Mais de um milhão de beijos - Capítulo 3.1
Antes de começar o trabalho, Yeong-hoo passou no hospital e depois caminhou com Yannis até o local combinado perto do hotel para almoçar. Três semanas haviam se passado desde o acidente, mas sua mão ainda estava enfaixada.
O curativo era muito mais fino do que antes, mas o médico insistiu para que ele não o removesse por conta própria. Após um simples curativo e verificação da cicatrização, ele deixou o hospital. Na próxima consulta, os pontos seriam retirados. A ferida não doía e estava cicatrizando bem, mas as sequelas eram significativas. Ele ainda não conseguia segurar o saca-rolhas. Ele soltou um suspiro involuntário quando, de repente, um barulho alto soou. Surpreso, Yeong-hoo virou a cabeça e viu pessoas reunidas e murmurando. Piscou, se perguntando o que era e então viu um rosto familiar no meio da multidão.
“Yannis?”
Surpreso, Yeong-hoo abriu caminho pela multidão e agarrou Yannis.
“Yannis. O que você está fazendo aqui, em um lugar como este?”
“Ah, é você, Ji. Só um momento.”
Sem parecer se importar com Yeong-hoo, Yannis virou a cabeça novamente. Seguindo o olhar dele, Yeong-hoo também virou a cabeça e, sem querer, franziu a testa.
Dois homens estavam discutindo. Suas vozes eram tão altas que ecoavam, gritando um monte de coisas, mas sem realmente partirem para os socos. As pessoas se aglomeravam ao redor, observando-os e ocupadas em dar seus pitacos, dizendo que um lado cometeu um erro, que o outro não tinha lógica, parecendo mais incitar a briga do que tentar separá-los. Yeong-hoo suspirou involuntariamente, pensando, “lá vamos nós de novo”.
“Vamos.”
“Só um instante, preciso ver quem está certo.”
Como sempre. Yeong-hoo, que agora conhecia bem o hábito dos gregos de se intrometerem e darem palpites sempre que uma briga começava, protestou brevemente, mesmo sabendo que Yannis não o ouviria de qualquer maneira.
“Você nem conhece eles, por que se meter?”
“É por isso que posso decidir de forma mais objetiva.”
Yannis, ainda sem olhar para Yeong-hoo, logo se intrometeu na discussão, começando a falar alto.
“Essa pessoa claramente não entende de futebol. A razão pela qual cedemos um gol para a Turquia da última vez foi puramente por causa da falta de atenção de Theotokas. Se ele tivesse passado a bola corretamente naquele momento, não teria acontecido. Chutar o ar daquele jeito,Theotokas, que idiota.”
“O quê? Como ousa chamar alguém de idiota? Theotokas é o melhor jogador! Não há ninguém melhor que ele em cobranças de falta. Você sequer sabe a reputação de Theotokas, que joga na Premier League?”
“Aquilo não foi uma cobrança de falta, foi um passe! Aprenda alguma coisa antes de falar. Um passe, veja bem…”
A briga se intensificou, e Yannis e o outro homem começaram a trocar palavras acaloradas. O que começou como uma simples discussão entre os dois, logo envolveu os espectadores que se juntaram em pequenos grupos, falando sem parar, e em pouco tempo a área ao redor se tornou um caos. No entanto, mesmo em meio aos gritos e discussões acaloradas, ninguém realmente levantou um punho. Para os gregos, usar os punhos seria admitir a fraqueza da lógica e, consequentemente, perder a discussão. Por isso, a violência nunca era usada em nenhuma circunstância. Observando-os continuar a brigar até perderem a voz, Yeong-hoo suspirou e olhou para o relógio. “Seria melhor se eles simplesmente se resolvessem aos socos”, pensou. Se continuar assim, eu vou acabar me atrasando, e muito menos jantando.
Yeong-hoo, olhando ao redor com impaciência, disse.
“Vou comer primeiro, então venha quando terminar o que tem que fazer.”
Sem saber se ele ouviu ou não, Yeong-hoo deixou Yannis para trás, que ainda discutia acaloradamente, e seguiu para a taverna* que sempre frequentava. Ele pediu um sanduíche e uma limonada, e o garçom logo trouxe a limonada primeiro. Olhando distraidamente para as pessoas que passavam, Yeong-hoo de repente pensou se deveria ir ao museu no fim de semana.
*Taverna é um tipo de restaurante popular na Grécia, frequentado por pessoas comuns.
Lembrando dos museus próximos e bebendo a limonada distraidamente, ele congelou. ‘Nossa, que azedo! Será que moeram um limão inteiro aqui dentro?’ Não é à toa que o garçom jogou um punhado de açúcar na mesa. Yeong-hoo misturou apressadamente todo o açúcar que estava à sua frente e só então conseguiu beber o resto da limonada. Mesmo assim, a cada gole, ele ainda precisava fechar os olhos com força.
“Argh.”
Yeong-hoo, que soltou um gemido sem perceber, de repente notou que as pessoas estavam olhando de relance para um lado. Ele acompanhou os olhares e se surpreendeu.
Aquele homem.
Mesmo com óculos de sol escuros, Yeong-hoo o reconheceu imediatamente. Vestindo um terno cinza claro com um brilho sutil, ele estava encostado em uma Mercedes preta do outro lado da rua, em frente a um enorme shopping, fumando um charuto. Ocasionalmente, ele olhava para o relógio de pulso, como se estivesse esperando alguém. Será que ele tem um encontro?
De repente, Yeong-hoo se lembrou de quando o homem lhe deu seu número. No meio da correria e com a cabeça cheia por causa do ferimento na mão, o guardanapo havia sumido em algum lugar. Mesmo que ainda o tivesse, ele não tinha intenção de ligar… Já fazia quase um mês e nunca pensou que o encontraria em um lugar como este.
Com um sentimento de perplexidade, Yeong-hoo o observou. O homem, parado do outro lado da rua, em frente ao shopping, não percebeu a presença de Yeong-hoo sentado na taverna e olhando para ele. Talvez houvesse muitos olhares ao seu redor. Uma pessoa tirando fotos com uma câmera chamou a atenção, mas ele não pareceu se importar. Até mesmo o ato de ignorar parecia algo que ele já estava acostumado, como se fosse corriqueiro. Yeong-hoo piscou enquanto olhava, e pouco depois, uma mulher vestindo um vestido vermelho-vivo esvoaçante saiu do shopping, carregando um gato de pelos longos. Em algum lugar, a palavra ‘Charisteas’ foi ouvida.
Enquanto Yeong-hoo observava, ainda confuso, um funcionário vestindo o uniforme do shopping saiu atrás dela, carregando uma pilha de sacolas e caixas com as duas mãos. Vendo a cena, o homem logo jogou o charuto fora, abriu o porta-malas e esperou até que o funcionário colocasse as compras dentro. Depois que o funcionário fez uma reverência e se afastou, o homem abriu a porta traseira do carro para a mulher. Os dois pareciam trocar algumas palavras antes de a mulher entrar suavemente no carro, seguida pelo homem, que deu a volta e se sentou no banco do motorista. Logo, a Mercedes partiu, e Yeong-hoo continuou olhando para a cena com uma expressão atônita.
*
*
“Que mal-humorado, me jogando no banco de trás.”
Andrea riu maliciosamente para Delphi, que resmungava enquanto segurava seu amado gato.
“Não tenho escolha, sou alérgico.”
“Mentira. Você só não gosta de gatos, não é?”
Andrea respondeu com leveza à observação de Delphi.
“Sou alérgico a todos os animais. Se você trouxer esse gato de novo, não vou mais te acompanhar nas compras, lembre-se disso.”
“Que maldade! Daiana é tão adorável.”
“Tão adorável que dá vontade de jogá-la para fora do carro.”
“ANDREAS!”
Ignorando Delphi, que estava furiosa, Andreas mudou de assunto.
“Certo, diga o que quer. Que loja você vai limpar dessa vez?”
* * *
Yannis chegou à taverna quando Yeong-hoo quase já havia terminado seu sanduíche. Por causa disso, Yeong-hoo se atrasou para o trabalho, como esperado, e não teve escolha a não ser se desculpar repetidamente, dizendo “Sinto muito”. Theron suspirou e disse:
“Isso não vai dar certo, Ji.”
Como ‘Yeong-hoo’ não era uma pronúncia fácil para Theron, ele inventou um apelido usando o sobrenome, e agora todos o chamam assim também.
“Sinto muito.”
Ao ver as repetidas desculpas, Theron acrescentou mais uma advertência.
“Na próxima vez, não haverá perdão. Se atrasar, isso não é típico de você, Ji.”
“Serei mais cuidadoso.”
Só depois de se desculpar mais uma vez, Yeong-hoo finalmente pôde se afastar. Por causa do atraso, a preparação se tornou ainda mais apressada. Outro bartender, olhando de relance para a bandagem na mão de Yeong-hoo, perguntou preocupado:
“O que o médico disse?”
“Ele disse que está cicatrizando bem, não precisa se preocupar.”
Ele sorriu para tranquilizar, mas por dentro havia outra preocupação. O ferimento não era o principal problema. Se a situação continuasse assim por muito tempo, seria impossível continuar trabalhando ali. Contudo, mesmo pensando nisso, Yeong-hoo ainda não conseguia segurar o saca-rolhas.
*
*
Tradução: Yani
Revisão: Ana Luiza
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