, e todos, excitados, começaram a gritar ruidosamente e a fazer suas apostas.
Adeus, Ferrari.
Andreas, por dentro, olhou para a chave da Ferrari com um sentimento amargo.
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Tradução: Yani
Revisão: Ana Luiza
Publicado por:
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