Regas - Capítulo 18
“Deixe-me ser claro de agora em diante. Regas é um ser grato que ajuda a linhagem sagrada do dragão, mas por isso ele pode ser ainda mais perigoso. Se você confiar em uma pessoa com poder, que só te segue e tem uma mente mal-intencionada, será essa pessoa, não o Regas, quem levará o reino à destruição.”
As palavras de Trud, que soavam entediadas, continuaram sem sinceridade enquanto ele olhava os documentos.
“Mas ouvi dizer que o príncipe só te segue. Seu papel é guiar o príncipe corretamente, e não monopolizar o amor dele”
O som de uma caneta que Trud segurava ecoou enquanto ele a colocava sobre a mesa. Ele olhou para cima pela primeira vez desde que Abel entrou na sala, provavelmente terminando de revisar os papéis.
“Responda-me. Estou errado?”
À pergunta fria, Abel disse: “O senhor está certo”. Ele respondeu em voz baixa.
Trud inclinou ligeiramente a boca, como se tivesse gostado da resposta.
“Ainda bem que você reconhece seu erro. Então, se quiser continuar no palácio, deve corrigir seus erros a partir de agora. A partir de hoje, muitas pessoas estarão ao lado do príncipe para lhe dar a educação que ele não recebeu. Seu papel é ajudar o príncipe a aceitá-los. E você deve se manter afastado do príncipe.”
Dessa vez, não houve resposta imediata de Abel. Ele olhava para o vazio, parecendo mais confuso do que pensativo. Trud se perguntou se aquele tolo tinha um cérebro que funcionava e então acrescentou:
“Se você se recusar, será uma pessoa perigosa e nunca mais poderá permanecer ao lado do príncipe. E não será só isso, você também será removido deste lugar e expulso do castelo…”
“Eu entendo, Vossa Graça.”
A resposta veio antes do esperado. Bem, se você sair agora, seus esforços terão sido em vão, então provavelmente deseja ficar aqui de alguma forma. Trud zombou internamente, mas mudou de ideia ao ouvir a voz tranquila que se seguiu.
“Farei o que você diz.”
Foram os olhos dele que não agradara, Trud. Não havia medo e nem nervosismo nos olhos verdes que silenciosamente focavam no duque. Os olhos fundos de Abel pareciam tão profundos que o olhar de Trud se tornou penetrante.
O que era esse sentimento?
O homem que ele havia conhecido há um mês, não parecia haver mudado desde o primeiro encontro. Exceto pelo fato de que havia muitas novas cicatrizes em seu pescoço e rosto, a maneira boba como ele falava e seu sorriso ingênuo continuavam os mesmos.
No entanto, por mais tolo que uma pessoa fosse, ele se sentiria mal se seus esforços fossem criticados em vez de elogiados. Contudo, o rosto e os olhos de Abel não mostravam esse tipo de sentimento. Pelo contrário, ele estava calmo, como se já soubesse que essa situação viria.
Trud inclinou a cabeça para o lado e acrescentou, sem interesse.
“Você não pode simplesmente fazer o que eu digo. Se você se preocupa com o príncipe, deve construir ativamente pontes entre os outros e o príncipe. E, a partir de agora, não poderá aparecer como o Regas oficial do príncipe.”
“Sim. Eu já sabia.”
Como esperado, a resposta foi educada. Trud olhou fixamente para Abel por um momento e, de repente, sorriu.
“Não pergunta por quê? Não quer saber o motivo de você não poder aparecer como o Regas oficial, mesmo que tenha entrado na floresta dos dragões com o príncipe?”
Quando Abel não respondeu, Trud revirou os olhos e explicou alegremente.
“Isso é porque você é muito desagradável para ser um Regas.”
“…”
“É digno de elogio que você tenha guiado o príncipe até aqui, mas não seria ridículo ensinar a alguém que será rei de um país como capturar insetos na floresta?”
Trud acrescentou, olhando para Abel, que baixou a cabeça em silêncio.
“Felizmente, parece que você está bem ciente de suas próprias falhas. A partir de agora, permitirei que vá à floresta apenas três vezes por semana. E deve reduzir gradualmente o número de vezes, para que o príncipe não precise mais ir à floresta. Para alguém que tem tanto a aprender, por que desperdiçar tempo assim na floresta? Você entende?”
“Sim.”
A resposta educada de Abel foi ouvida. No entanto, em vez de se sentir satisfeito, Trud parecia mais perplexo. Por que ele aceita tudo tão facilmente? Ele se questionou, antes de dar sinal para sair. Após a saída de Abel, Trud, perdido em pensamentos, chamou um sacerdote. Quando o sacerdote o viu, foi o primeiro a relatar.
“Sua Majestade disse que hoje iria para a floresta. Planejo levá-lo até a entrada assim que o Príncipe e Abel entrarem na floresta.”
“Mesmo que ele seja alguém que não goste de florestas, você conseguiu persuadi-lo bem.”
Um sorriso surgiu no rosto do sacerdote quando Trud o elogiou.
“Isso tudo se deve à grande família Trud…”
“Controle sua língua”
Quando os olhos de Trud se tornaram afiados, o sacerdote abaixou a cabeça.
“D-desculpe.”
Trud olhou com desaprovação para o sacerdote, que se curvou humildemente, antes de revelar o propósito de seu chamado.
Ele tirou uma pequena garrafa de uma gaveta e a entregou ao sacerdote.
“Pode usá-la em Abel a partir de amanhã.”
“Oh, isto é…”
O sacerdote pegou a garrafa com cuidado e examinou o líquido de cor índigo.
“Não é só uma poção que te faz dormir devido à energia venenosa? Por que não usamos a outra?”
“Você quer que eu desperdice algo tão precioso em alguém que vai morrer cedo?”
O sacerdote baixou a cabeça novamente diante dos olhos penetrantes de Trud. No entanto, ele hesitou, como se ainda tivesse dúvidas, e perguntou novamente.
“Mas podemos nos livrar dele tão cedo? Sei que ainda é difícil lidar com o príncipe.”
Enquanto o sacerdote expressava cautelosamente sua opinião, Trud torceu os lábios.
“É melhor que ele desapareça rápido. Se disser coisas estranhas ao príncipe, será mais problemático.”
Então, lembrando-se de Abel, que havia saído há pouco, murmurou baixinho.
“Você está estranhamente calmo.”
Definitivamente era diferente de antes, quando Abel parecia apenas um tolo. Mas Trud sabia instintivamente de quem deveria ter cuidado. As pessoas que eram completamente diferentes do que aparentavam deviam ser tratadas como inimigas, se não como subordinadas. Ele ergueu a cabeça e deu uma ordem ao sacerdote que esperava.
“Prepare aquela pessoa.”
“Quem…?”
“A rainha.”
*
Melmond não deixou a frente do Palácio do Ministro, apesar de observar os soldados desde a manhã. Depois de perambular inquieto até que seus sapatos se desgastassem, ele finalmente viu um homem grande, vestindo roupas velhas, saindo do palácio.
“Abel!”
Quando Melmond gritou seu nome em voz alta, Abel parou e olhou ao redor.
“Aqui! Aqui!”
Quando a voz de Melmond ecoou novamente, Abel rapidamente se aproximou com uma expressão feliz no rosto.
“Você veio aqui de propósito para me ver…”
“Sim, sim. Rápido, venha comigo.”
Melmond agarrou o braço de Abel e o empurrou para um canto deserto, preocupado se alguém o ouviria. E foi só quando chegaram à biblioteca, onde Melmond trabalhava, que ele começou a falar.
“O que o Duque de Trudeau disse? Você ainda está com o príncipe? Então, agora você é o Regas oficial do Príncipe?”
“…”
“Por que você não está respondendo? Não…?”
Abel balançou a cabeça lentamente e piscou.
“Tenho tantas perguntas que nem consigo pensar nas respostas.”
“…Havia três.”
Melmond imediatamente perdeu o entusiasmo e perguntou novamente, um por um, desta vez.
“Ele deixou você ficar?”
“Sim.”
“Meu Deus! Eles o reconhecem como um Regas oficial?”
“Mmm, não. Disseram que eu era muito desagradável para ser um Regas.”
Abel coçou a cabeça e riu, mas a expressão de Melmond estava sombriamente distorcida.
“Muito desagradável? Droga, mas aqueles orgulhosos e bem cuidados Regas não puderam fazer metade do que esse homem desagradável!”
Ele estava tão irritado que deu um tapa em Abel, que estava rindo como um idiota.
“Você não conseguiu dizer nada e está rindo assim de novo?”
Coçando, a cabeça, Abel replicou:
“A outra pessoa era o duque.”
“É isso. Mas graças a você, o príncipe mudou assim, droga. De qualquer forma, estou feliz que você ainda esteja ao lado do príncipe.”
“Sim.”
Abel respondeu suavemente e acrescentou, como se estivesse falando consigo mesmo: “Isso é provavelmente o mais importante. Mesmo que algo aconteça comigo.”
“Ahm? Do que você está falando?”
Abel imediatamente riu e disse: “Nada”, mas Melmond, como se sua raiva não tivesse diminuído, franziu a testa e xingou Trud mais uma vez. Abel sorriu e o observou em silêncio, depois olhou ao redor do interior da biblioteca. Este lugar, construído há muito tempo, estava bastante deteriorado devido à falta de uma gestão adequada. Mesmo assim, livros antigos preenchiam a biblioteca do primeiro e segundo andares. Mas, em sua maior parte, era apenas uma decoração que ninguém buscava.
“Senhor Melmond.”
“Hmm?”
Melmond, que ainda tinha a testa franzida, levantou a cabeça e parou ao ver a expressão de Abel. Seu rosto, enquanto olhava silenciosamente para dentro, emitia uma atmosfera estranha. Havia algo naquela expressão que deixava as pessoas em guarda a ponto de se perguntarem se ele era um idiota. Melmond o olhou e limou a garganta várias vezes devido à pesada atmosfera de Abel à qual ele não conseguia se acostumar.
“O que foi? O que você tem a dizer?”
Então, uns olhos verdes fundos fixaram-se em Melmond. O rosto de Abel era feio, mas seus olhos eram diferentes. Embora fossem olhos verdes comuns, havia algo acolhedor neles que o fazia querer continuar olhando, sem sequer perceber. Mesmo quando adquiriam uma luz escura, como agora.
“Ouvi dizer que há escritos deixados aqui pelos predecessores da nossa seita.”
“Bem, isso é verdade.”
Melmond assentiu relutantemente, mas depois negou com a cabeça.
“Mas, na verdade, não há nenhum. Estou aqui há mais de dez anos e não consigo encontrá-los, então é como se não existisse.”
“Você procurou em tudo?”
“Sim. Tudo. Revisei o conteúdo de cada livro.”
Embora não tenha contado isso ao mestre de Abel, ele estava tentando encontrá-lo havia vários anos. Revisou cada livro para ver se havia algum registro escondido entre as páginas. Mas não havia nenhuma anotação escrita, muito menos uma pista. Assim, ficou claro que não havia nada ali.
“Então, hã, você não pode olhar o exterior além do conteúdo?”
“Está me criticando por não ter encontrado direito?”
Ao perguntar novamente, surpreso, Abel abaixou a cabeça como se estivesse arrependido.
“Não, não quis dizer isso. Só quero que você verifique mais uma vez.”
Foi só então que Melmond formulou a pergunta certa.
“O que está acontecendo com você? Por que está fazendo isso de repente?”
Em vez de responder, Abel olhou para o vazio por um momento e disse algo inesperado.
“É a poção negra. Quero saber o que é isso.”
Por quê? Melmond quis perguntar novamente, mas, ao baixar os olhos e ver Abel imerso em pensamentos, não conseguiu abrir a boca. Havia definitivamente algo estranho. Melmond suspirou, questionando o que estava acontecendo.
“Ah, entendi. Não precisa procurar mais. Como disse, desta vez também vamos investigar tudo pelo exterior.”
*
Todos perceberam que o príncipe estava de mau humor. Embora ele não demonstrasse suas garras e dentes às pessoas, seus olhos expressavam abertamente sua irritação para qualquer um que se aproximasse. E, como de costume, ele se sentou encostado na parede, olhando para o livro com a cabeça baixa.
A razão era que aquele dia estava um pouco diferente do habitual. Abel, que costumava aparecer cedo pela manhã, não apareceu devido ao chamado de uma pessoa de alto escalão. No entanto, pessoas que o príncipe nunca havia visto antes apareceram repentinamente. Em sua maioria, eram administradores que cuidariam do palácio, mestres que o educariam a partir de então, novos registradores, entre outros.
Depois de ir à floresta com Abel, o príncipe sentou-se tranquilamente na cama, aguardando, sem dar atenção nem mesmo quando Ashler ou a criada responsável, Seirin, entravam no quarto. Mas, naquela manhã, nem mesmo esses dois tiveram permissão para entrar.
Ele levantou os olhos e encarou a outra pessoa, demonstrando sua desaprovação. Por causa disso, quando Abel apareceu, uma mistura de repreensão e alegria surgiu entre as vozes. Claro, havia apenas uma pessoa a ser criticada abertamente.
“Recebi uma mensagem do Palácio do Ministro dizendo que você já havia saído, então por que chegou só agora?”
Quando Ashler perguntou, Abel, ofegante pela corrida, mal conseguiu responder.
“Ah… Melm… ah… estava voltando ao caixão.”
O quê? Ela quis agarrá-lo pelo colarinho e pedir que explicasse melhor, mas a situação era urgente. Ashler segurou rapidamente a maçaneta da porta do quarto e sussurrou em voz baixa:
“O príncipe não está de bom humor.”
Ao ouvir a advertência, Abel entrou. O príncipe imediatamente saltou do lugar e correu até ele, abraçando firmemente suas pernas e escondendo o rosto. Ashler nunca esqueceu a expressão de Abel naquele momento. Ele sorria suavemente, acariciando o cabelo negro do príncipe com sua grande mão, mas seus olhos pareciam estranhamente pesados e tristes. Logo, seu rosto se iluminou com um sorriso inocente.
“Hahaha, Príncipe, está preocupado comigo? Oh, meu Deus, sou alguém que não tem para onde ir além de ficar ao lado do príncipe. Não se preocupe, mesmo se eu atrasar um pouco. Eu definitivamente estarei ao lado do príncipe.”
Então, ele abraçou o príncipe. A cena não era diferente de seu comportamento habitual, mas um grito ecoou do lado de fora da porta.
“Coloque o príncipe no chão agora mesmo!”
Abel se assustou e se virou para ver uma das novas pessoas com uma expressão severa.
“Como ousa tocar no corpo de alguém da família real? Por mais permissivo que seja, isso é intolerável!”
A pessoa que avançou rapidamente deu um passo para trás, aparentemente confusa. Ela desviou o olhar como se estivesse assustada, mas todos perceberam que ela tinha feito contato visual com o príncipe. Então, os outros, já familiarizados com o olhar intenso do príncipe, automaticamente desviaram o olhar.
Somente um jovem arquivista, recém-chegado, deu um passo atrás e olhou para Abel. Abel, ao fazer contato visual com o príncipe, pareceu recobrar o foco, olhando para ele como se pedisse algo, e falou em voz baixa:
“Príncipe, estas são as pessoas que vão lhe ensinar muitas coisas a partir de hoje.”
O príncipe olhou para Abel com o rosto inexpressivo. Abel sorriu para o príncipe, depois se ajoelhou e o colocou suavemente no chão.
“Se quiser se tornar um grande rei no futuro, deve aprender muito. Então…”
Abel tentou afastar o príncipe, mas ele o segurou firmemente pelo pescoço com seus pequenos braços. Em seguida, enterrou o rosto no ombro de Abel, como se não fosse soltá-lo. Abel permaneceu em silêncio por um momento, depois ergueu a cabeça e olhou para a pessoa que lhe havia gritado.
“Eu irei mudá-lo aos poucos. Estamos falando de alguém que mal falava ontem. Então, poderia me dar um pouco de tempo?”
A última pergunta foi dirigida ao arquivista. No entanto, o jovem arquivista apenas o olhou com uma expressão inexpressiva, e a pessoa que gritou pigarreou antes de responder: “Entendo”. Abel ergueu o príncipe novamente e se virou para Ashler.
“Agora vamos ao bosque, cavaleiro.”
Publicado por:
- Gardenia_Fairy
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