Mais de um milhão de beijos - Capítulo 5.3
O barulho estridente do alarme fez Yeong-hoo abrir os olhos com dificuldade. Sua cabeça doía. Com um gemido, ele estendeu a mão e desligou o alarme. Em um instante, o silêncio se instalou, e a vaga reverberação do alarme pairou em seus ouvidos antes de desaparecer. Huum, um suspiro escapou involuntariamente. Ele se levantou, piscando os olhos inchados com esforço, mas parecia que levaria um bom tempo para sua cabeça clarear.
Com passos cambaleantes, Yeong-hoo foi até o banheiro e lavou o rosto com água fria. Seu reflexo no espelho da pia parecia o de um fantasma pálido. Era o efeito da privação de sono. Ele se lembrou de um estudo que dizia que dormir durante o dia não era bom para a saúde. Embora pensasse que não tinha escolha por causa do seu trabalho, o cansaço era inegável. Além disso, a resistência física deles era fundamentalmente diferente. Lembrando-se de Theron, que era vinte anos mais velho que ele e conseguia trabalhar duas noites seguidas sem se abalar, Yeong-hoo escovou os dentes sem ânimo.
De repente, ao sentir a palma da mão áspera, ele baixou o olhar e uma cicatriz quase curada surgiu em sua visão. Qual era a data para retirar os pontos? Enquanto tentava se lembrar da data, Yeong-hoo franziu a testa sem querer. Embora tivesse tido sorte em superar o trauma, ele não conseguia se alegrar completamente ao se lembrar do incidente que o desencadeou. As memórias conectadas o levavam de volta àquele momento perigoso da madrugada. Depois de sair do bar apressadamente, trancar a porta e fugir, Yeong-hoo só conseguiu soltar um suspiro de alívio depois de entrar em casa e trancar a porta da frente.
Sem perceber, ele parou a escovação. Sua mente ainda estava completamente confusa. Por que ele fez aquilo? Era óbvio que Andreas tentou beijá-lo. Mas o que o incomodava era o fato de que ele quase se deixou levar pela atmosfera e aceitou o beijo. Até agora, Yeong-hoo tinha pouquíssima experiência sexual e nenhum interesse nisso. Ele sempre pensou que era porque não tinha tempo para se preocupar com essas coisas, mas, por outro lado, também se sentia um pouco inseguro por talvez ser excessivamente desinteressado.
A razão dele nunca ter assistido a um simples pornô era simplesmente falta de interesse. O fato dele ter desistido e ido embora facilmente também se devia, em parte, a terem trocado apenas alguns beijos sem graça. Claro, o motivo principal foi que Yeong-hoo não tinha absolutamente nada, havia abandonado a faculdade e sido dispensado do serviço militar por problemas de saúde.
Yeong-hoo admitiu, com dificuldade, que se sentia fortemente atraído sexualmente por Andreas. Que a primeira pessoa a excitá-lo fosse justamente aquele homem era algo que ele não conseguia entender de jeito nenhum. Já era difícil aceitar ter se excitado com um homem, mas para piorar, ele era um dos tipos de pessoa que Yeong-hoo mais detestava. Não importava quem aquele homem fosse, uma coisa era certa: ele era, sem dúvida, o pior tipo de pessoa, aquele que usava seu charme para manipular os outros. Primeiro o fez de palhaço e agora tentou beijá-lo?
Yeong-hoo apertou firmemente a mão ainda ferida. O problema era que Andreas era um cliente e ele, apenas um bartender. Se algo acontecesse, toda a responsabilidade recairia sobre ele. A menos que ele cometesse um crime explícito, não havia nada que pudesse fazer, não importa o que ele tentasse fazer com Yeong-hoo. Um medo vago tomou conta dele, deixando-o pálido. Por quê? Ele parecia alguém que nunca desistiria até que Yeong-hoo erguesse a bandeira branca e se ajoelhasse diante dele. Lembrando-se dos olhos azuis profundos que o encaravam persistentemente, Yeong-hoo esfregou seus ombros levemente trêmulos.
*
*
Não era comum Andreas acordar antes do fim da sesta. Saindo do chuveiro, ele prendeu uma toalha grande na cintura e foi para o closet.
Em meio a inúmeras camisas, ele pegou uma sem hesitar e, em seguida, com uma escolha impecável, selecionou a gravata e o terno de uma só vez. Depois de abrir a gaveta e escolher as abotoaduras e o prendedor de gravata de ouro, terminou de se arrumar rapidamente. Após secar os cabelos ainda úmidos, verificou sua imagem perfeita, sem nenhuma falha, no espelho de corpo inteiro do closet, como sempre fazia. Desviando o olhar do belo homem que sorria conscientemente no espelho, ele voltou imediatamente para o quarto.
Retirando um ouzo do frigobar e misturando-o com água na medida certa, Andreas levou o álcool cor de leite à boca. Pretendia ir ao bar na hora certa. Só de lembrar do rosto de Yeong-hoo, Andreas sentia uma excitação peculiar. Ninguém jamais o havia estimulado tanto quanto Yeong-hoo. Era a primeira vez que havia dado o próprio número para seduzir alguém e também a primeira vez que era rejeitado, mas ele podia superar isso.
Em vez de ter o ego ferido, apenas achou aquilo curioso. Mas na frente de Nick, ele fez questão de ser grosseiro com Andreas e, por fim, o empurrou. E com toda a força.
Ser rejeitado por um beijo era algo inimaginável. E para piorar, fugir diante de seus olhos em um instante era o mesmo que dar um bolo em Andreas de forma humilhante. Talvez ele tenha usado um truque óbvio para escapar. Incrivelmente, Andreas, que nunca havia passado por algo assim, caiu direitinho. Um bartender insignificante brincando comigo? Yeong-hoo, é claro, não fazia ideia de que isso havia acendido a chama do desejo deturpado de Andreas.
Como quitar essa dívida? Ser constantemente provocado dessa maneira era, de certa forma, revigorante. Andreas levou o ouzo à boca, semicerrando os olhos. Só agora ele realmente estava interessado na aposta. No início foi impulsivo, mas agora era diferente. Nick não lhe importava nem um pouco. Toda a sua atenção estava focada em conquistar Yeong-hoo. Alguma vez ele havia desejado alguém com tanta intensidade? Diante daquele impulso inesperado e avassalador, ele murmurou em voz baixa, com satisfação.
“Vou te levar a sério agora…”
Um sorriso surgiu nos lábios de Andreas. Ele imaginou agarrar aquele homem, que fugia com uma expressão de castidade fingida, e derrubá-lo na cama. Em sua mente, via o rosto de Yeong-hoo corar com alguns beijos e carícias, a respiração ofegante enquanto revelava sua verdadeira natureza, movendo os quadris lascivamente sob seu domínio. Inesperadamente, Andreas sentiu um calor percorrer suas entranhas.
* * *
Tradução: Yani
Revisão: Ana Luiza
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