A BUCHA DE CANHÃO DA FAMÍLIA RICA ENLOUQUECEU - Capítulo 6: Sequelas
A família Shen, que começara do zero com o velho Mestre Shen, havia construído seu império ao longo de várias décadas.
Embora não fossem da mais alta nobreza, ao menos eram considerados uma família influente, vivendo em luxo há meio século.
Contudo, naquela noite, algo extraordinário, absurdo e inesquecível ocorreu — um evento que se tornaria o mais escandaloso e inominável da história da família Shen.
Dizem que, naquela noite, o som de torneiras abertas ecoou de todos os banheiros da mansão Shen até a meia-noite.
Além disso, o som de uma ambulância pôde ser ouvido, levando Shen Hongyuan — que gritara o jantar inteiro, não só sem aliviar o estresse, mas ao ponto de desenvolver pressão alta — às pressas para o hospital.
Conta-se que, quando ele foi auxiliado a entrar na ambulância, ainda gritava: “Eu quero tomar banho! Preciso tomar banho!”
Madame Shen tinha um compromisso de beleza marcado com suas amigas para o dia seguinte.
Mas quando a ambulância chegou, parecia que ela tentava fugir de algo. Saiu da sala de estar da mansão Shen como se fugisse pela própria vida, atravessando o salão de jantar e indo direto para a ambulância, como se não suportasse ficar mais um segundo sequer na mansão.
Um vizinho que passava pela vila dos Shen testemunhou a cena e pensou que o chefe da família havia contraído alguma doença terminal, admirando o forte laço entre o casal Shen.
No terceiro andar, Shen Xingran passou a noite com o rosto enterrado nas mãos, sentindo-se completamente derrotado.
Ele havia se sentado um pouco perto demais de Shen Xingzhuo naquela noite.
Quando Lu Ran arremessou o saco de lixo, o conteúdo explodiu para todos os lados.
No cabelo, no rosto, nas roupas…
Mesmo após cinco banhos, ainda conseguia sentir aquele leve… cheiro.
Ele tinha uma reunião de colegas marcada para a tarde seguinte.
Todos presentes seriam jovens ricos ou bem relacionados de seu círculo social.
Em seu estado atual…
Pela primeira vez, Shen Xingran perdeu completamente o autocontrole e gritou, pegando o roupão e correndo de volta para o banheiro.
Em suma, foi uma noite sem sono para todos.
Apenas Lu Ran dormiu tranquilamente, sem nenhuma preocupação.
O dia seguinte era um sábado.
Lu Ran não saiu da cama até quase oito horas.
Ele saiu do quarto com Da Huang, que já estava limpo e cheirando bem, bocejando enquanto caminhava em direção à sala de jantar.
Quando estavam prestes a entrar na sala, Da Huang parou por um momento, olhando para Lu Ran e soltando um pequeno gemido.
Parecia estar um pouco envergonhado pelos eventos de ontem.
“Vamos lá, por que está parado aí?” chamou Lu Ran.
Ao ver seu dono descontraído, Da Huang hesitou por dois segundos, um brilho de inocência passando por seus olhinhos brilhantes, antes de segui-lo para dentro.
A mansão Shen estava estranhamente silenciosa.
Além de alguns empregados trabalhando no andar de baixo, parecia que não havia ninguém no andar superior; nenhum som podia ser ouvido.
A sala de jantar, que estivera um caos na noite anterior, já havia sido arrumada, sem deixar vestígios do que acontecera.
Lu Ran, o principal causador, parecia ter esquecido completamente dos eventos passados, sentando-se em seu lugar habitual na mesa de jantar.
A mesa estava vazia.
Ele franziu a testa, contrariado, e virou-se para alguém na cozinha, perguntando: “Onde está o café da manhã?”
Ao ouvir sua pergunta, os empregados ocupados no andar de baixo caíram em um silêncio constrangedor por dois segundos.
No passado, Lu Ran era uma presença indesejada na casa dos Shen.
Seu status era baixo, a ponto de terem ordenado que ele se mudasse para o quarto de armazenamento no pátio, vivendo uma vida pior que a dos empregados.
O chefe da família Shen não o respeitava, e os servos, educados e refinados, também o ignoravam.
No passado, a multidão ocupada no primeiro andar fingiria não ouvi-lo.
Contudo, dessa vez, alguém da cozinha veio especialmente até ele, aproximando-se da mesa de jantar e falando em um tom respeitoso e suave: “Madame e o Mestre ainda estão no hospital, e os segundo e terceiro jovens mestres saíram, então o café da manhã não foi preparado esta manhã.”
Enquanto o mordomo falava, sua voz foi gradualmente diminuindo, claramente percebendo que algo estava errado.
Como esperado, Lu Ran ergueu os olhos para ele com uma expressão sincera e confusa, perguntando: “Eu não sou uma pessoa?”
Mordomo: “…”
“Desculpe, Jovem Mestre Lu. Vou preparar imediatamente,” ele se apressou em pedir desculpas.
Após dizer isso, dirigiu-se à cozinha.
Depois de dar alguns passos, parou novamente, com uma expressão hesitante, e olhou para Lu Ran, perguntando suavemente: “Quer dizer que o senhor quer… tomar o café aqui?”
Ele apontou para a sala de jantar.
“O que mais seria?”
Lu Ran, enquanto despejava ração para Da Huang, ergueu os olhos, confuso ao ouvir a pergunta.
Quando os outros empregados ouviram as palavras de Lu Ran, todos o encararam com olhares de admiração.
Logo, o café da manhã foi servido.
Lu Ran começou a comer com tranquilidade.
Ele sabia o motivo do espanto dos empregados.
Contudo, ele realmente não se importava.
Como estudante de medicina veterinária, ele sabia bem que fezes eram apenas resíduos de proteínas não digeridas e bactérias.
Agora, a sala de jantar havia sido desinfetada tantas vezes que não restava nenhuma questão de higiene.
Quanto ao aspecto psicológico…
Lu Ran trabalhava meio período em uma loja de animais.
Frequentemente havia gatos e cachorros resgatados que, por não estarem acostumados ao ambiente ou por maus hábitos, deixavam a sala de adoção em completo caos.
A limpeza sempre era responsabilidade de Lu Ran.
Desde que começara a cuidar de Da Huang aos dez anos, ele já havia lidado com as necessidades dele por muito tempo.
Afinal, no orfanato, não podia esconder um cachorro que criava em segredo.
Não demorou para que um colega rival informasse a professora às escondidas.
Naquele tempo, para garantir a segurança das crianças, era proibido manter animais abandonados no orfanato.
A professora, cumprindo seu dever, precisou mandar Da Huang embora.
Mas então o Diretor Lu apareceu.
Na memória de Lu Ran, o diretor era um velho sorridente.
Ele hesitou em se despedir de Da Huang, mas o diretor se aproximou e perguntou se ele realmente queria cuidar do cachorro e se tinha pensado nas responsabilidades que isso envolvia.
Foi o diretor quem lhe disse que, embora ter um animal trouxesse companhia, também vinha com obrigações.
Se ele realmente quisesse ficar com Da Huang, teria que se responsabilizar por alimentá-lo, limpar atrás dele e cuidar para que ele não causasse problemas aos outros.
Claro que Da Huang não podia ficar no dormitório.
O diretor conversou com a segurança, que arranjou um pequeno cantinho para Da Huang ali perto, até providenciando suas vacinas.
Lu Ran ia até lá todos os dias para alimentar Da Huang e limpar a área.
Como muitos adoravam animais fofinhos, o orfanato logo abriu um pequeno jardim para cuidar de bichinhos como coelhos e pintinhos. Cada turma era responsável por turnos para cuidar deles.
Quando Lu Ran estava no orfanato, costumava imaginar como seria feliz ao encontrar sua família.
Mas agora, olhando para sua vida na casa dos Shen, ele sentia que a vida no orfanato tinha sido bem melhor.
Embora houvesse muitas crianças e alguns conflitos, também havia momentos em que os professores não conseguiam dar conta de tudo ou estavam exaustos.
No geral, Lu Ran tinha tudo o que precisava, e até brincava com dispositivos eletrônicos caros.
O diretor visitava cada sala de aula diariamente.
Quando era pequeno, Lu Ran gostava muito desse diretor; cada vez que ele passava, Lu Ran ficava animado e ansioso para conversar com o bondoso senhor.
Ser elogiado por ele era ainda melhor.
Mas o diretor era muito ocupado, e havia muitas crianças no orfanato.
Assim como os brinquedos e tablets da sala, tudo pertencia a todos e não a uma pessoa só.
Às vezes, Lu Ran fantasiava secretamente sobre como seria bom se o diretor fosse seu parente.
Só dele, de mais ninguém.
Embora esse desejo nunca tenha se realizado, o diretor deixou Da Huang para ele.
Logo, Lu Ran terminou sua refeição.
Ele limpou os pratos, como de costume, e saiu com Da Huang para o trabalho.
Ao passar pelo pátio, encontrou Shen Xingran e Shen Xingzhuo voltando.
No momento em que Shen Xingran viu Lu Ran, ele encolheu-se imediatamente dentro do carro, como um rato que vê um gato.
Nem sequer tomara café da manhã.
Só de ver Lu Ran e seu cachorro, ele já começava a sentir um “cheiro” em si mesmo…
Shen Xingzhuo estava do lado de fora do carro, mas evitava olhar para Lu Ran.
Lu Ran deu uma olhada rápida.
Era comum a família Shen ignorá-lo, e ele já estava acostumado a isso.
Mas agora…
Havia um toque de medo misturado com essa indiferença, algo que os deixava um pouco apreensivos.
Shen Xingran estava completamente escondido.
Shen Xingzhuo não se escondia, mas pelo jeito que esticava a mão para a porta do carro, provavelmente queria evitá-lo, mas não teve tempo suficiente.
Ele havia mudado de visual, principalmente raspando o cabelo.
Cortou toda a parte mais longa, deixando um corte militar.
Resta saber se o cabeleireiro que raspou sua cabeça sabia o que havia acontecido com aquele cabelo na noite anterior.
Lu Ran não prestou muita atenção.
Estava com pressa e passou direto com Da Huang pelo carro.
Ao passar atrás de Shen Xingzhuo, o jovem destemido parecia se lembrar da sensação nas costas no dia anterior e se enrijeceu como uma estátua.
No entanto, Da Huang agachou-se ao lado dos pés de Shen Xingzhuo, abanando a pequena cauda.
Com seus olhinhos pretos e brilhantes, olhou para Shen Xingzhuo com expectativa.
Esse era o jeito de Da Huang mostrar afeto por alguém, querendo brincar.
Lu Ran achou um pouco estranho.
Gentilmente puxou a guia. “Da Huang, vamos lá. Cachorro bobo, nem sabe distinguir uma boa pessoa de uma ruim antes de fazer amizade.”
Da Huang o seguiu, a contragosto.
Ao ver que os dois tinham realmente saído, Shen Xingran finalmente suspirou aliviado dentro do carro.
“Segundo irmão! Olhe pra ele!” queixou-se Shen Xingran.
Após uma longa pausa sem resposta.
Quando Shen Xingran ergueu o olhar, ouviu Shen Xingzhuo murmurar, enquanto olhava para o horizonte, “…tão novo e chamam de Da Huang.”
Shen Xingran não ouviu direito e perguntou, “O que você disse, segundo irmão?”
Só então Shen Xingzhuo voltou a si. “Ah, nada.”
Os dois seguiram juntos em direção à mansão.
Ao passarem pela sala de jantar, Shen Xingzhuo, habitual em demonstrar cuidado com o irmão mais novo, perguntou: “Ainda não tomou café, está com fome?”
Assim que ele falou, ambos caíram em um silêncio repentino.
Viraram-se e olharam para a “cena do crime” do dia anterior e rapidamente subiram as escadas, escapando dali.
Três dias depois, Shen Hongyuan e Madame Shen finalmente voltaram do hospital.
Ao saírem do carro, ambos pareciam visivelmente mais magros.
Durante aqueles três dias, quase não comeram nada.
Naquela noite, Lu Ran lhes proporcionara uma “surpresa” justamente no momento em que estavam com mais fome.
Como resultado, seus corpos passaram a associar automaticamente a sensação de fome àquela lembrança sutil, porém chocante.
Sempre que sentiam fome, pensavam nela.
Somente no terceiro dia é que não aguentaram mais e conseguiram comer um pouco.
Ainda assim, evitavam qualquer coisa de cor escura, semi-sólida, ou que lembrasse o que havia sobre a mesa naquela noite.
Depois de alguns dias de fome, a barriga de chope de Shen Hongyuan, que vinha se formando com a idade, havia desaparecido.
Ao retornarem à mansão, Shen Hongyuan e Madame Shen tacitamente evitaram a sala de estar no primeiro andar e subiram direto as escadas para o segundo andar.
No meio da escada, o telefone de Shen Hongyuan tocou.
Ele olhou para o aparelho e viu que era um cliente importante, então atendeu imediatamente.
A voz do outro lado soou preocupada: “Senhor Shen, soube que esteve hospitalizado há alguns dias. Como está sua saúde agora?”
“Senhor Li, agradeço pela preocupação. Não foi nada grave, só meu problema de sempre; a pressão anda um pouco alta…” Quando pensou na causa de sua pressão alta, Shen Hongyuan não pôde evitar uma pausa.
O Sr. Li continuou entusiasta: “Sim, estamos ficando mais velhos; todos precisamos nos cuidar, especialmente com a alimentação. Não dá pra comer de tudo!”
Shen Hongyuan: “……”
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