Garland Jujin Omegaverse - Capítulo 02
Coletar ervas no pátio de trás era tarefas favoritas de Jill. Camomila com hortelã. Endro, manjericão, alecrim, salsinha. Era agradável colher ervas aromáticas e era divertido ver pequenos insetos vagando pelo solo.
Quando recolheu os ingredientes solicitados para a cozinheira Stella e os colocou em uma pequena cesta de palha, escutou um voz que vinha de trás da plantação dizendo:
“Desculpe. Eu vim da vila para fazer uma entrega.”
Jill rapidamente virou as costas para esta estranha voz e subiu a encosta que se encontrava atrás da casa, como sempre fazia quando queria evitar ser visto por alguém. Escolheu uma sombra que não pudesse ser vista desde a porta dos fundos, desceu a suave encosta uma vez e voltou a subi-la, até chegar a um lugar onde poderia olhar a vila sem a obstrução das árvores. Jill suspirou, enquanto se perdia na paisagem… O pequeno e bonito vilarejo ficava a cerca de uma hora de viagem de carro da capital Bernell, e localizada em uma pequena colina perto da vila, se encontra a casa natal de Jill, a mansão Müller. Da mansão até a vila dava mais ou menos um quilômetro esse podia chegar a pé com muita facilidade. Mas Jill não podia sair mesmo que os empregados ocasionalmente se ausentassem quando tinham vontade. Pelo contrário, ele nem ao menos podia receber as encomendas dos entregadores. Os ômegas da família Müller não podiam deixar que outras pessoas os vissem, principalmente, porque os ômegas são um importante “produto.”
Em Bernell existem várias casas que se dedicam a enviar ômegas para nobres. Em vez de receber recompensas, se contentam em deixar os ômegas por um certo período de tempo e assim, se uma criança nascer neste período, receberam mais dinheiro do que poderiam sonhar para uma vida inteira. Depois de terem um filho, os ômegas retornam para os seus lares e costumam ser enviados a outras casas. A família Müller foi uma das pioneiras e agora, é muito famosa por produzir ômegas de boa qualidade há várias gerações. Seus clientes se encontram entre as bestas mais poderosas da nobreza.
Jill nasceu na linhagem principal da família Müller. Um ômega valioso. Seu rosto tinha um nariz reto e um queixo pequeno, bochechas avermelhadas como maças. Alguns aristocratas quiseram acasalar com ele em uma idade precoce, porém não foi permitido devido à ausência de cio. Agora, no entanto, Jill havia sido abandonado por sua mãe e estava trabalhando em vez de estar se oferecendo por aí. Inclusive o colocaram no final da fila. A última opção, para ter mais tempo para assimilar a ideia… Mas todos na mansão acham inapropriado que um ômega questione porquê deve aprender uma lição, ou fazer uma coisa, ou saber sobre sexo. É um sentimento complicado. Ele não quer ofender a sua mãe ou os outros ômegas, por isso tentar ser o menos rebelde possível. Não consegue, obviamente.
“… Não é conveniente.”
Uma suave brisa agitou os cabelos de Jill, que observava um vilarejo próximo, mas, ao mesmo tempo, incrivelmente distante. Jill, inconscientemente, levou a mão ao colar ao redor de seu pescoço e tentou arrancá-lo: Ainda que o colar se destinava a mantê-lo seguro, era muito similar a uma coleira. Os ômegas são pássaros de assas cortadas, presos em uma gaiola transparente. Não há outro lugar para eles a não ser a mansão e não poderão sobreviver se saírem dela. Ele havia aceitado suas circunstâncias, mas isso não significa que às vezes sentia vontade de se atirar do penhasco. Quer dizer, mesmo que morra logo, devorado, se conseguir voar livremente por alguns segundos… seria intensamente feliz.
Quando a imagem do seu pássaro dragão veio a mente uma voz surgiu atrás de si.
“Jill, Jill? Eu preciso das ervas para hoje, até onde você foi? O manjericão vai murchar!”
“Desculpe, Stella. Vou voltar agora!”
Jill correu colina abaixo, respondendo enquanto tentava não bater a cabeça nos galhos ou tropeçar em alguma dessas estúpidas pedra ornamentais. Ele mergulhou pela porta traseira da mansão e entrou na cozinha que ficava no porão, onde várias empregadas ajudam Stella a cozinhar enquanto riam umas com as outras.
“Jill, tem folhas no seu cabelo outra vez.”
“Tem ramos nas dobras das suas roupas. Você foi ao bosque outra vez?”
“Não. Apenas subi um pouco a colina.” Jill entregou a cesta a Stella, rindo para as criadas da cozinha, que pareciam rir de volta enquanto batiam e picavam. “Trouxe manjericão, endro e menta.”
“Escolheu justamente o que vai dar um bom cheiro e sabor.” Sacudindo seu gordo corpo, Stella riu para Jill. “Jill é bom cultivando ervas e também cuidando de galinhas.”
“Eu acho que também sou bom com batatas então, posso ajudar com qualquer coisa que pedir.” Se sentou em uma cadeira próximo deles e começou a descascar as batatas que estavam amontoadas em um canto.
“Aliás… outro dia uma das criadas me conto que você até ajudou a arrumar a cama”
“Sim, porque havia muitas.”
“Tenho certeza que Jill é o único ômega que sabe arrumar uma cama.”
A rotina de Jill consistia em trabalhar junto com os empregados, no porão da mansão, enquanto joga conversa fora falando sobre chás e massas. Mesmo que tenha sido assim por anos, Stella ainda se sente mal por ele.
“Jill realmente se esforça no trabalho… mas, não importa o quanto aprenda sobre o trabalho dos empregados, é um conhecimento que não será útil com o seu futuro esposo.”
Jill sorri, como um conforto para si mesmo. “Não me importo, é mais divertido trabalhar aqui com todos desta maneira do que polir… Uma cultura tão chata como a dos ômegas.”
Os betas, como os empregados, tem mais liberdade que todos os ômegas, que só existem para dar a luz ao filho de um homem besta Alfa… Portanto, quando trabalho com eles, não preciso pensar em nada estranho e nem triste.
Quando as batatas estavam descascadas e o pão velho começou a ser raspado com um ralador para fazer um molho, uma criada correu até aporta da cozinha.
“O que devo fazer Stella?” Segurou seu avental com uma expressão preocupada. “Me falaram que os ômegas no salão querem mais suco!”
“Ah, devem estar no intervalo. A jarra estava cheia antes da aula”
“Sim, mas disseram que não é o suficiente.” As duas criadas da cozinha pareciam estar em apuros. “Hoje estamos nos preparando para um festival na vila e os empregados homens foram ajudar e ainda não voltaram. Acredito que devem demorar pelo menos mais uma hora e meia!”
Os Müllers eram uma família conservadora, por isso as tarefas dos empregados eram designadas adequadamente. As criadas da cozinha devem apenas ajudar os cozinheiros e os empregados homens devem entregar comida aos ômegas.
“Tudo bem, eu faço isso. Que tal? Está um pouco quente, então eles provavelmente tinham mais sede do que o costume. Pode preparar mais Stella?”
Jill se levantou depois de colocar o pão na mesa e olhou para Stella, com um incrível olhar de determinação.
“Mas é claro!”
Mesmo assim, Stella estava preocupada. A preocupação era visível em suas mãos enquanto ela tirava uma grande jarra de cerâmica do armário.
“Jill, tem muitos ômegas que estão se dirigindo ao salão neste momento…”
“Sim, eu sei.”
“Sua mãe vai ficar brava se eu te enviar? Se eu te envio e ela…”
“Estou acostumado com isso… Esto, definitivamente acostumado então, vai ficar tudo bem. Eu prometo. Ok?”
Todos estavam com medo.
Na família Müller a mãe de Jill era um ser absoluto. Ninguém queria quebrar as regras que ela havia imposto nem falar demais na sua presença… Havia abandonado Jill nesta casa gritando que não era seu filho e, ainda assim, o jovem saiu da cozinha, com a jarra na mão e no rosto um sorriso que parecia difícil de quebrar.
Enquanto caminhava em direção as estreitas e escuras escadas que usavam os criados, escutou as vozes das mulheres que ficaram na cozinha:
“Por que a madame é tão cruel com o Jiil?”
“Quem sabe…” Stella suspirou. “Jill é um ômega atípico, digamos que ele apenas diverge do ideal da madame.”
Jill fingiu que tudo estava bem… Mas logo se deixou levar pelas conversas e lembrou do rosto da sua mãe. Gritando. Não é uma questão familiar, Jill é simplesmente uma pessoa odiada. Diria que, inclusive, já foi desqualificado como ômega dos Müller. Desde o momento em que abriu os olhos, descobriu que nunca estaria familiarizado com esta mansão e que provavelmente, tinha nascido por engano no corpo de um ômega. Só continuava ali ainda, porque era muito popular, porque não queriam libertá-lo.
Depois de subir as escadas, abriu a porta e foi para frente da casa. O espaçoso salão que ficava em frente a entrada principal estava sendo utilizado para que os ômegas tivessem aulas de etiqueta e arte cênicas. Atualmente, há mais de uma dúzia de ômegas que moram na mansão Müller. Além dos filhos Müller, os pais que desejavam enviar seus filhos a uma família nobre, confiavam a eles os meninos e as meninas desde uma idade prematura. Era o papel de sua mãe, a mãe de Jiil, quem cuidava da educação dos ômegas, fazer com que se tornassem esposos e mães excepcionais. E apenas seus favoritos podem permanecer na mansão.
Então, o salão brilhava. Todos os ômegas eram lindos, esbeltos, elegantes. Contudo, a personalidade deles não era.
Jill colocou a jarra de suco sobre a mesa, no meio do salão… Então alguém se queixou com um resmungo grosseiro:
“Agora você traz as bebidas?”
“Não deveria falar com este criado.”
“Por que? Nãovê?”
“Por que ele usa o mesmo colar que nós?”
“É o ômega da família Müller…”
Independente da presença insuportável que tinha ao lado, Jill verteu suco em um copo enquanto o escutava falar… Quando esse ômega era pequeno, houve um aristocrata que lhe disse que queria manter a sua beleza antes de crescer. E levou ele para sua vila durante as férias de verão. Abusou dele e depois o devolveu. Para Jill era justamente a palavra que tinham que utilizar. Abuso.
Ele tinha uma lavagem cerebral tão grande que estava encantado.
“Nasceu na família Müller mas é um estúpido. Apesar ter a capacidade para ter partos adequados… Quantos filhos você teve este ano, Jill…?”
Eles riram um pouco e olharam para Jiil que respondeu:
“Sou mesmo um estúpido, sinto muito. Mas eu nunca deixaria que me comecem por uma tentativa com um nobre!”
“Olha só, ficou bravinho.”
“Esse gato que você está não é um nobre?”
De fato, tudo sobre o que falavam era sobre como Jiil, abandonado por sua mãe, deveria se casar com Albert Reinhardt o mais rápido possível. Era o melhor, uma vantagem para não ficar de mãos vazias. Albert vinha de uma boa família trabalhadora. São bestas felinas, que são incrivelmente queridos pelos camponeses….
Mas ele é o mais querido amigo de Jill. Somente seu amado amigo.
Quando era mais jovem, Abert notou como Jill parecia triste e aflito porque havia matado o passarinho que ele tinha lhe dado como presente de natal. Limpou suas bochechas, deu-lhe um beijo na testa e disse que lhe daria outro pássaro. Mais dez, se ele quisesse… Claro, mesmo que não o amasse, achava que seria feliz se casando com um homem tão gentil.
Quando tentou sair do são sem dizer mais nada, o mesmo ômega de antes o chamou:
“Jill.”
Ao olhar para trás percebeu que o jovem sorria de maneira cruel:
“Pode se sentir superior o quanto quiser… no fim das contas também é um de nós.”
Era uma forma elegante porém estúpida de dizer que todos eram prostitutas. Jill se sentiu tão triste que não lhe devolveu nenhuma resposta. Abriu a porta do corredor, aquele que só os empregados utilizavam, e escorregou para dentro de um quarto pouco iluminado, ao contrário do salão principal.
Engoliu as lágrimas…
Não era estranho que os ômegas da mansão falassem coisas ruim a respeito dele… Mas ainda que estivesse acostumado com os maus tratos, não significava que seu coração não estivesse enlouquecendo de dor. Na verdade doía muito, porque sabia que eles tinham razão. Todos tem razão. Como sou diferente deles? Mesmo sem dar a luz uma criança, vão apenas transferi-lo a outra residencia e obrigá-lo a casar a força. Seu valor certamente cairá, mas não vão abandoná-lo… Sua mãe chegou a declarar a possibilidade de vendê-lo a um comerciante.
Jill, não só estava manchando o sobrenome Müller, mas também se sentia incômodo em sua vida diária, definitivamente não era alguém que pudesse se controlar ou ser controlado. Trabalhava com os empregados e acusava os clientes de abuso, então inevitavelmente houve uma briga:
“Não quero brigar com a minha mãe. Só quero que me entenda.”
Mas ela bateu nele… e não foi apenas uma vez.
Não havia forma de escapar e a única forma de sair por seus próprios meios era se casando com Albert. A data oficial ainda não estava decidida e Jill ainda não havia aceitado completamente, mas Albert estava se preparando para se unir a ele e trabalhando nos preparativos do casamento…
O gato fez amizade com Jill um dia quando se encontraram no bosque por acidente. Dali em diante sempre teve um lugar permanente em seu coração.
Jill estava perdido em seus pensamentos enquanto descia: Se se casasse com Albert seria mais forte e mais feliz. E já não se sentiria mal, não estaria nesta casa e ninguém diria coisas más a ele “Por que raios não se sente bem então?!”
E o pior é que de onde estava, podia escutar a risada dos ômegas do outro lado da porta. Jill suprimiu um suspiro terrível:
“Por que sou ômega?”
Não é nenhum exagero dizer que a única função do segundo gênero, o ômega, neste mundo é ter filhos para as Bestas alfas. Soa bem que eles precisam um do outro, mas não é o caso. O período de cio é uma ferramenta… E se você não quer sair da aconchegante mansão e está feliz em ser apalpado e em ter filhos, então ficará bem. Seria mais feliz se pudesse aceitar que é um ômega! Aceitar que vai viver a vida para engravidar e engravidar. Igual aqueles que estão rindo no salão.
No entanto Jill nunca considerou que houvesse felicidade neste modo de vida, nem por um momento. Tudo aquilo que Jill gostava e queria fazer lhe era desaprovado e negado. Jill não sabia porque coisas tão simples eram negadas. É tão estranho querer ir para outro país para ser livre e ouvir música? É tão estranho querer admirar paisagens? Querer sair e ter a brisa do mar no rosto. Ir ao país que fica além do mar e ver as montanhas…
Alberte é um bom homem, mas, ainda assim, é um Alfa. E uma coisa que um alfa espera de um ômega é um sucessor… Se Albert pedisse, lhe daria um filho?
Jill desceu correndo as escadas correndo, lembrando da sensação do pássaro esfriando nas suas mãos. Às vezes, quando pensava nisso, não conseguia se conter. Uma necessidade de fugir e pular para longe o dominava e o atingia como um golpe e logo ele começou a ter um aperto no peito. Jill parou, respirou fundo e voltou para a cozinha pra se livrar desses sentimentos.
“Levei o suco de forma segura! O que faço agora?”
Ele deu um brilhante sorriso como se nada tivesse acontecido.
“Bom, precisamos remover as galinhas para limpar o galinheiro. Mas primeiro…” Stella levou a mão ao bolso. Antes de Jill receber a carta e ver o lacre de cera, soube de imediado quem era o remetente. “Para você.”
“Do Albert?”
Jill sorri e então Stella sorriu de volta.
“Sim, de fato.”
Eles costumavam se encontrar com frequência. Não faziam nada, apenas conversavam e comiam bolo, mesmo parecendo que Albert não gostasse muito de doces. Era um momento em que Jill passava seu tempo feliz sem pensar em nada, conversando e apenas vivendo…
“ Está bem que você vá… relaxar de vez em quando.” Stella olhou para Jill com os olhos de uma avó que vê seus netinhos. “Ele é um bom homem…”
As criadas da cozinha sorriram, mas Jill suspirou:
“Ele é meu amigo, certo? Nem tudo na vida está relacionado com amor.”
Publicado por:
- MDY
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