Afeição: O Chamado do Rei - Capítulo 5 — Parte 2
Durante os dois dias seguintes, Takahito não fez nada além de continuar dormindo, morto para o mundo.
Ele só estava acordado quando Eugene trazia as refeições para o seu quarto. Comia as três refeições diárias que lhe eram trazidas sem deixar nada para trás, trabalhando para restaurar suas forças.
Bem, seria inútil se ele não pudesse mover seu corpo quando a chance de escapar viesse.
Para que pudesse agir prontamente quando chegasse a hora, ele precisava recuperar as forças que havia perdido.
Tendo estabelecido seu objetivo, ele foi de alguma forma capaz de suprimir a impaciência e a ansiedade que gradualmente se apoderavam dele.
Se preocupar demais só o deixaria mais sobrecarregado e estressado, resultando na perda de sua concentração. E não era isso o que ele queria.
De qualquer forma, agora sua principal prioridade era descansar o corpo. Ele se persuadiu com esse pensamento.
Seu corpo e espírito, que haviam sido muito danificados e precisavam dormir, podiam descansar o quanto fosse necessário.
Exceto para ir ao banheiro, Takahito passou os dois dias principalmente na cama, durante os quais Arthur não apareceu.
Ele provavelmente estava na residência principal de que Eugene havia falado, a ‘Gosford House’.
Ele não conseguia se livrar do medo de que Arthur poderia aparecer e ataca-lo novamente sem avisar, só quando o segundo dia terminou sem que nada acontecesse, ele suspirou de alívio do fundo de seu coração.
Mas, ao mesmo tempo, um sentimento sombrio brotou em seu coração.
(No final, fui deixado de lado?) (T/N: O lobinho interno falando hehehe)
Deixando tudo para Eugene, o homem não veio ver seu estado nem uma vez.
Ou seja, mostra que o homem não tem absolutamente nenhum interesse em Takahito como pessoa …
Para Arthur, ele era apenas um de vários … talvez estava até entre dezenas de parceiros, além disso, um do mesmo gênero, e não havia envolvimento de sentimentos. Contanto que ele cumpra seu dever como Alfa, ele provavelmente não sentiria necessidade de vê-lo.
Porém, para Takahito, mesmo que não fosse o resultado que ele desejava, Arthur era seu ‘primeiro parceiro’.
Embora sua virgindade tivesse sido roubada da pior maneira por aquele homem odioso, quando ele foi tratado de forma tão indiferente, obviamente não o fez se sentir bem.
(Não … é melhor que ele não venha. Assim é melhor.)
Sua irritabilidade era culpa de seu orgulho estúpido.
Porque até este ponto de sua vida ele nunca havia sido tratado de maneira tão fria.
(Esse tipo de cara, não vale a pena se preocupar. É melhor que ele não apareça neste lugar.)
Tendo de alguma forma consertado seu respeito próprio, ele ainda carregava um pouco de insatisfação em um canto de seu coração ao adormecer, quando acordou já era a manhã do dia seguinte.
“Bom dia.”
“…bom dia.”
Eugene trouxe chá com leite pela manhã. Na bandeja de prata, havia um bule e uma xícara de chá, que ele colocou ao lado da cama.
Takahito tinha ouvido falar que os ingleses gostam de chá-preto, mas realmente parecia que eles bebiam várias vezes ao dia. Toda vez que Eugene fazia chá-preto, ele trazia um pouco para o quarto de Takahito, e assim eles bebiam o chá juntos todas as vezes.
O chá com leite era suave, com bastante açúcar e leite adicionado, era mais saboroso do que qualquer chá-preto que ele já havia bebido. A qualidade provavelmente era diferente por causa das folhas de chá usadas, e provavelmente também havia diferenças na preparação.
(O chá está delicioso esta manhã também.)
Ao saborear o chá-preto ricamente perfumado de uma xícara de chá antiga, deitado em uma cama de dossel, ele se sentiu como se tivesse se tornado o protagonista de um filme estrangeiro.
Esperando que Takahito terminasse de beber o chá com leite, Eugene perguntou “Como você se sente?”
“… Consideravelmente melhor.”
Desde o momento em que acordou, sentiu que sua força havia voltado. O cansaço físico e a dor muscular aguda que todo o seu corpo sofrera quando ele foi dormir ontem à noite desapareceram completamente.
“Você pode tentar se levantar?”
Takahito concordou com a cabeça. No momento, ele queria saber em que grau havia se recuperado e também explorar o lugar fora de seu quarto.
Rejeitando a ajuda de Eugene com um ‘Eu vou ficar bem’, ele colocou os pés dentro dos chinelos de couro que haviam sido deixados no tapete.
Até ontem, apesar de ir apenas ao banheiro, seu andar tinha sido instável, mas esta manhã ele não cambaleou.
Colocando um casaco por cima do pijama, ele saiu pela porta. Por ser a primeira vez que saía da sala, ele não sabia para onde ir então confiou em Eugene que estava por perto para guiá-lo.
Não havia janelas no corredor feitas de tábuas de madeira, a única iluminação era oferecida pelos lustres pendurados no teto e as lâmpadas instaladas na parede em intervalos iguais. Entre essas lâmpadas, como esperado, havia 4 portas.
Passando em frente a essas 4 portas, quando viraram no corredor, chegaram a uma escada. As escadas eram feitas de madeira e tinham um tapete vermelho profundo espalhado sobre os degraus. Os corrimãos eram de um lustre preto que não indicava sua idade.
“Aquela sala … era no segundo andar?”
“Sim, os quartos de hóspedes e os quartos pessoais dos residentes ficam no segundo andar.”
Ele nem mesmo sabia disso, já que as venezianas estavam abaixadas nas janelas do quarto em que estava usando.
“Os quartos de hóspedes ficam no primeiro andar. Você conseguirá descer as escadas? ”
“…provavelmente.”
Usando o corrimão, ele desceu lentamente as escadas, um degrau de cada vez. Chegando ao primeiro andar, eles voltaram a caminhar lado a lado.
“Aqui é a sala de jantar, esta é a cozinha, esta porta é o banheiro do primeiro andar e aqui está a lavanderia.”
Eugene explicou um por um. Depois de guiá-lo rudemente pelos quartos de hóspedes, Eugene finalmente o conduziu a uma grande porta dupla de madeira e ele a abriu.
“…”
Imediatamente Takahito desviou o rosto da luz que brilhava em seus olhos. Esse brilho era algo que ele não sentia há algum tempo.
Gradualmente, seus olhos se ajustaram e o estado da sala ficou claro.
Havia uma pintura elaborada de uma floresta e animais desenhados em toda a superfície do teto que era tão alto que ele teve que olhar para cima. O lustre pendurado no teto brilhou como uma joia quando a luz o atingiu.
Do lado direito havia uma lareira acesa. Ela era cercada de tijolos e havia uma mesa baixa e um sofá ao seu redor. Um tapete com tapeçaria de *gobelins* cobria o chão, como uma loja de antiguidades, a sala era mobiliada com mesas *consolas*, sofás, armários de vidro e uma mesa redonda com um pé esculpido.
*gobelins – um tipo de tapete feito em Paris, ou coisa assim;
*consola- parece ser um tipo de mesa, dessas que ficam no canto junta a parede;
A parede do lado esquerdo era coberta por uma estante cheia de livros encadernados em couro. A outra parede foi decorada por uma pintura a óleo em moldura decorativa, havia ainda um espelho e tapeçarias de forma a cobrir totalmente o espaço.
“Este é o salão e também a sala de estar.”
Eugene explicou.
Do ponto de vista de Takahito, o quarto em que ele dormiu já era lindo o suficiente, mas esta sala estava em um nível completamente diferente. As instalações da própria sala, bem como os móveis nela incluídos, à primeira vista, você poderia dizer que eles continham história …
(…surpreendente)
Sentindo-se meio sobrecarregado, Takahito inspecionou a sala espaçosa, parando os olhos na janela. Sem saber o que estava fazendo, ele caminhou até ela e pressionou o rosto contra o vidro da janela.
“…Neve!”
Inconscientemente, ele ergueu a voz. Limpando o vidro embaçado por sua própria respiração com a manga, ele colou seu rosto ainda mais nele.
O que se refletiu em seu campo de visão foram árvores congeladas e arbustos próximos uns dos outros, e o solo coberto por uma espessa camada de neve caída.
Agora era um mundo prateado.
Em Tóquio, a neve também caía de vez em quando. Mas não assim, não se acumulou de forma que cobrisse completamente o solo.
(Sério … este é o Reino Unido)
Esta não era Tóquio, onde ele estava acostumado a viver e … onde todo mundo estava.
Durante isso, as emoções brotaram dentro dele e sua espinha gelou.
“Este ano caiu muita neve. A floresta está completamente coberta.”
Por perto, atrás dele, Eugene começou a falar. Sem fazer nenhum som em resposta, Takahito olhou para o cenário de inverno em silêncio enquanto Eugene continuava.
“Esta casa é uma das propriedades da família Gosford no Reino Unido, como você pode ver, está localizada no meio de uma floresta. Seu apelido é ‘Casa da Floresta’. Nas instalações do vizinho, no Parque Nacional, há muitos cenários fantásticos, como campos intocados e pântanos, bem como o pico mais alto do País de Gales e o maior lago natural.”
“…”
Enquanto os olhos de Takahito se concentravam na vista do lado de fora da janela, Eugene sussurrou em seu ouvido.
“Não importa o quanto você procure, não há casas particulares nas proximidades.”
“…”
Quando ele se virou com os ombros trêmulos, ele colidiu com olhos azuis claros.
Em seus olhos não havia o calor usual, eles estavam um tanto distantes.
Depois de um tempo olhando para Takahito, cuja expressão havia se enrijecido no silêncio, Eugene abriu a boca.
“É por isso que … quero que você não pense em coisas como fugir daqui.”
Mesmo que ele fugisse, ele não tinha a menor idéia de onde ficava aquele lugar.
A informação que ele recebeu sobre este local era apenas que era no País de Gales, Reino Unido, e que era perto de um Parque Nacional.
“A floresta entre aqui e o Parque Nacional é profunda e extensa. Quem não conhece a terra certamente se perderá. Se alguém se perder na floresta coberta de neve, existe o risco de hipotermia. Você provavelmente sabe disso, mas se a hipotermia continuar por muito tempo, a pessoa congelará até a morte.”
Com o rosto de boneca falando calmamente em seu campo de visão, Takahito mordeu o lábio suavemente.
Como disse Eugene, vagar pela floresta nevada em sua forma humana seria um ato suicida.
Provavelmente foi por isso que Arthur o colocou sob confinamento indulgente nesta ‘Casa da Floresta’.
E colocou um Omega leal às ordens do Alfa como seu guardião.
(Não importa o quão gentil Eugene seja, ele ainda é … da família de Arthur)
Afinal, ele é o inimigo. Ele não se tornará seu aliado.
Ele não agirá de maneira que prejudique a família Gosford.
Ele teve a sensação de que percebeu isso mais uma vez.
(Como eu pensei, só poderia escapar usando minha própria força)
Se ele fugisse, teria que ser na noite de lua cheia quando seu potencial atingisse o máximo, e ele poderia manter sua forma de lobisomem por mais tempo.
Ainda faltavam 9 dias para a lua cheia.
No entanto, durante esses 9 dias, ele provavelmente será atacado por Arthur.
Você ainda não é uma ‘Eve’.
Arthur havia dito isso naquela época.
Mesmo se ele não fosse atualmente uma ‘Eve’, e se ele ‘mudasse’ como o homem havia declarado?
E se a ‘Eve’ dentro dele acordasse nesses 9 dias e ele ficasse grávido do filho daquele homem?
Quando o pensamento de um futuro indescritivelmente cruel veio à sua mente, o corpo de Takahito estremeceu.
Se tal coisa acontecer, ele não poderá voltar para o Japão … para sua família.
(Não. Eu definitivamente não vou deixar isso acontecer.)
Enquanto estava perdido em seus pensamentos de furia, Eugene, que estava olhando diretamente para ele com seus olhos azuis claros, o informou em um sussurro.
“Esta noite, Arthur está vindo aqui.”
…….
Conforme a noite se aproximava, um feixe de ansiedade cresceu em seu peito.
Takahito se arrependeu ferozmente de que antes embora apenas por um momento tenha se irritado com o fato de Arthur não aparecer.
(Você não precisa vir. Você não precisa vir de jeito nenhum!) (T/N: Já era leke kkkkkkk)
Talvez porque seu estômago se embrulhou, ele não teve apetite e não foi capaz de tocar na comida que Eugene trouxe para seu quarto.
Ele esperou pela visita do homem com uma ansiedade que era uma mistura de impaciência e ansiedade, mas embora o sol já tivesse se posto e a noite caído, não havia nenhum sinal da figura de Arthur.
Eugene também não parecia saber com clareza a que horas Artur chegaria. Desde que ele recebeu a notificação ‘Eu voltarei amanhã’ ontem, parecia que não houve nenhum contato hoje.
De acordo com Eugene, Arthur tinha muitos deveres como chefe da Família Gosford, então ele estava muito ocupado. Tinha pensado em dizer que, se fosse esse o caso, não precisava se forçar, mas porque seria inútil mesmo que dissesse a Eugene, engoliu em seco as palavras que não haviam chegado a sua garganta.
Eugene apareceu em seu quarto antes das 10 horas da noite, dizendo:”Se você precisar de alguma coisa, me chame. Estarei no meu próprio quarto.” Ele se retirou deixando para trás essas palavras.
Desde então, uma hora se passou.
Sentado em cima do sofá, abraçando um dos joelhos, Takahito olhou atentamente para o relógio na parede.
Já passava das 23:00h. Em mais uma hora a data mudaria.
Os planos do homem provavelmente mudaram. Ele provavelmente teve que terminar negócios urgentes e não pôde vir.
(Assim … ele não virá)
Com um sentimento semelhante a uma oração, ele agarrou com força o outro joelho.
Esta noite, Arthur virá aqui.
Vir aqui – isso provavelmente significava que ele estaria aqui para ‘aquilo’.
Havia apenas um objetivo para aquele homem que estava entusiasmado com seu dever de líder.
Derramar sua semente.
Só de lembrar de ter sido atacado por aquele homem naquele dia, suas costas estremeceram. Antes como os arrepios não paravam, nesses dois dias ele havia selado todas as lembranças daquele dia. Agora que o selo foi quebrado, seu corpo começou a tremer como se estivesse com raiva.
Algo como aquilo acontecer novamente … ele não podia suportá-lo.
Anteriormente, graças a ainda ser imaturo, ele havia de alguma forma evitado a concepção.
No entanto, ao fazer isso de novo, na próxima vez, a chance de concepção não seria zero.
Você é uma ‘Eve’.
Eu posso dizer.
O próprio Takahito não acreditava que era uma ‘Eve’, mas sempre que ele se lembrava da confiança avassaladora na voz do homem, a identidade que ele havia construído nesses 16 anos era abalada. Nessa medida, as palavras de Arthur tinham muito poder de persuasão.
Durante o tempo em ficasse aqui, sem que ele mesmo percebesse, seu corpo provavelmente se transformaria em uma ‘Eve’.
Afinal, porque ele não entendia a forma da transformação do lobisomem, mesmo que algo acontecesse, não seria estranho.
(…Eu estou assustado)
Seu corpo não sendo seu, era aterrorizante.
Juntamente com uma vaga ansiedade em relação às mudanças em seu corpo, e um medo de que a porta se abriria a qualquer momento e Arthur entraria por ela, seu coração emitiu um som forte e turbulento. Seu pulso acelerou e seus batimentos cardíacos também ficaram mais rápidos.
Ele não conseguia mais ficar parado, então Takahito se levantou do sofá. Ele se moveu freneticamente pelo espaço aberto da sala.
Ele caminhou desconcertado por cerca de 10 minutos, mas não conseguiu recuperar a presença de espírito.
“…Droga.”
Embora estivesse com medo de Arthur, que não sabia quando viria, ele não suportava esperar mais.
Tendo repentinamente ultrapassado o limite de sua paciência, Takahito saiu da sala e entrou no corredor.
Para não ser notado por Eugene, que estava em seu quarto, a um cômodo de distância do seu, ele caminhou furtivamente pelo corredor e desceu as escadas.
Primeiro ele foi em direção à entrada, mas a porta estava trancada por dentro. A chave do cadeado provavelmente estava com Eugene.
Ele procurou outras portas de fuga além da entrada, mas todos os quartos do primeiro andar estavam trancados e havia barras de ferro nas janelas do corredor. O espaço entre aquelas barras era estreito, seria impossível escapar.
Além disso, mesmo que ele conseguisse sair, estava escuro lá fora e uma espessa camada de neve havia se acumulado. Em sua forma humana, ele não duraria nem 5 minutos antes que a hipotermia o atingisse, e como Eugene havia avisado, seria um caminho para uma morte breve por congelamento.
Mesmo que ele corresse, agora não era a hora. Seria depois que a lua ficasse mais cheia.
Tendo abandonado por enquanto seus planos de sair, Takahito vagou pelo primeiro andar desabitado procurando pelo menos um lugar onde pudesse se esconder. Enquanto fazia isso, também procurou um telefone fixo, mas não havia sinal dele em lugar nenhum. De uma forma ou de outra parecia que não havia linha telefônica instalada na mansão. Eugene provavelmente contatou Arthur pelo celular.
A mochila, o uniforme que usava e o celular que estava no bolso foram confiscados no momento do sequestro e ele não sabia onde estavam. A existência de um telefone fixo tinha sido seu raio de esperança, mas essa expectativa desapareceu.
Sentindo-se desapontado, ele continuou a procurar um lugar para se esconder. Depois de um tempo, ele correu para uma escada diferente daquela de madeira que ele havia usado antes. Cercado por paredes de alvenaria, era uma escada para o andar de baixo.
(Existe um porão?)
Ao descer as escadas de pedra em espiral, ele colidiu com uma porta de metal. Felizmente, não estava trancada.
Além da porta aberta de metal pesado, havia um espaço de 10 tatames (16,56 m2). O ar estava úmido e frio, então apesar de usar um casaco por cima do pijama, Takahito estremeceu.
Acendendo uma lâmpada em miniatura que estava no teto, ele deu uma olhada ao redor da adega, parecia uma sala para guardar mantimentos e vinho. Infelizmente, não havia saída levando para fora.
(Este é um beco sem saída?)
Atrás de uma prateleira cheia de enlatados e sacos de farinha, Takahito se sentou.
Encostado na parede de pedra, ele suspirou um pouco. Finalmente, suas emoções se acalmaram um pouco.
Fazer esse tipo de coisa só o daria mais tempo, ele sabia disso.
Por exemplo, mesmo que conseguisse sobreviver esta noite, ele não sabia se faria de novo amanhã.
Mesmo assim, por um minuto, mesmo por um segundo, ele queria adiar outro encontro com aquele homem.
(Não quero fazer aquilo. Não quero repetir aquilo …)
Enterrando o rosto nos joelhos puxados para cima, ele fez seu corpo o menor possível.
Ele se perguntou há quanto tempo ele havia se agachado ali, imóvel?
Com a oscilação do ar no porão, os ombros de Takahito tremeram.
“…”
Levantando a cabeça que estava enterrada em seus joelhos, Takahito prestou atenção ao som que ouvia.
Aooo… Aoooo…
De algum lugar vinha um chamado. Parecia triste, mas também cheio de uma espécie de selvageria contida.
Ele logo percebeu que era o chamado de um lobo.
Aooo… Ooooo…
Como se fosse realizado por seus ancestrais distantes, foi um uivo fervoroso, sonoro e cheio de emoção.
Fechando os olhos, por trás das pálpebras, apareceu uma figura com orelhas abaixadas e o nariz apontado para a lua distante.
Por causa do belo som uivante que perfurou a noite, Takahito até esqueceu sua localização atual e ouviu com atenção.
Mais do que qualquer música que ele tinha ouvido até agora, isso abalou seu coração.
Enquanto ele ouvia a melodia transparente com atenção extasiada, olhos fechados, sua coluna ficou entorpecida e o calor se acumulou no centro de seu corpo.
(…quente)
Sua pele corou como se tivesse sido aquecida por um fogo, e lágrimas fracas escorreram dos cantos de seus olhos.
Ele nunca havia uivado, mas tinha ouvido seu tio e sua mãe fazerem isso.
No entanto, esta foi a primeira vez que ele sentiu que seu coração estava agitado assim.
(O que é isso?)
Seu peito tremia, e por algum motivo ele sentiu vontade de chorar …
Seu coração estava sufocando, doendo, e quando ele percebeu, já havia agarrado com força a ponta da manga de seu casaco com a mão.
(Este tipo de ….. é a primeira vez)
Enquanto estava perplexo com a sensação que sentia pela primeira vez na vida, de repente o uivo parou.
Após uma breve pausa, ele estava imerso na memória persistente do uivo lamentoso.
Agora mesmo, seu coração estava em ressonância com um lobo desconhecido.
Até agora, aquele que ele estava sincronizado sempre foi o mesmo que nasceu e foi criado junto com ele, seu irmão Kizuki. Mas apesar disso …
(Era quase … como se eu estivesse sendo chamado.)
Como se o lobo estivesse perguntando, ‘onde você está? Me responda agora mesmo!’
Enquanto ele estava pensando sobre o chamado selvagem como se estivesse tentando digeri-lo, Takahito captou um ruído estranho em sua audição.
O som dos passos de alguém descendo a escada de pedra.
Click, clop, click, clop.
(Alguém … chegou!)
Em pouco tempo, os passos pararam e com um som pesado a porta se abriu. E fechou com um estrondo.
(Alguém entrou!)
Seu coração começou a disparar.
Takahito abafou a respiração e encolheu o corpo.
Click, clop.
O som de sapatos batendo no chão de pedra se aproximou. Quase, como se soubesse da localização de Takahito, a pessoa se moveu em linha reta, sem hesitar em seus passos.
Por fim, o som de passos parou e uma grande silhueta apareceu à sua frente.
Para ter certeza da verdadeira identidade da sombra que pairava sobre ele, Takhito timidamente ergueu a cabeça.
Mesmo na fraca luz de fundo, ele ainda podia discernir claramente os detalhes daquele rosto finamente esculpido.
Takahito abriu a garganta rígida e gritou com voz rouca.
“…Arthur!”
Publicado por:
- Nachan
- Tradutora de novels do inglês, espanhol, coreano e chinês. Também fiz um site com todas as novels que eu traduzo e com outras de uma amiga, tem mais lá, além do meu perfil do wattpad.
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