Regas - Capítulo 22
“O garoto já está pensando nisso.”
Uma voz aguda acrescentou, irritada: “Dizem que fazia tempo desde que tinha falado com alguém, mas ficou me encarando tanto que me deixou desconfortável.”
Nohox olhou novamente para Trud, cerrando os dentes como se estivesse realmente mal-humorado.
“Precisamos assustá-los. É necessário corrigir hábitos arrogantes desde cedo para que não sofram no futuro. Tenho que garantir que ele esteja desanimado antes de voltar à floresta.”
Apesar das palavras de Nohox, Trud simplesmente lançou um olhar de desdém para o sacerdote, como se estivesse irritado. Já tinha ouvido falar que Nohox tentou apaziguar o príncipe, mas acabou sendo ignorado ou maltratado por ele. Além disso, Abel, que tinha ido à floresta para buscar o príncipe, voltou com ele pouco antes do pôr do sol, o que deixou o humor de Nohox no fundo do poço.
Honestamente, não importava muito como Nohox se sentia, mas suas palavras precisavam ser levadas a sério. Era um problema se o príncipe continuasse saindo e usando a floresta sem medo.
“Definitivamente precisamos reacender o medo nele.”
Enquanto Nohox murmurava, o sacerdote destacou outro problema:
“Até mesmo Abel representa uma questão. Ele talvez esteja ficando arrogante porque sabe que o príncipe só o segue. Mesmo com o Marquês Nohox esperando do lado de fora, ele demorou muito para sair da floresta. Se o príncipe continuar buscando Abel dessa forma, teremos que lhe dar o antídoto e trazê-lo de volta. Creio que lidar com os interesses de Abel seja mais urgente…”
“Hmph! Eu posso matar um urso assim em um instante, então qual é o problema?”
Enquanto Nohox gritava, o sacerdote abaixou a cabeça e recolheu-se em silêncio. Mas Trud interveio com uma opinião contrária:
“Ainda não. A morte de Abel só será um grande choque se for usada no momento certo, quando o príncipe estiver mais isolado. Assim, será mais fácil controlá-lo.”
Seus olhos brilharam, como se tivesse pensado em algo interessante.
“Agora, podemos encontrar uma maneira eficaz de assustar o príncipe e derrubar Abel. Sacerdote, libere-a.”
Já era tarde quando Abel voltou ao quarto para verificar o príncipe, que já estava na cama. No entanto, um visitante inesperado o aguardava ali.
“Verifique se há alguém do lado de fora da porta.”
Melmond, que estava andando inquieto de um lado para o outro, deu instruções assim que Abel apareceu. Abel ficou confuso com sua presença inesperada, mas logo olhou para fora da porta e entrou no quarto. Então, como se estivesse esperando por isso, Melmond puxou seu braço e o fez sentar-se em uma cadeira.
“Melmond, você está bem? O que está acontecendo?”
“Bem…”
“Bem o quê?”
Quando Abel perguntou novamente, Melmond, em vez de responder, retirou um pedaço de papel do bolso. A escrita, que preenchia quase toda a folha, estava tão irregular que parecia ter sido feita às pressas. Abel precisou esforçar a vista para conseguir ler.
“O que é isso?”
“O registro que você pediu para eu encontrar. Mas ainda não consegui copiar tudo.”
Os olhos de Abel se arregalaram de surpresa, mas Melmond o advertiu, abaixando ainda mais a voz.
“Eu escrevi, mas não quero acreditar que seja verdade. É terrível demais para isso.”
“Posso ler?”
Era natural que Abel fizesse essa pergunta, mas Melmond não conseguiu assentir com facilidade. Uma dúvida repentina surgiu em sua mente. Mesmo que aquilo fosse verdadeiro, não havia como fazer algo a respeito. E se essa pessoa, cujo corpo já é tão frágil, descobrisse? Não seria um peso ainda maior para seu coração?
Enquanto Melmond hesitava, Abel pegou silenciosamente o papel à sua frente e começou a ler, com calma, a escrita difícil de decifrar.
O conteúdo principal tratava de como o lado do Coração do Rei, referido como “eles”, continuava a exercer o poder. O autor do documento era o predecessor imediato de Melmond, que havia compilado registros dos bibliotecários que observavam várias famílias reais ao longo do tempo.
[…] Portanto, eles parecem seguir de perto e repetir métodos que provaram ser eficazes ao longo de muitas gerações. Seu objetivo final é controlar o rei. O primeiro passo para alcançar isso é enfraquecê-lo, causando um choque psicológico severo durante sua juventude.
Como forma de provocar esse impacto, geralmente utilizam a mãe biológica do rei, a rainha. Ela é isolada da atenção de seu marido, o rei, e manipulada para sofrer abusos. Assim, a rainha passa a odiar o rei e a vê-lo como uma figura temível.
Quando a rainha dá à luz um filho, a partir desse momento ela passa a ser submetida às poções negras. Essas poções têm como objetivo mudar as pessoas, tornando-as anormais, violentas e, devido à sua natureza viciante, incapazes de resistir às ordens de quem as administra. A única coisa que é permitida a uma rainha assim é abusar continuamente do jovem príncipe, que um dia se tornará rei.
Por isso, o príncipe cresce odiando as mulheres e olhando para elas com medo e desprezo. Essa parece ser a razão pela qual ele somente valorizavam os Regas, somente um único homem, em sua vida posterior. A rejeição às rainhas e mulheres também tinha outra motivação: o temor de que essas rainhas, ao darem à luz príncipes, se tornassem rivais capazes de tomar o poder com facilidade no futuro.
Por exemplo, quando o Rei XX ascendeu ao trono, sua mãe, a ex-rainha, tomou o poder e tentou roubar o Coração do Rei…
*
“Ah, ha, ha.”
Não houve nenhum movimento violento, mas o peito da rainha subia e descia de forma frenética. Ela caiu no chão como um animal encurralado, com os olhos fixos na mão do sacerdote. Tudo o que conseguia ver era o pequeno frasco que ele segurava.
“Então, o que está esperando…?”
Era o primeiro medicamento que via em meses. Durante todo aquele tempo, ela ficou sem as poções, encurralada em um canto de seu quarto, tomada pelo medo. Tinha tanto medo de tudo, até mesmo de um grão de poeira, que era incapaz de mover o corpo. Seu corpo, constantemente sedento e atormentado por ilusões, estava reduzido a pele e osso.
Mas, finalmente, ela pôde vê-lo novamente: o remédio, que era como a própria vida para ela. Com as mãos trêmulas, a rainha tentou alcançar o frasco, mas o sacerdote o levantou ainda mais alto. Os olhos dela estavam cheios de súplica, mas ela não ousava avançar. Como uma criatura submissa, apenas esperava que ele lhe entregasse logo a poção negra. Quando a espera chegou ao limite, a voz do sacerdote soou:
“Você acha que merece isso? Depois de abandonar o demônio que você mesma criou?”
Demônio? Essa palavra ecoou em sua mente obscurecida. O sacerdote sorriu ao vê-la arregalar os olhos, surpresa.
“Sim, demônio. Bem, vou lhe dar isto, mas vá e cumpra sua tarefa. Você sabe o que é, certo?”
Quando o frasco passou para a mão da rainha, ela arfou, abriu a tampa com dedos trêmulos e tomou um gole. Apenas um gole foi suficiente. Uma energia refrescante espalhou-se por todo o seu corpo, e, de repente, tudo se estabilizou. Sentia-se como se estivesse embriagada, com cada parte de seu corpo revitalizada e cheia de energia.
O poder era tão intenso que ela sentia que precisava destruir e eliminar tudo. Felizmente, a rainha tinha um lugar para depositar essa energia. Ela se levantou e guardou cuidadosamente o restante da poção nos braços. Um sorriso de satisfação espalhou-se por seus lábios. “Vamos educar o demônio, hahaha.”
*
A transcrição de Melmond incluía a primeira parte da história das primeiras interações entre o príncipe e Regas, após o uso da poção pela rainha.
[*Um Regas especialmente selecionado é enviado ao príncipe, que ficou mentalmente isolado após sofrer abusos de sua própria mãe. O príncipe abre seu coração para essa pessoa, que se mostra gentil com ele, e logo passa a aceitá-lo como o único Regas em sua vida. Nesse momento, o príncipe sofre um segundo choque psicológico.
Eles matam o Regas do príncipe e deixam o corpo na entrada da Floresta do Dragão. Assim, o príncipe passa a reconhecer a floresta como um lugar de morte. A preocupação, neste ponto, é que Regas esteja tentando exercer poder utilizando o príncipe.
Para evitar isso, é necessário lidar rapidamente com as primeiras ligações emocionais do príncipe.
Depois que o príncipe abre seu coração, todos os Regas desaparecem dentro de poucos dias, ou no máximo um mês. Em seguida, um novo Regas é apresentado, com o mesmo rosto, mesma voz e comportamento do anterior.*]
Não havia mais conteúdo além disso. A caligrafia na parte final estava mais tremida do que em qualquer outro trecho, indicando que Melmond não conseguiu continuar escrevendo. Era evidente que a história se referia a Regas sendo usada e descartada, assim como a rainha.
Abel levantou a cabeça após um longo momento de silêncio. Melmond sussurrou com a voz pesada:
“Fuja, Abel.”
“…”
“Eles vão te matar. Fuja agora. Farei o meu melhor para encontrar um jeito. Apenas vá para qualquer lugar. Estou com medo. Não consigo lidar com isso…”
“Eu tive um sonho.”
Abel interrompeu as palavras de Melmond em silêncio. Quando Melmond o olhou com curiosidade, Abel sorriu.
“Também sonhei que o reino estava em chamas.”
“O quê?”
Surpreso, Melmond prendeu a respiração e mal conseguiu murmurar:
“Esse tipo de sonho… não é grande coisa.”
“Mas eu tenho sonhado com isso todas as noites.”
A voz de Abel soou como se nada tivesse acontecido, mas Melmond estremeceu. Um calafrio percorreu seu corpo ao se lembrar de que o mestre de Abel também tinha sonhos recorrentes todas as noites antes de morrer.
“Oh…Desde quando?”
“Desde o dia em que desmaiei na floresta.”
Rangido. Melmond levantou-se abruptamente, empurrando a cadeira para trás, com uma expressão de surpresa estampada no rosto.
“Já faz mais de 20 dias! Você… Não, não. Sonhos não são significam nada, certo? Não é nada. Então fuja agora. Eu posso te ajudar desta vez.”
“Está tudo bem.”
“O quê? Como assim ‘está tudo bem‘? Você ouviu que vai morrer se ficar aqui, e ainda assim está bem com isso?”
Por fim, quando um grito irritado escapou da boca de Melmond, Abel abaixou a cabeça, como se estivesse pedindo desculpas. Mas, ao levantá-la novamente, sua voz ainda era tranquila.
“É o mesmo sonho que meu mestre teve, mas, desde o segundo dia que conheci alguém, o sonho começou a mudar. E continua mudando, embora lentamente.”
“Mudando? Como?”
Abel, no entanto, apenas sorriu de maneira desajeitada e olhou para o vazio por um momento antes de responder: “Eu ainda não sei, mas acho que é algo bom.”
“…”
“Por isso, eu não posso partir.”
A voz era firme. Melmond olhou para ele, confuso, como se estivesse atordoado, e então deixou-se cair de volta em sua cadeira. Murmurou, quase falando consigo mesmo:
“Se você insiste em ficar aqui, não poderei ajudá-lo de forma alguma. Agora eu… vou ter um filho, e eu…”
“Está tudo bem. E me desculpe. Bem, a propósito…”
Abel pediu desculpas em voz baixa, hesitou por um momento e tentou dizer algo mais. Mas antes que pudesse continuar, bateram à porta com urgência. A porta foi aberta sem que uma resposta fosse aguardada, e um soldado familiar entrou sem fôlego.
“Regas, temos um grande problema!”
*
Do lado de fora do quarto do príncipe, Ashler estava parado, olhando fixamente para a porta com uma expressão aterradora. Segurava firmemente o cabo da espada, como se estivesse prestes a sacá-la a qualquer momento, mas não se movia. Não podia se mover. Tinha recebido ordens para não fazê-lo.
Mas, a cada som que vinha de dentro do quarto, sua mão tremia. Dois meses antes, Ashler poderia ter ignorado o que acontecia ali e saído. Talvez tivesse conversado com outros soldados e aguardado o momento de voltar para seus aposentos e descansar.
Não. Ashler negou mentalmente. O tempo não era o problema. Se não fosse por alguém, não teria dado importância ao que acontecia com o príncipe, independentemente de quanto tempo passasse. Não havia como sentir algo por um príncipe que não mudava. Mas, embora tudo tivesse mudado, Ashler permanecia incapaz de fazer algo.
Thud.
Um som alto e abafado ecoou de dentro do quarto. A raiva de Ashler consigo mesmo começou a ferver. Já havia ouvido histórias sobre a rainha antes de chegar ao palácio do príncipe. Sabia que ela havia abusado incessantemente do príncipe, mas tinha esquecido disso por nunca ter testemunhado tais atos desde sua chegada.
Naquela noite, porém, quando o príncipe, que havia conhecido Abel, finalmente adormeceu um pouco, Ashler ouviu passos pesados no final do corredor. Um odor terrível, cabelos desgrenhados, um rosto tão magro quanto o de um esqueleto, mas com olhos que brilhavam de loucura.
Ashler tentou sacar sua espada, mas uma serva a deteve. Seus gritos a impediram de fazer qualquer coisa.
“Espere! É a rainha!”
A rainha. Esse era um título que ninguém ousava desafiar, não importava o quão estranhas fossem as risadas ou os ruídos altos. No final do corredor, nenhum dos superiores recém-chegados — o diretor e o arquivista — fez objeções enquanto observavam com os braços cruzados.
Será que realmente não há o que fazer?
Enquanto essas perguntas surgiam na mente de Ashler, o som de passos apressados ecoou pelo corredor. Distraído por um momento, enquanto olhava para a porta, Ashler só notou que alguém se aproximava quando a figura já estava bem próxima.
“Por favor, saia do caminho.”
Ashler virou o corpo para o lado, olhou para trás e arregalou os olhos de surpresa.
“Senhor Abel? Como chegamos a isso…?”
O rosto pálido de Abel, que parecia prestes a desabar desde que saiu da floresta, assemelhava-se ainda mais ao de um cadáver enquanto ele corria. No entanto, após acenar para Ashler, ele agarrou o puxador da porta sem hesitar. Ashler, alarmado, rapidamente segurou seu pulso e o deteve.
“O que você vai fazer? A rainha está lá dentro. Não é permitido entrar sem autorização.”
“Sim, eu sei.”
Ashler não conseguiu responder. O rosto de Abel tinha uma expressão tão tranquila que parecia que ele poderia colapsar a qualquer momento.
“Mas ainda precisamos salvar o príncipe.”
“…”
“Está tudo bem, eu farei isso. Ashler, por favor, espere aqui.”
Com um movimento rápido, Abel abriu a porta e entrou apressadamente. Ele passou pela entrada com tanta facilidade que Ashler, que estivera parada diante dela sem dar um único passo, ficou sem reação.
Abel ficou sem fôlego. A visão diante dele o fez parar de respirar.
Graças aos registros que Melmond trouxera, ele já sabia por que a rainha estava agindo de maneira estranha. Mas, ainda assim, o que viu era tão terrível que ultrapassava suas expectativas.
A rainha puxava brutalmente os cabelos do pequeno príncipe. Sua voz turva e acompanhada de risos perturbadores finalmente tirou Abel de sua paralisia momentânea.
“Então ouvi dizer que você andou por aí com os olhos bem abertos? Hã? Você é mesmo um demônio incorrigível. Vou te educar devidamente desta vez.”
Ela tentou arremessar o corpo indefeso do príncipe ao chão. Mas, antes que isso pudesse acontecer, uma figura rápida apareceu e agarrou o príncipe antes que ele tocasse o chão.
“Meu Deus! O que você está fazendo?!”
A rainha se assustou e deu um passo para trás. Abel, que agora segurava o príncipe nos braços, estava ocupado levantando-se do chão e verificando o estado do menino.
Havia sangue escorrendo da testa do príncipe, e seu rosto, cheio de marcas de pancadas, estava vermelho e inchado. A jaqueta rasgada, como se tivesse sido arrancada à força, revelava hematomas escuros espalhados por todo o pequeno corpo.
“Príncipe, você está bem?”
Perguntou Abel, enquanto o segurava firmemente nos braços. Felizmente, uma voz fraca foi ouvida.
“… Abel?”
“Sim, Abel está aqui. Desculpe o atraso, Príncipe.”
Abel sussurrou, inclinando-se para proteger o príncipe com seu corpo. A rainha olhou para Abel com uma expressão assustadora, como se estivesse prestes a matá-lo.
“Como você se atreve a bloquear o meu caminho?”
“Rainha, sinto muito. Mas o príncipe ainda é jovem, e esse tipo de disciplina não é adequada.”
“Cale-se! Como você se atreve… Por que está me atrapalhando?”
Seu grito, quase um rugido, ecoou por toda a sala. Abel cobriu os ouvidos do príncipe com ambas as mãos e encolheu-se ainda mais.
“Rainha, por favor, escute-me. A senhora não está bem no momento e está tomando uma decisão equivocada.”
Mas a rainha já não ouvia mais Abel. Ela respirava pesadamente pela boca e olhava freneticamente ao redor com olhos insanos. Algo chamou sua atenção, e ela o pegou rapidamente.
Era um pedaço de uma cadeira quebrada, jogado em meio à desordem da sala. Como estava partido ao longo das fibras da madeira, sua ponta afiada parecia perigosamente semelhante a uma arma. A rainha avançou na direção de Abel com um sorriso triunfante no rosto.
“Oh, você também é um deles. Ao proteger o diabo, você também é como ele. Então, que tal educarmos vocês juntos?”
Os olhos da rainha, injetados de sangue, arregalaram-se ainda mais enquanto ela levantava o pé. Abel, rapidamente, deixou-se cair no chão com o príncipe em seus braços. Enquanto ele se enrolava ao redor do menino, a rainha começou a chutá-lo sem piedade. Logo, risadas estranhas ecoaram pela sala.
“Ha, ha! Morra, diabo! Kikikiki… Morra! Morra!”
Mesmo enquanto recebia os golpes, Abel curvava as costas para evitar que o peso de seu corpo pressionasse o príncipe. Ele envolveu a cabeça do menino com os braços e começou a sussurrar suavemente.
“Príncipe, feche os olhos e pense na floresta. Caminhe pelo caminho que você sempre toma. À medida que avança, haha, você encontra um campo, não é? Eu lembro que sempre almoçávamos lá porque o vento soprava…”
A voz de Abel, que sussurrava próximo ao ouvido do príncipe como se o hipnotizasse, parou por um momento. Acima dele, a rainha continuava gritando e agindo de forma selvagem. Mas o príncipe, protegido por Abel, só podia ouvir sua voz.
Era impressionante. Enquanto seguia as palavras de Abel, um bosque começou a se formar em sua mente de olhos fechados. A voz tranquila de Abel voltou a ressoar:
“O vento soprou e a toalha que colocamos voou para longe. Então, o príncipe e eu corremos pelo campo, apressados, tentando pegá-la. E a toalha acabou presa em uma árvore na floresta…”
A voz de Abel, que parecia um pouco ofegante, estabilizou-se enquanto continuava sussurrando ao príncipe. No entanto, suas costas foram atingidas com força por uma perna de cadeira que a rainha havia cravado com toda a sua força. O sangue empapou sua camisa, e embora a rainha continuasse chutando-o, a voz de Abel tornou-se ainda mais calma.
Ashler sentiu algo estranho ao ver os soldados que chegaram logo após Abel. Embora não fossem os responsáveis por proteger o palácio do príncipe, eles seguravam espadas, prontos para abrir a porta e entrar a qualquer momento. No entanto, permaneciam imóveis, como se esperassem algo.
“Quem os chamou?”
Quando Ashler perguntou, um dos soldados olhou para trás e respondeu em voz baixa, como se envergonhado. A entrada do corredor, que antes estava ocupada pelo administrador e pelo registrador, agora estava vazia.
“Fomos convocados por ordem do Marquês Nohox.”
“Para quê?”
“Isso é…”
“Responda-me.”
A voz baixa de Ashler era uma ordem, e o soldado finalmente levantou os olhos, endurecido.
“A ordem era prender um traidor que ameaça a segurança de Sua Majestade.”
Traidor?
Ashler mal conteve uma risada ao olhar para o final do corredor vazio. Ficava claro por que Abel havia aparecido repentinamente. Aquilo que aconteceu na floresta durante o dia era claramente uma armação para afastar Abel completamente. A acusação de traição era simplesmente risível.
“E por que vocês não entram e capturam esse traidor?”
Com os dentes cerrados, Ashler perguntou. O soldado franziu o cenho, parecendo também desgostoso com a situação.
“Isso é… recebemos ordens de esperar um momento antes de entrar. Foi-nos dito que deveríamos garantir que o traidor não machucasse Sua Majestade, a Rainha.”
Seus olhos estavam fixos na porta ligeiramente aberta por onde Abel havia entrado. Ah, então o grupo de oficiais de registros que observavam anteriormente havia se retirado para descansar. Assim que Ashler compreendeu a situação, cerrou os punhos com força.
Abel pode estar pensando que deterá a rainha, mas está enganado. Ele nunca levantaria a mão contra a rainha, mesmo que isso significasse morrer. Provavelmente, essa é a razão pela qual as risadas e as palavras cruéis da rainha continuavam a ecoar através da porta entreaberta.
“Dêem um passo atrás.”
Ashler ordenou aos soldados e entrou na sala. Os soldados, surpresos, chamaram por ela, mas Ashler ignorou. Precisava verificar o interior adequadamente. Havia uma alta probabilidade de que o tolo Abel estivesse sofrendo a violência da rainha enquanto protegia o príncipe.
Claro, ser espancado por uma mulher não significava que morreria…
Enquanto pensava nisso, uma visão aterrorizante surgiu diante de seus olhos. Abel estava caído de bruços no chão, com um pedaço de madeira cravado em suas costas. Como se isso não bastasse, a rainha puxou o pedaço de madeira e o cravou novamente no mesmo lugar.
“Ha… ha… morra! Diabo, morra!!”
_______________________________
N/T: Nossa o tanto de raiva que a rainha me deu nesse capítulo… o volume 1 logo logo acaba e ainda temos muitas emoções pela frente. Comentem se gostaram, e nos vemos na semana que vem!
Publicado por:
- Gardenia_Fairy
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