Antes de me acusar, me beija - Capítulo 20: Um arco-íris após uma tempestade
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- Capítulo 20: Um arco-íris após uma tempestade - REVISADO
Troy me levou para a casa nova dele para podermos conversar privadamente. Sem cerimônias, me sentei com os braços cruzados.
— Me conta tudo de uma vez. Não minta ou eu realmente não vou te perdoar!
Estava em choque demais para falar e a tontura que me abatera mais cedo ainda não havia passado de qualquer modo. Assim, preferi ficar em silêncio enquanto ouvia a história, pois por mais que eu estivesse vibrante por ter minha amiga de volta, ainda precisava de respostas.
— Hum!
Depois de pensar por uns segundos ele começou a falar, enquanto se sentava ao meu lado.
— Vejamos… meus pais demoraram muito tempo para conseguirem finalmente conceber um filho. E vieram não apenas uma, mas três meninas. Com isso, conseguiram um casamento arranjado com o filho mais velho de uma família muito bem-sucedida do mesmo ramo de atuação, ainda na gestação e estavam negociando o noivado das outras duas.
“Parece que isso ainda é uma prática comum.”
— Todo mundo estava radiante até a mamãe entrar em trabalho de parto prematuramente, onde minhas irmãs morreram e somente eu sobrevivi. Quando descobriram que havia tido um erro no ultrassom, e que na verdade eu era um menino, o choque dos meus pais foi maior ainda. E pra piorar, minha mãe soube então, que nunca mais poderia engravidar novamente.
Cobri minha boca que teimava em permanecer aberta devido ao choque.
— Como eles não podiam se dar ao luxo de perder aquela parceria, já que não poderia fechar os outros dois negócios, tiveram a brilhante ideia de me criarem como menina até que todas as transações empresariais fossem concluídas. Assim que tudo estivesse pronto, eles forjariam a minha morte e eu voltaria como um filho bastardo, ainda na primeira infância.
Eu estava totalmente sem palavras e o nó no meu estômago parecia se intensificar com aquele relato. Troy se aproximou e passou a mão nas minhas costas na tentativa de me confortar.
— Eu sei, eles são muito egoístas. A ganância deles não tem limites. Ao verem os negócios da família decolarem com o auxílio dos meus ex-sogros, eles ficaram completamente cegos pelo poder e ao invés de resolverem tudo quando eu ainda era pequenino, prosseguiram me injetando hormônios para que eu não desenvolvesse minha masculinidade.
Não pude evitar chorar novamente.
— Eu sei, eu sei… quer que eu continue uma outra hora? — Perguntou limpando minhas lágrimas silenciosas antes de continuar.
Apenas balancei a cabeça em negação.
— Ok… estudei em casa por anos para prevenir que alguém descobrisse o meu segredo na escola. Um dia, explodi e disse que se eles não me devolvessem a minha vida, eu iria me matar de verdade, assim, não precisariam forjar minha morte. E então, eles organizaram tudo. Eu iria para um internato de confiança e depois de um trimestre, haveria um acidente cessando minha antiga identidade. Mas é claro, como a ganância sempre falava mais alto, obviamente, eles iriam dar um jeito de conseguir lucrar com minha falsa morte ao culpar o internato. Mas, eu já nem ligava mais, sabe? Meu único desejo era recobrar as rédeas do meu destino.
— E p-por que você concluiu todo o ensino médio lá?
— Conheci você, é óbvio! — Seu sorriso iluminado em meio a aquele cenário triste era consolador como um arco-íris após uma tempestade.
— Decidi usar o que eu havia aprendido enquanto estudava em casa com maníacos por dinheiro, para fazer meus investimentos renderem muito em pouco tempo. Com as provas em mãos de que eu era um gênio dos negócios, consegui uma barganha com meus pais. Eles me deixariam concluir o ensino médio no internato contigo e eu também pararia com as injeções hormonais em troca de triplicar o capital atual da família.
“Por minha causa…?”
— Eles duvidaram de mim mesmo tendo visto meus resultados previamente, contudo, não tinham nada a perder, já que quanto mais tempo eu permanecesse como mulher, mais eles lucrariam. E uma semana antes da formatura do ensino médio, eu já havia conseguido quadruplicar o nosso capital.
— Nossa… — Disse atônito.
— Eu sei, sou incrível! — Sorriu orgulhoso.
Fiquei encarando-o perplexamente por um bom tempo. Eu costumava me lamentar pensando no quanto minha vida era digna de pena, só que ao olhar para ele naquele momento sorrindo daquela forma depois de tudo, me fez sentir vergonha pelo meu vitimismo.
— Eu sei o que você tá pensando e relaxa, eu tô bem. Sou muito forte. E em todos os sentidos! — Afirmou e piscou para mim.
— Como você pode fazer piadas numa hora dessas, seu idiota! — Falei empurrando-o enquanto limpava as lágrimas remanescentes.
“Finalmente o mal-estar parece ter diminuído. ”
— Quem disse que tô brincando? Dá uma olhada nessas belezinhas. Me custaram muitas lágrimas, suor e malhação para adquirir. — Exibiu os bíceps bem definidos com orgulho.
— Algo me diz que você ainda não está me contando tudo. — Indaguei mudando o foco do assunto.
Ele pausou por um momento antes de me responder com seriedade.
— Digo o mesmo… quer me contar agora? Eu já sou rico o bastante para romper esse contrato entre vocês e suprir as necessidades da sua família. Se você aceitar, eu me cas-
— Não é nada demais. Só besteira de casal mesmo. Acho que ando com tempo livre demais. Só isso. — Afirmei após interrompê-lo.
— (…)
Realmente eu estava sendo sincero, mas, vê-lo ficar cabisbaixo cortou meu coração. Só que como sempre, ele não se deixou abalar e voltou ao seu tom humorístico de sempre.
— Então, finalmente hein?! Nossa, o cachorro da minha vizinha teria sido mais rápido do que você com aquelas pistas. E você ainda se diz expert em poemas… tsc, tsc,tsc.
— Você está querendo morrer de verdade? Eu estive na porcaria de um choque traumático por causa da sua falsa morte! Como você esperava que naquele momento eu fosse ligar quimera e comunicação com notícia falsa, seu-.
— Hahaha tá, foi mal!
— Você também não ajudou. Quando eu te questionei, você disse que não era a Trin.
— Eu sei, desculpa. Fazia parte do acordo. Até eu me estabelecer como Troian, meu celular estava grampeado e eu tinha pessoas me vigiando por todos os lados para garantir o segredo e integridade dos meus pais.
— Então, o parque naquela época…
— Uhum. Foi assim que fomos pegos. — Completou pensativo.
— Seus pais são horríveis. E eu achando que os meus eram ruins…
— É, eu sei. Por isso cortamos os laços. Eles não queriam um filho, queriam dinheiro. Então, dei a eles o que queriam.
— (…)
— E então, estou perdoado?
Depois de mais algum tempo conversando sobre os enigmas no poema e rindo ao relembrar memórias da época do internato, Troy me surpreende de novo.
— Lián! Você precisa conhecer o seu filho!
— Que filho?!
— O Valentine! — Proferiu ao me conduzir às escadas acima.
“Valentine?”
— Vem!
Ao abrir a porta para eu entrar, fiquei maravilhado.
— Esse quarto eu desenhei pensando em você.
— Isso… Isso é…
“Demais…”
Logo na entrada havia um sofá de 3 lugares e uma mesa de centro. Ao lado do sofá haviam 2 degraus que levavam a um espaço com enormes prateleiras de livros em todas as paredes exceto onde ficava a porta.
— Abra.
Atrás da porta tinha uma cama espaçosa, criado mudo, guarda-roupas, TV, entre outras coisas. Mas o que realmente chamava a atenção era o aquário de tamanho considerável perto da janela com um peixe preto dentro.
— O koi!
Lembrei de uma conversa antiga com a Trin sobre o peixinho que ela havia comprado para mim mas que eu nunca tinha tido a oportunidade de conhecer.
— Tomei a liberdade de nomeá-lo já que você não conseguia se decidir.
— É um bom nome. Obrigado.
— Fiz um ótimo trabalho como pai, não fiz? Olha como ele tá uma belezura!
Em poucos minutos fui das lágrimas ao riso e agora me sentia perto de chorar novamente. De emoção.
— Você é mesmo incrível. — Afirmei com seriedade.
Ver Troy ruborizar e ficar sem palavras é sem dúvidas um evento raro. Ele parece não ter vergonha de nada normalmente.
Um tempo se passou enquanto conversávamos sobre o meu mais novo filho e quando nos demos conta, já havia anoitecido. Troy então, me levou de volta para casa.
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