Entre Espadas - Capítulo 11
Quando Ryo se retirou do local onde trocou golpes rápidos de espada com Kishin, deixando-o no chão com sua própria lâmina cravada em seu peito, o Oni se encontrou em um estado deplorável. A raiva de perder para um ser que ele subestimou por considerar inferior, indigno de um verdadeiro confronto, fez com que se descuidasse em seus ataques, deixando brechas suficientes para ser humilhado na frente de todos daquela vila por um desconhecido. Naquele momento, o Oni não sabia o que era mais humilhante: ter sido derrotado por alguém que nem um nome possuía naquele país ou ter tal derrota presenciada por camponeses. Isso mancharia sua imagem para seu general, principalmente se percebessem que ele não permanecia ali sem retirar a espada de seu peito por estar irritado, mas sim porque não conseguiria retirar a lâmina sozinho!
Em meio a diversos pensamentos enquanto estava deitado naquele chão, pensando em uma maneira de retirar a lâmina de seu peito, sem que percebesse, Kishin se viu sendo molhado pela chuva torrencial que tinha começado a cair, fazendo com que o sangue que havia secado da ferida em seu peito começasse a se limpar aos poucos com as gotas de chuva que caíam sobre ele. E ali, entre o som da chuva caindo e da água escorrendo pela estrada perto de onde estava caído, ele ouviu passos vindo em sua direção e parando ao seu lado, o que o fez olhar para o lado com certa dificuldade, vendo então os pés enrugados de uma idosa que logo veio a falar:
— Você realmente foi empalado por um mortal, Kishin? Parece que o filhote do terceiro general não é tão eficaz quanto afirma. Deixe-me ajudá-lo, querido. — A voz que vinha daquela aparente senhora não era nem um pouco condizente com sua aparência velha; pelo contrário, era a voz de uma mulher jovem, uma voz que fez Kishin tremer sobre a própria lâmina.
— Sakuma-dono… o que a senhora está fazendo aqui? — Kishin perguntou, forçando-se a olhar para o rosto daquela senhora, que logo se desfez em uma nuvem quase alucinógena, dando lugar ao rosto de uma mulher jovem, de cabelos pretos presos em um coque de gueixa, contrastando com duas grandes orelhas de raposa em sua cabeça. No rosto da mulher, um batom vermelho carmesim fazia contraste com um sorriso quase sádico ao vê-lo caído no chão. Ela estava usando um longo kimono vermelho que se arrastava até o chão e, na parte de trás do kimono, nove grandes caudas de pelagem negra estavam abaixadas, quase como se fossem parte do kimono. Era óbvio o que aquela bela mulher realmente era.
— Eu não acho que lhe devo satisfações, Kishin. Além do mais, não lembro ter permitido que falasse meu nome, garoto… — disse a mulher enquanto lentamente estendia sua mão, que parecia conter garras extremamente afiadas no lugar das unhas, até a katana presa no corpo de Kishin, puxando-a para fora de uma vez, o que fez o garoto segurar um grito de dor na garganta.
Em questão de segundos, Kishin, que havia acabado de segurar um grito na garganta se ajoelhou em continência para a kitsune à sua frente e se pôs a falar da maneira mais formal que conseguia:
— O primeiro no comando, Kishin, presta suas saudações à Décima General, Sakuma Kaoru. Peço perdão por pronunciar vosso nome, general. Este soldado é um tolo que ofende seu mestre e seus semelhantes. Em nome de meu general, eu peço, por favor, que me puna. — Ele falava de maneira séria, sem ousar levantar o rosto para olhar novamente para a mulher, mesmo enquanto sentia seu sangue cair sem parar da ferida reaberta após a lâmina ser retirada.
Enquanto o ouvia falar, a mulher limpava o sangue que permanecia na lâmina em seu próprio kimono, com uma expressão complacente no rosto. Ela permaneceu em silêncio limpando a lâmina, mesmo quando o garoto já havia se calado e estava ajoelhado à sua frente. Estranhamente, as pessoas ao redor pareciam não notar a cena que se desenrolava bem diante delas, com uma dos treze generais em sua vila. Somente quando terminou de limpar a lâmina da katana, a mulher finalmente falou algo:
— Não irei puni-lo, já é punição suficiente ter seus erros apontados por alguém com uma força inferior à sua. É assim que pretende substituir seu mestre entre os generais, soldado? Zombando de seu inimigo, atacando-o de maneira descoordenada e com sensação de superioridade somente por seu inimigo se tratar de um humano? Gostaria de lembrá-lo, soldado, que nossa senhora também é uma humana e, mesmo assim, derrubaria qualquer um entre os generais sem o mínimo esforço. Você envergonha seu mestre e o desonra com tamanha imprudência. Acho melhor ter uma ótima maneira de recompensar seu mestre e sua Xogum neste momento. Os olhos deles estão sobre você, garoto. — A forma como a mulher falava era severa, mas repleta de sabedoria. Kishin sabia que ela estava certa; suas ações naquele confronto desonraram seu mestre e os ensinamentos que ele havia passado.
A cada frase que a general pronunciava, ele se sentia mais envergonhado por suas atitudes ali, e entre a vergonha, a raiva de quem o humilhou desse modo na frente de uma de seus superiores sem que ele soubesse, Toyosaki Ryo. Ele queria matá-lo com as próprias mãos quando o encontrasse. Não, ele queria matar todos os porcos humanos daquele local para que não houvesse testemunhas da humilhação que passara. Assim, sem testemunhas, ninguém além dele e Sakuma saberiam o que ocorrera naquele lugar. Mas, estranhamente, assim que a mulher falou sobre estarem com os olhos nele, o garoto sentiu um arrepio e um frio subir de seus pés até seus chifres.
— O-o que a senhora quer dizer com eles estarem de olho em mim?
— O quê? Por acaso acha que vim limpar sua pele, garoto? Seu general e nossa senhora presenciaram toda a cena, caído pela sua própria espada. — A mulher explicava de maneira calma, mantendo o tom severo em sua voz, e por fim completou: — Já se esqueceu, Kishin? Os corvos do primeiro general estão sempre de olho em cada um do exército imperial. — Por fim, apontou para uma árvore grande e distante daquela cidade, como se indicasse para onde Kishin deveria olhar.
Kishin então finalmente levantou seu olhar, entendendo o que Sakuma queria que ele fizesse. Ele seguiu seu olhar para a direção onde a mulher apontava e, mesmo que não pudesse enxergar nada de onde estava, um enorme calafrio percorreu seu corpo. Era como se algo feito de pura escuridão o olhasse no fundo de seus olhos, sem que ele pudesse desviar o olhar ou se esconder daquilo. Então, essa era a presença dos corvos vigias do primeiro general de que ele tanto ouvira falar.
Aos poucos, parecia que a perspectiva se alternava entre Kishin e o corvo que o observava silenciosamente naquela escuridão. Era quase como se ele pudesse ver o que continha dentro dos olhos daquela criatura e, aos poucos, Kishin era refletido em um espelho em um lugar distante daquela vila, no terceiro distrito, em um enorme salão com colunas pintadas a ouro e entalhes que lembravam a forma de um dragão. Em frente àquele espelho, havia duas pessoas sentadas em volta de uma mesa com um tabuleiro de go diante de ambos.
Uma dessas pessoas era um homem alto, de longos cabelos loiros ondulados, que utilizava uma máscara de aparência demoníaca no rosto e um kimono esvoaçante de cor negra, com lírios-aranha vermelhos desenhados, realçando o contraste do kimono. Diante dele, uma mulher de longos cabelos vermelhos e lisos, usando um kosode de cor branca, com uma expressão calma em seu belo rosto pálido que se destacava por um belo par de olhos alaranjados. A mulher parecia estar totalmente à vontade e em um momento de lazer ali, mas permanecia sentada de maneira ereta e adequada.
A mulher então estendeu sua mão para um pequeno pote com pedras de cor preta e colocou uma no tabuleiro, executando o primeiro movimento que daria início ao jogo deles. Então, a mulher veio a falar:
— Gonkuro, irmão, seu protegido parece ter notado um dos corvos do Yanagi. Parece que me enganei ao falar que treiná-lo seria uma perda de seu tempo, meu irmão. — A mulher disse rindo suavemente, virando então seu olhar para o espelho diante deles.
— Como eu lhe disse, irmã, Kishin tem muito potencial para me substituir quando decidir me aposentar. — A voz do homem, por mais que fosse abafada pela máscara, era agradável de ouvir, o que fazia com que aqueles que o conhecessem há algum tempo pensassem que a voz dele seria ainda mais agradável se cantasse uma doce canção.
— Irmão, não há necessidade de falar de maneira formal em minha presença. Em um momento de lazer, sou sua Xogum, mas também sua irmã mais nova. Você ainda não está tão velho para se esquecer disso, Gonkuro. — Masaru disse descontraidamente para Gonkuro que estava na sua frente, observando-o posicionar sua primeira peça no tabuleiro. Ela voltou a falar enquanto pensava onde posicionaria sua próxima peça: — Gonkuro, me responda, qual era o antigo nome desta vila onde seu sucessor está? O garoto que o empalou me despertou interesse sobre eles.
— Masaru, como você mesma disse, você ainda é minha Xogum. Sou seu subordinado, é natural que eu lhe trate de maneira formal enquanto nos reunimos fora de momentos de lazer. Afinal, não queremos boatos de que sou favorecido em minha posição por nosso parentesco. — Após responder o primeiro apelo de sua Xogum e tendo posicionado sua peça no tabuleiro a certa distância da peça dela, ele voltou a falar: — Mas, respondendo sua pergunta, o nome daquela vila antes da imposição dos distritos era Tatsumaki. Os aldeões que vivem lá parecem depender bastante da agricultura local para se manter. Aparentemente, é um lugar calmo, se me recordo bem. Quando passei por lá recentemente, não havia sinais de nenhum espírito maligno rondando a vila, mas algo estranho ocorreu há dois meses, minha amiga…
— Poupe-me dessa falsa preocupação sobre boatos, Gonku. Ambos sabemos que ninguém nesta nação ousaria pensar que favoreço alguém por mero parentesco. — Masaru disse rindo de maneira descontraída enquanto fazia seu movimento no tabuleiro, posicionando mais uma peça ao lado da que havia posto anteriormente. — Mas me diga, o que exatamente ocorreu de estranho há dois meses, que necessitou que enviasse seu próprio aprendiz, Gon?
Ouvindo a pergunta de Masaru, Gonkuro desta vez não fez seu movimento no jogo, mas olhou diretamente para Masaru por trás da máscara e disse seriamente:
— Há dois meses, uma forte fonte de energia espiritual surgiu na região, juntamente com uma área que não estava em nossos mapas do distrito. — O homem disse calmamente enquanto levantava sua mão sobre o tabuleiro, fazendo uma névoa estranha tomar o espaço do tabuleiro e, acima do mesmo, uma projeção dos acontecimentos de dois meses atrás, quando a forte fonte de energia espiritual surgiu juntamente com a floresta. — Pelo que chegou aos meus ouvidos, isto ocorreu ao mesmo tempo que dois jovens chegaram àquela vila.
Masaru olhou interessada para a projeção, com certo entretenimento estampado em seu rosto. Fazia tempo que não via uma fonte de energia tão abundante em um só lugar; a última vez em que havia visto tamanha fonte de energia, ela mesma era a causa dela.
— Meu querido irmão, essa intensidade… você não acha que isso seria aquilo, não é? — Um sorriso surgiu de um canto ao outro de seu rosto, uma certa sensação de êxtase e preocupação rondou seu rosto. — Gon, me mostre esses jovens que chegaram. Pode haver um pactuado entre eles, isto é… preocupante, mas animador. — ela se levantou prontamente, animada com a probabilidade de haver outro como ela disse, um “pactuado”, e foi até o canto do salão onde uma grande kamayari azulada com entalhes de um dragão chinês esculpido em jade estava repousada. Ela a pegou, falando com a arma: — Seiryuu, você ouviu isso? Pode haver mais um como nós por aí outra vez, acorde, querido. — Masaru falava com grande afeto à arma, que brilhou em uma forte luz azul em resposta, como se entendesse o que Seiryuu queria dizer somente pelo brilho. Virando-se então para Gon, Masaru foi até ele, esperando que ele mostrasse a imagem dos jovens em sua névoa.
O homem parecia acostumado com a maneira como Masaru falava com sua arma; aquilo não o fez estranhar. Ele apenas riu antes de responder à sua irmã mais nova:
— Masaru… eu não os vi ainda, mas por sorte, os camponeses os viram bastante e, como sabe, minha senhora… — O homem disse quando uma luz dourada emanou de suas mãos, mudando a cor da névoa para um tom arroxeado. — Eu estou sempre com os camponeses… em seus sonhos. — Com essas palavras, a imagem na névoa se alterou da floresta para a de um garoto de cabelos ondulados curtos, com vestimentas que claramente não eram daquele local, e em seus braços um garoto desacordado, com longos cabelos pretos, usando vestes sacerdotais e com uma espada aninhada ao peito como em um abraço. Aquela imagem se fixou na névoa, e Masaru, fixando seu olhar nela de maneira mais séria, parecia analisar cuidadosamente o rosto daqueles dois garotos. Mesmo que não fossem tão visíveis por se tratar da imagem tirada diretamente da mente de alguém, ela tentava decorar cada parte da aparência dos garotos.
Tomando então uma posição mais séria e sentando-se ao lado de Gonkuro, olhando os dois garotos, Masaru veio a falar, deixando de lado a maneira descontraída e assumindo uma postura séria tanto na forma como se sentou quanto em sua voz:
— Gonkuro, agora que paro para pensar, deixando de lado meu entusiasmo momentâneo, isso pode ser um problema… um pactuado… pensei que eu seria a última a ter tal bênção. Sabemos como isso pode ser problemático. — Masaru disse, levando a mão ao queixo, como se descansasse o rosto sobre a mão.
— Minha senhora, se me permite perguntar, por que isto poderia ser um problema? Um pactuado possui tanto poder assim que poderia vir a ser um problema até para nós, dos 13 generais, e para a senhora? — Havia uma dúvida genuína na voz de Gonkuro enquanto ele analisava a imagem, sem se movimentar muito. Era impossível dizer sua expressão no momento devido à máscara, mas pela sua voz, Masaru sabia que a dúvida que o homem expressava era sincera.
— Bom, acho que realmente nunca cheguei a explicar o que é a dádiva do pacto para você, não é? Faz sentido que não entenda o quão problemático isto poderia ser para o império. — Masaru parecia pensativa sobre como poderia explicar de uma maneira simples e que não deixasse o outro muito confuso. Após algum tempo, ela veio a explicar: — Bom, vamos começar do princípio, meu irmão. Um pactuado, como já sabe, é o nome dado àquelas pessoas que possuem um contrato vitalício com um ser de grande poder espiritual. De maneira simples, é assim que é explicada a dádiva do pacto em nosso país. Entretanto, isso não é tudo. O pacto em questão só pode ser exercido por pessoas com um potencial espiritual quase ilimitado ou totalmente ilimitado. Além disso, não é qualquer ser de grande poder que pode forjar um pacto com uma pessoa, querido Gonku. Essas criaturas, como Seiryuu, eram em muitos casos divindades ou algo semelhante no mundo antes da criação. Somente essas criaturas possuem o poder para exercer um pacto com pessoas como eu, o que por sua vez não é um processo nada fácil. Afinal, como Seiryuu antes de formarmos nosso pacto, ele estava totalmente selado por uma katana no fundo de uma montanha, como se lembra. E sabe, no início, eles podem ser seres muito hostis. É aí onde o desafio começa: é necessário ganhar a confiança deles de alguma forma para se aproximar. Quando se consegue isso, a parte mais fácil vem: retirar o selo, o que dá início ao processo do pacto. Neste ponto, sua alma e a alma da criatura têm o primeiro contato, chocando suas almas pela primeira vez. Neste estado, é quando se há o tempo para impor as condições do pacto. Por exemplo, a condição que eu impus a Seiryuu é que, caso eu morra, ele jamais deverá aceitar um pacto com outro ser existente. E a condição que Seiryuu me impôs é que eu jamais devo levantar outra arma além dele. Após o consenso sobre as condições, a primeira parte do processo do pacto é completa. Após isso, a parte difícil começa. Quando os dois lados concordam com as condições do pacto, suas energias espirituais se mesclam em uma batalha por dominância, para decidir qual dos dois seres terá maior controle do outro após o pacto. Até onde Seiryuu me explicou, este é um processo lento, doloroso e cansativo para o corpo e alma da pessoa que aceitou o pacto, e aparentemente pode durar meses. Felizmente, eu e Seiryuu não passamos por esta disputa boba; ele quis me seguir de bom grado e se rendeu à minha energia rapidamente. Por fim, quando decidido quem terá maior influência, existe um último passo que pode demorar até anos: descobrir o nome da entidade que agora habita a arma onde estava selado, fazendo-a assumir sua verdadeira forma de combate, que varia de acordo com as habilidades da pessoa com quem possui o pacto. Assim, após tudo isso, essa pessoa aos poucos vai evoluindo cada vez mais, juntamente com as habilidades da entidade na arma, até um ponto onde nem mesmo empunhar a arma seja necessário para usar as habilidades desse ser. — Quando terminou de falar, a mulher estava até sem fôlego por falar tanto de maneira quase constante, o que a fez suspirar rapidamente por falar apressadamente.
Com a explicação de Masaru, aos poucos Gonkuro entendia a complexidade e o risco que tal habilidade poderia trazer para o império. Se uma pessoa com tais capacidades decidisse se voltar contra o atual método de governo já em seu ápice de poder, seria quase impossível deter tal pessoa. Bem, sua senhora ainda seria capaz, provavelmente, mas isso poderia trazer baixas imensuráveis para o governo, de maneira que, sem os generais e o exército para manter o povo alienado, haveria uma enorme chance de ruptura de toda a nação.
— Minha senhora, se o que diz é verdade, talvez devêssemos lidar com eles enquanto estão fracos…
— Eu sei disso. — Com uma expressão séria no rosto, a mulher foi até a frente do espelho onde a imagem de Kishin era refletida, com o garoto ainda ajoelhado em frente à décima general. — Gonkuro, ainda é possível enviar mensagens diretas para os corvos do Yanagi pelo espelho?
— Até onde me recordo, sim, isso ainda é possível. Só precisa informar para quem deve ser enviada a mensagem, ordem no seu caso, minha senhora. O que mesmo pretende fazer? — O homem perguntou, virando seu olhar para o espelho, observando o que Masaru iria fazer.
— Eliminar baixas e possíveis rebeldes. — Masaru disse, colocando seu rosto contra o espelho, que parecia virar uma espécie de líquido, permitindo a Masaru atravessá-lo. Nesse espelho, uma cabeça de corvo era refletida enquanto observava uma mulher vestida com um kimono elegante e os cabelos presos em um coque de gueixa. Tendo a visão clara da mulher, Masaru se pôs a falar: — Kaoru, pode me ouvir? — A voz soava como um sussurro quase íntimo enquanto tentava contatar a décima general, que ainda na vila sentiu um arrepio subir por seu corpo, das caudas até as orelhas, ao ver o corvo que anteriormente estava distante da vila parar à sua frente em segundos. De seu bico saía a voz de sua senhora. Quase de maneira instintiva, a kitsune se ajoelhou em continência. Estranhamente, Kishin, que estava bem à sua frente, não parecia ouvir a voz de Masaru vinda do corvo, mas ver aquela criatura de perto assustou Kishin, fazendo-o recuar para trás ainda no chão. Aquela coisa era enorme, seu bico alongado parecia ser como uma serra e, por algum motivo, aquela coisa era repleta de olhos em sua cabeça, os quais não tinham um sinal de vida. Era assustador e demoníaco até mesmo para Kishin, mas, por algum motivo, na visão de Kishin, a décima general prestava respeito àquela coisa.
Ajoelhada ali na terra, após ouvir a voz de sua senhora e sem ligar para a reação de Kishin, a mulher respondeu:
— Sim, minha senhora, esta serva a escuta perfeitamente.
— Ótimo, preste atenção, Kaoru. Eu tenho uma missão que quero que entregue a Kishin. — A voz de Masaru era calma e até mesmo gentil vinda daquele corvo, mas, por algum motivo, aquela voz a fez ter um péssimo pressentimento.
— Como desejar, minha senhora, qual seria a missão? — A kitsune perguntava sem sequer ousar olhar para os olhos da criatura com a voz de sua Xogum, por medo de soar desrespeitosa.
— Diga a Kishin que, se ele deseja a chance de subir para um cargo entre os treze generais, caso ele seja eficaz no que pedirei sem hesitar por ao menos um segundo, meu olhar cairá sobre ele… — Com um riso sádico antes de terminar sua fala, ela continuou: — No fim da tarde deste dia, diga a ele que, quando ver meu sinal, deverá apagar todos desta vila da existência. Sejam homens, mulheres, idosos ou crianças, todos deverão morrer.
Aquelas palavras deixaram ambos os generais dos dois lados do espelho surpresos ao ponto de ficarem momentaneamente boquiabertos.
— M-mas, minha senhora… t-todos? Até as crianças? — A décima general perguntou incrédula, ainda processando as ordens de sua líder.
— Não fui clara o suficiente? Responda-me, General Sakuma Kaoru, está questionando minhas ordens? — A entonação da voz de Masaru fez uma enorme pressão se impor sobre Kaoru. Ela sabia que não deveria irritar sua senhora caso não quisesse sua raiva voltada a ela.
— Jamais a questionaria! Perdoe-me por minha insolência, minha senhora. Informarei Kishin neste exato momento sobre suas ordens… — A mulher se viu tremendo sob a pressão imposta somente pela voz de sua senhora. Era como um medo que nem ela sabia que possuía, afinal foram poucas as vezes em que presenciou sua senhora tão séria, levando sua autoridade ao extremo, principalmente quando se trata de extinguir toda uma aldeia sem ao menos uma reunião dos treze generais e uma declaração formal ao Imperador.
E, sem falar mais nada, o corvo desapareceu na mesma velocidade em que aparecera, voltando a observá-los de longe. Vendo que o corvo já não estava mais no local, Sakuma se levantou ainda trêmula e olhou vagamente para Kishin, virando-se para se retirar do local, e disse:
— Kishin, preste atenção no que lhe direi, pois só direi uma única vez e então irei partir desta vila, certo?
A voz da mulher parecia conter um certo lamento escondido pelas vidas que se perderiam no local. Percebendo a maneira receosa com que a general falava, Kishin se recompôs rapidamente da aparição daquele ser e se levantou enquanto respondia à general:
— Certo, senhora, seguirei o que me for imposto.
— Ótimo, Kishin. Sua missão foi alterada. Suas ordens não são mais para uma análise da situação e dos riscos presentes. Sua missão agora, Kishin, sob ordens de nossa Xogum – é de extermínio. No anoitecer de hoje, quando o sinal de nossa senhora se mostrar, você deve matar todos os moradores desta vila… — A voz da mulher continha certo peso e até mesmo um sentimento de culpa por como a situação estava se desenrolando. Por algum motivo, a sensação de decidir que essas pessoas deveriam morrer, mesmo que não tivessem vindo dela, a incomodava. — Caso tenha êxito em sua missão, nossa senhora voltará os olhos para você.
Ao ouvir aquilo, certa animação tomou o rosto de Kishin. A ideia de que sua Xogum olharia diretamente para ele caso realizasse sua missão sem falhas o deixaria um passo mais perto de seu sonho de subir aos treze generais. Sinceramente, o garoto não se importaria que algumas milhares de vidas tivessem que ser perdidas para isso. Além disso, ele muito menos simpatizava com os moradores locais e, com certa animação, Kishin respondeu:
— Obrigado? — O garoto estava para agradecer por receber tal missão, mas estranhamente, assim que estava para responder, a décima general já havia desaparecido em meio à chuva. As pessoas, que agora estavam condenadas por mais que ainda não tivessem ciência de tais fatos, só agora, com a décima general se retirando de maneira sutil, pareciam voltar a notar Kishin em pé no meio da estrada.
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