Mais de um milhão de beijos - Capítulo 5.2
Depois de procurar arduamente uma flanela e voltar, Andreas ainda estava parado no mesmo lugar. Yeong-hoo começou a limpar as mesas a partir da mais distante dele. Enquanto Yeong-hoo repetia a limpeza sem sentido, apesar de já ter sido limpo por outros garçons, Andreas murmurou algo baixo para ele.
“Glória a Deus!”
Com o significado de ‘Glória a Deus’, é uma expressão que os gregos costumam usar quando enfrentam dificuldades ou estão frustrados, sem que se saiba o motivo. Sem entender o que o afligia ou se era apenas uma brincadeira, Yeong-hoo fingia não perceber e continuava limpando as mesas sem culpa. Ele estava quase indo para a segunda mesa quando Andreas falou de novo.
“Você deu um fora no Nick.”
“Oi?”
Surpreso com a pergunta repentina, Yeong-hoo gritou e virou a cabeça. Andreas estava parado não muito longe, olhando para ele. Quando Yeong-hoo, confuso, piscou, Andreas deu uma tragada em seu charuto e continuou falando calmamente.
“Ele pareceu muito decepcionado. Ficou reclamando que não conseguia entender o motivo.”
“O que isso tem a ver com você…?”
Yeong-hoo perguntou, sentindo-se um tanto desanimado. Ele se sentia um idiota por estar tão tenso. À pergunta de Yeong-hoo, Andreas deu de ombros levemente.
“É que Nick e eu somos amigos.”
Inconscientemente, Yeong-hoo franziu a testa. Por que aquelas palavras soavam como uma desculpa? Mesmo que fossem amigos íntimos, não seria estranho perguntar algo assim? Será que os gregos não têm esse tipo de limite? Andreas falou com Yeong-hoo, que apenas o encarava em silêncio.
“Não importa o quanto eu pense sobre isso, não consigo entender.”
“O quê, exatamente?”
A voz de Yeong-hoo endureceu naturalmente. Andreas, por outro lado, ainda falava calmamente.
“O Nick ser dispensado é algo inédito. Qual o motivo? O Nick tem um rosto bonito e um bom caráter. Além disso, com a família Dukakis, definitivamente não seria desvantajoso. Você por acaso não conhecia a família Dukakis?”
Yeong-hoo franziu a testa diante do comentário debochado. Será que ele segurou uma pessoa a essa hora da madrugada, ignorando a placa de ‘fechado’, só para saber uma coisa dessas? Ele achou patético, mas parecia ser importante para Andreas. Seja qual fosse o motivo, Yeong-hoo não ficou contente, mas pensou que não havia razão para esconder ou não, então respondeu honestamente.
“Não sei muito sobre a família Dukakis, mas isso não faz diferença. É apenas a origem dele.”
“Não conhece a família Dukakis? Não vai me dizer que espera que eu acredite numa bobagem dessas.”
Andreas abriu a boca, rindo por dentro.
“O Nick é bem generoso. Provavelmente, se você tivesse aceitado, ele teria até comprado uma ilha para te dar.”
Ao contrário da reação divertida de Andreas, Yeong-hoo não desfez a testa franzida.
“Pode até ter pessoas que fazem amizades assim, mas eu não sou desse tipo. O Sr. Dukakis escolheu a pessoa errada. Se esse era o tipo de coisa que ele se gabava, ele deveria ter procurado alguém que se importasse com isso.”
A forma como ele falou parecia um tanto desdenhosa. Andreas hesitou por um instante com aquela reação inesperada.
“Não gostou dele por ele ser rico?”
Yeong-hoo respondeu à pergunta de Andreas com uma expressão dura.
“Não gosto de pessoas que se aproveitam da riqueza para agir de forma leviana. Não é algo vulgar?”
Essa observação surpreendeu Andreas.
Interessante…
Andreas levou o charuto à boca, tragou a fumaça e a soltou lentamente, antes de começar a falar novamente, com calma.
“Já vi muita gente dizer isso, mas mudar completamente quando a oportunidade aparece.”
“Eu odeio gente hipócrita.”
Yeong-hoo refutou suas palavras imediatamente mais uma vez. No entanto, Andreas apenas soltou um breve riso zombeteiro. Ele não acreditava na sinceridade alheia. Principalmente, não confiava em bartenders que fingiam ser indiferentes com rostos presunçosos. ‘Mesmo exalando sensualidade por todo o corpo, ele fala tão bem como se fosse puro. Já deve ser bem rodado.’
Andreas fumava seu charuto em silêncio, observando atentamente o rosto de Yeong-hoo. Dos olhos estreitos e de pálpebra única, a pele pálida e cansada, o olhar percorreu as maçãs do rosto delicadas e o maxilar suave, parando no pescoço fino, que parecia quebrar com um único aperto de mão. Por um instante, Andreas sentiu um forte impulso de cravar os dentes ali e sugar ferozmente. Apesar do cansaço evidente, Yeong-hoo encarava Andreas diretamente, sem qualquer sinal de desordem em sua fala ou postura. Era a primeira vez que encontrava alguém que falava com ele tão confiantemente, sem sequer tremer diante de sua presença.
Mas era só isso. Um sorriso malicioso surgiu em seus lábios enquanto ele semicerrava os olhos. De nada adianta bancar o inocente comigo. Na cama, ele se transformaria num ninfomaníaco vulgar. O que eles tinham dito mesmo? Ah, sim, queriam derrubá-lo na cama e ouvir seus gemidos. Relembrando as palavras do grupo, Andreas despiu Yeong-hoo peça por peça em sua mente. Os ombros delicados que se seguiam ao pescoço fino e o corpo magro se desenhavam facilmente em sua imaginação. Andreas soltou um suspiro curto, quase um lamento, enquanto expirava a fumaça. Ao desejo singelo dos seus companheiros, ele adicionou mais um: como seria sentir aquela cintura se contorcendo enquanto implorava?
Ao ver Andreas semicerrar os olhos enquanto o observava e passava a língua lentamente pelo lábio superior, Yeong-hoo sentiu um arrepio percorrer sua espinha. O que diabos aquele homem estava pensando? Por que ele o olhava com aqueles olhos? Como bartender, ele havia conhecido muitas pessoas estranhas e também recebido olhares peculiares, mas um olhar tão intenso era inédito. A descabida sensação de que estava sendo violado com os olhos fez Yeong-hoo sentir um calafrio. Sua boca estava seca. Yeong-hoo sempre se considerou alguém assexuado. Mas por que estava se sentindo assim agora? Só por causa do olhar daquele homem.
Todo o corpo de Yeong-hoo se tensionou, alertando-o para o perigo. A estranha tensão que ele vinha sentindo até agora se intensificou, cercando-o. Seria essa a sensação de ter todos os nervos à flor da pele? Suas palmas suavam frio e ele sentia uma espécie de calor subir por cada canto do corpo.
Com uma força de vontade sobre-humana, foi Yeong-hoo quem se virou primeiro, rompendo o olhar insistente que estava no ar.
“Já passou da hora.”
Só de dizer aquelas palavras pareceu drenar toda a sua energia restante. Ele começou a limpar as mesas rapidamente, numa velocidade completamente diferente de antes, mas conseguia sentir o olhar de Andreas fixo nele com muita intensidade. Era impossível se acalmar. Por que aquele homem o olhava daquela maneira?
Enquanto Yeong-hoo se movia apressadamente entre as mesas, fingindo estar absorto no trabalho, Andreas apreciava a cena, fumando seu charuto tranquilamente.
Passo pesado.
Um passo silencioso atravessou o ouvido de Yeong-hoo num instante. Embora suas mãos se movessem apressadamente, ele podia sentir a aproximação de Andreas com todo o seu corpo, mesmo sem vê-lo. O som regular de seus passos ecoando no bar silencioso perturbava seus ouvidos. Preciso fugir. Yeong-hoo pensou, tomado por uma tensão sufocante. Preciso escapar logo. Se eu não sair daqui agora… De repente, ele avistou um cinzeiro e o pegou apressadamente. Sua intenção era sair dali fingindo ir esvaziar o cinzeiro. Mas já era tarde demais.
“Eek!”
Ao virar o corpo rapidamente, Yeong-hoo quase esbarrou no homem parado bem à sua frente e engoliu em seco. Quando ele havia se aproximado tanto? Andreas estava parado ali, bem perto, olhando para Yeong-hoo de cima. Ele tentou recuar, mas, infelizmente, foi impedido pela mesa, sem conseguir escapar. Com um olhar cruel, como se observasse um cervo preso em uma rede, Andreas começou a falar.
“Tenho mais uma pergunta.”
“O que é?”
A voz escapou involuntariamente, num tom afiado. Será que ele vai pensar que estou irritado por estar ocupado? Andreas olhou para a mão de Yeong-hoo, sentindo-o nervoso por dentro. Ao vê-lo estender a mão, Yeong-hoo se enrijeceu. Andreas apagou o charuto quase terminado no cinzeiro que Yeong-hoo estava segurando e sorriu. Yeong-hoo engoliu em seco e o encarou. Ele não conseguiu desviar o olhar. Apenas tremeu debilmente, como um animal encurralado. Andreas inclinou a cabeça lentamente. Para Yeong-hoo, que se enrijeceu de sobressalto e tensionou todo o corpo, Andreas sussurrou em seu ouvido.
“Você é frígido?”
T/N: Caso alguém não saiba e tenha curiosidade em saber, a frigidez é a falta de interesse sexual.
“Hã?”
Virar a cabeça sem pensar em uma resposta àquela pergunta repentina foi um erro. Ao perceber o rosto de Andreas bem diante de seus olhos, Yeong-hoo arregalou-os. Andreas, com a cabeça inclinada em direção a ele, tão perto que suas respirações se misturavam, começou a falar. Yeong-hoo sentiu o hálito dele em seus lábios.
“Estar sozinho comigo e não demonstrar nenhuma reação, ou você é frígido, ou está fingindo não se abalar. Não é?”
Andreas riu silenciosamente. Yeong-hoo viu seus longos cílios se abaixarem lentamente diante de seus olhos. Ele sussurrou, num tom ainda mais baixo e sedutor.
“Que tal a gente descobrir?”
No instante em que seus lábios estavam prestes a se tocar, Yeong-hoo, em vez de responder, empurrou o rosto dele com força.
“…!”
Surpreso com a reação inesperada, Andreas arregalou os olhos. Yeong-hoo, confuso, piscou e só então percebeu que ainda segurava o pano de limpeza na mão, apressando-se em escondê-lo atrás das costas enquanto se desculpava.
“M-me desculpe. Me assustei muito… Ali, tem um banheiro lá fora. É só virar o pilar… Você já deve saber, mas lá dá para lavar o rosto…”
A julgar pelo seu discurso desconexo, Yeong-hoo parecia tão chocado com suas próprias ações quanto Andreas.
“Theos mu*… Vou enlouquecer.”
* Significa ‘Meu Deus’.
Andreas murmurou um palavrão baixo, virou-se com passos pesados e saiu do bar em largas passadas. O som da porta fechando com um estrondo considerável ecoou, e Yeong-hoo respirou fundo e rápido, tremendo. Sua mente estava um caos completo. Ele não conseguia pensar no que tinha feito ou em que desculpa dar. A única coisa que ele sabia era que Andreas tentou beijá-lo e que ele quase fechou os olhos e aceitou. Ao perceber isso, restou apenas uma escolha para Yeong-hoo.
Depois de lavar o rosto e se acalmar por um momento, Andreas voltou ao bar com sua aparência habitual e impecável, apenas para encontrar a porta trancada. Ele bateu levemente, mas não houve resposta. Em seguida, começou a bater com força na porta e a gritar, mas ainda assim não obteve reação. Foi só então que Andreas finalmente admitiu, com dificuldade, que Yeong-hoo havia fugido. No final, tudo o que Andreas pôde fazer foi ranger os dentes enquanto encarava a placa com a palavra ‘Closed’.
* * *
Tradução: Yani
Revisão: Ana Luiza
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