Black Sky - 36. Uma Razão
Atenção:
Há palavras de baixo calão
“Quem disse que não tenho motivos pra ficar?”
Essa pergunta que soava como um questionamento pareceu descabida até mesmo para Chu Si.
Quem ele estava interrogando? Sa’e Yang? Mesmo que ele tenha percebido um problema há muito tempo, por que deveria falar? Ele poderia simplesmente dizer que não queria falar sobre isso, ou que não era da sua conta — nenhuma justificação necessária.
Ele podia até imaginar como Sa’e Yang reagiria a isso com apenas uma sugestão de sorriso no canto dos lábios, como ele responderia preguiçosa e indiferentemente…
De qualquer forma, isso é provocador demais e só faria todo mundo se sentir pior.
Então, antes que Sa’e Yang pudesse começar a falar, Chu Si baixou o olhar e deu um tapinha no braço dele com as costas da mão. “Você poderia se mover um pouco? Da próxima vez, não apareça na minha frente quando eu estiver de mau humor. Afinal, sou irracional.”
Chu Si falou com muita calma e até estava usando seu tom de fala sem sentido usual, encobrindo a pergunta anterior.
Provavelmente porque o assunto foi mudado muito abruptamente, Sa’e Yang não provocou Chu Si mesmo depois que ele deu a volta e saiu pela porta em direção a Carlos e aos andarilhos.
Esse já foi um grande favor pra preservar a face dele[1], pensou Chu Si.
Sem olhar para o rosto de Sa’e, ele libertou aleatoriamente alguns andarilhos de aparência honesta de suas algemas.
Ainda assim, talvez ele estivesse enganado, ele sempre sentiu que Sa’e estava olhando para suas costas e o deixando muito inquieto. Por um momento, ele quis se virar para confirmar, mas como já havia dito algo que normalmente não diria, não queria fazer algo incomum novamente.
Os bipes de desbloqueio assustaram Carlos Blake e os andarilhos.
“Você está realmente nos soltando?” Carlos Blake ficou atônito.
Completamente inalterado pela interrupção anterior, a expressão de Chu Si permaneceu igual. Ele balançou as algemas na mão, sua voz soando calma e elegante junto ao metal retinindo: “Eu te disse, uma linha para soltar uma pessoa. Sou bastante confiável na maior parte do tempo.”
Carlos o observou, muito cético.
Depois de se encararem por dois segundos, Chu Si balançou as algemas em sua mão. “Vossa Excelência parece muito insatisfeita. Nesse caso, é melhor colocá-los de volta. “
“Não!” Carlos gritou profusamente. “O que você quer dizer com insatisfeito? Onde você viu isso?! Ei! Você—”
No momento em que ele estava se arrependendo, Chu Si já havia algemado uma pessoa novamente. Exaltado, a voz de Carlos falhou enquanto ele gritava continuamente: “Satisfeito, satisfeito, satisfeito, satisfeito, nunca estive tão satisfeito, não nos algeme de novo!”
Só então Chu Si se levantou e parou.
Carlos olhou para ele, incapaz de expressar tudo o que queria dizer. Ele suspirou. “Eu ouço o deus da praga chamando você de Oficial aqui e ali. Você é do exército? Você parece um general.”
Os andarilhos frequentemente trocavam informações com os militares e ambos eram considerados relativamente próximos. Ele provavelmente estava tentando mexer alguns pauzinhos com essa pergunta.
Chu Si levantou uma sobrancelha. “Precisamente falando, não sou. Trabalho na torre de segurança.”
Carlos o olhou de cima a baixo, frustrado. “O edifício de segurança do seu planeta não está cheio de velhos que apenas discutem sobre tudo o que dizem e fazem? Como existe alguém como você lá?”
Chu Si: “Também é a primeira vez que vejo um Rei dos Andarilhos como Vossa Excelência.”
“…” Carlos estalou a língua, “Só não gosto de falar com jovens como você, que só zombam das pessoas. Tente dizer isso na minha frente há cem anos? Só estou me recusando a descer ao seu nível nesta idade.”
Carlos Blake estava no auge há um século, quando tinha mais ou menos a mesma idade de Chu Si e Sa’e Yang agora. Mas ele estava agora com quase cento e setenta anos.
Considerando a média de vida de duzentos anos, ele já estava em seus anos crepusculares.
Ele sempre falava abertamente sobre ser velho e se gabava de sua senioridade, mas nunca pensou que estava envelhecendo. Ele ainda era alto e musculoso, podia manejar seus punhos e carregar seu canhão, e seu cabelo castanho escuro e sua barba eram tão espessos quanto eram há dez, vinte ou mesmo cinquenta ou sessenta anos atrás.
Ele ainda estava longe de ser velho.
Carlos costumava reclamar da idade só para negociar alguma coisa.
Chu Si poderia dizer isso também. Ouvindo Carlos suspirar sem entusiasmo, ele acenou com a cabeça. “Pare de suspirar. O que você quer?”
Carlos riu. “Bom, você é direto! Eu amo jovens que não fazem rodeios. Veja… você não está em melhor estado do que nós, prisioneiros. É a dura verdade. Seu planeta se desfez em fragmentos e todos vocês ocupam apenas uma pequena parte dele. Um lugar deserto, também. Você carece de suprimentos para vida, mão de obra e um ambiente estável. Eu acho—”
Ao estreitar os olhos, suas sobrancelhas se ergueram ainda mais dramaticamente, lembrando um falcão. Ele agora parecia mais como o líder dos andarilhos. Ele fez uma pausa. “Vocês devem estar ansiosos por notícias, como sobre a situação do governo, se os militares têm uma estratégia para lidar com isso, quantas pessoas já acordaram, por quanto tempo ainda precisam vagar pelo espaço, se outros planetas já ouviram as notícias e se eles tomaram alguma atitude?”
Carlos falava cada vez mais baixinho, mas claramente assertivo.
Tudo o que ele disse foi exatamente o que Chu Si e o resto estavam tentando descobrir imediatamente. Mas além disso, Chu Si tinha mais uma pergunta: o que diabos aconteceu com seu tempo.
Cada pergunta, intimamente relacionada a se eles poderiam deixar o espaço em breve, era suficiente para sobrecarregar alguém.
Chu Si brincou com as algemas em sua mão e pensou por um momento antes de olhar para ele. “Você tem notícias e quer fazer um acordo?”
Carlos Blake foi direto ao ponto: “Se eu te der informações, você irá tirar as algemas de todos nós e devolverá a aeronave.”
“Se me der informações, eu soltarei vocês ou devolverei a aeronave”, disse Chu Si, enfatizando a palavra ou.
Carlos: “…Jovem, como você pode ser tão cruel?”
Chu Si falou francamente. “Só espero que Vossa Excelência entenda que agora você está preso e não há lugar para extorsão.”
Chu Si pensou que Carlos iria lutar um pouco mais, mas surpreendentemente, Carlos aceitou depois de pensar um pouco. “Ok, não vou me incomodar. Uma das duas opções, certo? Então eu escolho ficar sem algemas. Temos que sair do cativeiro antes de podermos falar sobre qualquer outra coisa.”
Chu Si assentiu. “Sim. Então, deixe-me ouvir suas informações primeiro.”
…
Dez minutos depois, Carlos Blake finalmente terminou de contar. “E isso é tudo. Ainda tenho alguns detalhes gravados naquela época, que estão na minha aeronave, mas caiu em suas mãos de qualquer maneira, então você mesmo pode verificar.”
Chu Si assentiu alegremente e se levantou.
A aeronave de Carlos Blake estava estacionada na plataforma atrás. Chu Si queria se virar para ver o que Sa’e Yang estava fazendo, já que ele ficou em silêncio por um tempo, apenas para encontrar o lugar de Sa’e completamente vazio.
Chu Si congelou.
Carlos Blake parecia ter lido sua expressão pela nuca. “Aquela peste saiu quando eu disse que a Cidade de Prata deveria ter começado a agir.”
Ele saiu?
Chu Si abriu a porta da sala de conferências e olhou para baixo da grade, apenas para ver Le Pen e os outros movendo algo para fora, mas nenhum sinal de Sa’e.
“Ei, já contei tudo. Você não deveria nos liberar agora?” Carlos reclamou.
“Sim.” Mas, em vez de se aproximar dos andarilhos que o observavam ansiosamente, Chu Si subiu na plataforma enquanto falava e entrou na aeronave de Carlos.
Esta era uma das poucas aeronaves cujo chip não foi removido e pode funcionar normalmente.
A aeronave era na verdade o abrigo dos andarilhos. Era bastante espaçosa por dentro e tinha tudo que um apartamento costuma ter, mais coisas que não tem: armas, munições, cabine médica, cabine de pilotagem, etc.
Chu Si examinou toda a configuração geral interna e, em seguida, vasculhou o estoque de armas e munições para encontrar os micro explosivos móveis inteligentes.
Embora fossem chamados de micro explosivos móveis inteligentes, na verdade eram mais parecidos com robôs inteligentes com micro explosivos nas costas — ótimos para ataques secretos.
Chu Si pegou um, inseriu a chave eletrônica e o comando para destravar as algemas e jogou o robô na sala de conferências. Enquanto isso, ele se sentou na cabine antes de acionar a alavanca, com a intenção de decolar.
Na sala de conferências, os andarilhos estavam pensando em como retaliar contra Chu Si quando ele voltasse para libertá-los. Mas antes que pudessem pensar no que fazer, eles simplesmente observaram o micro-explosivo móvel rolar em sua direção.
Carlos Blake: “Porra!!”
Sentado lá dentro, Chu Si colocou o fone de ouvido, fechou a escotilha da aeronave e dirigiu silenciosamente a aeronave pela plataforma alta. Depois de colocar a aeronave em busca automática de um local de pouso, ele pegou seu comunicador e se conectou ao canal de Don.
“O que há de errado, Oficial? Guardamos todas as aeronaves no armazém subterrâneo e os chips estão todos trancados em caixas criptografadas. Vamos levá-los pra você mais tarde.” Don parecia muito animado. “Movemos todas as armas e munições deles, então não teremos que nos preocupar com nada do nosso lado — eles não poderão contra-atacar. Além disso, há muita comida fresca! Fiquei com água na boca quando estava coletando! Deus sabe o quão ruim é o gosto da decocção!”
Chu Si franziu os lábios. “Tudo bem, pra onde vocês levaram tudo? Vou pra lá agora mesmo. Eu libertei os andarilhos na Torre Leste. Ajude-me a fazer uma viagem e tranque a porta de saída na base para prendê-los temporariamente dentro da Torre Leste. Falarei com eles sobre os detalhes mais tarde… Talvez tenhamos que assumir riscos.”
Don congelou. “Assumir riscos? Para ser honesto, isso me lembra muito o Sr. Yang.”
Ao ouvir a menção a Sa’e Yang, Chu Si parou de bater os dedos no apoio de braço por um momento antes de continuar. “Ele simplesmente saiu da sala de conferências de repente. Não tenho certeza do que ele foi fazer. Ele pode ter se lembrado de algo e ido embora.”
“Saiu? Por que?” perguntou Don.
Chu Si lembrou o que Carlos disse e Sa’e Yang saiu depois de ouvir a atualização sobre todos os planetas, especialmente a Cidade de Prata. Ele provavelmente ouviu o que precisava e foi continuar o que precisava fazer.
A aeronave pousou lentamente atrás de uma parede perto do forte central. Após o pouso, Chu Si apertou um botão para abrir a escotilha da aeronave, mas não saiu da cabine.
“Acabamos recolhendo um lote muito útil de aeronaves, então ele provavelmente saiu aleatoriamente com uma que ainda tinha um chip. Afinal, não há razão pra ele ficar.”
Enquanto falava, ele de repente sentiu uma coceira nas costas, então seu encosto foi pressionado por alguma coisa.
Chu Si franziu a testa, sua cabeça virando bruscamente para trás. Sa’e Yang, que havia supostamente “saído”, estava caído sobre as costas de sua cadeira. Ele acenou para Chu Si.
“Quem não tem motivos para ficar?”
Assustado com a proximidade, Chu Si o evitou pensativo e endireitou-se, virando a nuca para Sa’e Yang.
Ele franziu a testa e estava prestes a dizer algo quando Sa’e Yang enganchou um dedo em seu queixo, virando sua cabeça.
“Não vire o rosto. Você não estava falando de mim, estava? Quem disse que não tenho motivos pra ficar?”
◇
[1] Salvar a face: o mesmo que preservar a reputação de outra pessoa.
♡
O que diz a autora?
520* mua~ A propósito, lembro que parecia ser 521 antes de deslizar a tela 2333333**
Obrigado por aturar minhas bobagens por tanto tempo. Esta história foi escrita por capricho quando eu estava escrevendo Copper Coins~ Não é científica, séria ou muito longa. Vou escrever algo super doce para misturar mais tarde Orz***
Estou enviando envelopes vermelhos**** para todos os comentários hoje. Desejando felicidade para todos, todos os dias~
*o capítulo foi originalmente lançado no dia 20 de maio de 2017 (5/02, diferente do nosso 20/05), lá pelas 21h. Por outro lado, a autora está dizendo “eu te amo” para os leitores, visto que a pronúncia de 520 (wǔ èr líng) se assemelha a “wǒ ài ní”
**riso online (?) kk a pronúncia é “èr sān sān…”, mas associam com o “hahaha”
***Orz representa uma pessoa ajoelhada, como um gesto de humildade (fonte:《knowyourmeme.com》
****presentear alguém com envelopes vermelhos contendo dinheiro é uma forma de desejar sorte e fortuna. Essa prática costuma ocorrer nos feriados e no ano novo chinês. Considerando que 20 de maio é o Dia do Amor na China, faz sentido a autora “enviar” envelopes vermelhos aos leitores (fonte:《chinanaminhavida.com》
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Depois de muuuuuuito tempo, voltei!
O motivo do meu sumiço foi a faculdade… Ano que vem começarei meu TCC e ainda estou fazendo Iniciação Científica… não tenho amor próprio, pelo o que parece.
Bem, há mais dois capítulos já traduzidos para o inglês pela Vie, então nos próximos dias trarei atualizações.
Qualquer erro, avisem!
Obrigada pela leitura ♡
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