O fado de Ewan - Capítulo 3: Longa história
O momento finalmente havia chegado e ao adentrar o castelo em ruínas naquele início de noite, hesitantemente, o príncipe prosseguiu.
*Toc-toc*
“Até que enfim, aprendeu a bater na porta, Eoin. ”
Mesmo com a porta fechada, não era difícil de imaginar o rubor dominando o rosto do príncipe com tal comentário.
“Hehe…Posso entrar? ”
“Hum! ”
A alegria em rever seu amor foi sobrepujada pela surpresa.
“Ewan… Você-”
“Aproxime-se”
Com muita cautela, o príncipe foi chegando mais perto.
“Você pode tocar se quiser”
Muito hesitante, o infante custou a se mover.
“Como? ”
Foi a única coisa que conseguiu dizer depois de muito tempo, ainda sem tirar os olhos da barriga enorme do jovem.
“A história é longa…”
“Tenho muito tempo livre” Disse ainda com o olhar fixo na visão à sua frente.
“Há quase um milénio atrás, todo o continente era dominado pelos meus antepassados como o maior império já conhecido…”
De fato, condizia com as descobertas feitas na biblioteca real.
“Em dado momento, o jovem imperador da época, que tinha apenas uma filha, se tornou impotente devido a um acidente. Sem um herdeiro homem para assumir o trono, ele preparou uma série de desafios para selecionar um nobre candidato que pudesse desposar sua progênita.”
Finalmente Eoin teve coragem para acariciar a barriga inquieta.
“Neste torneio apenas nobres eram permitidos devido à exigência da própria princesa e um jovem guerreiro que sempre tivera sido apaixonado por ela, escondeu suas origens e venceu a disputa com magnificência. Porém, com a revelação da sua origem humilde, ele foi desclassificado. Inconformado com a injustiça e o deboche da jovem, buscou o auxílio de um deus pagão para se vingar de toda a nobreza. E assim, os frutos da realeza foram sendo consumidos ainda nos ventres das mulheres. O que fez com que as ramificações fossem se extinguindo completamente em poucas décadas. Restando no final, apenas a imperatriz e seu consorte já muito idosos.”
“Rabanetes… Condenar a sua amada a um destino tão infeliz não é amor. É obsessão. ”
“Hum! De qualquer forma, a imperatriz e seu marido abandonaram suas crenças anteriores e fizeram um acordo com a deusa Epona para que fossem agraciados com a fertilidade novamente. E em troca de se manterem fieis a ela, toda a sua prole seria abençoada com a possibilidade de conceber independentemente do sexo. E assim, a imperatriz deu à luz a gêmeos aos 72 anos.”
“72???”
O príncipe falou tão alto em surpresa que fez o útero do jovem se contrair lhe causando um pouco de dor.
“Ái…”
“Desculpa. Não foi minha intenção. Eu só… fiquei pasmo. ” Disse acariciando o barrigão para apaziguar a criança no ventre do amado. “O papai te assustou, né? Me desculpa.”
Ewan estava claramente emocionado com a cena e lágrimas de emoção começaram a surgir em seus olhos. Que foram limpadas por Eoin imediatamente.
“Estamos bem. Não se preocupe. Veja! ”
O bebê chutava vigorosamente. Fazendo aquele sorriso lindo iluminar as feições do jovem novamente.
“Não… dói? Ele parece muito forte… Rabanetes, nem acredito que vou ser pai! ”
“Haha, geralmente não. E normalmente, ele se mantém ativo apenas durante o dia.”
Sem se aguentar de curiosidade, o príncipe interrompeu aquela bela cena com a pergunta que não queria calar.
“Se você sabia que poderia engravidar, porque me impediu de ficar ao seu lado? Deve ter sido tão difícil aqui sozinho…”
“Você vai entender quando eu terminar de contar a história. ”
“…”
Ele teria que aguardar um pouco mais por respostas. A história definitivamente era gigantesca, mas, ele podia esperar, a alegria em estar com seu amado novamente e descobrir que há um laço inquebrável entre os dois, apaziguava a sua mente inquieta.
“Enfim, após o acordo ser selado, eles instalaram o culto à deusa como tarefa obrigatória diária e todos os equinos foram colocados como animais sagrados, impossibilitados de serem usados na guerra, no labor, ou qualquer outra coisa. O que causou revolta no reino, fazendo muitos aldeões irem embora já que os animais eram essenciais no plantio e tarefas diárias e sem eles, tava muito difícil.”
“Todos tinham o direito de ir e vir? ”
“Uhum, nosso reino só passou a ter escravos muito tempo depois quando se viram quase sem mão de obra e com risco de perder o domínio no império.”
“Rabanetes! Isso é algo que eu queria implementar no reino. Todos livres vivendo em igualdade”
Vendo como aqueles os olhos brilhavam em empolgação, emocionaram Ewan.
“Você será um grande rei. Posso afirmar isso. ”
“…”
O príncipe ficou em silêncio. Não queria estragar o momento dizendo que fugiu abrindo mão de tudo.
“Aos 83 anos, devido à recente morte do imperador, a imperatriz começou a procurar casamento para seus filhos com herdeiros de reinos afiliados, porém, devido à comoção que causou a sua nova fé, ninguém estava disposto a aceitar. Inclusive, agora que a linhagem real não detinha mais o poder, começaram a se rebelar para se tornarem reinos independentes. Foi assim que ela teve a ideia de casar seus filhos e aplicar a regra da consanguinidade.”
“Que loucura… E ela não podia escolher um camponês do império? ”
“A antiga imperatriz era muito… complicada. Pra ela, o sangue valia mais do que o caráter. ”
“…”
Para alguém que nunca se importou com essas coisas, ouvir isso fazia os ouvidos do príncipe sangrarem.
“Continua por favor”
“Bem… Quando chegou na geração dos meus pais, a situação se complicou um pouco. Pouco antes do casamento, minha tia faleceu ao ser picada por uma abelha, ao qual era muito alérgica. Então, meus avós precisaram ter um outro filho, nascendo assim, meu papa. Meu tio, que era 19 anos mais velho, se tornou muito possessivo pois temia que algo do tipo acontecesse novamente. Mas papa era do tipo indomável e vivia desafiando seu noivo. Pra piorar, acabou se apaixonando por um guarda real, mesmo sendo proibido em prol da lei da consanguinidade. ”
“Algo me diz que você deve ter puxado ao seu papa. Você também só faz o que quer”
N/A: Papa – uke/bottom
Pai – seme/top
“Haha, não sei dizer. ”
“O seu sorriso é a coisa mais linda que eu já vi ”
O infante não perdia uma oportunidade de exaltar a beleza, fazendo-o ruborizar.
“Ahem, voltando para a história, meu tio descontrolado, pediu a cabeça de meu pai e trancou meu papa neste quarto na tentativa de consumar a união à força. ”
O rapaz olhava tristemente para a cama, como se visualizasse a cena acontecendo naquele momento.
“Que filho da-”
O jovem se apressou em continuar para evitar que o bebê em seu ventre, ouvisse palavras feias.
“ENTRETANTO, meu papa conseguiu feri-lo com seu brasão e impedir o abuso. Confessando também que já se encontrava grávido de mim. ”
“Então ele perdeu o direito de governar? ”
“Uhum. Titio, enfurecido, procurou a rainha fantasma em busca de vingança. Não sei os detalhes com exatidão, mas, uma revoada de corvos se instalou no reino como uma praga e todos começaram a morrer em questão de dias. Restando apenas meu papa já que nunca conseguiu sair deste lugar por conta do feitiço que o selara aqui. ”
“Sua família é bem vingativa né?!”
“Era”
“…E onde seu papa está? Tá tudo tão confuso pra mim. ”
“A bruxa que ensinou magia ao meu tio, procurou meu pai naquela mesma noite explicando que a porta agora estava aberta e ele poderia sair, porém, se saísse, seria atingido pela maldição da rainha fantasma que ainda duraria um século, então, voluntariamente ele permaneceu aqui. Afinal, ela havia enganado o antigo herdeiro do trono por carinho ao meu papa, e na verdade, esse círculo mágico ali no chão não o prendia. Ao invés disso, fazia este cômodo parar no tempo à salvo da maldição, do envelhecimento e não precisaria comer, dormir ou qualquer outra necessidade básica enquanto eu poderia me desenvolver saudavelmente.”
A cabeça de Eoin girava sem parar enquanto tentava absorver as palavras.
“Mas havia duas coisas que a bruxa não contou naquela época. A primeira é que como este lugar foi feito com o cabelo de meu pai, somente ele teria esse benefício. Sendo assim, um acordo com a bruxa foi necessário quando eu nasci, ao ver meus cabelos ficando brancos. Ela então levou a alma do meu pai naquela noite, me deixando apenas com as memórias dele neste brasão, como cortesia.” Passou a mão no seu brasão que o príncipe agora ostentava em seu peito.
“H-há quanto tempo exatamente… você está aqui? ”
O príncipe tremia enquanto tentava manter a voz firme após este último relato.
“Há muito tempo…”
Lágrimas não paravam com a constatação do que ele não queria estar supondo.
“Não tem problema. Eu vou me mudar pra cá e podemos viver todos juntos normalmente. Eu, você e nosso filho. Eu vou-
“Eoin”
“Já está tudo decidido. Eu vou desenhar o mundo pra você, vou te trazer muito presentes de outros reinos”
“Eoin” Disse mais uma vez tentando manter a calma
“Vou encher este lugar de pessoas. Adeus, tédio! Vai dar cert-”
“PRINCIPE EOIN DA CASA DE GRADAIGH”
Suprimindo as lágrimas, o príncipe engoliu seco ao ver o seu doce e sorridente amado levantar a voz.
“…”
Tocando em uma mecha completamente branca de cabelo do príncipe, o jovem voltou a falar em tom calmo.
“Enquanto o meu tempo está parado, o de todos que entram neste lugar, acelera. ” Disse com um sorriso triste nos lábios.
N/A: Desculpa pela demora na atualização, tive problemas de saúde na família. Esta história é bem curta mesmo e pela minha análise de revisão, creio que mais uns 2 ou 3 capítulos e ela já estará concluída. Até mais~
Publicado por:
minhas outras postagens:
@yani.illustration2023.01.21Daddy Juice Clinic
@yani.illustration2022.10.10O fado de Ewan
@yani.illustration2022.09.20Antes de me acusar, me beija