A Noite Em Questão - XIV
BERLIAC
Há algo de estranho aqui, este é um lugar hostil. Não existem amigos, companheiros, não há ninguém em que se possa confiar.
Acabo por descobrir isto da pior das maneiras possíveis, vi a forma como eles me olhavam, como cochichavam o meu nome em meio a risadinhas discretas, eu me senti mal, estranho, com raiva. Queria poder olhar para eles, ir até lá, gritar, xingar, porém eu me virei, segui caminhando para fora do hall, enquanto via um céu cinzento sobre a minha cabeça.
Acho que caminhei por tempo demais, me vejo distante de todos aqueles rostos e sorrisos cruéis, olhando ao redor vejo apenas a estrada de pedras lisas e árvores à minha direita, devo estar caminhando pela área dos empregados, dito que não vejo os carrinhos de golfe e muito menos todas aquelas estruturas luxuosas.
Minhas lágrimas já estão secas, felizmente pude esconde-las até o afastamento, eu estava sozinho, porém não pude ter tanta certeza, de alguma forma, forma este que eu não sei explicar, comecei a ouvir algo, um som, um ruído algo parecido, vinha da floresta, eu dei alguns passos curiosos, cheguei perto de uma árvore, de lá não podia ver muita coisa, eu respirei fundo tinha um cheiro estranho vindo daquele lugar, normalmente esperamos o cheiro da madeira, das folhas, das flores, porém, era um cheiro forte, mesmo que distante, um cheiro fúnebre, intenso e pesado, misturado com um aroma familiar.
Sem hesitar eu caminho para dentro da floresta, meus passos aos poucos vão se apressando, cada vez mais desconfiado, as vozes vão aumentando, há apenas uma, distante, mesmo assim grossa, mantendo a sua presença, tento não cair, continuo, é quando paro, ouvindo batidas de um coração, coração este que já não é o meu. Não preciso de muito, apenas olhando dentre algumas árvores à frente, há uma pedreira, nela vejo algo, uma figura, alta, de aura escurecida, veste um grande paletó preto, como os que tenho em meu armário, ele está de costas para mim, ouço novamente as batidas daquele coração, olho mais uma vez, eu o vejo e logo passo a reconhecer o seu aroma em meio ao cheiro das árvores.
Odon, dois pés no chão, olhos arregalados, diante das grandes raízes de uma árvore, raízes que crescem para fora, neste momento eu olho em seus olhos, há um brilho de temor, olhava para aquele homem da mesma forma que olhara para mim, àquele dia, àquela noite.
Eu gritei, o homem se virou, a medida que eu ia me aproximando podia ver; Seus olhos amarelados, brilhantes, únicos. Como poderia não supor que aquele homem era um deles? Um vampiro.
Avançou sobre o ômega. viu seus olhos se fechando aos poucos, estava desesperado, passou a mão sobre os seus braços, o puxou para si, tentou chama-lo diversas vezes, olhou para trás, pôde ver o homem, o vampiro, saindo aos poucos, com passos calmos, ele mantinha o olhar de escanteio, seus olhos brilharam, no canto da boca Cedric viu um sorriso surgindo, sentiu o seu sangue fervendo. “O quê você fez?!” Questionou aos berros. “O quê você fez?!”
O homem sumira, simplesmente havia desaparecido, agora Berliac tinha o ômega em seus braços, ele o apertou, pairando o olhar sobre a sua face, lágrimas escorriam pelo canto de seus olhos adormecidos.
Cedric o puxou para cima, deitou a sua cabeça sobre o seu ombro, ajeitou o seu casaco, com um braço ele apoiou as suas costas, com o outro posicionou as articulações que juntavam os joelhos, o levantou, abraçava-o, olhava atentamente para tudo ao seu redor, mirava o céu cinzento, seu coração palpitava, logo começou a correr.
Seguiu até chegar na estrada, estava vazia, só podia ver os seus próprios passos, ele respirou fundo, cansado e suando frio, olhou novamente para Odon, tão silencioso e frágil sobre os seus braços, como uma bela flor.
Enquanto caminhava ele gritava por socorro, queria ajuda, precisava de alguém, qualquer um que pudesse ajudar, naquela situação toda ajuda era bem vinda continuou caminhando com o rapaz nos braços, seus gritos eram desesperadores, ele seguiu até se cansar, olhou ao redor, estava próximo do campo de tênis, ele só precisava aguentar mais.
Ouviu passos, se virou assustado, apertando ainda mais aquele corpo quente sobre o seu peito, como se temesse que dele fosse tomado, era o seu bem mais valioso, era a personificação de toda a sua graça, em seus braços à misericórdia.
Vi um homem, um homem que eu já conhecia, já idoso, com aparência cansada, olhos alarmados. “O quê aconteceu?” Ele perguntou, observou a minha expressão, devo estar horrível, sinto lágrimas nascendo aos poucos. Não o respondo, não preciso responde-lo, de alguma forma ele parece compreender a situação de maneira inusitada.
Fomos até a cabana dele, seu nome, Rostam, foi quando me lembrei, aquele era o chefe de Odon, o homem que estava sempre ao seu lado, eu o pus sobre a cama, devo admitir ter sentido um enorme vazio ao olhar para os meus braços, não havia mais aquele calor reconfortante, apenas o frio que aos poucos ia se instalando, fechei as janelas bloqueando a entrada do brilho pálido do céu, tratei de tirar os seus sapatos e cobri-lo para que não sentisse frio e nem acordasse doente, respirei fundo e saí do quarto.
“Muito obrigado, se não estivesse lá eu estaria até agora gritando.” Digo me sentando timidamente. “Nada.” Suspira o homem, ele serve mais um pouco de chá para mim, empurra a xicara em minha direção. “Como foi que isso aconteceu?” Questiona, eu olho atentamente em seu olhos escurecidos, que ainda me fitam com uma expressão duvidosa e misteriosa, não me permitindo supor se desconfia de mim.
“Eu estava caminhando pela estrada quando ouvi um voz estranha, vinha da floresta.” Respirei fundo. “Comecei a sentir um cheiro estranho, pesado, distinto, quando cheguei na pedreira vi um sujeito, logo vi Odon, ele chorava, parecia assustado, quando me aproximei ele caiu, já o homem sumiu.” Falo da maneira mais sensata possível.
“Como era esse sujeito?” Questiona o beta. “Seus olhos eram amarelos.” Lembro-me bem, acho que jamais poderia me esquecer, noto um tom de surpresa na expressão de Rostam, ele parece confuso. “Sinto muito.” Diz ele. “Creio que isso seja culpa minha.” Eu o encaro curioso. “Como?” Demostro minha dúvida.
“Eu não deveria tê-lo deixado ir sozinho, esse lugar é perigoso demais.” Suspira passando as mãos nos olhos. “De toda forma, vou ligar para o restaurante para avisar que ele não vai hoje.” Ele se levanta, me deixa sozinho, olho ao redor, pego o meu celular, vejo que já se passaram cinco horas, suspiro, passo a mão em meus cabelos.
Fiquei alguns minutos sozinho até que Rostam voltasse, foi quando tomei coragem para continuar a nossa conversação. “Era um vampiro.” Digo meio descontraído. “Ele estava lá e sorriu para mim.” Minha voz sai trêmula. “Isso não é um bom sinal.” Suspira o homem, a tensão paira sobre nós. “Acho que ele queria assusta-lo.” Contradiz o velho. “Não é de sua natureza.”
Eu o encaro. “Mas o Odon desmaiou!” Exclamo. “Como posso ter certeza de que ele não fez nada de ruim?” Questiono. “Poderia tê-lo envenenado ou até mesmo o sufocado.” Não consigo ficar em paz com as hipóteses otimistas deste homem. “Odon ficou com medo, ele estava apavorado, algo de ruim poderia ter acontecido.”
Noto que ele esta prestes a me responder porém de alguma forma ele hesita, logo seus olhos voltam a me encarar, há algo de estranho na maneira em que ele me observa. “Como você sabe o nome dele?” Questiona o homem enquanto roda a colher dentre o chá morno.
“Perdão?” Questiono surpreso. Rostam continua a me observar. “Disse o nome dele três vezes desde que chegou aqui.” Percebo que cometi um erro terrível.
Quando me preparo para responder ouço passos, eu viro o pescoço, vejo o ômega de pé diante da porta, ele olha para o beta, logo depois percebe a minha presença ali, seu olhar é cansado, mesmo assim tenebroso, encara a minha alma, daquele modo, perante aquele cenário, cabelos bagunçados, olhos marejados, lábios carnudos semiabertos, um passo adiante, mesmo olhar, é ele, belo como uma flor, ele me viu e se lembrou de mim, mesmo que timidamente, quase por instinto ao sentir o seu aroma libero os meus feromônios lentamente.
Publicado por:

- Ambroise Houd
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𝙉𝙊𝙑𝙀𝙇 𝙋𝙇𝘼𝙔𝙇𝙄𝙎𝙏
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