Falhas Eternas 01 - Pecados em Vermelho [DISPONÍVEL NA AMAZON] - 10. Meu nome é Cai Xing

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Gu Zhu e Gu Hao tiveram dificuldade em levar o irmão mais velho para casa. Gu Yuyang era alto e muito corpulento mesmo antes de iniciar no cultivo e, depois disso, seu corpo ficou ainda mais pesado.

Gu Zhu, o mais novo, parecia muito cansado. Sua tez estava pálida e filetes de suor escorriam pelo seu rosto. Quem o visse, diria que a luta com aquele da família Luo teria o machucado muito e o deixado muito mal.

A franqueza de toda essa expressão era preguiça. Gu Zhu detestava várias coisas e uma delas era se envolver na bagunça de seus dois irmãos mais velhos. Mas, especialmente, tinha preguiça de carregar qualquer peso, seja emocional ou físico.

Gu Yuyang era os dois tipos de peso. Não gostava da personalidade dele, nem de seu tamanho. Yuyang tinha mais de um e oitenta de altura, pesando quase o dobro dele. Toda vez que ele abria a boca, somente asneiras saíam dali e sua habilidade mais poderosa era ser um imbecil.

Já o segundo irmão, merecia o apelido de poco mesmo! Além de comer feito um, ele fedia como um e comportava-se como um! Era tão asqueroso! Suas únicas habilidades eram comer e dormir. Seu nível de cultivo só era assim porque o pai o mimava e lhe dava todo tipo de material e pílulas medicinais.

A única pretensão de Gu Zhu nessa vida era desaparecer dessa família infeliz. Se tornar um grande nome do cultivo e se isolar numa montanha remota. Não gostava de conviver com essas pessoas. Família não era algo com o qual se importava.

Infelizmente, seu destino era cruel, e ele era arrastado todos os dias pelos irmãos por toda a cidade em nome do sangue interligado que tinham. Suas lágrimas tinham que se mantidas em seus olhos frequentemente!

— A-Zhu, o que houve com você? Por que não mostrou sua força corretamente? Poderia ter destruído aquele pervertido! — Gu Hao perguntou — Está se alimentando bem?

O mais novo sorriu amargamente e anunciou:

— Segundo irmão, irei para o quarto. Estou muito cansado.

Ele desconversou imediatamente e Gu Hao lançou um olhar de soslaio o mais novo e curvou os lábios ironicamente. Esse mais novo era mesmo uma piada! Querendo usá-lo para limpar sua bunda! Inútil? Sem vergonha! Pelo menos sua timidez não atrapalhava seu cérebro.

— A-Zhu, ajude-me a persuadir nosso pai.

Gu Zhu coçou o nariz, fingindo não entender.

— Segundo Irmão, nosso pai me detesta por ser inútil. Como eu poderia persuadi-lo?! — O mais novo replicou.

— Faça algo útil e ele olhará para você!

“Mas, eu não quero ser útil…”

O mais velho gargalhou, às vezes seu irmão era realmente um idiota. Mesmo que ele o fizesse, seu pai só o olharia torto.

Gu Mang, o chefe da cidade, detestava olhar para esse seu filho inútil. No começo havia uma certa expectativa em relação ao mais novo devido aos seus talentos. Uma raiz espiritual única, do elemento trovão, muito rara entre os cultivadores, porém, Gu Zhu demonstrou ser desinteressado por quaisquer coisas. Fosse negócios ou cultivação, para ele não importava.

O único interesse notável em sua vida era Gu Daiyu, uma irmã fofa e gentil dois anos mais nova, filha de uma tia distante. Desde o primeiro momento, Gu Zhu sentiu que ela era a mulher ao qual amaria eternamente, mas Gu Hao a tomou como noiva.

Gu Daiyu se trancou no quarto desde então, mantendo atenção em somente seu cultivo. Fazia alguns anos que não a via.

— Gu Hao. — sua expressão era séria, quando chamou o nome do irmão. — Posso ser preguiçoso, mas não sou burro. Ao menos, não mais que você.

— Você…

— Sei que o pai desgosta de mim! — Gu Zhu saiu depressa, emanando uma aura raivosa — Não tente me matar! Não morrerei antes de enterrar seu cadáver!

Um Gu Hao irritado e raivoso ficou para trás, com o irmão mais velho recém-acordado. Ele havia escutado as últimas palavras de Gu Zhu e não estava satisfeito com a desonra que aquelas palavras envolviam.

 

-ˋˏ ༻✿༺ ˎˊ-

 

Quando os primeiros raios de sol fluíram sobre as gotas da chuva na noite em que se passou, a notícia que o Grão Mestre Shen estava se hospedava numa taverna do terceiro distrito chegou aos ouvidos até do Imperador na capital.

E antes do amanhecer, quando a chuva ainda caía, uma multidão se aglomerou à frente da taverna aguardando pela saída do cultivador. A desculpa para suas ações era ver uma beleza para limpar os olhos ou simplesmente era porque passavam na rua ou ainda, gostariam de se hospedar na taverna.

De certa forma, a presença de Shen Zhongshi, fez as requisições de hospedagem tornaram os dias posteriores com recorde de público em toda sua história.

Entretanto, a pessoa que esperavam, nunca saiu. O mais próximo de estarem perto dele foi seu discípulo, Xie Yan, ao se apresentar meio morto de sono, esfregando os olhos e cambaleando por ter ficado a noite toda em claro.

Além desse jovem rapaz, seu shizun também procuraram por toda a cidade, mas não encontraram informação ou rastros deixados por You Xiaolin. As marcas de sangue que encontraram atrás da hospedagem terminavam num beco, sem rota de fuga, como se desaparecem da mesma maneira que uma bolha é estourada.

Ao notar do lado de fora um aglomerado exagerado de pessoas, ele entendeu parcialmente a situação. Isso não o deixava admirado, era comum para mortais venerar aqueles que trilhavam o caminho da imortalidade. E isso era mais evidente, quando se deparava com um grão-mestre.

Mas, Shen Zhengyi parecia algo quase surreal. Por inúmeras vezes, esse homem esteve tentando se manter discreto e ocasionalmente algo ocorria para que sua identidade fosse exposta. Seu discípulo achava um tanto engraçado esse tipo de ocorrência. Só ele sabia o quanto seu mestre gastou na compra de máscaras, mas sua aura única o traía.

Na rua, uma carruagem estava estacionada. Ela era tão luxuosa quanto as da capital imperial, cobertas de pintura por ouro, mas com as cores da família Gu, um verde limão muito atraente.

Suas portas se abriram no momento em que o jovem discípulo de Shen apontou. De lá, um homem trajado com as roupas oficiais da Mansão da Cidade saiu junto a um grande sorriso diplomático.

Os servos abriram caminho para aquele homem passar. Ele era como um pavão abanando sua cauda e quem viu tal cena achou que sua terceira visão do mundo tivesse sido atualizada com a quantidade infinita de ouro em seu corpo.

Da janela do segundo andar, o grão-mestre observava toda aquela confusão, como se nada tivesse a ver com ele. Assim que Xie Yan saiu de sua vista, voltou-se para dentro do quarto.

Luo Hang estava na cama dormindo tranquilamente. Depois de todo o esforço, havia desmaiado completamente por esgotar sua energia espiritual.

Embora tenha passado parte da noite explorando minuciosamente cada canto de Cheu, chegou a um ponto em que retornou ao quarto e deixou somente que sua consciência espiritual vagasse pela cidade. Passou o resto da noite velando o sono desse rapaz.

Aquele fantasma na Vila Hong parecia persegui-lo e era tão poderoso e tão misterioso que o preocupava. Antes de retornar de sua missão, não sabia sobre aquela parte da floresta espiritual.

Sendo o território de Xue Hua, aquele lugar deveria ser conhecido e também controlado. Aparentemente, aquele lugar cresceu em atividade maligna há pouco tempo ou simplesmente, aquele fantasma era poderoso o suficiente para encobrir quaisquer pistas sobre tal lugar.

Sua preocupação ia além dessa criança e alcançava todos os mortais ao redor daquela área. Uma preocupação natural de sua parte, ao tomar isso como propósito para seu caminho imortal. E, quando se tratava de pessoas conhecidas, tal vontade ganhava mais ímpeto.

Quando era incapaz de fazer algo, sentia-se como se nada valesse a pena, essa sua vida miserável não valia a pena.

A vida como Yu Mei o ensinou muito. Era certo que um longo tempo se passou desde o abandono deste nome, assim como seu corpo. Felizmente, algo que nunca abandonaria novamente seria sua humanidade. Deixar que isso acontecesse uma segunda vez era melhor que não viver.

Dizia-se que, se houvesse um problema, Hei Lian estaria lá.

Olhando para essa criança, teve um vislumbre do passado. Sua proficiência e manejo com a espada como se fosse um sabre deixava-o parecido com alguém que havia partido há muito, muito tempo. Uma pessoa ao qual sentiu sua ausência todos esses anos e incrivelmente este era seu inimigo.

Naqueles tempos, Cai Xing deixava sua vida tediosa mais agitada e suas mudanças repentinas de humor o faziam refletir sobre muitas questões. Amava-o de uma maneira a sentir medo dos próprios sentimentos.

Shen Zhengyi sentia uma angústia apenas ao se lembrar das inúmeras vezes que poderia tê-lo ajudado e não atravessou aquela linha invisível. Movido pelo medo e pelos valores orgulhosos da sociedade marcial, se deixou ser manipulado e, no fim, tornou-se um deles.

Entretanto, primeiro, a pessoa que gostaria de estender a mão deveria aceitá-la. Depois de um tempo vivendo entre as marés de sangue e solidão, Cai Xing se aceitou como alguém daquele lugar.

Haviam escolhido seus próprios caminhos e era impossível mudar, pois se desistissem, não seriam eles. Amava Cai Xing, com todo o seu ser, mas assim como ele, sabia que seu amor era insuficiente para mantê-los juntos. Então, amaram-se de longe, protegendo mutualmente da maneira que podiam.

Talvez fosse por isso que, quase desesperadamente, tenha tentado ajudar esse garoto deitado em sua frente, tanto no presente quanto no passado. Além disso, estava curioso sobre a mudança repentina e especialmente rápida que sofreu nos últimos meses.

Era impossível alguém mudar tanto em tão pouco tempo.

Shen Zhengyi suspirou, sentia cansaço. Ele quis xingar mil palavras ruins, ainda que desconhecesse palavras suficientes para tal. Cobriu o rosto com uma das mãos, esfregando a ponte do nariz entre os olhos.

Cai Xing, franziu a pele entre as sobrancelhas, seus lábios franzidos e encolhidos deixavam-no com uma tez preocupada e desgostosa.

Mais uma vez, Mestre Shen levou sua mão até a testa dele, a fim de garantir a ausência de febre. E sempre que ele soltava alguns grunhidos, sua mente parecia ainda mais caótica. Ele se afastou ao perceber que logo o adolescente acordaria.

— Xiao Jie, não vá… — o clamor surgiu com alguns filetes de lágrima e das lágrimas, logo ele acordou com um olhar sonolento e choroso.

— Você acordou… — Mestre Shen disse com um tom suave.

— Hmn… — o mais novo murmurou, mas ao perceber quem estava ao seu lado, ficou muito surpreso. — Grão Mestre Shen?

Cai Xing, ainda atordoado, sentou-se à cama. Estava claro lá fora, parecia um belo dia para ficar rolando na cama e comendo sementes de melão. Esfregou os olhos e percebeu que havia chorado durante o sono. Parando por alguns segundos, encarou as mãos, pensativo. Não eram memórias dele.

— Como está se sentindo? — O mais velho perguntou, ajeitando a manga do robe para trás. — Seu sono pareceu muito caótico. — Shen tirou um lenço dentro de sua manga.

— Oh, não me lembro do sonho. — Ele mentiu e aceitou a oferta do lenço, enxugando o rosto. — Tenho tido sonhos ruins desde que minhas memórias ficaram confusas e algumas até perdidas.

— Memórias confusas? — perguntou com curiosidade e sentou-se na cadeira ao lado da cama.

— Há lembranças escuras e lacunas em minha vida. Perdi muito. — Mentiu descaradamente.

Ele teria que mentir, mas havia um grande problema. Dentre suas habilidades, esse homem na sua frente conseguia distinguir mentiras e verdades.

Cai Xing encarou a beleza. Este homem… maldição! Muito bonito! Isso era o pior! Considerava até imoral alguém assim existir! Ele desviou o olhar para baixo, tentando esconder seu constrangimento. Era difícil lidar com pessoas bonitas.

Felizmente, esse constrangimento poderia ajudá-lo. Ao mentir, não precisaria olhar para seu rosto. Nem para aquela pinta próxima aos lábios…

— Eu…

— Tudo bem, não se force. — Provavelmente havia descoberto a verdade.

Mestre Shen lançou um olhar de desconfiança, mas não perguntou mais nada. Todos possuem segredos que não desejam compartilhar com outras pessoas. Respeitou sua decisão, pois ele também era o mesmo.

Porém, se ele soubesse o que realmente estava por trás dessa ação, provavelmente o chutaria num rio para se afogar.

— Quando se sentir melhor, coma alguma coisa. Já deixei uma refeição paga. — Ele se levantou da cama.

Nesse momento, Mestre Shen sentiu uma energia estranha entrar em sua percepção. Ao mesmo tempo, Cai Xing se lembrou de You Xiaolin.

— Grão Mestre… por acaso Vossa Excelência se lembra da pessoa ao qual estava acompanhado noite passada? — ele perguntou sem hesitação.

Shen Zhengyi fez uma pequena pausa e decidiu falar a verdade, sem rodeios.

— Passei toda a noite o procurando, mas não há alguma pista sobre seu paradeiro.

Na verdade, houve algo incomum. Uma pequena flutuação espiritual chamou sua atenção, próximo a um bordel. Estranhando tal fato, se prontificou à investigação. No final, não houve descobertas e se despediu com um sorriso pouco confortável. Sua intuição lhe dizia que o fantasma da Vila Hong o havia perseguido e, ao invés de contar incertezas, preferiu omitir algumas de suas descobertas.

Ele suspirou.

— Abri uma ala ao entorno da taverna por prevenção. — Com um olhar desgostoso, ele falou com cautela para não assustar o outro. — É possível que o fantasma da Vila Hong o tenha perseguido até aqui.

— Então não é um fantasma da montanha… — murmurou.

— Há um rancor profundo entre vocês ou a obsessão de um fantasma poderoso é desmedida. — completou. — Se deseja continuar a viver, proteja-se antes de tomar uma decisão. Sua força é como um minúsculo grão de areia, sua base ainda é instável. O que você tem hoje é devido às suas experiências passadas e seu kung-fu. — Seu tom não abria brechas para questionamentos — Sua vitória parcial contra o Jovem Mestre mais velho da família Gu só foi possível por sua experiência. Afaste-se desse problema. Eu cuidarei disso.

Se tratando de cultivo e conhecimento, Shen Zhengyi era realmente um gênio. Com pouca idade, parecia entender um oceano. Em sua primeira vida, em menos de trinta anos, havia alcançado o falso núcleo e no que se tratava de Shen Zhengyi, com somente trinta e cinco anos, alcançou o início da alma nascente. Se houvesse alguém para compará-lo, gostaria de conhecê-lo!

E suas palavras eram verdade, quando dizia para que Luo Hang se afastasse. Cai Xing concordava com ele.

Não havia um título de Lorde Demoníaco ou Imortal da Estrela Caída. Sua vida e corpo se esvaíram e ele se tornou Luo Hang, o mestre rejeitado. Estava naquele nível novamente, onde a impotência era sua maior qualidade.

Inútil novamente.

Ele esboçou um sorriso sarcástico.

— Conheço minha posição. Ir direto para a morte e abraçá-la como se estivesse acariciando um amante é estúpido até para um idiota. — respondeu duramente. — Alcancei o limite suficiente de atitudes tolas em minha vida.

No entanto, uma coisa é saber isso e outra é aceitá-la passivamente. Uma vez que era ele o responsável, iria trilhar o caminho até o fim.

Olhou para o vazio, sem rumo, e se encolheu na cama, em posição fetal. Era inegável que sentia medo do que poderia lhe ocorrer, mas sentia-se sozinho. Realmente havia gostado de You Xiaolin e ele foi a primeira pessoa ao qual teve a oportunidade de se tornar amigo.

— Não se julgue tão duramente. Há muitas pessoas que sequer conseguiriam se recuperar do que você já passou.

Cai Xing entendia que o conforto era direcionado a Luo Hang, porém seu coração se abalou pelas palavras. Olhou para cima, onde encontrou aquele olhar. Indiferente, impossível de ver através dele.

Shen o viu se escolher com uma carranca no rosto enquanto saía. Talvez suas palavras possam ter soado duras, porém, nessa idade, a mente está cheia de porquês e pensamentos complicados e sem um direcionamento correto, o abismo pode aguardá-los.

Em sua concepção, Luo Hang estava correndo na direção desse abismo. Mas, ele faria o possível para pelo menos desestabilizar essa corrida. Sua clareza sob tal assunto era límpido o suficiente para olhar o outro lado.

Julgar-se e perguntar o porquê de toda sua vida nada lhe possibilitar uma fagulha de luz. Passou muito tempo até que Mestre Shen conseguisse se aceitar, aceitar como sua vida fluiu.

— Não corra para o abismo. — foram suas últimas palavras antes de desaparecer pela soleira da porta.

Mestre Shen, notando a movimentação formada no primeiro andar, sacou sua espada e lançou um feitiço de voo, saindo pela janela. Multidões o deixavam estressado, então colocou outra máscara em seu rosto e dessa vez cobriu todo o seu rosto.

Olhando a cidade de cima, reafirmava o descontentamento com esse lugar. Todo esse território pertencia à Montanha dos Nove Céus no passado. E a elevação que foi construída Xue Hua, foi no passado sua residência.

Detestava a montanha de pessegueiros e passo a passo a antipatia por simplesmente passar por ali, crescia. Infelizmente, era um dos únicos lugares que considerava seguro no Continente Sul. Os ferimentos internos adquiridos no território demoníaco não estavam curados, além de ter sido convidado por seu shidi para uma visita o fizeram, contra sua vontade, permanecer por algum tempo.

Rapidamente, ele chegou à mansão do Lorde da Cidade. A segurança não era um problema para ele, mas preferiu seguir a etiqueta, assim entrou pela porta da frente.

Em pouco tempo, estava sentado na mesa de chá e ouvindo Gu Mang, o Lorde da Cidade, vomitar bobagens de como a floração dos pessegueiros estava melhor que nos anos anteriores. O chá preto, seu favorito, tinha um gosto péssimo em sua boca.

— Grão Mestre Shen, a que devemos a honra de sua estadia? — Gu Mang mudou drasticamente o assunto ao perceber o tédio do outro.

— É apenas uma passagem rápida. Estou atrás de algo. — Tomou um gole de chá e com elegância pousou a xícara esverdeada na mesa.

O ambiente era desagradável, numa cultura bastante tradicional e portas da lua exageradamente nos cômodos, além do excesso de cores, ouro e móveis. Era doloroso aos olhos.

Gu Mang tinha um olhar assustado e quase deixou seu chá cair.

— I-Isso poderia prejudicar minha cidade?

O cultivador encarou o outro.

— Podem existir efeitos colaterais. O bairro da luz vermelha provavelmente entrará em colapso. — falou despretensioso. — É um fantasma de primeiro nível. Lorde Gu poderia soltar um alerta.

Shen Zhengyi havia pensado sobre isso, era melhor revelar a existência dessa incógnita ao mundo.

— Pelos cé…

De repente, ele se levantou e caminhou para fora, interrompendo Lorde Gu. Com o rosto negro, olhou para longe.

— Lorde Gu, vou pagar todos os gastos de reconstrução. — ele tirou da manga uma bolsa espacial e jogou na mesa. — Tente evacuar o máximo de pessoas.

Preocupado, ele enviou uma mensagem espiritual a seu discípulo e, em seguida, assobiou chamando a águia dourada que o acompanhava. A ave guinou para perto, pousando em seu antebraço e amarrou um pequeno pergaminho em sua perma e a mandou até a seita Xue Hua.

Não havia apenas aquele fantasma de nível supremo na cidade, mas também outros dois com poder parecido. Sozinho era incapaz de lidar com essas aberrações ao mesmo tempo.

No quarto da pousada, Cai Xing parecia uma pequena bola triste. Toda essa confusão e lamúrias que o mundo marcial é, era complicado e complicado. Somente tendo poder absoluto era capaz de proteger-se e proteger outros.

Infelizmente, era a única coisa que sabia fazer em sua vida, além de enganar e assassinar. Precisava tomar uma atitude rápida e decidir sua vida e não vadiar, como fez no último mês.

Porém, ele não era ninguém. Assim como Mestre Shen havia lhe dito, seria tolice tentar encarar os céus sendo apenas um sapo de perna quebrada. Mas como poderia aceitar isso? Assim que recebeu uma chance, estava tudo fadado a esse ciclo novamente? Porra… Ele que não queria isso! Assim que resolvesse isso, viveria uma vida feliz e tranquila!

No passado, não teve escolha. Viver no Pavilhão de Sangue o impossibilitava de espaço para pensar nessas ‘trivialidades’ sobre aceitar ou não seu destino. Tudo girava em torno de que a qualquer momento havia possibilidade de morrer.

Conflitos internos ou externos da seita com taoistas e budistas. Quando se tornou líder, havia muitas responsabilidades. Ao ascender como deus marcial, muitos daqueles deuses hipócritas e até o Pai Celestial costumavam arranjar conflitos com ele.

O único momento de paz era quando escapava para ver Yu Mei e no momento de sua morte. Aliás, Yu Mei era apenas um título, nunca conheceu seu verdadeiro nome.

Ao menos, a única pessoa ao qual se preocupava, conseguia se proteger, ainda melhor do que ele protegia a si. Por isso, sempre sentiu que poderia cair no abismo de braços abertos sem preocupações. Aprendeu da pior forma que ao se apegar a algo lhe proporcionava fraquezas.

Além disso, escolheu aceitar seu ambiente. A desgraça trazida por ele não iria afetar aquelas pessoas ao seu redor, porque havia pessoas muito piores que ele ali. Se acontecesse o pior com elas, acabaria rindo deles. Assim como foi na morte de Qi Seyoung.

O rancor em seu coração era grande o suficiente para matá-lo com um sorriso no rosto, porque ele não apenas lhe roubou sua dignidade, também seu corpo, aprisionou sua alma e lhe tomou a liberdade. Foi bom desmembrá-lo e torturá-lo ainda vivo.

Mas, Cai Xing sempre estava rodeado pela solidão e amargura e esses sentimentos antigos irromperam novamente, como uma grande onda marítima que arrastava tudo. Era doloroso demais.

Por algum tempo, se manteve ocupado, tentando se enganar que estava bem e desapegado. Mas esse ferimento, tampado com apenas uma faixa podre, romperia mais cedo ou mais tarde, pois não formava cicatriz nem havia indícios de cura. Tentar se esconder da dor só fazia intensificá-la.

Com a liberdade, tinha a chance de escolher. Prometeu ser diferente, se importar, deixar que desabrochasse como uma flor. Cai Xing estava cansado disso, dessa merda de vida. Agarrou suas botas, secou as lágrimas e, mais uma vez, se levantou para o mundo.

Porém, seu estômago não estava disposto. Um ronco alto o lembrou de que deveria comer. Ele caiu em si. Cultivadores de baixo nível não cultivavam inédia para dispensar o alimento. Eles necessitavam de comer.

Suspirou profundamente, parecendo desolado, e ficou à beira da cama, calçando as botas com pressa. Depois disso, levou as mãos ao rosto, dando-lhe dois tapas que deixaram as marcas exatas dos dedos em sua bochecha. Ele reprimiu tudo dentro do peito e foi tomar o café da manhã rapidamente.

Uma multidão estava do lado de fora da taverna e ele demorou mais tempo que o habitual para comer. A digestão e o apetite ficavam piores quando o ambiente estava barulhento. E, ao sair da taverna, se deu com uma aglomeração de pessoas. Ele decidiu retornar e saiu pela janela, onde You XiaoLin usou para sair.

Correndo entre as casas, Cai Xing não chorou, mas se lembrou daquilo que havia perdido.

“Meu nome pode não ser Cai Xing, mas sou Cai Xing.”

Em seu peito, floresceu uma saudade. Uma saudade fantasma, como uma sombra, de algo que nunca existiu em sua vida.

Publicado por:

Yu Ge
Apaixonando-se aos oito anos pelo fantástico mundo da literatura, Yu Ge, em busca de um sonho e apenas uma mente fértil, passou pela poesia indo para ao romance adolescente, chegando à fantasia medieval se encontrou nos danmeis (novels chinesas boys love) e na fantasia sombria aos recém-completos 23 anos. Do xianxia à dark fantasy, se diverte encontrando o caos e ambiguidade da natureza humana.

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