JOGO DE TESTE DE VIDA - Capítulo 304: Leng Miao
Leng Miao sempre foi um lobo solitário, desde pequeno.
Aos olhos dos adultos, ele era o “filho dos outros”, sempre com as melhores notas, sem dar trabalho. Já para as crianças, era um esquisitão: frio, isolado e irritante.
De acordo com aqueles que cresceram na mesma rua que ele, desde o ensino fundamental até o médio, todo início de ano escolar era a mesma coisa: o primeiro lugar da turma subindo ao palco para representar todos os alunos no discurso de abertura era sempre Leng Miao.
As escolas podiam mudar, mas Leng Miao continuava o mesmo. Colocavam as fotos de seus discursos nos murais para inspirar os estudantes a seguirem o exemplo do “modelo perfeito”, mas alguém espirituoso pegou um marcador e escreveu embaixo de uma dessas fotos:
【Com todo respeito, os presentes aqui são todos amadores.】
A frase, combinada com o rosto gelado de Leng Miao, exalava sarcasmo. Muitos suspeitavam que o segundo lugar do ranking tivesse feito isso. O tal segundo lugar, sentindo-se injustiçado, quase foi até a sala de Leng Miao para desafiá-lo.
Seu colega de classe o impediu, dizendo: “Você não é páreo para ele.”
Nem nos estudos, nem nas brigas.
Leng Miao era uma lenda viva.
Claro, nem todos os professores gostavam de alunos brilhantes como Leng Miao, porque ele sempre se atrasava. Não era por preguiça ou por dormir demais; simplesmente não gostava das aulas matinais.
Os professores já haviam brigado com ele, chamado seus pais, mas nada funcionava. Ninguém conseguia controlá-lo, e era possível perceber o desprezo em seu olhar para com os outros.
Os professores questionavam a competência dos pais por não conseguirem disciplinar o próprio filho.
Os pais se perguntavam o que os professores faziam para não conseguirem lidar com um aluno.
A personalidade de Leng Miao não era exatamente amigável, então era natural que ele não tivesse muitos amigos ao longo da vida. E após se tornar doutor, as pessoas capazes de conversar com ele eram ainda mais raras.
Seus pais se preocupavam com isso, mas, diante de um filho tão excepcional, agiam com tanto cuidado que o que deveria ser uma relação próxima acabou ganhando um ar de formalidade. A única pessoa que conseguia tratar Leng Miao como um garoto comum, bagunçando seu cabelo ao abraçá-lo, era sua avó.
Infelizmente, ela morava em Suzhou, que não era tão longe de Xangai, mas também não era perto. A senhora estava acostumada com o campo e não se adaptava aos becos estreitos de Xangai, então Leng Miao só a visitava em feriados.
Sua avó criava dois grandes gansos brancos. O invencível Leng Miao certa vez foi perseguido por um deles, quase caindo num córrego. Sua avó, encostada na cerca, apenas ria, como se os gansos fossem seus netos de verdade.
Quando ela faleceu, Leng Miao já era adulto. Ele estava participando de uma competição no exterior, mas ao receber a notícia, largou tudo e voltou para casa.
O funeral no campo foi animado, com música e alegria. Todos estavam bem-humorados, menos Leng Miao, que, com o rosto sério, parecia um estranho entre eles.
Alguns anos depois, Leng Miao também morreu. Para alguém da sua idade, só havia duas opções: uma doença grave ou um acidente. O caso dele foi o segundo. Ele morreu ao tentar salvar um gato, sendo atropelado por um carro dirigido por alguém bêbado, que inexplicavelmente havia subido na calçada.
Um fim desses nem vale a pena mencionar.
Agora, como um Grande Mago, Leng Miao continuava frio e reservado. Ele estava em uma loja de chá na esquina, tomando um chá com pérolas e reclamando: “Está doce demais.”
Leng Miao preferia chás mais amargos; os muito doces lhe causavam desconforto. Rong Yi, no entanto, parecia se divertir provocando, entregando-lhe uma bebida de açúcar mascavo com pérolas, servida num copo de vidro em forma de lâmpada com um canudo rosa.
“Você acha que isso combina comigo?” Leng Miao perguntou com a cara fechada.
“Combina perfeitamente.” Rong Yi, que agora tinha ainda mais confiança como dono de loja, respondia sem medo, deixando de lado o antigo jeito gentil.
Sim, Rong Yi havia participado de um grande concurso e se tornado o orgulhoso… dono de uma loja de chá.
Leng Miao não entendia por que alguém escolheria abrir uma loja de chá, mas depois que Yan Yun partiu, Rong Yi parecia estar em baixa. Agora que estava tentando se recuperar, Leng Miao evitava criticar. Ele nunca foi do tipo que se intrometia na vida dos outros; se Rong Yi queria fazer algo, que fizesse.
Quanto a Leng Miao, ele continuava solitário, evitando amarras. Já tinha pontos suficientes acumulados para reencarnar quando quisesse.
Nos dias em que não estava em missões, ele aparecia na loja. Sem saber como, acabou ajudando nas tarefas. Depois de duas semanas, sua habilidade em fazer chá já era superior à do próprio dono.
Rong Yi não conseguia entender. Leng Miao explicou: “Você não tem talento para fazer chá.”
Seu cérebro provavelmente foi danificado enquanto Yan Yun estava nele, pensou Leng Miao. “Quantas vezes preciso dizer para não colocar tanto açúcar? O açúcar na Cidade da Noite Eterna é de graça, por acaso?”
Rong Yi ouvia uma vez e esquecia na próxima. Ele continuava a experimentar novos sabores, mas as vendas eram péssimas, nem mesmo com descontos.
Por sorte, o chá carro-chefe da loja seguia uma receita pronta, vinda do Reino das Cem Flores no continente de Sisília. Até o Senhor dos Corvos aprovava.
Hoje, a loja estava vazia. Leng Miao observava Rong Yi no balcão, testando mais uma de suas criações, e comentou: “Você engordou.”
Desde que Yan Yun havia partido, Leng Miao notou um leve ganho de peso no rosto de Rong Yi. Agora, com a loja de chá, isso ficou mais evidente.
“Já disse para não colocar tanto açúcar.”
Rong Yi levantou os olhos, encarou-o por dois segundos e disse: “Sabe por que você só tem um amigo?”
Leng Miao respondeu sem hesitar: “Porque eu não quero ser amigo deles.”
“Porque você fala demais”, corrigiu Rong Yi.
“Eu falo muito pouco.”
Com isso, Rong Yi o expulsou da loja. Apesar de ser agora dono de uma loja de chá, ele ainda tinha um pouco de temperamento. Na verdade, estava mais relaxado do que antes.
Do lado de fora, com a bebida doce demais nas mãos, Leng Miao olhou para Rong Yi através do vidro. Para provar que falava pouco, ele permaneceu em silêncio.
Tang Cuo e Jin Cheng também costumava se comunicar com expressões, algo que Leng Miao achava bem estiloso.
Mas claramente Rong Yi não entendeu a mensagem. Virou-se e voltou ao balcão, concentrado em sua criação artística.
Leng Miao, vendo seu reflexo na porta de vidro, questionou: Minha expressão é tão difícil de entender? Então, deu as costas e foi embora.
A frágil amizade balançava como um barco que vira ao menor movimento.
O solitário Leng Miao caminhava pelas ruas da eterna noite com uma xícara de chá com leite nas mãos. Ao passar por uma loja de café da manhã, comprou um pão frito. Chá com leite e pão frito lhe traziam à memória os tempos de escola, quando frequentava uma aula de interesse em Go aos sábados. Um dia, o professor lhe perguntou por que havia chegado atrasado novamente.
Ele respondeu: “Porque a loja de chá só abre às dez da manhã.”
O professor retrucou: “Seus pais disseram que você saiu de casa bem cedo.”
Leng Miao: “Tinha gente brigando na rua.”
Professor: “E o que isso tem a ver com você? Leng Miao, no caminho para a escola, você deveria estar focado. Não pode se atrasar por ficar assistindo brigas ou comprando chá. Entendeu?”
Leng Miao: “O brigão era meu professor de matemática.”
O professor de Go ficou em silêncio por um longo tempo antes de finalmente perguntar: “Ele ganhou?”
Leng Miao balançou a cabeça.
Professor de Go: “Você não fez nada, certo?”
Leng Miao: “Aplaudir conta?”
Depois disso, o professor de matemática colocou Leng Miao em sua lista negra, mas, felizmente, o professor de Go ainda gostava bastante dele. Muitas vezes, enquanto jogavam Go, discutiam sobre a vida.
Agora, Leng Miao já havia passado daquela fase um pouco rebelde, mas ao comer pão frito com chá com leite, sentia um leve desdém.
“Doce demais”, comentou Leng Miao.
No caminho, passou por um casal que, ao ver o chá com leite em forma de lâmpada em suas mãos, ficou bastante animado. O rapaz, cedendo aos pedidos insistentes da namorada, criou coragem para perguntar onde ele havia comprado. O que ele claramente não sabia era que estava diante do famoso grande mago espacial listado na renomada classificação de Evernight.
Quem sabia por que Rong Yi decidiu abrir uma loja de chá na Rua Cruz Leste? Os novos jogadores dessa área sempre eram extremamente ousados, a ponto de não saberem nem como se escreve a palavra “morte”.
“Uma Pequena Feijão Vermelho, Rua Cruz Leste, número 47”, respondeu Leng Miao com uma expressão impassível.
“Uma Pequena Feijão Vermelho?” O rapaz ficou confuso.
“É o nome da loja de chá”, esclareceu Leng Miao.
“Ah, entendi. Obrigado!” O rapaz agradeceu educadamente e saiu com a namorada, os dois visivelmente felizes.
Que irritante.
Segurando o chá com leite, Leng Miao continuou andando. Quanto mais pensava, mais achava algo errado: Rong Yi o expulsara da loja, então por que ele ainda ajudava a atrair clientes? Talvez fosse por isso que “Uma Pequena Feijão Vermelho” ainda não havia falido.
Em teoria, falência não era algo que existisse em Evernight, já que as lojas dos jogadores contratados pelo sistema eram essencialmente propriedades públicas da cidade. Porém, com a nova regulamentação, tudo mudou: jogadores contratados que abriam lojas ganhavam pontos, pagavam aluguel e ficavam com o excedente. Se houvesse prejuízo e não conseguissem pagar o aluguel, teriam que recorrer a masmorras ou encontrar outras soluções. Caso contrário, acabariam na prisão.
De acordo com os decretos do “Chapéu Preto”, até mesmo jogadores contratados agora podiam entrar em masmorras.
Às vezes, Rong Yi acompanhava Leng Miao, sob o pretexto de procurar ingredientes mais variados. Leng Miao nunca entendeu exatamente o que um vendedor de chá com leite precisava encontrar. Era para fazer chá ou cozinhar uma sopa medicinal?
Deixa pra lá.
Leng Miao se considerava uma pessoa generosa, capaz de perdoar os pequenos caprichos de seus amigos. Quando terminou de beber o chá, não jogou fora o copo de vidro, mas o levou de volta para casa.
Ele morava sozinho. Sua casa de solteiro tinha um estilo extremamente minimalista – tão vazia que até um cego poderia andar por ela sem esbarrar em nada. Um dia, Chi Yan e Rong Yi apareceram por lá. Ao verem o lugar, quase choraram de pena e forçaram Leng Miao a aceitar um presente “acolhedor”: uma planta de dinheiro.
A planta agora estava tão viçosa que alguns galhos cresciam de forma descontrolada. Leng Miao os cortava e os colocava em garrafas de vidro, e até isso prosperava. Sua casa acabou cheia de plantas, ocupando todas as janelas.
Cada jogador que passava por lá suspirava: “Quem diria que o grande mago de aparência tão fria amava tanto a vida? Olha só essas plantas, que lindas!”
Leng Miao não sabia disso. Hoje, como de costume, levou o copo para casa, encheu-o de água, colocou os galhos da planta e o posicionou na janela. A lâmpada redonda e fofa combinava perfeitamente com a vegetação exuberante.
Nada mal, pensou Leng Miao.
Publicado por:

- DanmeiFuwa
-
Sou apaixonada pelo mundo das novels BL chinesas e venho me dedicando à tradução desde 2021 no Wattpad. Adoro o que faço, mesmo sem receber nada em troca. Disponibilizo minhas traduções aqui, pois nunca se sabe quando uma novel pode ser removida do Wattpad.
Se vocês gostam da minha tradução, considerem me apoiar com uma doação. Qualquer contribuição é muito bem-vinda e me ajuda a continuar trazendo mais conteúdos de qualidade! Obrigada pelo apoio e por acompanharem minhas traduções. 💖
PIX: [email protected]
Ko-fi: https://ko-fi.com/danmeifuwa
COMENTÁRIOS
Sua Comunidade de Novels BL/GL Aberta para Autores e Tradutores!
AVISO: Novos cadastrados para leitores temporariamente fechados. Se vc for autor ou tradutor, clique aqui, que faremos seu cadastro manualmente.