Missão Ágape - Capítulo 43
James estava começando a agradecer pelas insistentes palestras de seu pai para ensiná-lo sobre os vários conhecimentos históricos das obras que restaurava.
Poderiam ter sido longas tardes entediantes que o deixavam louco para fugir de casa e ir morar em algum bordel onde tivesse liberdade garantida todo tempo e todo dia.
Mas agora ele via que tudo aquilo valeu a pena, que os conhecimentos enfiados em sua cabeça agora estavam servindo muito mais do que nunca.
A fome tinha voltado com tudo, assim como seu entusiasmo e determinação, só restando somente seus olhos ainda mais inchados de tanto chorar pela emoção ao saber que suas esperanças renovaram ao ter certeza sobre o que agora estava em suas mãos depois que Tânatos ergueu tirou aquele ovo do meio das brasas:
— Temos que encontrar uma caixinha de ferro! E com forro de feno de por dentro! — disse Kýrios, admirando a beleza daquele ovo sobre as duas palmas unidas do rapaz. Brilhava em sua superfície em tons avermelhados e dourado, os detalhes incandescentes pareciam avisar que algo dentro se desenvolvia, a luz alaranjada ondulava em forte e fraco.
— Uma fênix! Como isso pode ser possível? Li-Hua é uma fênix! — comemorou James, sem desgrudar os olhos do ovo.
— Isso é incrível! Mas, só consigo imaginar e me perguntar agora sobre sua origem… — começou Panoptes — Porque, isso significa que uma fênix e aquela bruxa… foderam? Não é a toa que aquela mulher queria que você a desposasse, ela deve ter algum plano. Talvez queira fazer um exercito de fragos de fogo? Seja o que for, dane-se, o que importa é que Li-Hua está viva e não serei eu a ter que chocar. — disse, fazendo James e Kýrios rirem, até Tânatos ficou com um semblante risonho e balançou a cabeça em negativa, enquanto o gigante se afastava para vistoriar as outras áreas daquela caverna.
— Você tem razão, Pano, seja como for e o que for com certeza foi um fruto de muito amor! Já que nasceu uma bela garota… quer dizer, garoto? Fênix tem sexo? Pelo que eu me lembre acho que não… — perguntou Kýrios.
— Hm, na verdade, elas têm. — disse James, ainda muito admirado, girando com cuidado o ovo em suas mãos para ver mais detalhes — Eu li em um livro de mitologia chinesa, o bestiário diz que os machos são chamados de Feng e as fêmeas de Huang. Mas com o tempo, de acordo com as histórias de meu pai, se tornaram um só, o ser Fenghuang. Uma entidade feminina e masculina, única, para que o pássaro possa ser comparado com um dragão chinês, que tem conotações masculinas, ou seja, resumindo, fêmea e macho ao mesmo tempo.
— Ah então é igual ao meu meio-irmão, o Hermafrodito. — disse Kýrios — Filho de Hermes e minha mãe… — James arqueou uma sobrancelha, estranhando tal nome — Não repare, minha mãe não tem muita criatividade com nomes…
— Quantos irmãos tem, Kýrios? — perguntou, enquanto limpava os resquícios de carvão do ovo.
— Hm, ao todo e os que conheço oficialmente… dezoito. Semi deuses podem existir por aí de parte de pai e mãe, mas eu achei melhor não procurar… Sabe, deixar que vivam suas vidas em paz…
— E eu achando que já ter um irmão já era muito… — James sorriu de canto enquanto agora embrulhava o ovo e o colocava com cuidado dentro da bolsa — Se as lendas estiverem certas, só nascerá quando estiver no meio de um calor muito alto, como lava por exemplo.
— Podemos levá-la ao Flegetonte. — Sugeriu Tânatos.
— Isso! Boa ideia! Só não sei se… Quando Hades um dia voltar ao seu reino, se ele vai gostar de ter uma Fenghuang em seu território. — Riu breve o deus do amor, imaginando como ficaria a cara de desespero do rei ao ter um ser de outro domínio nascendo em seu lar e fazendo seu submundo tremer inteiro.
“Seria uma boa peça para se pregar”. Pensou o deus.
— Pessoal, achei um caminho para mais adentro da montanha. — disse Panoptes — E há cheiro de água e musgos, o que quer dizer que pode ter um lago subterrâneo. Podemos encher nossos cantis, nos lavar e depois seguir viagem. Eu vou primeiro. — disse, já se encaminhando para onde tinha falado sem nem sequer o grupo tendo decidido isso ou não.
Tânatos respirou fundo e foi se sentar na pedra, fechando os olhos, parecendo entrar em algum tipo de meditação.
Kýrios e James se mantiveram ali sentados, olhando com mais atenção para a caverna, estavam mais relaxados, e cansados, mas ainda sem acreditar nos últimos acontecimentos.
— James, você precisa descansar, deixe que eu cuido dela agora. — disse, pegando a bolsa da mão do rapaz e a colocando em seu próprio colo.
— Bem que eu queria dormir um pouco, mas ainda estou tão cheio de adrenalina com toda esse assunto que não consigo pregar os olhos… Céus… Em pensar que quase a perdi…
— Isso é para provar que você é um ser abençoado pelos deuses, James.
— Sou? Então… Sou abençoado por você também? — perguntou, em tom de brincadeira ao deus do amor.
— É claro. — disse, fitando o rapaz, seu olhar transmitindo um significado subliminar que não era e nem estava sendo tão subliminar para quem via a cena, o que fez com que Tânatos pigarreasse e Panoptes prendesse um riso, fazendo o rapaz engolir em seco e ficar inquieto.
E por conta disso, James sentiu suas bochechas esquentarem ao notar o que os outros estavam notando, queria dizer algo, mas nada lhe vinha, havia ficado sem jeito demais para até retrucar ou advertir o deus, que lhe fitava sem o menor pingo de discrição.
E se não fosse pelo gigante, aquele silêncio se estenderia por mais alguns outros longos segundo, deixando James com um desejo ainda maior de correr e se esconder em um buraco ou no meio daquele humo todo se pudesse, mas até pra isso parecia ter esquecido como se mover.
— Pronto, acabou o tempo para namoros. — disse Panoptes, ainda com um semblante risonho — Encontrei algo muito interessante naquela hora, acho que já está na hora de averiguarmos, não acham?
Não precisou de um segundo aviso, James se pôs a dar passos apressados e largos, acompanhando o gigante.
Quanto a Kýrios e Tânatos, ainda ficaram um pouco para trás, já que o deus da morte lhe encarava em advertência.
— O que foi Tân? Porque está me olhando assim?
— Estou sentindo uma vitalidade crescendo em você. Sua aura está… agitada, faiscando.
— E o que essa informação tem a haver agora?
— Tenho mesmo que dizer?
— E eu, Kýrios, serei obrigado a explanar? — questionou, mudando a direção de seu olhar para as asas do amigo.
O deus do amor ficou inquieto, e encolheu ambas ao dar-se conta que elas estavam aparentes.
— Estou feliz! Feliz pela Li-Hua ter sobrevivido e descobrirmos que ela, ou ele, é um belo ser imortal!
O deus da morte fungou em cansaço e balançou a cabeça em negativa. E invocando ao foice, passou pelo amigo, cedendo às tentativas do deus do amor de fazer-se de desentendido.
•
Não era somente uma caverna, era uma gruta! E das mais misteriosas… Já que tinha estalactites brilhantes, fluorescentes, mas isso não preocupou os deuses, pois logo viram que não se tratava de nada toxico. Havia também alguns cristais que pareciam ter luz própria, deixando tudo com um ar etéreo e muito bonito. Até a água parecia mais cristalina e limpa, dando para ver todas as pedrinhas brancas no fundo dela.
— A primeira vez que vim aqui não estava assim, eu não sei o que aconteceu… Quando entrei na água e mergulhei, tive a sensação de ter passado por longos meses… e então subi, e tudo estava dessa maneira como veem agora. — Contou o gigante.
— Será que você não ativou alguma coisa? Pode ser que por ser um ser de outro domínio, deva ter gerado alguma perturbação, te virão como um intruso e ameaça. — Supôs Kýrios.
— Não foi isso. — disse James olhando muito analítico para tudo ao redor, dando um passo à frente e erguendo sua lança — Creio que deva ter sido isso. — Apontou para o fragmento do cordão no pescoço do gigante — Este local deve ser algum lugar sagrado, e esse fragmento localizou e nos mostrou a verdadeira face de tudo… Bom, é só uma teoria.
— Mas isso estava no mapa? Digo, no nosso mapa mágico? — perguntou Kýrios, muito admirado enquanto olhava o lugar todo.
— Não. — disse Tânatos, olhando tudo de modo atento — Talvez esse lugar só tenha se revelado para nós, em específico.
— Espero que isso não seja ruim. Um lugar tão bonito como esse só pode representar coisas boas. — comentou o deus do amor, se aproximando de uma estalagmite com uma cor púrpura na ponta, e quando a tocou, o cristal que estava na ponta se quebrou, parecendo não gostar de sua aura divina — Ops…
— Melhor não mexermos em nada. — disse James, se contendo para não também se aproximar dos cristais — Por mais que eu sinta ser uma coisa boa, creio que essa gruta queira algo de nós. Afinal, uma coisa que aprendi é que coisas estranhas nunca estão acontecendo ou aparecendo para nós assim de graça.
— Ou — começou Kýrios — Podemos estar sendo abençoados! Afinal, acabamos de passar por uma provação. Na verdade, duas: passamos pela floresta viva, e depois, sofremos pela pseudo-morte de Li-Hua. Creio que paramos aqui por estarmos… purificados?
Panoptes riu.
— Nós? Purificados? É mais fácil que estejamos enfeitiçados ou que caímos em alguma maldição para irmos diretamente para o Tátaro. Eu concordo com o Payne aqui, esses tipos de coisa não acontecem assim do nada. Isso aqui está me cheirando a armadilha. — disse o gigante, girando o machado-martelo-incandescente numa mão.
— Eu também estou de acordo com ele. — Opinou também Tânatos, sua postura nunca relaxada, pois assim como os outros dois, estava desconfiado de que havia alguma coisa muito errada ali.
— Está bem, estou vendo que perdi nessa votação. — Kýrios ergueu os braços em rendição — Então o que faremos? Saímos logo daqui ou ficamos e investigamos? Ou, ah! Talvez possamos usar a energia daqui para podermos encontrar logo a pista principal! A lança apontava pra cá nesta direção, nesta montanha. O que indica que estamos bem pertinho! Esse lugar pode ser um lugar encantado que Psiquê fez para nós encontrarmos suas provas!
— Não. — Se pronunciou James, um pouco incomodado com algo daquele lugar — Vou explicar alguns pontos: Bom, temos que optar por ficar mesmo, não nessa gruta, e sim lá na caverna… Estar lá fora vai nos deixar vulneráveis. Tenho que me recompor, comer algo, Kýrios tem curar um pouco suas asas… E após isso, partiremos montanha acima por aqui mesmo… sinto que há mais outros caminhos ocultos… se há essa gruta, há outros possíveis túneis. Mas… Dois: esse lugar está parecendo a um armadilha do que uma obra de Psiquê… Está atraindo nossa atenção com beleza. E a deusa em questão até agora só nos enviou a lugares um tanto… peculiares e hostis. E terceiro, temos que cuidar agora do ovo Li-Hua. Creio que devamos adiar um pouquinho esta ida para a pista principal de sua esposa…
— Por mim tudo bem. — disse o loiro, sendo seguido em concordância dos outros dois aos apontamentos e sugestões do rapaz — Vamos nos ater a descansar e comer algo melhor. Talvez um coelho assado ou um pernil…
Todos olharam para ele novamente.
— O que foi dessa vez? — perguntou.
— Nada… é só que… deixa pra lá. — disse o gigante — Voltando ao assunto… Onde vossa senhoria acha que vamos arranjar algo além disso aqui dentro? Só vi grilos e outros insetos… Estamos com vários impasses. — questionou Panoptes, cruzando os braços.
Kýrios lhe sorriu de canto com um ar superior de vitória.
— E que tal isso? — o deus então tirou de seu bolso um objeto de seu bolso e todos os dois menos James entendeu o que era.
— Uma cornucópia? — perguntou Panoptes.
— Trouxe pra viagem, como um último recurso em alguma situação, pois eu pensei que pudesse, sei lá, nos deparamos com alguma parada crítica… e parece que eu estava certo. — disse Kýrios.
— Não, guarde isso. — disse James — Se é para último caso, então que seja para isso, não estamos em uma situação tão adversa.
— Ele tem razão. — disse Tânatos — Podemos nos virar aqui agora com algumas raízes.
— Mas James precisa se recuperar! Ele tem que comer algo e… bom, ele é o Pista de Parca, ele é quem de todos nós precisa estar com sua saúde em dia. — Argumentou Kýrios.
E mais uma vez, todos olharam para o deus em estranhamento por aquele comportamento.
— Eu… vou aguentar. Não estou a beira da morte, só estou muito cansado. E com fome. Ainda mais depois de saber que Li-Hua está bem. — disse James, se pondo numa postura firme para mostrar que tinha condições de enfrentar qualquer coisa e seguir em frente.
— James… — lhe chamou Kýrios, mas o rapaz lhe balançou a cabeça discretamente, fazendo-o desistir de insistir e guardando a cornucópia no bolso — Bem, se é assim, então vamos ao trabalho. — disse o deus do amor, respirando fundo, preocupado, mas fazendo o possível para respeitar a vontade do rapaz.
•
James estava se sentindo muito cansado, e de vez em quando vinha um enjôo repentino que lhe deixava com um amargor na boca, mas feliz ainda assim. Parecia agora uma galinha cuidando daquele ovo, guardado dentro da bolsa onde estava enrolado num tecido mais fofo que puderam colocá-lo, e como estava de lado, abraçava a bolsa como se ela fosse a coisa mais preciosa do mundo, o que de fato era, já que estava cuidando de um ovo de um Fenghuang, e claro da sua protegida.
— Será que ela vai se lembrar de nós? — perguntou James, deitado em posição fetal. À sua frente estava Kýrios, lhe mirando enquanto também quase pegava no sono cuidando daquele ovo, havia emprestado mais de suas penas para colocar dentro da bolsa e aquecer o máximo que podia aquele ser, e mais, por muita insistência, conseguiu convencer o rapaz de aceitar que pudesse fazer uma nova cama de folhas e outras mais penas, com o argumento de que assim descansaria melhor e, por causa da energia e aura divina, iria curá-lo e tranquilizá-lo.
Tânatos foi escolhido para ficar de vigia primeiro pela caverna, então tanto o gigante, que também dormia abraçado ao seu martelo, poderiam abaixar a guarda para descansar.
— Realmente não sei. As fênix gregas são muito raras, bastante reclusas… Em todos esses anos, desde que me entendo por deus, só vi duas, e mesmo assim, não tive nenhum tipo de contato a não ser ocular e muito rápido. Então, esta é a primeira vez que estou tendo o privilégio de estar diante de uma bem de perto. — Contou o deus.
— Bom, seja como for espero que ela, ou ele, se lembre de nós. E dessa vez, vou protegê-la com tudo que eu tiver de forças.
— Entendo perfeitamente seu sentimento. — disse Kýrios, lhe mirando com certa tristeza no olhar.
É, ele realmente entendia…
Como já tinha anoitecido, tudo ali na caverna estava escuro, mesmo que tivesse uma fogueira acesa. E ainda por cima foi uma fogueira feita por Tânatos, e James ficou impressionado que até o fogo tinha uma aparência estranha, era um fogo negro com nuances cinzentas, não iluminava a nada, mas havia um certo calor que parecia superficial, pois em seu centro era sem cor, nem parecia que queimava alguma lenha.
— Um dia nós todos vamos estar rindo disso tudo… — disse James, quase pegando no sono — Você com sua Psiquê, e eu… bem velhinho em minha mansão… cheio de netos talvez… Ou me tornando um pai de gatos e sendo o tio rico e solteiro deixando minhas heranças para meus sobrinhos interesseiros. — Riu breve.
O deus franziu o cenho, parecendo não gostar daquela ideia.
— E se você tivesse a oportunidade de virar um imortal?
— Virar imortal?
— Sim.
— Hm… É uma ideia tentadora. Mas creio que não poderei fazer isso. Sou de um outro domínio.
— Mas, e se tivesse uma chance, aceitaria?
James ficou pensativo, respirou fundo, e só depois de um longo tempo, respondeu:
— Não.
— Não? — questionou o deus muito intrigado com aquela resposta.
— Porque eu não gostaria de ver pessoas que amo morrendo e eu ficando… sozinho.— disse, fechando os olhos, já prestes a entrar em sono profundo.
A resposta do rapaz deixou o deus com um gosto amargo na boca e com peito apertado. Claro que com tanta coisa acontecendo ele não pensava nesses detalhes, e saber mais sobre o que o rapaz pensava lhe deixou um pouco ansioso, uma inquietude que parecia a uma comichão dentro de seu coração que lhe deixava incomodado, e ao mesmo tempo, com uma sensação de estar fazendo algo errado de novo. Fracassando novamente, não sabendo o que poderia fazer para reverter.
A mesma sensação que teve lá no esconderijo de Ares…
E a mesma sensação que teve antes de sua amada deusa desaparecer.
“É só uma atração pelo ingrediente que faz o prato principal, não confunda as coisas!” Lembrou-se o deus, ficando ainda mais com uma sensação incômoda no peito.
— James? — lhe chamou, mas sem resultado, o moreno já havia dormido.
Deitando-se de barriga pra cima, fungou profundamente olhando o céu estrelado, depois de longos segundos fechando os olhos, mas ainda assim, não conseguindo pegar no sono.
Se virando novamente em posição fetal abriu os olhos e encarou o rapaz, o cenho franzido evidenciando um grande cansaço, um grande esforço psicológico.
E por isso, queria aliviá-lo de alguma forma, confortá-lo. E seguindo as vontades de seu coração, aproximou e pousou sua mão no rosto do rapaz, olhando-o fixamente, um olhar de quem desejava profundamente que aquele ser nunca mais saísse do seu lado.
James, que por estar exausto e dormindo, nem sequer reagiu ao toque carinhoso do deus.
— Eu também não gostaria de ver pessoas que são importantes pra mim partirem e eu ficando, James. — disse, sentindo um nó em sua garganta, mas logo se repreendendo — O que está acontecendo comigo…? Isso não está certo…! — disse, afastando sua mão e se virando de costas, e colocando aquela mão contra seu peito, como se tivesse se advertindo para controlar-se.
E ali perto, Tânatos, sentado e meditando em frente a fogueira, ouviu tudo o que o deus do amor falava, e deixou um pequeno e muito discreto sorriso de canto surgir em seus lábios.
Um sorriso que, logo se desfez, quando sentiu algo vir numa velocidade sobre-humana atrás de si, não dado tempo de defender-se com sua foice.
Um clarão, um estrondo, e só.
…
….
…..
James corria, havia desespero a cada metro percorrido. As ruas de Londres pareciam estreitas, sombrias e de aspecto ameaçador, como se a cada esquina morasse um assassino em seu encalço para tirar sua vida em troca de um bônus pago por esse alguém que o queria morto.
Ele não tinha inimigos, disso ele tinha certeza, mas isso poderia ter mudado no dia em que fugiu de sua festa de aniversário e noivado, ao qual novamente e estranhamente voltou quando abriu uma porta de uma loja para se esconder de quem o caçava, e se deparando com um monte de pessoas lhe mirando, vendo ali todos aqueles convidados e sua família.
— James! — chamou-o sua mãe, chorosa, indo lhe abraçar — Por onde andou? Não sabe que tem uma festa toda pra você?
— Mamãe… — James ficou com o peito apertado, e lhe abraçou forte — Me perdoe, eu… — James quis contar que estava fugindo de assassinos, mas no momento em que seus olhos encontraram um alguém ali no meio da multidão, esqueceu-se do que ia dizer — Quem é aquele?
— Quem?
— Aquele ali, o loiro, conversando com minha noiva e minha amiga.
— Ah! É o Sr. Galanis! É o restaurador do museu na Grécia. Ele veio com o Hughes, é um grande amigo dele.
— Ele me parece familiar…
— Isso porque ele já foi também um arqueólogo, igual ao seu pai! Já fez grandes descobertas. A última dele foi encontrar um ovo de fênix!
— Fênix? E isso existe?
— É claro que não. — sorriu sua mãe — O ovo na verdade é igual aqueles ovos russos todo decorado com jóias. Você precisa ver meu filho, é lindo! Sr. Galanis é realmente um homem brilhante!
— Fiquei bastante curioso para conhecê-lo… — disse, mas suas intenções não eram nada profissionais, já que havia se encantado com a beleza daquele tal homem.
Se despedindo de sua mãe e limpando uma lágrima em seu rosto, se esquecendo completamente do motivo daquilo, pegou uma taça de champanhe, e se encaminhou até onde estavam sua noiva e o tal restaurador grego.
— …é muito engraçado, precisa ver quando ele fica quando está exci… James! — disse Psiquê, alegre em ver seu amigo — Onde você estava? Te procurei por toda parte!
— Ah, fui tomar um ar… O que estava dizendo, ein? — disse, tentando se lembrar de onde estava antes de chegar ali no salão, mas nada lhe veio a mente, e mais, havia um sentimento estranho sobre aquela tal Psiquê… Era um sentimento de… Como não fosse o certo ela estar ali.
— Oras, nada de importante!
— Espero. Ou então também contarei seus segredinhos… — sorriu malévolo.
— Você não ousaria.
— Me tente…
— Então você é o tão famoso James… — se pronunciou o homem, seu sorriso largo encantava a todos.
— E o senhor deve ser o Kýrios Galanis, acertei? —
— Em cheio. Sua noiva e amiga são muito simpáticas, estávamos conversando sobre coisas da vida. Adorei saber que filosofia você segue.
— Filosofia? — James olhou para Psiquê e sorriu e a mesma lhe balançou a cabeça com uma expressão muito preocupada, havia até uma lágrima caída no lado esquerdo de seu rosto, e James tocou em si, sentindo mais uma vez seu rosto molhado, por um momento quase se lembrou do porque, mas logo algo lhe puxou nos pensamentos para dar continuidade a aquele dialogo — Espero que não tenham dito sobre “Comer, Rezar e Amar”. — os três riram.
— James, Sr. Galanis nos trouxe um presente de noivado muito lindo! Você precisa ver! — disse Elise.
— Ah! Minha mãe me avisou de algo sobre isso. Algo tão bonito que preciso ver. Estou ficando cada vez mais curioso.
— Posso te mostrar agora, se quiser. — disse Sr. Galanis — Eu pedi ao seu pai para que me concedesse o seu escritório para deixá-lo em segurança.
— Se é assim, eu topo! — disse James, animado.
— Psiquê! — lhe chamou alguém, que James logo reconheceu a voz ser do seu sogro.
— Oh, não… Minhas tias vieram… — a moça, Elise, bufou, um pouco aborrecida — Bem, vão na frente, tenho que cumprimentá-las. Venha irmã, vamos enfrentar mais esta cansativa palestra.— disse Elise puxando Psiquê, e dando um beijo no rosto do rapaz, que apesar de ter achado bom aquele gesto carinhoso, sentiu que parecia não ser certo também.
Principalmente depois da frase que a Psiquê, irmã de sua noiva, disse:
— James, por favor, você tem que despertar! Não se deixe cair nisso aqui! — orientou com muita angustia, assustando o rapaz.
Quando piscou novamente para mirar nos olhos da mulher e entender o que foi aquilo, a mesma lhe sorriu muito feliz, e lhe deu um selar curto na bochecha, indo até seu… pai.
Algo estava estranho…
Mas James foi puxado de novo para conversar, dessa vez pelo Sr. Galanis.
— Sr. Payne?
— Hm?
— Você parece um pouco distraído. — comentou o loiro, bebericando um pouco do seu vinho.
— Oh, não é nada… Só estou um pouco nervoso, já que esse é meu noivado… Sabe como é, muita coisa se passa na cabeça quando se está tomando um grande passo assim na vida. — sorriu, de modo social.
— Você está apaixonado por mim James?
— Perdão…? O-o que disse Sr. Galanis?
Aquela pergunta soou muito estranha. A toda hora lhe vinha o sentimento de que nada ali ao redor era real, mas ao mesmo tempo era. E seu coração se apertava, sua mente ficava confusa, tentando entender o que estava acontecendo dentro de si.
— Perguntei se podemos ir ver o seu presente de noivado.
— A-ah, claro! Por aqui. — disse, guiando o loiro escadas acima.
O corredor estava muito diferente, e James sentiu que aquela parte de sua casa não era daquele jeito. Claro, era bem decorado assim como a de qualquer mansão, mas será que seus pais haviam feito uma reforma para deixá-la tão extraordinariamente linda em sua ausência quando ele foi para a faculdade de história em Cambridge?
A decoração era toda em tons brancos, beges e dourados, haviam muitas portas, cada uma tinha um símbolo diferente no meio.
— Algum problema? — perguntou o loiro.
— Hm, não… Nenhum. — respondeu, sem jeito, pois estava tendo dificuldades de lembrar onde era a porta do escritório de seu pai, mas tudo estava tão diferente que poderia ser que tenha mudado de lugar naquela reforma — Por aqui. — disse, abrindo uma porta qualquer.
Afinal, se cometesse o erro, só era dar a desculpa de sua teoria sobre a tal reforma…
Ao abrir a porta, deu de cara com um quarto muito luxuoso, a cama era enorme, tinha cortinas com tecido tão fino que pareciam nuvens.
Muito familiar…
— Que grande engano meu… Acho que esse quarto deve ser o de hosped…. Sr.Galanis?!
O loiro tinha lhe agarrado por trás de repente, lhe tocando o peito, barriga e desceu sua mão para o meio de suas pernas, lhe tocando de forma nada descente.
— Eu vi como você estava me olhando, James…
— A-acho que está cometendo um grande erro! — disse, tentando afastar as mãos do loiro, mas uma parte sua parecia tentado a ceder.
— Tem certeza? Não é o que eu sinto aqui… — sussurrou o homem, mordendo o lóbulo de sua orelha, sugando-a em seguida, e depois descendo seus lábios para a lateral do pescoço, beijando aquela área que era um dos pontos fracos daquele rapaz.
— Sr. Galanis… Me solte… Por favor… — disse, bastante incerto, sentindo seu corpo cada vez mais quente.
O loiro continuou suas investidas com a boca, ao mesmo tempo, suas mãos percorriam pelo corpo do rapaz, que cada vez mais cedia aos seu toques.
— Me diga, James, como você quer que façamos isso…
— Eu não quero… — fungou tentando resistir, mas depois de uma pequena mordida em seu pescoço e uma mão que deslizou para dentro de sua camisa e encontrando seu abdômen, gemeu, não conseguindo mais aguentar aqueles toques — Droga… hmg… Ali… vamos ali na cômoda… em pé… Não quero amassar meu terno… — disse mordendo os lábios, e suspirando ao ver que o outro estava bastante “animado”, já que o volume do outro encostava em sua cintura por trás por ser mais alto.
E assim foram aos tropeços, o sangue fervendo em cada um, ambos loucos e tomados por um desejo ardente querendo queimar no corpo um do outro.
James não estava acreditando que uma coisa dessas estivesse acontecendo com ele. Logo ele que jurou que jamais iria cair nessa armadilha que lhe ensinaram ser pecaminosa… Mas tinha algo naquele homem que o deixou louco. Algo nele era muito familiar.
— James… Você vai se arrepender disso… — sussurrou o loiro, virando seu rosto para beijá-lo, e sem resistências cedeu.
— Não vou me arrepender se isso ficar entre nós… — disse, deixando que o homem lhe despisse o terno e a calça, deixando-o somente com sua camisa social branca.
— Isso não é de seu perfil… Mas estou gostando mesmo assim… — disse o loiro, descendo sua mão para o quadril até que posicionasse entre suas pernas de novo.
— Ahm~… — gemeu, ao sentir o loiro apertando a extensão de seu membro.
— Vou fodê-lo devagar, assim poderá voltar a festa de seu noivado…
— F-festa de noivado…? — perguntou, totalmente confuso.
Tentava se lembrar onde estava antes de chegar ali, mas sua mente estava em branco, e suas têmporas começaram a doer.
Mas havia uma coisa que sentia e que era até mais forte que aquele fogo quase se tornando irresistível em seu corpo: senso.
Sentiu que aquilo tudo não era realmente certo… Ou melhor, sentia que nada daquilo estava era algo que podia acontecer.
— Sr. Galanis, pare. — disse, de repente achando e se sentindo muito estranho.
— É isso mesmo que você quer?
— Não é o que eu quero, mas… Olha, isso não está certo! Eu… Eu não posso! E nem você pode! Você tem uma pessoa que ama! A-Aquela… hm… qual é o nome… Psiquê! Ela é a sua noiva!
— Minha noiva?
— E-eu não sei como explicar…! Mas isso tudo está errado! E eu… e você…
— Diga isso à todos eles então.
E como se um grande abismo tivesse surgido, a parede daquele quarto desabou, e em sua frente, surgiu uma plateia.
Todos lhe miravam horrorizados, seus olhos eram de descrença, vergonha, nojo… E o pior, desprezo.
Mas tinha também de risos, vários deles.
James correu para aquela enorme cama e pegou um de seus cobertores para se cobrir, mas de nada adiantava…
— Agora todos podem saber a vergonha, a criatura nojenta que você é! — disse o loiro atrás dele, gargalhando cruelmente enquanto tentava tirar seu cobertor para que ficasse exposto.
James já chorava, e queria morrer. Mas achava que nem isso podia amenizar a dor que seus pais deveriam estar passando por ter um filho como ele, a doença da família, o mal que eles tentaram de todas formas consertar.
— Eu posso fazer isso tudo acabar, James. — disse alguém, vindo por entre a multidão, caminhando a passos lentos e calmos e inatingível de qualquer confusão.
— Por favor! Acabe com isso! Eu imploro! — disse, em puro desespero.
Era um ser muito belo, na verdade dois, um parecia um pequeno elefante, e o outro era uma mulher muito linda, que caminhava serena, sem se importar com toda aquela agitação.
— Você chegou bem longe. Isso significa que os planos dela estão ocorrendo como devem. — disse a mulher, de repente aparecendo ao seu lado, afastando aquele homem loiro que desmaiou quando a mesma tocou sua testa, e quando caiu para trás… evaporou.
Em seguida, abaixando-se até ficar na altura de seus olhos, lhe cobriu com um manto todo detalhado com cores vibrantes e harmoniosos.
— Q-quem é você?! E o que está acontecendo?! — perguntou James, ainda soluçando de tanta vergonha e dor enquanto chorava ao ouvir aqueles risos e xingamentos e o olhar de decepção de seus pais.
— Não se lembra? Ah sim, verdade. Renasceu… e renasceu… e de novo renasceu… — a mulher então deu um aceno de cabeça para aquele pequeno elefante, que ficou animado e começou a correr por todos os cantos daquele quarto ao redor deles dois — Você precisa escolher, James.
— Escolher o quê? Por favor, o que está havendo?!
— Ah duas vidas em jogo, e apesar de não gostar disso, tenho que fazer minha parte, porque é isso que se faz para manter seu mundo em equilíbrio. Não estou feliz com nada disso, me desculpe, nova alma. — disse a mulher pousando a mão em seu rosto e desaparecendo, para em seguida aparecer sentada na beira da cama.
Olhando para ela, no mesmo segundo todos aqueles risos desapareceram. A parede do quarto tinha voltado a ser o que era, restando somente um quarto muito bonito com uma vista para o mar.
— Praias ocidentais. Sempre quis visitá-las. Quem sabe um dia farei isso… — sorriu a mulher, mas logo seu sorriso murchou quando aquele pequeno elefante lhe entregou duas caixas pequenas de madeira contendo entalhes tipicamente gregos muito bem feitos — Está na hora, James Payne. — decretou a moça, apontando para as caixas da direita e esquerda.
James não sabia o que era para fazer, nem o que continha dentro das caixas. Mas o jeito em que elas foram postas a sua frente lhe deixaram implícito a orientação de que tinha que escolher alguma e que isso teria consequências severas.
Se aproximando primeiro da esquerda, logo uma figura feminina apareceu ao lado da caixa.
— Você me fez uma promessa! Li-Hua, minha menina, precisa de sua ajuda! — disse uma outra mulher, fazendo-o lembrar do nome e quem ela era.
— Li-Su! E-Eu juro! Eu vou cuidar de sua filha! Vou me esforçar ainda mais para ensiná-la a ser uma mulher forte! Mesmo que… — soluçou, lembrando-se de que a jovem moça tinha morrido, e agora era um simples ovo de fênix — E-Ela vai renascer! E será uma grande guerreira! — jurou, indo para a caixa da esquerda onde estavam entalhadas vários pássaros de fogo.
— James, não faça isso comigo. — disse a outra voz.
— Kýrios? — disse, engolindo em seco, pois se lembrou daqueles momentos de antes, onde estava prestes a fazer aquelas coisas com aquele deus — Você… — olhando para tudo ao redor, se deu conta de que estava num espaço que lhe era muito familiar, e todas as lembranças voltaram com tudo — Você! — se levantou, ficando de pé, e vendo que não estava mais desnudo de calças, estava completamente vestido com roupas sujas daquela passagem por aquela floresta viva e ter caído naquele buraco que na verdade era uma caverna — Quem é você?! — apontou para a mulher ainda sentada na cama.
— Eu sou aonde você, nova alma, está junto de seus amigos.
James se lembrou de que estava dentro da caverna, que consequentemente, estava dentro daquela montanha, o Monte Fuji.
— Você é a deusa dessa montanha!
— Konohana sakuya Hime. Mas pode me chamar somente de Sengen-sama. — sorriu gentil a deusa.
— É claro. E presumo que eu esteja dentro de alguma alucinação? Pesadelo?
— Me desculpe por esses sonhos ruins… Não tive escolha, como ainda continuo não tendo. Mas agradeça, pois fiz o meu melhor para que não sofresse tanto até que chegasse à mim. Por isso, também agradeça a ele, Baku, por nos ajudar nesta tranquilidade de agora. Você tem uma mente muito agitada. Precisa se desprender desses medos… Eles podem te matar sabia? E também…
— Olha, ok, me desculpe estar interrompendo vossa divindade, mas pode por favor ir direto ao “X” da questão? Porque, sinceramente, no momento não consigo agradecer a ninguém pelos traumáticas alucinações dessa missão.
— Não são alucinações, são os mais profundos e sinceros medos e desejos de seu subconsciente. — sorriu a deusa, sempre muito amistosa.
James engoliu em seco, fincou as unhas em suas palmas, mas seguiu adiante em não se deixar abater.
— Eu realmente me recuso a acreditar, e sabe porquê? Porque é isso que vocês deuses fazem, brincam com mentes humanas. Mas eu já estou pegando algumas manhas sobre vocês. — disse, se sentindo muito irritado.
— Sim, eu sei. Você é bastante corajoso, James Payne. Acho incrível como não está desmaiado agora mesmo sabendo e passado pelo que acabou de passar. Você tem algo especial… Mas… Agora, é a sua hora de mostrar toda a sua fascinante habilidade, coragem e senso de justiça.
A deusa destrancou as duas caixas, deixando exposto o conteúdo delas.
James franziu o cenho para logo em seguida arregalar os olhos ao dar nota do que era cada um deles.
Do lado esquerdo, o ovo de fênix, a Li-Hua. Do lado direito, um diminuto feto com aura dourada, a alma do bebê de Kýrios e Psiquê.
E do lado de cada um, Li-Su e Kýrios respectivamente, ambos lhe mirando com aflição nos olhos, implorando para serem escolhidos.
— O destino nos observa, James Payne, e há coisas que podem sair de controle. Coisas que ninguém pode submetê-las a sua vontade. Então, escolha com muita sabedoria.
— Está me dizendo que… Essas duas opções… Estão realmente aqui?
— Não me orgulho disso… Mas eu sou a guardiã dessa montanha, é meu dever zelar por todos que vivem nela. E estou fazendo um favor para uma amiga… é tudo que posso contar.
— Isso quer dizer que alguém a está chantageando? Quem? — perguntou James, suas deduções se sobrepondo ao medo.
A deusa desviou o olhar, e deixou os lábios em uma linha fina.
— Nova alma, escolha, agora, e arque com suas consequências.
— Porque não me diz quem está ameaçando destruir tudo isso? Eu posso ajudar! E… é para Psiquê que está fazendo tal favor?
“— Você já tem problemas suficientes, não acha James?” — disse uma mulher, que logo fez James fechar os olhos e bufar irritado.
— Ah, claro! Se não é a toda gloriosa e desatinada Psiquê!
“— Faça o que essa deusa está implorando. Não vê que ela sofre?”
— Eu também estou sofrendo aqui! E creio que quando tudo isso terminar vou ter que gastar toda minha herança com terapias!
— Com quem você está falando? — perguntou a Sengen-sama.
— Só um minutinho, por favor. — pediu James, massageando as têmporas, se virando para a outra deusa, e a deusa da montanha arqueou uma sobrancelha — Você, está me fazendo passar poucas e boas, porque está fazendo tudo isso? Porque todos esses tortuosos caminhos?!
“— Foi preciso. Há coisas muito além de sua compreensão, e que na hora certa, entenderá.”
— “Hora certa” uma ova! Você vai falar aqui e agora! Estamos prestes a encontrar uma de suas provas! Estou sentindo isso… Porquê não diz logo onde está para eu pegar e dar um fora daqui? Aliás, olha pra aquela coisinha brilhando ali! É seu filho! Se você está sendo capaz de se comunicar comigo, então será bem capaz de tirá-lo daqui enquanto eu pego o ovo. Você é uma deusa, se fez tudo isso para esconder suas provas, tem capacidade para fazer o impossível e resgatar sua própria cria!
A deusa caminhou até a caixa e olhou para o feto, seu semblante ficou tristonho, mas a única reação e fala que pronunciou foi a seguinte:
— Não está mais em meu poder.
James levou as mãos para o alto e as afundou entre os cabelos, os puxando e gritando em seguida.
— Que espécie de mãe desnaturada você é?!!
— A espécie que fez o que tinha que ser feito. Como eu disse, você entenderá tudo no momento certo. — disse, olhando-o com muita intensidade e mistério, depois olhando para algo no corpo do rapaz, dando um pequeno sorriso tristonho — Então, seja um bom Pista de Parca, e escolha logo de uma vez por todas a linha que traçará seu caminho aqui e agora.
James a encarou incrédulo e furioso, e sabia que gritar e xingar não adiantaria nada com aquela deusa. E pior, a face tão gentil de sempre estava um pouco endurecida, mas dava para perceber uma certa preocupação em sua voz.
— Kýrios merece alguém melhor que você. — disse, pensando que isso fosse afetar ou despertar alguma reação na deusa, mas somente teve como resposta um breve sorriso enigmático junto de um arquear de sobrancelha bem direcionado a ele, que claro, interpretou na hora o que aqueles gestos queriam dizer.
“Disparatada mentecapta!” Xingou-a mentalmente, e viu mais um sorriso vir da deusa.
Desistindo de brigar e alongar aquela discussão, James se virou para as duas caixas à sua frente.
— Ok, isso é algum tipo de teste, não? Tem uma pegadinha no meio de tudo isso. Só me deixe pensar…
— Sinto muito, mas não existe alguma peça. O que está acontecendo aqui é somente eu defendendo o que me é de grande importância. — disse Sengen-sama — Escolha, e arque com as consequências. — repetiu e orientou a deusa da montanha, seu semblante estava aflito, como se desejasse que o rapaz tomasse logo uma decisão.
Ali ao lado de cada uma das coisas ainda se mantinham de pé e com os olhos fixos nele Li-Su e Kýrios. James tentou ver se havia alguma falha naquilo, se havia alguma maneira de burlar aquilo e acabar salvando todas as duas escolhas.
Mas não havia brechas… A deusa por mais que estivesse com semblante aflito, não havia nada mais que James pudesse supor. Parecia uma parede impenetrável de qualquer outro sinal, como… uma montanha.
— É melhor ir mais rápido. Baku não tem muita paciência, ele pode acabar devorando mais do que se deve. — alertou a deusa sobre o pequeno elefante que consumia os resquícios de sombras de pesadelos — Lembre-se, não é só você quem está dentro de um sonho.
James sentiu sua espinha gelar.
É claro, nada poderia ser tão fácil assim…
Suas mão começaram a suar, e todo seu raciocínio para tentar achar uma solução estava se esvaindo. As duas opções ali na sua frente eram reais, e caso escolhesse alguma, a outra seria sacrificada.
— Pensa, pensa, pensa… — murmurou, tentando não se afetar.
“— Quanto mais você demora, mais em perigo estará colocando todos eles.” — avisou Psiquê, sentada agora do lado da deusa, que parecia não sentir sua presença ali.
James olhou outra vez para o ovo de fênix Li-Hua, e depois, para o feto ainda vivendo em sua pequena bolha de luz.
Li-Su lhe mirava num implorar claro, assim como Kýrios. Sabia que só eram projeções para lhe fazer sentir ainda mais dificuldade em escolher, mas…
Seus dois olhos a toda hora trocavam de um para outro, e seu coração ficava apertado por cada sugestão que sua mente lhe mostrava ao escolher um daqueles caminhos.
Se escolhesse Li-Hua? Que caminho seria esse? Quais consequências teria?
E se escolhesse o feto? Ah, ele sabia o que viria…
A culpa estava nas duas escolhas. Seja como for, uma das partes sairia machucada.
Mas existia a que possivelmente seria a menos lastimada…
— Escolho esta caixa. — disse James, caminhando com passos decisivos em direção a caixa da… esquerda.
E no mesmo segundo, a caixa da direita, a do feto, se fechou, e começou a pegar fogo. O mesmo acontecia com o outro, mas as chamas foram direto para sua mão, onde um pequeno ponto de luz uma forma em miniatura do ovo de fênix apareceu em sua mão.
— Não!!!! — a projeção de Kýrios gritou, seus olhos ficaram vermelhos de ódio, tanto que, assim que a caixa virou cinzas enquanto um choro de bebê ecoava pelo quarto, o deus tirou de suas costas o seu arco e flecha.
— Você me traiu, James! — disse, sua voz embargada.
— Eu… Tive que escolher!
— Ah claro, sei o que pensou! Que tudo quando terminar eu poderia ter outros filhos com minha amada? Claro, eu poderia… Mas este aqui, ao qual você matou, este nunca será substituído! — esticando a corda do arco, o deus do amor largou sem hesitar, atirando a flecha em direção ao rapaz.
Publicado por:
- Brunna Lys Miran
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