Regas - Capítulo 23
No momento em que sua mão estava prestes a esfaquear novamente a ferida pela quantidade de vezes que fosse, alguém agarrou seu pulso com força. A rainha arfou e virou a cabeça abruptamente para ver quem a havia impedido.
“Como você ousa me tocar tão imprudentemente?”
Ela tentou usar força para soltar o pulso da mão de Ashler e ergueu o pedaço de madeira ensanguentado. Mas foi interrompida pelas palavras que Ashler disse em seguida:
“Acho que você deveria se apressar e evitar isso.”
Ashler olhou para a rainha e lembrou-se de uma história que ouvira há algum tempo. A rainha dizia ter muito medo de uma pessoa.
“Sua Majestade está vindo para cá.”
Funcionou imediatamente. O rosto da rainha empalideceu de forma instantânea, como se tivesse sido golpeada por uma risada inesperada.
“Meu Deus!”
Ela respirou fundo, sem dizer nada, e começou a tremer visivelmente.
“N-não… Diga que não… Eu… eu…”
“Sim. Antes disso, deixe-me guiá-la de volta ao Palácio da Rainha.”
Quando Ashler apontou para a porta com a mão, a rainha deixou cair o pedaço de madeira que segurava e começou a fugir apressada. Ashler a seguiu calmamente e deu ordens aos dois soldados que estavam na porta.
“Por que vocês não escoltam a rainha adequadamente?”
“Sim? Ah, mas…”
“Ela está retornando ao Palácio da Rainha. Rápido, mexam-se!”
O ambiente ficou silencioso. Abel mal conseguia ouvir a voz de Ashler ao longe, mas não compreendia exatamente o que ela dizia. Ele levantou a cabeça lentamente. Sem perceber, o príncipe, que estava envolvido em seus braços, havia adormecido, com a boca ligeiramente aberta.
‘Como ele consegue dormir em meio a tanto barulho?’
Afinal, uma criança é apenas uma criança. Abel sorriu suavemente para o príncipe, mas logo notou algo no chão próximo. Era um pequeno frasco cheio de um líquido negro.
Abel estendeu a mão e cuidadosamente escondeu o frasco, que a rainha havia deixado cair, entre seus braços.
*
Quando Ashler chegou à capital ainda jovem e começou sua vida como cavaleiro real, tinha um objetivo: fazer uma grande contribuição e se tornar o melhor comandante da guarda real. Esse era o maior sonho que o filho de um pobre senhor local poderia imaginar.
Seria fantástico se, milagrosamente, conquistasse a confiança do rei e recebesse um novo território e um título nobre. No entanto, depois de observar a situação da família real, Ashler abandonou esse sonho. Afinal, isso era impossível, a menos que estivesse no Coração do Rei, onde reside o verdadeiro poder do reino.
Houve um momento em que surgiu uma oportunidade, e Ashler tentou se transferir para a Ordem Privada do Coração do Rei. Se fosse a mesma pessoa que era no passado, talvez não conseguisse se reconhecer agora. Agora, estava prestes a usar essa oportunidade para sua vantagem.
“Ashler, será que te entendi mal?”
A pergunta do capitão da guarda foi direta e incisiva. Ashler permaneceu de pé diante dele, com o olhar baixo.
“Você não sabe quão grave é o pecado de interferir nos assuntos da família real de forma imprudente? Mesmo que fosse a rainha quem estivesse fora de si, você não deveria ter agido naquele momento!”
No final, o capitão da guarda gritou em voz alta. Ele estava em uma posição desconfortável, tendo que lidar com as consequências dos acontecimentos do dia anterior.
“Se vai agir assim, por que me pediu que o nomeasse mestre de esgrima do príncipe? Se o Coração do Rei souber que você entrou naquele quarto ontem sem permissão, acha que permitirão que você continue ao lado do príncipe?”
“…”
Ashler permaneceu imóvel, como uma estátua, sem dizer nada. O capitão suspirou suavemente e baixou o tom de voz.
“Felizmente, consegui silenciar o soldado que testemunhou o que aconteceu ontem.”
“…”
“Ashler.”
Quando o capitão a chamou novamente, Ashler finalmente levantou os olhos e respondeu:
“Sim.”
“Prometa-me que isso nunca mais acontecerá. Esta é uma ordem.”
“… Eu prometo.”
Diante das palavras de Ashler, o capitão a observou por um momento e então acrescentou, com um tom tranquilo:
“Se quiser ter sucesso, não deve entregar seu coração ao príncipe ou ao Regas. Em breve o Regas partirá, e você, como mestre de esgrima do príncipe, terá uma boa oportunidade de ganhar sua confiança. Não pode desperdiçá-la.”
“O que você quer dizer com Regas partirá em breve?”
Ashler perguntou surpresa, mas o capitão da guarda deu uma explicação indiferente.
“É exatamente isso. Ele foi sentenciado à prisão como punição por interferir nos assuntos da rainha. Mas, enquanto estiver fora dos olhos do Coração do Rei, logo desaparecerá.”
O capitão levantou os olhos e acrescentou, com o mesmo tom apático:
“Provavelmente será afastado pelo Coração do Rei dentro de alguns dias.”
*
“O príncipe está bem. A rainha… Bem, ela permaneceu deitada na cama ontem e anteontem por conta dos ferimentos, mas suponho que hoje tenha se levantado e começado a andar novamente. Ainda assim, continua em silêncio e rejeita as pessoas.”
Melmond deu as notícias em voz baixa, olhando com pena para Abel, que mal reagiu.
“Você está bem? Ouvi dizer que sofreu um ferimento grave nas costas.”
“Senhor Melmond.”
Abel chamou Melmond com um leve sorriso no rosto.
“Você encontrou o que pedi que procurasse?”
Melmond não respondeu imediatamente. A razão pela qual ele retornou hoje, após a primeira visita ao paciente, era porque havia encontrado uma resposta. Mas não conseguia entender por que Abel, de repente, parecia tão interessado nisso. Ainda assim, havia cumprido a solicitação e encontrado as informações.
Na verdade, Melmond estava com medo. Quanto mais descobria a verdade, mais sentia que estava entrando em um território onde nunca deveria ter posto os pés. Sentia pena de Abel e do príncipe, mas, afinal, não passava de um bibliotecário indefeso. Ganhar a vida diariamente era sua prioridade; como poderia se envolver em algo tão perigoso?
Essas razões realistas agora pareciam desculpas. E, embora fosse patético, Melmond não conseguia evitar. ‘Eu não posso fazer nada’. Essas palavras ecoavam em sua mente diversas vezes. Mesmo assim, ele compartilhou a pequena pesquisa arriscada que conseguiu realizar.
“Não havia nada de especial sobre a Fonte de Oração, exceto a história do rei que contei antes. Lembra? O rei que desejava ir ao lado de seu amado Regas após a morte. No entanto, dizem que ele morreu lá enquanto rezava na Fonte de Oração. Fora isso, realmente não havia mais nada. Parece que a origem da fonte está no bosque…”
Enquanto falava, uma voz chamando por ele do lado de fora da porta interrompeu sua explicação.
“Senhor Melmond! Você precisa sair agora. Se continuar aqui, será pego!”
Era a voz de Nani, que vigiava do lado de fora da porta. Embora Abel tivesse sido oficialmente sentenciado ao confinamento, suas feridas eram tão graves que ele foi simplesmente trancado em seu quarto, já que não havia risco de fuga. Naturalmente, um soldado guardava a porta.
Felizmente, Nani, sendo sociável, conhecia bem os soldados, o que permitiu que Melmond se esgueirasse até ali. Ainda assim, o tempo era curto. Melmond rapidamente tirou um pedaço de papel do bolso e o colocou na mão de Abel.
“A localização da Fonte de Oração é mencionada brevemente em um livro muito antigo, então fiz uma tradução aproximada em forma de imagem. Não posso identificar com clareza apenas olhando, mas, como você já esteve na floresta, talvez reconheça.”
“Obrigado.”
Abel murmurou baixinho e segurou o papel. Melmond ouviu Nani insistir novamente do lado de fora da porta e, sem escolha, levantou-se. Contudo, não conseguia desviar os olhos do rosto de Abel.
Disse a ele que não acreditava em sonhos, mas não conseguia afastar aquela sensação sinistra. O momento em que sonhos como esses surgiam, tanto para os mestres de Abel quanto para os que estavam acima deles, era sempre constante: pouco antes de morrerem. Isso significava que Abel poderia morrer em breve.
A culpa, que Melmond havia tentado suprimir com tanto esforço, voltou com força total. Mesmo assim, ele se virou.
Com a cabeça baixa e o capuz puxado para evitar ser reconhecido, Melmond abriu a porta e saiu. ‘Não posso fazer mais nada. Isso é tudo o que consigo fazer.’
Depois que Melmond fechou a porta e foi embora, Abel examinou o papel. Ao observar a imagem, percebeu que a Fonte de Oração estava surpreendentemente perto do campo que ele e o príncipe visitavam com frequência.
No final de um lago longo, havia uma faia muito maior do que as outras árvores, e dizia-se que havia uma nascente logo atrás dela. Uma Fonte de Oração.
Ainda não sabia o que o rei queria dizer ao mencioná-la. Talvez ele fosse mais romântico do que aparentava?
Talvez tivesse dado esse conselho acreditando na lenda de que, se orasse fervorosamente, poderia alcançar a pessoa que desejava. Mas, mesmo considerando essa possibilidade, Abel achava a ideia absurda.
Não havia luz nos olhos do rei que ele viu. Eram olhos sem vida, de alguém que já estava morto por dentro.
Portanto, era mais provável que o rei tivesse falado da fonte como uma forma de zombar. Mesmo sabendo que sua morte estava próxima, Abel o desafiou, dizendo que tudo ficaria bem.
Mas ele ainda precisava ir.
Na noite em que conheceu o rei, seu sonho mudou. O sonho da primeira noite era igual ao que seu mestre havia descrito. Contudo, o sonho da noite em que conheceu o rei foi diferente.
A cidade ainda estava em chamas, e aqueles que beberam a poção negra no palácio morriam rindo enquanto eram consumidos pelo fogo. Mas não foi o dragão que queimou o país.
Era uma pessoa. Embora só se visse uma figura negra, como uma sombra, era um príncipe com forma humana. Antes de conhecer o rei, Abel realmente havia pensado em fugir com o príncipe. Contudo, quando encontrou o rei, seus pensamentos mudaram. Naquela noite, teve um sonho diferente, e instintivamente soube: precisava permanecer ali.
Conforme sobrevivia dia após dia, seus sonhos começaram a mudar aos poucos. A extensão do incêndio que consumia o palácio real foi diminuindo gradualmente. Por quê? O que estava mudando no futuro? Era frustrante não entender, mas definitivamente era um bom sinal.
Abel olhou para o vazio e coçou a cabeça com a mão.
“Tudo vai ficar bem.”
Se o Mestre ouvisse essas palavras, talvez agarrasse o pescoço e dissesse: “Que bobagem é essa que você está dizendo, parecendo que vai morrer com um buraco nas costas?” Ainda assim, o otimismo de Abel não desaparecia, nem mesmo nessa situação. Ele realmente acreditava que tudo ficaria bem, mesmo que morresse em breve e o príncipe tivesse de enfrentar um longo desafio.
E havia outra certeza: parecia que sua própria morte era a chave para mudar o futuro.
Sussurro, sussurro.
De repente, ouviu um pequeno som vindo do chão. Abel virou a cabeça e viu um rato subindo pela quina da parede, aproximando-se da cama. Ele estendeu a mão, arrancou um pequeno pedaço de pão de sua refeição e colocou-o na palma. Curiosamente, o rato parecia entender sua intenção e se aproximou da mão para comer.
Abel fechou os olhos novamente enquanto observava o rato devorar o pedaço de pão. Agora que sabia a localização da Fonte de Oração, esperava que isso pudesse ser uma oportunidade. Que seus sonhos mudassem novamente.
*
Seirin era uma presença importante na cozinha. Fazia o possível para realizar a difícil tarefa de levar comida para o Regas e para o príncipe — o herdeiro problemático cuidado pelo Coração do Rei. Por isso, era comum que o arquivista a chamasse ocasionalmente para elogiá-la. Seirin era direta e barulhenta, mas humilde o suficiente para nunca se vangloriar.
“Hmm, não tem jeito. Tente adicionar todo este medicamento hoje.”
O arquivista estava inicialmente preocupado, mas entregou a ela o medicamento. Agora, porém, fazia isso com descaso, simplesmente estendendo a mão sem nem olhar para Seirin.
“Ele estava quase melhorando, mas, ao entrar em contato com o príncipe novamente, o veneno voltou a se espalhar. Então, se usar todo o frasco, ele ficará bem.”
Seirin pegou o frasco e o despejou diretamente na sopa que segurava. O arquivista sempre insistia que o medicamento fosse colocado na comida, então isso já havia se tornado um hábito. Quando o líquido azul-escuro se misturou à sopa, a cor mudou ligeiramente, mas Seirin tampou o recipiente e se preparou para partir.
Antes de sair, porém, fez uma pergunta:
“Eu posso deixar o príncipe assim?”
O arquivista levantou os olhos, surpreso, e respondeu de forma seca.
“Você quer dizer deixar o veneno agindo nele desse jeito? Não se preocupe, os superiores já estão planejando tomar providências em breve.”
Seirin pareceu aliviada e saiu da sala de registros. Ela foi rapidamente até o quarto de Abel, que estava gravemente ferido. Seirin gostava dessa situação em que Abel estava afastado do príncipe. Quando ele estava com o príncipe, ela mal conseguia falar com ele, mas agora não havia impedimentos.
Ajudava Abel a comer, trocava seus curativos e oferecia uma ou duas palavras de consolo. Em resposta, Abel sempre sorria e agradecia, olhando diretamente em seus olhos.
Abel era gentil.
Gentil o suficiente para permanecer ao lado do príncipe, sem saber que ele estava sendo envenenado lentamente.
Você se sentirá melhor agora que o príncipe não está ao seu lado.
Seirin estava preocupada que o príncipe diabólico fizesse um escândalo ao tentar trazer Abel de volta. No entanto, como o arquivista havia mencionado, seria um alívio se os superiores simplesmente o deixassem em paz.
Doce.
Ao passar pelo soldado e abrir a porta, encontrou Abel dormindo com a boca ligeiramente aberta. Você disse que ainda tem 20 anos? Dormindo, ele parecia uma criança. Seirin sorriu levemente sem perceber e sentou-se em uma cadeira para esperar que ele acordasse.
“O que eu faço, o que eu faço…”
A rainha levantava as mãos trêmulas e mordia as unhas. O sangue escorria de suas unhas, mas ela continuava mordendo, como se não sentisse dor. Não satisfeita, parecia ainda mais ansiosa enquanto andava de um lado para o outro pelo quarto.
*
Após receber a preciosa poção do sacerdote, deveria ter ficado de cama por cerca de um mês, sentindo-se como se estivesse flutuando. Mas tudo havia mudado. Alguns dias atrás, ao voltar apressada depois de “educar” o príncipe, percebeu que a poção havia desaparecido.
Entrou em pânico e vasculhou todo o seu corpo, mas não encontrou o frasco. Será que o derrubei em algum lugar? A primeira coisa que veio à mente foi o quarto do príncipe.
Depois disso, o sacerdote apareceu e a repreendeu por não ensinar o príncipe adequadamente, mas ela só conseguia pensar no frasco perdido.
Se contar ao sacerdote que o perdeu, ele nunca dará outro frasco.
A rainha sabia o quanto o sacerdote valorizava aquela poção. Assim, restava apenas esperar que ele entregasse mais ou procurar o frasco desaparecido. Um medo sombrio se apossava de sua mente.
O sacerdote demorava meses para entregar a poção novamente, e não havia como prever quando isso aconteceria. Como punição por seu fracasso em educar o príncipe devidamente, ela foi proibida de deixar o Palácio da Rainha por algum tempo. Mas precisava sair para encontrar a poção.
O frasco deve estar no quarto do diabo. Em algum lugar ali, ela acreditava, havia um paraíso onde poderia se libertar.
*
Abel acordou com sede, mas no momento em que abriu os olhos, sentiu-se estranhamente mal. Seu corpo ainda estava febril por causa do ferimento, e ele se sentia tonto. Mas, acima de tudo, uma sensação sinistra o arrepiou.
Ele soltou um suspiro quente, com os olhos entreabertos, e percebeu que não estava sozinho no quarto.
Tsssh.
O som de uma cadeira sendo arrastada ecoou, e logo Seirin entrou no campo de visão de Abel.
“Trouxe algo para você comer.”
“…”
“Mesmo que seja difícil engolir, você precisa comer para se recuperar.”
Seirin evitou o olhar de Abel e virou a cabeça rapidamente. Em vez disso, começou a arrumar a comida fria sobre a mesa, mexendo as mãos de maneira agitada. Abel sentiu que deveria comer, considerando sua sinceridade, mas hesitou.
Quanto tempo ficarei inconsciente se comer isso? E se não conseguir resistir?
“Está frio, mas que tal começar com a sopa? É líquida, então é mais fácil de engolir.”
Com a sugestão de Seirin, Abel começou a se mover lentamente. Mas algo chamou sua atenção. Quando se sentou na cama e puxou o cobertor para o lado, havia um rato em sua mão. O pequeno animal balançava a longa cauda, como se estivesse dormindo.
Ao ver aquilo, Seirin soltou um pequeno grito, o que fez o rato pular assustado. Contudo, de forma curiosa, ele parecia gostar da mão de Abel e se acomodou novamente, esfregando o rosto e as costas contra ela.
“Meu Deus, um rato…”
Incapaz de terminar a frase, Seirin parou de falar. Abel deu um sorriso fraco e murmurou com desânimo:
“Há ratos malucos como este de vez em quando.”
Seirin deu um raro sorriso, talvez porque achasse a brincadeira engraçada. Abel a observou e, em um tom baixo, perguntou:
“Você tem notícias do príncipe?”
A expressão de Seirin mudou imediatamente, franzindo a testa.
“Disseram que ele está bem. Então, Abel, não se preocupe e apenas coma a sopa.”
Ela colocou um prato de sopa diante de Abel e até colocou uma colher em sua mão vazia.
“Você precisa comer para se recuperar logo.”
Mas Abel apenas olhava para a sopa, incapaz de mover as mãos.
“Se estiver difícil, posso ajudá-lo a comer?”
“…”
“Vamos, você precisa comer isso para… para se desintoxicar…”
Seirin percebeu o erro que havia cometido e imediatamente cobriu a boca com a mão. Abel levantou o olhar para ela, visivelmente perplexo.
“Ah, não, quero dizer…”
Seirin corou de vergonha, mas logo pareceu tomar uma decisão e empurrou a tigela de sopa na direção de Abel.
“Eu não te disse antes porque temia que ficasse chocado, mas, Abel, você foi envenenado. E essa sopa contém um antídoto. Você precisa tomá-la continuamente para que funcione, mas, como encontrou o príncipe novamente no meio disso, a eficácia foi perdida. Abel, você é tão gentil que talvez não perceba, mas o príncipe exala um veneno que deixa as pessoas ao seu redor doentes…”
“Seirin.”
Seirin se virou para Abel ao ouvir sua voz calma. Olhos verdes a observavam com uma luz gentil.
“O príncipe é apenas uma criança normal.”
“Não! O príncipe é um demônio! É por isso que ele envenena as pessoas ao seu redor…”
“Espere um momento.”
Abel segurou o braço dela suavemente e tentou acalmá-la com um sorriso triste.
“O arquivista foi quem te deu o remédio para colocar na sopa, certo?”
“…”
“Não sei o que ele te disse, mas posso garantir que não é culpa do príncipe que eu durma tanto e fique doente.”
“Eu não acredito nisso.”
Seirin balançou a cabeça e deu um passo para trás. Abel mordeu o lábio inferior, frustrado. Ele então soltou o rato que ainda brincava em sua mão, deixando-o sobre a cama, antes de voltar a encará-la.
Por menor que fosse a vida de um animal, Abel não queria fazer algo cruel àquele rato, que havia confiado nele. Mas ele precisava esclarecer o mal-entendido primeiro.
“É por isso que estou doente.”
Abel pegou uma colherada de sopa e a colocou diante do rato. Após um momento, o rato captou o cheiro e lambeu toda a sopa aguada.
Seirin franziu o cenho, sem entender o que Abel estava fazendo. Após terminar de comer, o rato começou a vagar novamente pelo quarto, aproximando-se de Abel. Mas nada aconteceu imediatamente.
“Eu não sei do que você está falando, mas a sopa está te ajudando a melhorar, Abel…”
As palavras de Seirin foram se apagando. Em vez de continuar, sua atenção foi capturada pelo rato, que, de repente, colapsou. Seu corpo ficou rígido, indicando claramente que estava morto.
Crack.
Seirin prendeu a respiração e deu um passo para trás. Abel, em silêncio, abriu a boca.
“São os Arquivos e o Coração do Rei que estão tentando me matar.”
“M-mas…”
“O príncipe é, na verdade, apenas uma criança.”
Depois de falar, Abel pareceu lembrar-se de algo. Ele tirou um pequeno frasco do bolso e o entregou a Seirin. Era parte da poção negra que a rainha havia deixado cair, que ele havia armazenado por precaução.
“Você pode confirmar se este é o medicamento que colocou na minha sopa?”
Abel perguntou, mas Seirin ficou parada, atônita, ainda sem se recuperar do choque. Abel esperou pacientemente até que ela pudesse responder.
“…Não. Isso… Não foi… Meu Deus! Então, enquanto eu… Você está dizendo que eu estava te envenenando, Abel? É isso?”
Seirin deu um passo para trás, tremendo como se suas pernas estivessem prestes a ceder, e acabou se sentando em uma cadeira. Continuava murmurando para si mesma: “Isso não pode ser verdade.” Mas, ao levantar os olhos, viu claramente o rato morto no chão. E viu também Abel levantando o prato de sopa.
“Q-q-que você está fazendo?! Você disse que é veneno! Por que você beberia isso…?!”
Seirin gritou, desesperada, mas Abel já havia bebido metade da sopa. Ele então sorriu para ela.
“Se eu não adoecer, irão te culpar, Seirin.”
Seirin ficou sem ar, encarando o rosto sorridente de Abel. Do que ele está falando agora? Mesmo sabendo que iria morrer, ele decidiu comer aquilo apenas para proteger sua reputação?
“Eu vou beber apenas a metade. Ainda tenho trabalho a fazer.”
Com os olhos semicerrados, Abel fez mais um pedido a Seirin:
“Por favor, não coloque isso na comida do príncipe.”
__________________
N/T: entender que o Abel sabia de tudo, e ainda sim permaneceu pq achava que essa era a única forma de ajudar o príncipe, me doi muito. O próximo capítulo será o último do primeiro volume, estão preparados para o que vem ai? Até semana que vem!
Publicado por:
- Gardenia_Fairy
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