O fado de Ewan - Capítulo 1: Aventura no reino em ruínas
“Alteza! Para de correr, por favor! ”
O jovem príncipe corria gargalhando enquanto se esquivava de sua babá real.
“Você nunca vai me pegar, Maria! ”
Ao virar numa alameda, foi surpreendido por pequenas mãos que o pegaram por trás cobrindo sua boca, fazendo-o suar frio.
“Shhhhh… Sou eu. ”
“Emília! Quer me matar do coração, criatura?! ”
“Você pretende ser rei sendo um gatinho assustado? ”
“Ahem! C-como eu poderia imaginar que era você? Achei que tivessem te pegado. ”
“Há! Até parece! Eu não sou uma amadora como sua alteza real! ”
Emília era uma menina estranha e ardilosa como uma raposa. Toda vez que se dirigia ao príncipe herdeiro pelo seu título, soava como deboche. Contudo, era a parceira ideal para as travessuras do infante. Mas não se engane com seu rosto angelical. Sua língua esperta sempre conseguia fazer com que saísse impune deixando toda a culpa apenas para o herdeiro real. Às vezes, era difícil saber quem era o mestre e o escravo.
“Você encontrou? ”
“Com quem você pensa que está falando? Era óbvio que eu encontraria. ”
Depois de mais alguns minutos se esgueirando pelas ruas do castelo, chegaram ao final de um túnel sem saída.
“Há! Parece que eu ganhei a aposta, hein, Emília?! ”
A serva emitiu um sorriso maroto abrindo caminho ao mover algumas pedras na parede. Chocando totalmente o príncipe. Eles tinham apostado que ela não conseguiria encontrar uma saída para fora do castelo.
“Acho que sua alteza me deve o meu peso em ouro agora”
“Rabanetes! ”
N/A: É a forma dele de expressar surpresa.
“Vai ficar aí parado o dia todo com essa cara de besta? Logo os guardas irão aparecer. ”
“Você não tem nem um pingo de respeito por mim, escrava? ”
“Quando você me vencer na esgrima, eu posso pensar em te tratar como se deve”
“Tsc, tsc, tsc… Eu ainda vou te educar devidamente. ”
“Aguardo ansiosamente, vossa magnificência”
Após Emília fazer reverência totalmente exagerada, os dois fugiram para fora do castelo por entre as árvores.
Horas depois de terem se divertido à beça, tentaram voltar, mas, perceberam que estavam perdidos por adentrar demais à floresta.
“Já passamos duas vezes por essa árvore… Eu tô com sede, com fome, minhas pernas doem… EU QUERO IR PRA CASA! ”
O príncipe começou a fazer birra igual uma criança apesar de já ter completado treze anos. Seria cômico, em outro momento.
“Calma, seu bebê chorão! Vai dar tudo cert-”
“Olha! Uma luz! ”
O príncipe gritou ao apontar para o leste. Emília não via luz alguma, mas, resolveu seguir naquela direção. Em poucas horas o sol iria se pôr e não tinham tempo a perder.
“Me espera aqui seu manhoso. Vou tentar achar a trilha e volto para buscar a donzela. ”
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Mais de uma hora, e ainda não havia sinal da serva, então, o príncipe resolveu seguir naquela mesma direção pois temia que algo tivesse acontecido.
“Emília! Emília! ”
Andou, andou. Chamou e chamou, mas não obteve respostas. Quando o sol já estava se pondo, avistou construções não muito longe e seguiu em frente. Se tratava de um pequeno reino em ruínas.
“Ual… Deve ser de alguma civilização muito antiga! ”
Um rugido alto vindo da floresta o fez se apressar para encontrar abrigo, pois ao cair da noite, feras perigosas saem à caça e ele nem uma arma possuía.
“Preciso me apressar! Mas… Que lugar é esse? Não vi nenhuma menção nos mapas históricos. ”
O lugar estava cheio de símbolos místicos, o que o encantava, só que o tempo urgia e ele correu para alcançar logo o antigo palácio, já que era provavelmente o local mais seguro dali. Para se manter aquecido, acendeu a lareira. Não teve muita dificuldade com a tarefa já que havia aprendido noções de sobrevivência com seus mestres de guerra. Se certificou de colocar um móvel escorando a porta para impedi-la de ser aberta por algum animal durante a noite e caiu no sono rapidamente devido ao cansaço.
No meio da noite, foi acordado por uma bela canção antiga que lhe era familiar de alguma forma inexplicável.
“Acho que já ouvi essa melodia em algum lugar…”
Ele subiu as escadas lentamente, guiado pelo som, até a torre mais alta do castelo. Lá, viu luz escapar pela fresta da porta e se apressou em abri-la após a melodia cessar. O quarto estava intacto, diferentemente de todo o resto naquele reino. Parecia até uma estufa, considerando a quantidade enorme de flores e plantas que tinha ali. o Dossel da cama, dezenas de vezes mais ornamentado do que o dele. No centro do cômodo, no chão, havia um magnífico círculo mágico desenhado meticulosamente no chão. Certamente obra de um artista renomado. Mas antes que pudesse reparar em mais detalhes, foi retirado do transe por um pigarreio.
“Ahem! Você sempre entra nos lugares sem bater?
“Ah desculpe, não foi minha intenção…”
Suas palavras cessaram ar ao reparar melhor na pessoa à sua frente e pensar em voz alta:
“Você é lindo…”
“Haha obrigado? Qual o seu nome jovemzinho? ”
O príncipe estava verdadeiramente encantado com a beleza do rapaz. Ele deveria ter acabado de entrar na vida adulta. Era esbelto, não muito alto, uma pele de porcelana e madeixas sedosas extremamente longas que davam uma volta aos seus pés. E teve que ser acordado novamente por outro raspar a garganta.
“Ahem! ”
“Perdoe a minha rudeza em não me apresentar adequadamente: Eoin. Príncepe Eoin da casa de Gradaigh, à sua disposição. Posso ter a honra de saber o vosso nome? ”
(Risos)
“Sou Ewan”
“Ewan…? ”
“Ewan. ”
O príncipe ficou esperando o jovem citar à qual casa pertencia, em vão. Vendo um tempo depois que não ouviria mais nada, mudou de assunto.
“Posso saber o que você faz sozinho num lugar tão isolado? ”
Ewan apenas o encarou com curiosidade e diversão.
“Desculpa, eu tenho apenas cometido gafes desde que cheguei. Deixa eu explicar primeiro. Eu me perdi na floresta durante uma de minhas aventuras e acabei vindo me abrigar aqui para fugir do frio e das feras noturnas. Na verdade, vim nessa direção à procura da Minha serva, mas, não me preocupo com ela, são as feras que devem temê-la. Mesmo que seja difícil de acreditar, eu realmente não pretendia te incomodar. Na verdade, eu nem fazia ideia de que este lugar existia, ou que ainda houvesse alguém morando aqui, já que tudo está em ruínas, apesar de que este cômodo inexplicavelmente ainda está intacto e muito bem decorado…”
O jovem gargalhou alto com o garoto que mal respirava enquanto cuspia um monte de justificativas.
“Você realmente é barulhento! ”
“D-desculpa…”
Eoin estava mais vermelho do que um morango neste momento. Sempre reclamaram por ele falar demais, mas, foi a primeira vez que se sentiu constrangido. Ewan gentilmente respondeu:
“Sim, moro sozinho. ”
“Você não se sente solitário? Não parece que você receba muitas visitas…”
Melancolia apagou sua expressão alegre momentaneamente, mas logo Ewan sorriu novamente. Um sorriso triste, infelizmente. Falar sobre isso deveria ser doloroso. Não foi uma boa pergunta a se fazer.
“Tenho laços aqui que não podem ser desfeitos por uma mera força de vontade…”
“Bom, se você quiser, eu posso ser seu amigo e vir te ver sempre que possível. Você seria bem-vindo no meu castelo também”
Por um momento, o moço parecia pensativo, mas, quando percebeu que o céu começava a clarear, continuou.
“Creio que você deva descansar. A jornada de volta é um pouco longa e você vai precisar de toda a sua energia. ”
“Nossa! É verdade! Vou indo então”
“Foi um prazer te conhecer Príncipe Eoin da casa de Gradaigh. ”
“O prazer foi todo meu. Nos vemos em breve. Vou trazer algo para você não se sentir tão solitário. É uma promessa. ”
O príncipe estendeu seu dedo mindinho para o rapaz como marca da promessa.
“Conto com isso. Boa noite. ”
O jovem aceitou o juramento entrelaçando seu mindinho no dele.
“Boa noite, Ewan. ”
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Ao encontrar facilmente o caminho de volta, Eoin ficou muito surpreso. Mas a sua alegria durou pouco pois acabou ficando de castigo por vários dias. Pelo menos Emília havia voltado em segurança. Nesse meio tempo, tentou convencer a todos de que o tal castelo era real, mas, ao finalmente conseguir aprovação para procurar o bendito lugar, não encontraram nada.
“Será que tudo não passou de um sonho mesmo? ”
Sendo sonho ou não, esta aventura tinha mexido profundamente com o jovem infante. Ele já não via mais o mundo com as mesmas cores. E decidiu que já era hora de crescer.
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