Magos - Capítulo 25





—Naoto, você precisa descansar, está ficando pálido de tanto gastar mana! —Disse Harsi preocupado.
—Não podemos parar enquanto essas criaturas não pararem de nos seguir! —Respondi mantendo firme no volante.
—Troque comigo, observei você dirigindo por 2 dias seguidos, acredito que consigo pilotar! —Harsi argumentou.
—Esperem, o que é aquilo lá na frente? —Perguntou Abtan. —Parece ser uma caverna!
—Caverna? —Disse Harsi pensativo. —Devemos estar perto do centro do deserto, esse local é cheio de cavernas, siga em frente, vamos nos abrigar!
Mesmo com essa tempestade de areia, Abtan conseguiu enxergar um local para descansar. Entramos na caverna e rapidamente Harsi saiu do veículo e usou magia elemental da terra para bloquear a entrada, Abtan achou lanternas para iluminar o local. A caverna tinha cheiro de umidade e parece que está abandonada, pois não há rastros de criaturas. Harsi acendeu uma fogueira e me carregou me colocando confortavelmente no chão.
—Eu posso andar sozinho! —Falei agradecendo.
—Eu sei, mas quero que descanse e não gaste mais energia, você precisa descansar, enquanto isso irei recarregar as baterias! —Disse Harsi pegando as 8 baterias do carro.
—Na caçamba do carro encontrei uma caixa cheia de barras de cereais, guardei elas enquanto viajávamos por precaução! —Disse Abtan mostrando a caixa.
—Racionamos o máximo de comida, mas esses 2 dias foram desgastantes! — Falei pegando duas barras de cereais. —Ainda temos água?
—Temos 3 garrafas d’água de 2 litros! —Respondeu Abtan.
—Vamos descansar um pouco, depois iremos caçar um pouco de água, estou sentindo cheiro de água vindo ao fundo da caverna. —Falei me aconchegando perto da fogueira.
Dormia tranquilamente quando acordei de repente, Harsi estava apagado ao meu lado enquanto Abtan estava completamente desmaiado, não julgo, afinal ele ficou acordado por dias quando a cidade dele foi atacada. Olhei para o relógio em vão, eu havia esquecido que tudo que é digital parou de funcionar, abri uma pequena fenda na entrada, mas também em vão, a tempestade está bloqueando a luz natural. Olhei para as garrafas d’água, bebemos uma inteira e a as outros duas estão acabando, aumentei o nível da fogueira e deixei um bilhete para Harsi ficar de olho em Abtan e seguir para o fundo da caverna. Sem precisar de luz, usei minha visão animal para enxergar perfeitamente na escuridão, enxergava como o dia. No caminhar, não encontrei nada de perigoso ou anormal, mas a humidade e o cheiro de água potável eram fortes, no entanto, eu não escutava nada, é um silêncio absoluto. Ainda no caminho notei que a humidade daquela área ficou maior e o mais surpreendente era ver bolhas de água caindo para cima e para baixo, como se não houvesse gravidade, entretanto, a água não era potável, ela possui uma cor esverdeada e um pouco lodosa. Eu pensei em voltar para o acampamento improvisado, mas algo chamou minha atenção, mais ao fundo da caverna eu podia enxergar movimento, não sabia exatamente o que era, mas posso dizer que é esguio. Tentei me aproximar um pouco mais sem fazer barulho e acidentalmente explodir uma bolhas de água flutuantes, a criatura olhou em minha direção e puder ver claramente uma arcada dentaria afiada com um sorriso maléfico pronto para me devorar. Sem demora, a criatura disparou em minha direção em uma velocidade incrivel, seus braços pareciam ser tentáculos com alguma coisa pontiaguda e afiada na ponta, conseguir desviar de seus ataques, mas o terreno lodoso e escorregadio dificultava minha mobilidade e foi então que a criatura arranhou gravemente meu braço esquerdo. A criatura sorriu de ponta-a-ponta, olhei para o tentáculo e saia um líquido viscoso, “Veneno!”, eu pensei. Rapidamente fiquei de pé e disparei uma raio poderoso na direção da criatura que foi jogada para o fundo da caverna soltando gritos agonizantes, ativei o aspecto da serpente para agilizar o processo de cura e análise do veneno que caiu na corrente sanguínea. O processo de cura foi perfeito, mas a análise do veneno estava difícil e já podia sentir os efeitos, comecei a ficar ofegante e minha visão ficou um pouco embaçada, mas ainda assim podia enxergar, meus braços começaram a ficar dormentes e a movimentação de minha cauda ficou mais lenta, parecia que tinha uma pedra em cima do meu peito fazendo uma pressão gigantesca. Mais à frente podia enxergar a fogueira, tentei gritar, porém a minha voz não saia e de repente, desmaiei antes mesmo de chegar perto da fogueira.
Acordei de supetão puxando o ar para dentro dos meus pulmões de forma grosseira, Harsi rapidamente veio ao meu socorro com um pouco de água, olhei para ele com mais tranquilidade sabendo que ele está bem.
—Você está bem? —Ele perguntou me abraçando.
—Sim eu estou! —Me aconcheguei em seu ombro. —Agora eu estou.
—Eu não acredito, você foi atacado por uma Serpagua e saiu vivo! —Disse Abtan surpreso.
—O que é uma serpagua? —Perguntei olhando para Abtan.
—Serpagua é uma criatura aquática extremamente perigosa, ela é cruel com suas vítimas, vivem em locais de extrema humidade, como cavernas como essa, lagos, pântanos e rios, são carnívoras e possuem um veneno letal! —Abtan descreveu.
—O pior de tudo é aquele sorriso sádico ela possui, é como se ela estivesse debochando de você! —Disse Harsi.
—Entendo, então a criatura que enfrentei é uma serpagua, eu podia ver muito bem seu sorriso maléfico, mas eu acertei um poderoso raio, forte o suficiente para fazer um buraco na terra! —Falei bebendo um pouco mais de água.
—Eu realmente estou surpreso por ter sobrevivido ao ataque desse ser, não existe antidoto para seu veneno! —Disse Abtan curioso.
—Como você pode ver, estou no aspecto da serpente, nessa forma minha cura fica mais forte e consigo analisar melhor os venenos, de certa forma sou completamente imune a todos os tipos de venenos, mas dessa vez meu organismo demorou para decodificar o veneno! —Disse criando uma bolha de veneno de serpagua. —Esse veneno é muito perigoso, suas propriedades são incríveis, pode demorar um pouco, mas vou conseguir criar um antidoto contra esse veneno! —Falei orgulhoso.
—Então e melhor ser envenenado mais ainda, pois existe 3 tipos de serpagua, a serpagua azulada possui um veneno viscoso capaz de paralisar suas presa, mas o veneno é tão potente que acaba matando a presa, a serpagua rosada não é tão perigosa, mas suas lâminas são mortais, o veneno não é tão forte. —Descreveu Abtan. —Mas a serpagua negra é morte na certa, ela solta veneno pela pele que evapora ao contato do ar, se respirar já era, mas as serpaguas negras são extremamente raras de ver já que elas vivem em locais fechados com muitas quedas d’águas e lagos profundos.
—Meu pai já matou uma serpagua negra, temos as lâmias dos tentáculos dela na parede do palácio. —Disse Harsi.
—Mas a pergunta agora é, será que eu realmente matei uma serpagua? Meu raio é poderoso, mas ela parece ter uma pele bem carrancuda! —Falei incerto da minha vitória.
—Só precisamos ir ao local onde você a atacou, mas por quanto tempo você ainda vai ficar no aspecto da serpente? —Perguntou Harsi acariciando minha cauda.
—Eu ainda tenho que ficar nesse modo, o veneno da serpagua ainda corre pelo meu corpo, mas os efeitos estão negativados, até o processo ser finalizado irei ficar assim! —Respondi já pronto para sair. —De qualquer forma, precisamos seguir pela caverna adentro, sinto cheiro de água potável vindo bem ao fundo da caverna, e se a serpagua estiver viva podemos derrotá-la facilmente!
—Eu acho que irei ficar de fora, posso ter recebido treinamento militar, mas minhas habilidades então enferrujadas, se eu tivesse uma lança eu poderia dar apoio! —Disse Abtan.
—Eu acho que tenho o que você procura, meu tio Jonathan me ensinou um pouco de magia de invocação… —Falei abrindo uma fenda e peguei um objeto parecido com um cassetete. —Aqui experimenta, na parte inferior tem um pequeno botão aperte-o.
Abtan pegou o objeto e fez o que eu falei, ao aperta o botão o objeto em forma de cassetete se expandiu se tornando uma lança.
—Interessante, é leve e pode se compactar para ajudar no movimento, o peso dela é bem equilibrado! —Disse Abtan contente com a arma. —Obrigado Naoto!
—Vamos deixa o veículo aqui? —Perguntou Harsi preocupado.
—Infelizmente sim, a entrada da caverna está bloqueada então há perigo! —Respondi confortando-o.
Seguimos a caverna adentro, passamos pelo local onde eu fui atacado, passamos pelas bolhas de água lodosas sem problemas. Nossa guarda estar alta e preparados para qualquer ataque e mais a frente podia ver o corpo da serpagua estirado no chão sem vida!
—Ela parece ser uma serpente! —Falei analisando seu corpo.
—Sim, elas podem rastejar pela terra com facilidade, mas são excelentes nadadoras! —Disse Harsi.
—Quando você disse que usou uma raio poderoso capaz de abrir um buraco na terra, não pensei que seria tão poderoso assim! —Disse Abtan olhando o buraco no peito da criatura.
—É… fazer o que né! —Respondi com um sorriso no rosto. —Vamos seguir poder ser estranho, mas escuto som de água correndo.
Deixamos o corpo da serpagua para trás e seguimos em frente sem medo, a cada passo que dávamos o som de água correndo ficava mais forte. As paredes da caverna minavam água limpa, podíamos estar dentro de um aquífero ou existe muitos lençóis freáticos nessa caverna. Continuamos andando quando nos deparamos com um precipício, ao fundo podíamos ver uma correnteza forte o suficiente para derrubar animais enormes só com a pressão da correnteza.
—Aqui está o cheiro de água que você estava sentindo! —Disse Harsi.
—É uma quantidade de água absurda, para onde será que ela desagua? —Perguntei curioso.
—Em todos esses anos, ninguém dentre as raças vieram investigar as cavernas do centro do deserto, não tem registro sobre isso! —Disse Abtan também curioso.
—O que faremos? Não vejo nenhuma saída sem ser o buraco em que a correnteza está jogando a água! —Disse Harsi analisando a área.
—Podemos voltar e tentar escalar a montanha, mas podemos encontrar criaturas do deserto e também não sabemos se a rainha dos escavadores ainda está atrás de nós, eu prefiro me arriscar dirigindo pelo deserto afora do que enfrentar essa correnteza! —Falei voltando ao normal.
—Olha você voltou ao normal! —Disse Harsi sempre surpreso.
—Sim, conseguir separar todos os componentes do veneno da serpagua…
Nesse exato momento o que de ruim aconteceu, a beirada em que nós três estávamos desabou e nós três caímos na correnteza, rapidamente criei um escudo para nos proteger da correnteza que acabou nos levando para dentro do buraco. Harsi e Abtan se seguraram em mim, pois a turbulência era forte demais, a cada curva a barreira batia nas paredes e jogava nossos corpos de um lado para o outro, eu tentava me segurar o máximo que podia para manter o escudo forte, mas a correnteza é forte demais. Toda vez que nos chocava com as paredes a barreira trincava, escudos não é muito a minha praia e me arrependo cada vez mais por ter pulado as aulas da tia Tanya. Mais à frente enxerguei uma pilastra rochosa e não dava tempo de desviar, simplesmente gritei para prenderem ao máximo a respiração e não deu outra, o escudo se chocou com a pilastra se quebrando por inteira, Harsi se agarrou a mim e Abtan segurou as pernas de Harsi, modifiquei meu corpo para poder respirar embaixo d’água, mas Abtan e Harsi não vão aguentar por muito tempo. Durante o percurso podia ver uma luz bem ao fundo, uma aluz azulada, percebi que aquilo era uma queda d’água, ou estamos a salvos ou estamos mais ferrados ainda. Fomos jogados para fora de forma abrupta e demos de cara com uma queda livre em um lago que brilhava, mas a surpresa não era essa, eu podia ver claramente meu pai, minha tia Melyyna e Tanya e meu tio Jonathan lutando contra centenas de criaturas do deserto.
Vendo eles lutarem, criei uma rampa de gelo que nos levou até a localização do meu pai, Harsi entendeu a situação e logo sua armadura surgiu, Abtan também se preparou sacando a lança e ficando em uma das criaturas, os punhos de Harsi ficaram negros e cada soco que ele dava nas criaturas elas se desintegravam, aproveitei a rampa de gelo e a destruí, os estilhaços se tornaram armas contra as criaturas. Vendo que o nosso poder é mais forte, boa parte das criaturas fugiram com medo.
—Pai! —Eu o abracei forte. —O que vocês estão fazendo aqui e como chegaram aqui?
—Vocês estão bem! —Ele não me soltava. —Fiquei tão preocupado, onde está Vera?
—Eu não sei, acredito que ela esteja em Gehena! —Falei olhando para seu rosto.
—Então vocês ainda não se encontraram, antes de parti recebemos uma mensagem de sua irmã dizendo que estavam indo para o deserto te procurar! —Ele disse preocupado.
—Não nos encontramos, apesar que, eu não fiquei com a magia de telepatia ativa, ficamos perdidos no deserto e eu estava usando minha mana exclusivamente para abastecer o veículo! —Respondi também preocupado.
—Mas como vocês 3 chegaram aqui e quem é esse? —Perguntou Melyyna.
—Desculpe, sou Abtan secretario de comunicações da cidade de Averenis! —Respondeu Abtan.
—Sim, depois de deixar os extremistas na mão da tia Tanya e do tio Jonathan, Harsi e eu seguimos para o deserto adentro, só não imaginávamos que o sinal com satélite ia ser cortado, depois que encontramos Abtan ficamos perdidos tentando escapar da rainha dos escavadores, eu praticamente fiquei sem mana, na superfície encontramos uma caverna onde pude descansar e recarregar minhas energias e agora estamos aqui! — Resumi toda a história.
—Vocês passaram por um perrengues em! —Disse Tio Jonathan dando risada.
—No momento temos que voltar para superfície, esse monolito negro é a causa dessa tempestade crescente, ela é uma grande linha de ley que precisa ser drenado com urgência! —Disse meu pai analisando o local.
—Sinto muito, mas pela água não dar para voltar, a correnteza é extremamente forte! —Disse Harsi.
—Temos que chegar na superfície e parar essa tormenta antes que a situação piore! —Disse meu pai preocupado.
—Eu tenho uma ideia, mas ela não é do tipo segura! —Falei olhando para ele.
—Não! —Disse Harsi me impedindo.
—O que exatamente? —Perguntou Melyyna.
—É uma magia que meu pai Alan estava trabalhando, mas ela ficou incompleta, mas eu conseguir completá-la, no entanto, ela é muito instável! —Falei esperando uma resposta.
—Que tipo de magia? Alan trabalhava em centenas delas e a maioria não está completa ou se tornaram instáveis para o uso! —Disse Yoichi pensativo!
—É o canhão de diamante! —As reações deles foram de surpresos.
—Não, de forma alguma, você usou uma vez em Tartaria e quase morreu usando! —Protestou Harsi furioso.
—Concordo com Harsi nesse momento, é um poder extremamente instável! —Disse Jonathan concordando.
—Sim eu sei, mas eu conseguir canalizá-la de forma centrada e não dispersa como antes… —Falei pensativo. —Mas manter ela centrada é complicada, pois existe o efeito chicote que pode me desestabilizar!
Nesse momento o tio Jonathan invocou uma espécie de parede de titânio em formato de cone aberto além de suportes para canhões fortificados.
—Não quero concordar, mas nossas opções são escassas, me passe os dados da magia, dessa forma poderei calcular o formato do cone! —Disse tio Jonathan se preparando.
—É uma magia perigosa, tem certeza disso? —Perguntou meu pai ainda mais preocupado.
—Certeza eu não tenho, mas é a nossa única opção valida no momento, serei cuidadoso pai, confie em mim! —Falei apaziguando a tensão.
—Eu ainda não concordo com isso, você se machucou muito da última vez, não quero ver você sofrendo de novo! —Disse Harsi me abraçando.
—Naoto! —Jonathan chamou minha atenção. —Está pronto!
Me posicionei dentro do cone de titânio conseguindo apoio necessário, os suportes do canhão estão bem-posicionado e bem fixos ao chão. Comecei manipulando os elementos necessários para criar um canhão de diamante bruto apontando para cima e o carreguei com mana, em seguida misturei os elementos do fogo, luz e raio junto com pouco de hidrogênio concentrado, o canhão começou a brilhar intensamente e sua cor cintilante tornou-se vermelha alaranjada. Gritei para se protegerem enquanto círculos de poder surgiram acima de mim, esses círculos servem para aumentar a potência do disparo e de repente, disparei o canhão, um feixe de luz vermelha surgiu que foi aumentando gradualmente quando passado pelos círculos de poder magico, um som estrondoso tomou conta da área e o calor vindo da magia era espantoso. O feixe de lux atingiu o tento do subsolo derretendo camada por camada. A magia parece estar estável, mas no canhão pude notar rachaduras e as ondas de energia faziam o subsolo tremer. Meu uniforme de batalha começou a queimar, meus braços expostos surgiram queimaduras de 2° grau que foi subindo para meus ombros e pescoço, Harsi vendo o desgaste gritava para eu parar, mas eu simplesmente não escutava o que ele dizia. Depois de alguns breves minutos cessei a magia, podíamos ver o túnel aberto para superfície, as paredes do túnel brilhavam em vermelho lava incandescente, o calor que saia era incrivel, mas o preço foi caro.
—Naoto! —Gritou Harsi desesperado. —Seus braços!
—Fique calmo Harsi! —Disse Melyyna segurando Harsi com toda as forças.
—Meu filho! —Meu pai se aproximou. —Vai ficar tudo bem, irei curar você!
—Minha nossa, Yoichi os braços dele! —Disse Tia Tanya quase chorando.
—Eu não sinto meus braços! —Falei olhando para baixo vendo meus braços carbonizados. —Há, entendi! —Depois de ver meus membros carbonizados apaguei por completo.
Acordei horas depois em desespero, eu sentia uma dor inexplicavelmente insuportável por todo o meu corpo. Meus olhos parecem estar vendados, eu conseguia escutar vozes, mas não conseguia enxergar ninguém, uma das vozes parecia ser da minha tia Sophia e do meu pai, as outras eu não reconhecia. Eu queria falar, mas não conseguia, eu gritava em meus pensamentos, pedia ajuda, eu suplicava por socorro, mas ao mesmo tempo não conseguia!
—Eu estou aqui! —Disse meu pai Alan surgindo de uma luz.
—Pai!? —Falei enquanto a sua imagem ficava cada vez mais nítida. —Pai é você mesmo? —Perguntei estranhando a sua aparência.
—É claro que sou eu, quem mais eu seria? —Ele falou me abraçando.
—Mas como é possível? Achei que o senhor havia morrido! —Falei lacrimejando.
—Eu estou aqui por você, sentir muito a sua falta! —Ele me abraçava forte.
—Eu senti tanto a sua falta. —Falei enquanto chorava. —Você não vai partir novamente?
—Não irei, estou aqui por você meu filho! —Ele falava com calma e serenidade.
—Espera, Vera vai surtar ao vê-lo e o pai Yoichi também, onde eles estão? —Perguntei olhando para a escuridão em minha volta! —Onde nós estamos!
—Naoto, ainda não está na hora, você precisa acordar! —Disse meu pai dando um golpe em meu peito.
Acordei de repente como se todo o ar dos meus pulmões tivesse saído de uma vez, podia ver os rostos mascarados em minha volta sem reconhecê-los, eles pareciam estar aflitos. Eu puxava o ar para meus pulmões de forma grosseira e irregular, a dor angustiante desapareceu, eu só escutava os mascarados pedindo para eu ficar mais calmo para respirar devagar e com calma, realmente uma das vozes é da minha tia Sophia, do outro lado podia ver o semblante do meu pai Yoichi e ele suava muito. Em meio desespero eu fui ficando cada vez mais calmo até apagar novamente
—Naoto, você está bem? —Perguntou a mulher com vestimenta de enfermeira. —Naoto eu sou e enfermeira Bailey, você sabe onde estamos? —Ela perguntou.
—Mais ou menos, onde está meu pai e cadê o meu namorado? —Perguntei tentando me levantar.
—Não se mova ainda, você ainda não se recuperou totalmente da cirurgia, fique deitado, irei chamar a Dr. Sophia! —Ela disse saindo do quarto.
Obedeci a enfermeira ficando deitado, olhei para meus braços e eles estão completamente enfaixados, podia sentir um acesso em minha clavícula esquerda e várias bandagens de curativo por todo o meu corpo. Olhei para cima e vi uma relógio marcando 18 horas, mas não tinha visão da data, todas as minha memorias surgiram, lembrei de ter usado o canhão de diamante no subsolo do deserto, lembrei de ver a expressão de desespero de Harsi e o semblante de culpa do meu pai Yoichi, lembrei exatamente o que havia acontecido.
—Naoto! —Disse minha tia Sophia entrando no quarto quase chorando. —Você está bem, está tudo bem agora. —Ela disse colocando sua mão em minha testa. —Bailey prepare uma bateria de exames e avise Yoichi que Naoto acordou!
—Tia o que foi que aconteceu? —Perguntei com um pouco de rouquidão.
—Muitas coisas, o mais importante é que você está bem agora! —Ela disse olhando para meus braços.
—Meus braços, eu lembro de vê-los carbonizados! —Falei sentindo movimento.
—Fizemos uma cirurgia para recuperar seus braços, você sofreu várias paradas cardiorrespiratórias, nós quase perdemos você! —Ela disse aliviada.
—Eu sinto muito, mas era necessário! —Falei sem hesitar.
—Graças a você a tempestade de areia foi controlada e as criaturas do deserto voltaram ao normal, infelizmente incontáveis vidas se perderam durante a tragédia! —Ela disse em tom de tristeza.
—Naoto! —Meu pai entrou gritando meu nome. —Naoto, você acordou, fico feliz que esteja tudo bem. —Ele disse praticamente me abraçando.
—Eu estou bem! —Falei feliz em vê-lo bem. —Eu estou bem!
—Eu sinto muito, eu devia ter o impedido, eu fui um irresponsável, me perdoe! —Ele suplicou.
—Pai! —Olhei em seus olhos. —Você não precisa pedir perdão, a escolha foi minha e eu sabia das consequências, não se martirize pelas minhas escolhas!
—Mesmo assim, perder você seria um golpe terrível em nossos vidas! —Ele ficou em lagrimas.
—Onde está Vera e Harsi? —Perguntei curioso.
—Vera está em casa descansando e Harsi… —Sophia hesitou.
—O que aconteceu com ele? —Fiquei preocupado.
—Nada de mais, tivemos que nocauteá-lo com sedativos, como eu disse, você teve várias paradas e o Harsi estava quase entrando na sala de cirurgia extremamente preocupado! —Sophia lamentou. —Ele está no quarto ao lado dormindo!
—Então acabou né? —Questionei preocupado.
—Bem… A tempestade de areia em Azuria acabou por completo, mas a preocupação agora e nos outros dois continente que infelizmente não temos contato com nenhuma das equipes mandadas para lá! —Disse meu pai incerto.
—Eu quero conversar com meu pai a sós! —Pedi com educação para todos saírem.
Esperei a minha tia coletar o último registro dos aparelhos ligados a mim e logo ela saiu fechando a porta, fiquei pensando em como dizer ao meu pai que conversei com meu pai Alan, eu não sabia dizer se era real ou não aquela conversa.
—Então… —Ele puxou assunto. —O que quer conversar?
—Eu acho… —Eu hesitei. —Não tenho certeza, mas acho que o pai Alan está vivo!
—Quê?… C-Como assim? —Ele gaguejou. —Quero dizer… O que te faz pensar que Alan ainda está vivo?
—O senhor está escondendo algo? —Questionei.
—A pergunta é: O que faz você pensar que o Alan está vivo? —Ele perguntou mudando de assunto.
—Bem… Eu acho que conversei com ele! —Meu pai se curvou para ouvir melhor.
—Continue. —Ele insistiu.
—Eu não sei dizer se era um sonho ou se era real, mas o calor que eu sentir quando eu o abracei… —Comecei a lacrimejar. —Parecia bem real!
—E como ele estava nesse possível sonho!? —Ele perguntou ansioso.
—Ele estava diferente do normal, o rosto é o mesmo, mas seu corpo estava diferente, seu cabelo estava comprido e seus… Seus olhos estavam com o oculari ativo só que havia uma diferença! —Tentei lembrar. —Havia somente uma única engrenagem e a cor dela estava diferente, mas o resto era ele, a voz, a cor da pele, seu toque gentil e a palavras calorosas…
Meu pai se levantou e ficou andando de um lado para o outro em silêncio, havia algo em sua mente que ele não contou para mim e nem para minha irmã, mas por que eu estou hesitando tanto em perguntar?
—Você se lembra de mais alguma coisa, você viu alguma marca? —Ele perguntou ainda mais ansioso.
—Não conseguir, pois ele usava roupas velhas que cobriam seu corpo, mas eu pude notar um broche em seu peito e é claro, ele parecia estar magro! —Respondi lembrando dos detalhes.
Meu pai parou em frente a janela pensativo, não entendia as perguntas inicialmente, mas o quebra cabeça começou a ser montado em minha mente, ele esconde algo!
—Pai? —Chamei sua atenção hesitando. —A visão que eu tive… Você sabe de algo, não sabe?
Ele se virou para mim e pude notar o vermelhidão em seus olhos, está evitando chorar na minha frente, mas só de olhá-lo confirma a resposta silenciosa.
—Seja o que for, irei aguardar a resposta, porém… —Olhei para o teto imaginando o que estar por vir. —Até confirmar minha suspeita irei manter segredo, sabe como a Vera é!
—Obrigado e eu prometo dar as respostas, mas até lá… —Ele virou-se para janela novamente. —Até lá… Mantenha a sua esperança viva!
Uma semana havia se passado, houve baterias de exames e fisioterapia para recuperação total dos movimentos dos meus braços. Harsi durante essa semana ficou sem falar uma palavra comigo, claramente ele está chateado por eu ter arriscado minha vida de forma tão irresponsável, mas ele voltou a falar comigo em poucas palavras.
—Como está meu neto hoje? —Perguntou minha avó entrando no quarto.
—Estou ótimo e pronto para ativa! —Falei animado.
—Irá receber alta hoje, vejo a sua animação para sair do hospital! —Ela falou sorridente.
—Ficar 1 semana internado não é mole… Ainda mais nos banhos de leito. —Falei constrangido.
—Onde está Harsi? Achei que ele estaria aqui com você? —Ela perguntou curiosa.
—É… Harsi está um pouco chateado comigo, eu entendo o lado dele! —Falei de forma insegura.
—Tenho certeza de que irão se conciliar… —Ela Olhou para o relógio no pulso. —Meu neto, vim aqui para te visitar, mas vejo que você está bem, terei que voltar para a prefeitura, mais tarde passarei na casa de vocês—Ela me abraçou e saiu do quarto às pressas.
Depois de arrumar minha coisas fiquei esperando minha tia trazer a documentação de alta, eu estava ansioso para sair do hospital e me deitar na minha cama e comer algo mais temperado.
Minha tia trouxe os documentos assinados, ela perguntou se eu precisava de carona, mas eu recusei, eu queria ir sozinho para casa descansar um pouco e pensar na forma de me conciliar apropriadamente com Harsi. Ao chegar em casa me deparo com Unisio e Madesi conversando no hall de entrada da casa da minha família, mas agiram de forma suspeita quando me viram, era como se estivessem escondendo algo.
—Oi gente, o que vocês estão fazendo? —Perguntei tentando achar uma brecha.
—Nada… Quero dizer… Só estamos conversando não é Madesi? —Unisio disse suando frio.
—Sim, só estamos conversando… —Madesi tentou disfarçar. —Não sabia que você ia ser liberado cedo do hospital!
—Sim, era para eu ter sido liberado a tarde, mas minha tia conseguiu me liberar antes! —Falei tirando minha mochila das costas e indo para as escadas.
—Espera… Vamos conversar um pouco mais! —Disse Unisio entrando em minha frente.
—Vamos colocar o papo em dia, que tal conversarmos na sala! —Disse Madesi me guiando.
—Sabe, eu sou um mago investigador e posso dizer que estão escondendo alguma coisa, vocês são óbvios demais! —Falei entregando suas posições.
—QUÊ?… —Unisio levantou seu tom de voz. —Não é nada disso que você está pensando, nós só queremos conversar com nosso grande amigo e salvador de Azuria!
—Unisio desista, ele já desconfiou de nós quando entrou pela porta! —Disse Madesi se entregando.
—Se me dão licença! —Falei seguindo para as escadas. —Irei tomar um banho e descansar
Subi a escada e logo segui o corredor até meu quarto, lá encontro Melanie e minha irmã Vera na porta do meu quarto, mas diferente dos dois no andar debaixo, elas simplesmente saíram do caminho. Mais à frente vejo meu pai sorridente com alguma coisa, planejaram alguma coisa, podia ver no rosto de Vera e Melanie, o sorriso de “marotagem”.
—Ok, me venceram, o que vocês fizeram? —Intimei.
—Nada, só entre no seu quarto! —Disse Vera disfarçando o rosto.
Dei-me por vencido, girei a maçaneta do quarto e abria porta devagar, eu podia sentir um cheiro agradável e de alguma forma eu sabia de onde esse cheiro é, um perfume forte e amadeirado que Harsi usa de vez em quando. Abri a porta de uma vez e acendi as luzes e ao fundo do quarto vejo Harsi de terno branco estilizado com detalhes bordados em vermelho e preto, em sua cabeça um diadema do reino de Tartaria e em suas mãos um buque de flores vermelhas.
—Harsi… —Olhei para ele cativado pela beleza. —O que está acontecendo?
—Medidas desesperadas!