A BUCHA DE CANHÃO DA FAMÍLIA RICA ENLOUQUECEU - Capítulo 136 – Extra, Linha Alternativa (Parte 1)
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- Capítulo 136 – Extra, Linha Alternativa (Parte 1)
“Que saco. Ele vai vir ou não?”
O jovem alto e esguio estava recostado em uma cadeira de plástico simplória. Sua postura relaxada e desajeitada fazia a cadeira parecer pequena demais para o seu corpo. As pernas longas, sem espaço, ficaram primeiro dobradas desconfortavelmente, até que ele decidiu esticá-las de qualquer jeito.
Mas nem bem as esticou, sentiu uma picada e, franzindo as sobrancelhas, deu um tapa forte no próprio tornozelo exposto.
Um estalo seco.
Ele baixou os olhos para olhar a palma da mão.
Uma mosca ensanguentada e inchada jazia ali, esmagada.
Sem expressão, pegou um lenço, limpou o sangue da mão e jogou o papel amassado no lixo ao lado, onde já havia outros lenços manchados de sangue.
“Quanto mais eu preciso esperar?”
Ji Min, com apenas catorze anos, ergueu o olhar, impaciente.
O mordomo Chen segurava o celular, com um sorriso educado, mas internamente já lamentava como daria ao jovem cada vez mais temperamental a notícia que recebera ao telefone.
Mas antes que pudesse falar, Ji Min apenas lançou-lhe um olhar, recostou-se de volta na cadeira e forçou um sorriso:
“Diga logo. A esposa dele ficou doente, ou foi aquele filho querido que ele ganhou do nada?”
O mordomo Chen suspirou antes de responder:
“O jovem mestre Jiang teve um evento na escola, e a Sra. Jiang não conseguiu se ausentar, então seu pai precisou ir no lugar dela.”
A Sra. Jiang era a madrasta de Ji Min.
O tal “Jovem Mestre Jiang” era o filho dela com seu primeiro marido, um meio-irmão de Ji Min sem laço de sangue algum.
Hoje, na verdade, não era uma data especial para eles.
Era apenas o aniversário de falecimento da mãe de Ji Min.
Ele já não sentia muito em relação a essa data. Os mortos partem, e os vivos seguem suas vidas.
Inicialmente, ele só pretendia visitar o túmulo como sempre, depois seguir com o dia. Mas seu pai, geralmente obcecado pela primeira esposa, decidira subitamente que queria ir até a antiga pousada onde a mãe de Ji Min vivera.
E lá estava ele, sentado, coberto de picadas de mosquito.
Ao ouvir a notícia, seu rosto permaneceu impassível. Não parecia surpreso nem irritado por ter sido deixado esperando pelo pai.
Ele apenas se levantou, sacudiu as pernas e comentou, indiferente:
“Entendi. Vou dar uma volta.”
Disse isso e começou a caminhar para fora da pousada.
O mordomo Chen foi atrás, preocupado: “O tempo está estranho, deve chover à noite. Volte antes de anoitecer.”
Mas, como qualquer adolescente destemido, Ji Min apenas acenou displicente e continuou andando sem olhar para trás.
Depois de alguns passos, outro garoto, também com uns catorze anos, se aproximou correndo. Ele segurava um buquê de lírios e gritou: “Irmão Min!”
Ji Min, sem muita paciência, lançou-lhe um olhar frio:
“Que foi?”
Ji Chi coçou a cabeça, sem jeito, e disse:
“Eu soube que a senhora gostava dessas flores, mas não acho adequado eu levar, então pensei em pedir que você deixasse por mim.”
Ji Min olhou para o buquê por um momento.
Talvez por ser a data que era, ou por ver as flores, hesitou um pouco.
Mas não pegou o buquê. “O túmulo dela não é aqui. Deixe as flores no carro.”
Sem mais, virou-se e continuou caminhando para fora da pousada.
Por perto, não havia nada muito interessante.
Na verdade, Ji Min só não queria continuar na pousada.
Andou pelas ruas sem rumo, até que, ao passar por uma floricultura, lembrou-se das flores de Ji Chi e parou por um instante.
As flores para as visitas ao túmulo eram sempre organizadas pelo mordomo Chen, comuns e seguras, nada que chamasse atenção.
Ji Chi dissera que a mãe gostava de lírios, mas Ji Min não se lembrava bem.
Ele percorreu o olhar pelas flores da loja, mas nada lhe trouxe alguma memória.
Já fazia muito tempo.
Além disso… nas lembranças de Ji Min, aquela mulher, que fora para a família Ji em um casamento arranjado, sempre fora discreta, sem preferências marcantes.
Após pensar um pouco, ele desistiu da ideia.
Levantou-se, decidido a comprar um pouco de cada flor e levá-las ao túmulo pessoalmente.
Mas, nesse momento, uma lembrança vaga surgiu em sua mente.
Sua mãe realmente não gostava de flores; ela preferia árvores vivas, que cresciam vigorosas.
Era verão, e uma brisa quente soprou, fazendo o som das folhas das árvores distantes encher o ar.
Ji Min ergueu os olhos e caminhou em direção ao bosque exuberante ao longe.
O caminho foi mais longo do que esperava.
Ji Min alugou uma bicicleta e pedalou pela estrada, observando as árvores verdes e densas ao redor. Quando percebeu, já havia pedalado mais de vinte quilômetros e chegado ao sopé de uma montanha. O céu começava a escurecer, e as primeiras gotas de chuva caíam.
Ele desceu da bicicleta com a garganta seca, maldizendo a si mesmo por ter se aventurado tão longe. No verão, a chuva começa de repente, e, como esperado, as gotas logo se transformaram em uma chuva pesada. Procurando água, ele olhou ao redor. Havia uma lanchonete e uma sorveteria, mas ambas estavam fechadas. Mais adiante, na direção da montanha, viu uma máquina de vendas automática piscando, como se o chamasse.
A chuva caía cada vez mais forte.
Indeciso entre procurar um abrigo ou comprar a água, ele acabou decidindo ir até a máquina.
Quando finalmente chegou à máquina, Ji Min já estava completamente encharcado. Enfiou a mão no bolso para tirar algumas moedas, comprou uma garrafa d’água e, enquanto a segurava, começou a se perguntar se havia enlouquecido naquele dia.
Ele puxou a bicicleta para debaixo de uma árvore em busca de abrigo e abriu a garrafa d’água, mas, de repente, ouviu um som leve e sussurrante atrás do tronco.
Com o cenho franzido, ele espiou por trás da árvore, achando que veria algum animal pequeno, mas encontrou uma bolsinha de ombro em forma de patinho amarelo, completamente encharcada.
Ele congelou por um momento, fixando-se na bolsinha nada comum ali, intrigado.
Aquela bolsa era algo que uma criança de jardim de infância usaria. Mas por que uma criança estaria sozinha, em um lugar desses, sob a chuva?
Como se percebesse que a bolsa estava visível, o dono da bolsinha, ainda escondido atrás da árvore, estendeu uma mãozinha para puxá-la para dentro novamente, desajeitado.
Ji Min ficou imóvel por um instante, antes de dar um passo para o lado e olhar diretamente para trás da árvore.
A criança, apanhada de surpresa, pulou assustada e caiu sentada em uma poça d’água. Com as duas mãos segurando firmemente uma enorme caixa, ela olhou para Ji Min com um misto de pavor e desconfiança.
“Ei,” Ji Min chamou, imediatamente estendendo a mão para levantar a criança.
O menino se contorceu tentando escapar, os olhos redondos e vigilantes.
Após uma breve confusão, Ji Min finalmente se abaixou, observando o garoto à sua frente, e perguntou: “O que você está fazendo aqui, sozinho, a essa hora? Cadê seu pai e sua mãe?”
Ao ouvir a pergunta, o garoto segurou as lágrimas, que logo se acumularam em seus olhos. Mas, em vez de chorar, ele apertou a caixa em seus braços e respondeu:
“Eu… estou esperando meu pai e minha mãe aqui.”
Erguendo o rosto, acrescentou em um tom firme, tentando intimidar: “Meu… meu pai está a caminho, está bem perto. Ele pode me ver!”
Ji Min demorou um instante para entender o que ele dizia e olhou ao redor, procurando algum adulto. Mas ao perceber a expressão desconfiada do garoto, ele deu uma risadinha ao entender.
“Espertinho, hein?”
A criança deu mais um passo para trás, ainda desconfiada.
Ele pareceu perceber que o menino tinha se perdido dos adultos.
Ji Min não era do tipo que esbanjava compaixão, então pegou o celular para chamar a polícia e ligar para o tio Chen, pedindo que fosse buscá-lo. No entanto, percebeu que o celular estava desligado. Com a bateria quase descarregada desde a tarde, ele não tinha notado que o aparelho havia apagado completamente.
Ele olhou para o garoto, ponderando. Naquele horário, as lojas na base da montanha já estavam fechadas, e a rua estava vazia.
O garoto era bem cuidado e estava vestido com roupas infantis de marca, o que indicava que sua família se importava. Seus pais provavelmente iriam procurá-lo em breve.
Mas a chuva estava cada vez mais forte, e a copa das árvores não oferecia abrigo suficiente. O garoto estava encharcado, e, se o temporal viesse acompanhado de raios, a situação seria pior.
Lembrando-se de um quiosque de pedra que havia avistado a alguns metros, Ji Min decidiu que seria melhor verificar antes de levar o menino até lá. Porém, ao olhar para a criança, hesitou, achando melhor não deixá-lo ali. Ele o pegou, segurando-o desajeitadamente pelo tronco e o prendeu debaixo do braço, caminhando na direção do abrigo.
Surpreso, o menino quase deixou a caixa cair e começou a se debater, gritando:
“Socorro! Socorro! Tem um homem mau aqui!”
Ji Min: “…”
Aquilo era demais. Ele lançou um olhar ao garoto e resmungou:
“Pode gritar. Com essa chuva, seus pais não vão ouvir mesmo.”
Essas palavras tiraram algumas lágrimas dos olhos do menino.
Ji Min suspirou: “Não sei se você é corajoso ou assustado, viu.” Com um tom mais suave, explicou: “Vamos encontrar um lugar para esperar seus pais. Do jeito que está, você já está molhado até os ossos.”
A menção de “esperar seus pais” pareceu reconfortá-lo, então ele se aquietou, mas ainda insistiu: “O vovô disse para eu esperar no mesmo lugar, sem sair.”
“Seu avô não está aqui, então o que ele diz não conta,” Ji Min retrucou, puxando a camisa para cobrir a cabeça do menino, tentando ao menos protegê-lo um pouco da chuva.
Rapidamente, eles chegaram ao quiosque. Ji Min colocou o garoto no chão, que imediatamente verificou o conteúdo da caixa.
Foi só então que Ji Min percebeu que se tratava de uma embalagem de sorvete, agora quase derretido, restando apenas os quatro cones. O menino olhou para o interior da caixa, o lábio inferior tremendo.
“O sorvete derreteu,” murmurou tristemente.
Ji Min apenas balançou a cabeça, achando típico das crianças que, mesmo em situações assim, ainda se preocupassem com coisas triviais.
Ele tirou a camiseta, torceu-a e a vestiu novamente. Então, olhou para o menino e fez o mesmo com sua jaqueta. Quando tentou torcer o resto das roupas dele, o garoto se afastou, assustado.
“Só quero tirar a água da roupa,” Ji Min explicou.
Mas o menino se defendeu: “A professora disse que não podemos deixar os outros tirarem nossas roupas!”
Ji Min olhou para o céu, sem saber o que responder. “Tudo bem. Então fica molhado mesmo.”
O quiosque era pequeno, apenas uns dois metros quadrados, com Ji Min de um lado e o menino do outro.
Do lado de fora, a chuva caía em uma cortina ininterrupta, tornando o ambiente dentro do quiosque quase silencioso.
O menino se inclinou contra o parapeito, olhando para o lugar de onde viera, esperando ver alguém vir procurá-lo.
Ji Min, impaciente, olhava para a chuva, mas mantinha o garoto em sua visão periférica.
De repente, o estômago de Ji Min emitiu um som de “gulu”.
A criança, encostada na grade, imediatamente virou a cabeça para olhá-lo.
Ji Min: “…”
Ele não havia jantado.
No almoço, por estar com raiva do próprio pai, também quase não comera nada.
Ainda pedalara vinte quilômetros.
Nesse momento, estava realmente com tanta fome que parecia que seu estômago estava grudado nas costas.
Na chuva forte, obviamente não havia nada para comer.
Ji Min, instintivamente, lançou um olhar para a caixa que o menino segurava no colo.
Ao perceber o olhar, a criança rapidamente escondeu a caixa ainda mais junto ao peito.
Mas a caixa era grande demais para ser escondida completamente.
Então, o menino decidiu colocá-la atrás de si, usando o próprio corpo para bloqueá-la.
Ao ver a atitude dele, Ji Min soltou uma risada debochada: “Quem quer comer esse sorvete que virou essa coisa horrível?”
Dizendo isso, ele se virou, cruzou os braços e sentou-se no quiosque.
O silêncio voltou a reinar no quiosque.
A chuva forte continuava caindo, e ao redor, apenas a luz fraca dos postes de iluminação ainda brilhava.
A cortina de chuva parecia uma linha divisória natural, isolando o quiosque do mundo exterior.
Ao redor, havia árvores exuberantes e o som das gotas de chuva batendo nas folhas e no beiral.
Ji Min sentou-se por um tempo e, inesperadamente, seu humor, irritado o dia inteiro, começou a se acalmar.
Ele se encostou na coluna molhada do quiosque e olhou para o telhado de madeira.
“Ei.”
Ji Min chamou, perguntando para o menino ao lado: “Qual é o seu nome?”
Ao ouvir a pergunta, o menino virou-se para ele, ainda com um olhar de desconfiança.
E respondeu baixinho: “O vovô disse que eu não posso dizer essas coisas para estranhos.”
Ji Min quase revirou os olhos.
“Tá, tá. E como é o nome dos seus pais?”
“Por que… por que você quer saber isso?” perguntou o menino.
Ji Min ficou surpreso por um instante.
Esse garoto tão pequeno e já sabia fazer perguntas de volta.
Logo depois, ouviu o menino repetir: “Meu pai vai chegar logo!”
Como se quisesse dar mais força à frase, o garoto ainda se esforçou para descrever:
“Meu pai é mais alto que você e muito forte!”
Ji Min riu, divertido.
Ele perguntou de propósito: “Oh, e quão forte?”
O menino pareceu ser pego de surpresa pela pergunta.
Ficou um bom tempo em silêncio, hesitante, apertando os dedos, até que finalmente abriu as mãos e fez um movimento de “grrr”.
E então disse: “Tão, tão forte assim!”
Ji Min não conteve uma risada.
O garoto pareceu se ofender com o riso dele, virou a cabeça para olhar para fora do quiosque e não disse mais nada.
O silêncio voltou ao quiosque.
Ji Min ficou em silêncio, ouvindo a chuva.
Lá fora estava muito escuro, e a chuva era pesada.
Ji Min, com seus dez e poucos anos, sentia que aquele raro momento de paz era precioso e queria ficar escondido ali um pouco mais.
Mas o menino de três ou quatro anos começou a sentir medo.
Assim, Ji Min viu que o garoto, que estava longe dele no início, aos poucos foi se aproximando, um pouquinho de cada vez.
Finalmente, parou a uma curta distância de Ji Min, próxima, mas sem tocar.
Ji Min não o provocou.
Ele olhou para a caixa que o menino segurava, um tanto curioso, e perguntou: “Seu sorvete já derreteu, por que você não come?”
O garoto olhou para a caixa transparente, toda lambuzada de creme, e apontou para cada compartimento, dizendo:
“Este é para o papai, este é para a mamãe, estes dois são para o meu irmão mais velho e o meu segundo irmão.”
Depois de dizer isso, ele pareceu se lembrar de algo e exclamou “Ah!”, surpreso: “Yan Yan esqueceu de comprar para si!”
A voz infantil do garoto era tão baixa que Ji Min não entendeu direito e perguntou, olhando para baixo: “Hum? Qual é o seu nome?”
Nesse momento, uma rajada de vento soprou.
As gotas de chuva foram jogadas para dentro do quiosque junto com o vento.
Instintivamente, o menino se encolheu.
Mas não sentiu a chuva atingindo seu corpo.
Ele abriu os olhos devagar e viu que o garoto ao lado estava inclinado, bloqueando a chuva para ele.
“O vento está soprando para esse lado, vamos sentar do outro lado.” Ji Min disse.
E levou o menino para outro ponto do quiosque.
Assim que se sentaram, o estômago de Ji Min voltou a fazer um som de “gulu”.
Ji Min: “…”
Ele abaixou os olhos e olhou para o menino ao seu lado.
Comparado ao início, quando estava muito desconfiado, o menino ainda não havia baixado completamente a guarda.
Mas aqueles olhos negros e brilhantes agora mostravam uma pontinha de curiosidade.
E esses olhos estavam fixos no estômago de Ji Min.
Ji Min, de repente, sentiu vontade de brincar. Ele cobriu o estômago e lamentou: “Ai, estou morrendo de fome. Se eu não comer alguma coisa, vou morrer!”
O menino levou um susto.
Instintivamente, deu um passo para trás, mas depois, preocupado, se aproximou de Ji Min.
Após hesitar por um tempo, estendeu sua mãozinha suja e deu um tapinha no braço de Ji Min.
Ao ver que Ji Min ainda segurava o estômago, o garoto ficou um pouco assustado e disse, com a voz trêmula: “Não morra, por favor…”
Ji Min não conseguiu conter o riso, seu ombro tremia de tanto rir.
De repente, ouviu um leve som de “clique”.
Ji Min levantou a cabeça.
Viu o menino colocar a sua caixa preciosa no banco.
Então, com as mãozinhas desajeitadas, ele abriu a caixa.
Lá dentro estava uma bagunça.
Os vários sabores de sorvete já estavam misturados, formando uma poça no fundo da caixa.
Só restavam alguns cones, que ainda estavam mais ou menos inteiros.
Lágrimas surgiram nos olhos do garoto novamente.
Mas ele não chorou.
Olhou mais uma vez para o sorvete e empurrou a caixa na direção de Ji Min.
E pela primeira vez falou diretamente com ele: “Irmãozinho, você quer um pouco?”
Essas palavras deixaram Ji Min surpreso.
Ele só quis brincar um pouco, não imaginava que o menino realmente abriria a caixa.
Acabou ficando um pouco sem graça.
Ji Min pigarreou e, provocando, disse:
“Mas você não comprou isso para seu papai, sua mamãe e seus irmãos? Se eu comer, o que eles vão fazer?”
Mal terminou de falar e viu o menino quase começar a chorar.
Ji Min ficou assustado e rapidamente disse: “Não se preocupe, eu não vou morrer se não comer. Pode deixar para eles.”
O menino segurou o choro novamente.
Com a voz embargada, ele disse: “Tudo bem, eu posso comprar mais depois.”
Depois de falar, pareceu lembrar de algo e repetiu: “Papai e mamãe vão chegar logo.”
O menino terminou de falar, passou as costas da mão no rosto e empurrou a caixa de sorvete para Ji Min, dizendo: “Irmãozinho, coma, seu estômago está fazendo barulho de novo.”
Ji Min: “…”
Para ser sincero, o conteúdo daquela caixa parecia lixo.
Não despertava a menor vontade de comer.
Mas ao olhar nos olhos do menino, Ji Min hesitou e pegou um dos cones.
Ele tinha acabado de fazer uma cena dizendo que ia morrer de fome, e agora que o garoto havia oferecido seu precioso sorvete, recusar pareceria um exagero.
Ji Min, afinal, estava numa idade em que comia muito e nunca passara fome.
Agora, com o estômago roncando, achava que aquele cone encharcado de sorvete era a coisa mais nojenta que já comera, mas mesmo assim mastigou dois cones, com estalidos ruidosos.
Com os dois últimos ainda na caixa, ele olhou para o menino e perguntou: “Você não está com fome?”
O garoto balançou a cabeça e respondeu: “Eu não quero comer.”
Dizendo isso, fechou a tampa da caixa e voltou a segurá-la no colo.
Mas então, lembrando de algo, ergueu a cabeça, olhou para Ji Min e perguntou, esperançoso:
“Irmãozinho, o sorvete estava gostoso?”
Ji Min: “…”
Embora Ji Min não fosse especialmente amado pelos pais, nunca lhe faltara nada em termos materiais e ele não estava acostumado a se privar.
Mas talvez fosse pelo silêncio no quiosque ou pelo brilho dos olhos do garoto à sua frente que, contrariando o que pensava, Ji Min respondeu com um leve esforço: “Estava gostoso.”
Os olhos do garoto brilharam ainda mais.
Ele segurou a caixa e se aproximou um pouco mais.
A caixa molhada quase encostava no joelho de Ji Min.
O menino perguntou de novo: “Então, irmãozinho, você está feliz agora?”
Dessa vez, Ji Min respondeu com sinceridade.
Ele sorriu e disse: “Estou feliz.”
Ao ouvir a resposta, o menino soltou uma risada pela primeira vez.
Ele até deu alguns pulinhos, sorrindo e exibindo seus pequenos dentes, dizendo: “Que bom!”
Ji Min não entendia o motivo de tanta felicidade.
Ainda se lembrava que estava ali esperando com o menino.
Olhou para o lugar onde o menino estava antes.
Mas, dessa vez, seu sorriso começou a desaparecer.
Se não estava enganado, quando o viu pela primeira vez, o sorvete na caixa já estava derretido.
Ele também havia notado alguns pacotes de gelo dentro da caixa.
Mesmo que estivesse quente, para que o gelo derretesse assim, ele já devia estar esperando havia bastante tempo.
Mesmo que seus pais fossem descuidados, já deviam ter percebido o sumiço da criança, não?
Ji Min queria perguntar algo mais.
Mas ao se virar, viu que o menino estava com sono, quase caindo de cansaço.
Pensou que o garoto estava apenas exausto e não deu muita importância.
Apesar de ser verão, a chuva forte fazia o ar esfriar, e suas roupas molhadas o deixavam com frio.
Ji Min usava apenas uma camiseta e não conseguiu evitar cruzar os braços.
O garoto, notando o movimento dele, levantou a cabeça e perguntou: “Irmãozinho, você está com frio?”
Ji Min ia responder que não, mas o garoto tirou o pequeno casaco que vestia e disse: “Tome, use este.”
Ji Min não conteve uma risada.
Ele perguntou: “Como eu vou usar isso?”
O garoto olhou para o casaco minúsculo em suas mãos e depois para o adolescente à sua frente, alto e grande, e também ficou sem reação.
Depois de um tempo, colocou o casaco, devagar, sobre o rasgo da calça jeans de Ji Min.
Ji Min ficou surpreso por um instante.
Depois, começou a rir sem parar.
“Tá bom, tá bom, você mesmo usa.”
Ele riu enquanto colocava o casaco de volta no menino.
Ao tocar o braço do garoto, seu sorriso desapareceu.
Ele franziu o cenho: “Por que sua mão está tão gelada?”
“Você não está com frio? Por que tirou o casaco?” Ji Min perguntou.
De repente, Ji Min percebeu o olhar confuso da criança em resposta à sua pergunta.
Na mente de Ji Min, surgiu um vago conhecimento que ouvira em algum momento.
Crianças pequenas não sabem reconhecer o frio ou o calor por si mesmas.
Por isso, é preciso que os adultos cuidem de ajustar suas roupas.
Ji Min rapidamente vestiu a jaqueta no menino.
Mas, com a chuva, a jaqueta também estava úmida.
Ji Min, que sempre vivera como um jovem mimado, não sabia nada sobre cuidar de crianças.
Ele só sabia que, se continuassem no frio, algo de ruim poderia acontecer.
Então, ele decidiu segurá-lo no colo.
O menino, que antes estava tão desconfiado dele, parecia agora mole e sem forças, sem qualquer intenção de resistir.
Enquanto o segurava, Ji Min olhou para fora do quiosque.
Esperou um tempo e percebeu que o menino não se movia.
Ao olhar para baixo, viu que a criança começava a cochilar, com a cabeça pendendo.
No entanto, suas mãos e pés ainda estavam extremamente frios.
Mesmo sem experiência, Ji Min sabia que aquilo não era apenas sono.
Ele imediatamente deu alguns tapinhas no rosto da criança, chamando-o baixinho: “Ei, não durma, senão quando seus pais chegarem, você não vai vê-los, hein?”
Ao ouvir isso, o menino fez um esforço para abrir os olhos, mas seu olhar continuava turvo e desorientado.
A sensação de tranquilidade que Ji Min sentira antes agora se dissipava lentamente.
Com o rosto tenso, ele olhou mais uma vez para fora do quiosque.
O local onde o menino estava escondido antes continuava vazio e ninguém aparecera.
A chuva lá fora continuava caindo, sem sinal de trégua, e parecia até aumentar.
O rosto de Ji Min ficou mais sério.
Não podiam mais esperar ali.
Algo grave podia acontecer se continuassem.
Do alto do quiosque, Ji Min conseguia ver sua bicicleta parada em frente à máquina de vendas, a alguns metros de distância.
Se ele se lembrava bem, não havia trancado a bicicleta.
Mas ela não tinha um banco traseiro.
Mesmo que tivesse, o menino, naquele estado, não conseguiria se manter equilibrado.
Ji Min franziu os lábios.
Olhou para si mesmo, usando apenas uma calça jeans e uma camiseta.
Seu celular estava sem bateria.
Colocou o menino no banco de madeira.
Tirou a camiseta e a rasgou em tiras, com as quais amarrou o menino em seu corpo.
Embora não estivesse muito firme, ele poderia segurá-lo com uma das mãos, e assim deveria bastar.
Decidido, Ji Min se lançou para fora, sob a chuva pesada.
Correu até a bicicleta, subiu, segurando o menino com uma mão e o guidão com a outra, e começou a descer a montanha.
A chuva descia com força, e ele mal conseguia ver o caminho à frente.
Pedalando com o peito nu, Ji Min pensou que nunca se sentira tão desamparado em sua vida.
Felizmente, não havia ninguém na estrada, nem obstáculos.
Ji Min sabia que o trecho mais difícil seria a parte da estrada ao pé da montanha.
Depois disso, já na área urbana, encontrar uma pessoa, uma loja aberta ou até mesmo uma cabine telefônica seria muito mais fácil.
Ele continuou pedalando sob a chuva.
A água gelada caía com força, e o corpo do menino em seu colo parecia cada vez mais frio.
Ji Min, que sempre fora indiferente a tudo, agora começava a sentir um aperto no peito.
E, repentinamente, arrependeu-se.
Desde que entraram no quiosque, o menino estava silencioso.
Talvez já não estivesse se sentindo bem naquele momento.
E ele, Ji Min, não havia notado.
Se tivesse descido a montanha mais cedo…
No meio do barulho da chuva, Ji Min de repente ouviu alguns soluços baixos.
Ele demorou um instante para perceber que era o menino em seu colo que chorava.
Aquela criança que repetia para si mesmo “papai e mamãe já vão chegar”.
Agora, finalmente, estava dizendo a verdade.
Entre soluços, ele sussurrava: “Irmãozinho, eu perdi todos, não consigo mais encontrar…”
Por um momento, Ji Min sentiu um aperto no peito.
Mas, ao ouvir a voz do menino, também sentiu algum alívio.
O som da chuva era intenso.
Com medo de que o menino não o ouvisse, Ji Min gritou enquanto pedalava: “Ei, não chore! Eu vou ajudar você a encontrar, tá bom?”
“Fica tranquilo, nós vamos encontrá-los!”
Ji Min não sabia por quanto tempo pedalou.
De repente, no meio da estrada deserta, apareceu um carro, que parou à sua frente e acendeu o pisca-alerta.
A porta se abriu.
Chen, o mordomo, saiu com um guarda-chuva e gritou, aflito: “Jovem mestre! Ji Min!”
Ji Min parou a bicicleta bruscamente.
E, finalmente, sentiu o peso da responsabilidade se dissipar.
Publicado por:

- DanmeiFuwa
-
Sou apaixonada pelo mundo das novels BL chinesas e venho me dedicando à tradução desde 2021 no Wattpad. Adoro o que faço, mesmo sem receber nada em troca. Disponibilizo minhas traduções aqui, pois nunca se sabe quando uma novel pode ser removida do Wattpad.
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