A Noite Em Questão - XIII
ODON
Eu me sinto estranho, temo pelo meu futuro aqui, é uma sensação esquisita que eu nunca havia sentido em toda a minha vida, um calor no meio das pernas, talvez eu esteja prestes a ter o meu primeiro ciclo, mesmo que eu já tenha sido orientado pela minha mãe diversas vezes, eu sinto medo, há um turbilhão de borboletas dentro de meu estômago, voando, de um lado para o outro, eu não consigo respirar, sou virgem, eu tenho consciência disso, porém, eu sei quase tudo sobre sexo, mesmo sem ter experimentado ainda, eu não costumava me tocar, afinal quase nunca tinha tempo, porém nunca em minha vida eu havia me sentido realmente atraído por alguém, ao ponto de transar, na realidade mal tinha contato com outras pessoas, eu nunca havia beijado alguém daquele jeito, do jeito que fui beijado por aquele homem, as imagens apareciam apagadas em minha mente, às vezes elas vinham claramente até mim, era estranho lembrar daquela noite, mesmo depois de tudo eu não conseguia acreditar que fosse real, eu havia sido beijado por um Alfa Dominante, teu nome, terno, rígido, severo e voraz; Cedric Berliac, as palavras estalavam na ponta de minha língua e muitas vezes eu me pegava sussurrando o seu nome.
O quê os outros pensariam de mim se soubessem? Eu não fazia a mínima ideia, mesmo assim permaneci com aquilo na cabeça, peguei o nome em minha mente, o agarrei com força, sussurrando aos poucos para não me esquecer, peguei o meu celular, digitei calmamente, da forma que eu acreditava se escrever aquele nome tão distinto.
Quando por fim a internet esteve ao meu favor eu tomei um grande susto, era ele, cabelos loiros e olhos cinzentos e esverdeados, um Alfa Dominante nato, Anglo-Germânico, no topo das finanças das duas potências europeias.
Suspirei horrorizado, logo caí de lado sobre a cama tapando o meu rosto, eu não podia acreditar, aquele homem sobre a tela do meu celular, havia este me beijado, era mais assustador pensando, porém lembrei dele quando nos encontramos naquele dia pela manhã, parecia tão doce, tão frágil, me afastei daqueles pensamentos, respirei fundo e passei a mão sobre o rosto, eu precisava encontrar Rostam, aquele era um dia importante, iríamos começar a preparar o restaurante para um jantar especial, lá estaria presente o proprietário em pessoa, não me sentia tão bem trabalhando no restaurante, o trabalho de certa forma não era complicado, eu tinha outro problema; o chefe.
Aquele homem não gosta de mim, eu acho, não que ele tenha me repreendido alguma vez, ele apenas me ignorava, nunca falou comigo, nem se quer olhava para mim, e se referia com desdém, eu não posso ficar na cozinha, não posso auxiliar muito menos servir a mesa, apenas betas trabalham lá, por ser o único ômega acho que fico em desvantagem, talvez seja por isso que aquele alfa não goste de mim.
Eu não queria causar nenhum problema, saí ainda pela manhã do dormitório, caminhei pela estrada de pedras lisas e cinzentas, vestia o meu uniforme comum, só iria por o terno social quando chegasse a noite, enquanto isso eu precisava descansar, mas eu queria fazer algo mais, ser útil, pelo ao menos para alguém, para Rostam, no fundo tudo o que eu queria era me distanciar daqueles pensamentos sobre o meu cio e o meu corpo e todas as mudanças que talvez estivessem prestes a acontecer, eu tinha medo.
Paro de caminhar, à minha direita há o início da floresta, o lugar proibido cujo a linha não podemos e nem devemos ultrapassar, eu respiro fundo olhando para todas aquelas árvores.
Há um limite, nós, empregados, não ousamos ultrapassa-lo, ele foi imposto por nós, ditado nos corredores, entre os pequenos freixos das portas dos dormitórios, entre as paredes, nos vestiários, até mesmo no salão de refeições, por isso ele é tão temido e respeitado.
Ouvi em uma noite, quando saía do vestiário após tomar banho sozinho, eu me lembro de ver Garcia, sorria feito um bobo e rodopiava pelo corredor, sobre a luz amarelada, a porta estava aberta e lá fora podíamos ver o belo céu escurecido, ele se virou para mim, chamou-me; “Odon.” Veio até mim, eu poda sentir o calor da água, podia sentir o cheiro do sabonete, havia acabado de sair do chuveiro, porém logo pude então sentir o teu cheiro doce.
“Por quê não se junta a nós?” Convidou. “Estão jantando?” Questionei, geralmente eu antava com Rostam, nos turnos aonde o salão de refeições estava vazio, fiquei tímido, porém aceitei o pedido. “Não apenas jantando.” Respondeu Garcia, vi seus cabelos negros balançando, era sinal que de aquela noite seria fria, mesmo tímido ele adentrou o salão, todos comiam alinhados, calmamente, falavam sussurrando, como se todos tivessem um segredo para contar, no começo hesitei, olhei ao redor sentindo a mão de Garcia sobre o meu ombro; “Vamos.” Disse ele, confiante, então caminhou até uma das mesas extensas e se sentou, eu fui atrás e me sentei ao seu lado. “Sobre o quê tanto conversam em sussurros?” Questionei comendo um pedaço do frango que tinha em meu prato. “A floresta.” Respondeu uma mulher, ela eu não conhecia, tinha cabelos levemente escurecidos e olhos levemente azulados, sorriu timidamente. “Por favor, continue.” Pedi. “Se não for incomodar…” Ela sorriu novamente. “A propósito eu me chamo Anna.” Eu sorri desta vez. “Muito prazer Anna, eu me chamo Odon.”
Naquela noite, Anna, que eu descobri ser minha vizinha de quarto, nos contou sobre a floresta que cercava a área dos empregados, mais precisamente a ala ômega, ela era extensa e escurecida, tinha verde para todo lado, árvores altas e um riacho, haviam também as cavernas, estas que já estavam fora dos hectares do hotel.
Era tudo muito mágico pra mim, porém, não demorou muito para que eu descobrisse que aquela floresta não era de fato um lugar tão encantado como eu havia imaginado, diziam que a noite podia-se ver algo em meio ao breu, como se alguém vagasse por lá, rondando os dormitórios dos ômegas, de fato era algo que deixava qualquer um assustado, por isso trancavam a porta, e segundo ela, às vezes era possível ouvir sons, ouvir sussurros, palavras carinhosas e gentis, às vezes o vento podia tentar te enganar, podia chamar pelo teu nome, porém não deveríamos sair em hipótese alguma.
Devemos temer os presentes, as palavras gentis e principalmente os sussurros que vêm da floresta, não confiar naqueles que nos presenteiam e nem naqueles que se sentem felizes demais por se deixar presentear.
Olhava atentamente, como se sentisse que algo estava prestes a acontecer.
Com um passo de cada vez vou tomando coragem, vou passar por este lado e chegar ao restaurante, aqui tudo é muito calmo, não ouço as vozes, diferente do dormitório aonde é sempre agitado, o cheiro é estranho, distante, ele vem das folhas e dos troncos, eu respiro fundo, olho ao redor, estou sozinho, dou um passo final, paro, me volto a imensidão de árvores, quanta beleza se esconde por trás daqueles prédios, penso, me inclino, apenas um pouco, sei que não deveria estar aqui mas há algo que me seduz, é mais forte do quê eu.
Olho para lá e sigo caminhando, entrando lentamente, chego próximo a uma grande árvore de raízes fortes e sadias, a toco, é áspera e seca, é quando eu sinto um cheiro, um cheiro que se destaca em meio a tantos outros, doce, não de uma doçura selvagem, algo como açúcar, leite, manteiga, oh, eu já sei, é o cheiro de caramelo, porém na floresta?
Me ajoelho lentamente, tateio o solo, sinto a terra e as pedras, algumas folhas, galhos, logo eu me aventuro, passo por cima daquelas grandes raízes, é quando eu me aconchego sobre uma, esta mais dobrada, pois em meio a ela vejo algo, uma embalagem brilhante e reluzente, vermelho vivo, em destaque diante de toda aquela escuridão natural.
Estendo a minha mão, eu a pego sem se quer hesitar, respiro fundo, observo a embalagem, é de lá que vem o cheiro, eu abro um leve sorriso de satisfação, como uma criança, sinto aquele aroma doce, aquilo me acalma, mesmo assim eu me sinto estranho.
É quando eu ouço uma respiração, não muito distante, neste exato momento eu congelo, mal consigo respirar, há alguém atrás de mim, tento manter a calma, fecho os meus olhos, mordo os lábios, tento buscar forças para me levantar e correr, abro os olhos, silenciosamente eu olho para cima, há um homem ali, alto, pálido, de cabelos negros e olhos amarelados, não preciso de muito para saber que se trata de um vampiro.
“Que gracinha de garoto.”
“O quê faz aqui, sozinho?” Questionou ele, eu estava paralisado, apenas apertei o caramelo em minha mão.
Foi se aproximando aos poucos. “Esta temeroso.” Disse. “Não há porquê.” Exclamou gentilmente, sorriu e estendeu a mão, sobre a palma; Caramelos. Todos estavam embalados em cores brilhosas, vermelho, azul, amarelo, verde, rosa, roxo, branco, laranja, marrom, de fato era um espetáculo para os olhos.
“Pegue.” Ele disse, eu já não conseguia me mover, ele sorria, abrindo um sorriso de ponta a ponta, seus olhos, havia um brilho sádico neles, uma aura sombria que se escondia por meio daquela face tão bela, eu neguei com a cabeça, mesmo assim ele não deixou de sorrir, eu me levantei em um pulo, logo me encostei sobre a árvore, ele me seguiu com a cabeça, sorrindo, logo deixou que os caramelos rolassem até o chão, sem dar muita importância ele pôs a mão no bolso do paletó. “Se isto não lhe agrada acho que tenho algo que possa te agradar.” Sua voz era firme, ainda sim simpática, isso tornava tudo mais assustado, e para piorar a bendita da minha língua parecia ter se perdido dentro da minha boca.
“Uma maravilhosa barra de chocolate!” Exclamou, tirando um grande barra de chocolate coberta por uma embalagem bonita, a apontou em minha direção enquanto ia se aproximando, eu estremeci, minha visão começara a falhar, meu coração acelerou, eu não conseguia falar.
“Qual é o seu nome?” Questionou. “Seria…” Deu uma pausa hesitante, agora estava bem próximo ao meu rosto, sorrindo e passando a mão em meus cabelos, parecendo buscar algo em sua mente. “Odon!” Ele exclamou satisfeito, tive que me segurar para não gritar em meio ao desespero, foi quando algo aconteceu.
“Ei!!” Ouvi um grito, no mesmo instante me joguei de lado saindo da árvore, caí entre as raízes, quase fui puxado para baixo, ao olhar para cima o vampiro já não estava lá, porém eu já não conseguia mais me mexer.
Ouvi passos apressados, logo uma sombra diante de mim, olhei para cima. “Aí meu deus, você está bem?” era um homem, eu o conhecia? Talvez, já não me lembrava, em alguns segundos a minha visão começou a se desfocar, eu já não enxergava mais nada, foi
quando eu desmaiei entre as raízes da grande árvore.
Publicado por:

- Ambroise Houd
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