Falhas Eternas (2) - Cinzas Descobertas - Capítulo 53[1]. O retorno de Lorde Cai
- Início
- Todos Projetos
- Falhas Eternas (2) - Cinzas Descobertas
- Capítulo 53[1]. O retorno de Lorde Cai
Território Demoníaco, Vale Fantasma
Uma pessoa encapuzada segurava Luo Cao pelo pescoço. O príncipe imperial se debatia no ar, tentando se soltar. Eram tentativas falhas, logo que a cada impulso, suas forças eram drenadas.
Seu corpo estava coberto por uma fina camada escura de fumaça devido a uma explosão por pólvora, havia feridas e cortes por todos seus membros e um de seus braços havia sido arrancado, os filetes de sangue pingando pacientemente.
As árvores do entorno haviam sido destroçadas e o chão abaixo deles se abriu numa cratera. O portão de entrada para o culto demoníaco havia sido reduzido a pó, resultando apenas na cortina de fumaça erguida.
A pessoa encapuzada emanava um fedor de morte terrível. A mão exposta, estava coberta por veias com coloração escura e as cicatrizes cobriam totalmente a pele, mostrando a brutalidade que havia passado. As roupas que a cobriam eram pretas e eram retalhos escuros costurados um aos outros para cobrir o quão terrível era sua aparência.
— Quem é você? — espremendo a voz pelo aperto, ainda conseguiu pronunciar as palavras com dificuldade.
A figura encapuzada soltou uma risada. Era desafinada e muito aguda, arranhava os ouvidos.
— Eu sou…
Uma lâmina fria deslizou pelo ar até o braço daquela pessoa. A espada arrancou parte do braço e Luo Cao caiu. Outra pessoa, como um vulto, saltou no ar, pegando o príncipe e entrando pela floresta.
A figura escura olhou para onde seu braço fora cortado com desdém. Fumaça negra surgiu em vez de sangue, ela se intensificou e aumentou até cobrir o tamanho de um braço e compactando-se, tonou-se um novo membro.
— Há cultivadores talentosos nessa época também. — Parecia feliz com a descoberta e olhou para o local onde os ratos haviam fugido.
O mundo havia mudado completamente.
— Irmão, o que houve aqui?
A figura de preto virou-se para trás, ainda no ar e encontrou alguém a sua imagem e semelhança, mas diferia-se na cor. Ela vestia-se por completo em branco.
— Apenas alguns ratos. — O de preto respondeu.
— Ratos que machucam não são ratos. — O de branco desdenhou.
— Não se preocupe, o príncipe já está marcado. — Um sorriso cruel ficou preso nos lábios. — Mais cedo ou mais tarde, o levarei para o submundo… — fechou a mão num punho e a encarou. — O Mestre já chegou?
O homem de branco balançou a cabeça negando.
— Não. O Vice Lorde pediu para que ficássemos a frente desse lugar enquanto terminam os preparativos. — Sua voz demonstrava nojo ao se referir ao culto demoníaco.
O de preto deu de ombros, num gesto de desdém.
— Vamos entrar. Vou chamar os gêmeos para limpar essa bagunça.
Ele girou a cabeça em todas as direções. Havia muitas almas para levarem ao submundo.
Não muito longe dali, o grupo de três pessoas corriam animadamente. Tang Xiaowen já havia passado Luo Cao para as costas de Xiao Yi.
O guarda das sombras estava nervoso, afinal aquela coisa foi capaz de subjugar um especialista tão fácil. Xiao Yi conseguia sentir a vitalidade de Luo Cao se esvair por meio do contrato.
— Xiao Yi, pare… — A voz rouca e fraca do príncipe surgiu por trás.
— Ainda não. — O guarda retrucou. — Tem um rio próximo daqui, vamos parar lá. Fique quieto!
Xiao Yi focou em se movimentar. A vida de Luo Cao estava em jogo e ele sabia que, se parasse por um momento, corria risco em não conseguir se recuperar. Ele ignorou até mesmo a presença de Tang Xiaowen.
E logo, ouviu a melodia luxuosa da água corrente. O guarda das sombras deixou um suspiro aliviado sair. Luo Cao, mesmo fraco, percebeu a expressão preocupada de seu amante e um sorriso fraco preencheu seu rosto.
— Xiao Yi… — Luo Cao tentou falar, mas a dor intensa vinda de seu ombro que tinha o braço dominante o fez gemer.
— Só mais um pouco, Cao Ge. — Xiao Yi o consolou, apressando o passo.
Quando finalmente alcançaram o rio, o guarda das sombras parou rapidamente e chamou por Tang Xiaowen, finalmente se lembrando de sua presença.
— Onde esse pirralho está?
Uma risada fraca ecoou pelo ar.
— Querido, você o deixou para trás. — Luo Cao sussurrou.
— Merda!
Xiao Yi espalhou seu poder espiritual, mas não encontrou a criança perdida e praguejou novamente. Em suas costas, Luo Cao tossiu.
O guarda das sombras respirou fundo e com habilidade, estendeu um pano no chão, para evitar o contato com a sujeira e colocou Luo Cao sobre ele, encostado no tronco de uma árvore.
O que restava do braço era uma visão grotesca. O osso quebrado e afiado foi a única coisa que restou do seu braço e próximo ao ombro, toda a carne estava retorcida assim como suas veias e tendões que saltavam para fora, pendurados e banhados por sangue, o cheiro de ferro inundava o ar, misturando-se com o odor do suor que transpirava por sua pele.
Xiao Yi correu até o rio e pescou um balde d’agua, já tirando alguns lenços e frascos medicinais.
— Xiao Yi…
— Cale a boca, Luo Cao. — Falou com severidade. — Deixe-me fazer meu trabalho.
— Perdi muito sangue…
— Fique quieto, por favor… — Xiao Yi interrompeu, ele não percebeu o quão frágil sua voz se tornou ou o quão desesperado estava. Até mesmo suas mãos tão firmes e precisas, tremiam tanto. — Não se atreva a morrer. Você disse que me levaria a Cidade de Wuming, que iríamos ver o mar no norte juntos e que viveríamos no interior… não ouse morrer antes disso, seu vagabundo!
O outro riu ao ver seu Xiao Yi chorar.
— Por que você está rindo? — O guarda enxugou as lágrimas com o antebraço.
— É simples… — tossiu novamente — porque eu te amo.
Xiao Yi pausou o que estava fazendo, sua mão parou no ar e sentiu um bolo subir por sua garganta. Cada batida do seu coração parecia acelerar o tempo e a agonia que estava sentindo era tão grande quanto aquelas ondas violentas, do qual sempre escutou, que surgiam numa tempestade no mar.
Mas, Xiao Yi não desistiu.
— Você se esqueceu? O contrato? Se perde sua vida, os contratados o seguirão! — Cada vez mais, suas palavras tornaram-se mais rápidas. — Que se foda, seu idiota!
Xiao Yi guardou seus materiais e puxou seu amante novamente para as costas, carregando-o. Este último, tinha um sorriso agradável cobrindo sua face. Muito feliz
— A cidade mais próxima não está longe… — engoliu a vontade de chorar — mesmo se minhas pernas caírem, vou salvá-lo. Quando eu chegar lá, darei minha vida se for preciso para que Mestre Jian o atenda. Trate de aguentar até lá…
Um barulho diferente foi captado por Xiao Yi. Arbustos tomaram um movimento diferente e o som de passos tornou-se mais frequente. Seu rosto escureceu, essa pessoa havia entrado no seu sentido espiritual, mas sem que ele pudesse detectá-lo.
O guarda das sombras engoliu a seco. Se precisasse lutar novamente, seria incapaz de proteger Luo Cao e, na pior das hipóteses, com isso, ambos morreriam. Sua mão direita apertou com mais firmeza a adaga enquanto a esquerda estava entrelaçada com a da pessoa em suas costas.
Ele acalmou sua respiração, diminuindo sua presença, mas seu coração parecia ser impossível. Foi quando ele sentiu um aperto em sua mão, silencioso e acalentador.
Xiao Yi fechou os olhos por um momento, tentando silenciar a tensão em seu corpo e suplicou aos deuses para que pudesse escutar aquelas palavras novamente. E quando os abriu, não parecia ter melhorado, pois ainda estava cheio de lágrimas.
Os arbustos voltaram a se mexer, agora mais próximos. Ele prendeu a respiração e focou sua atenção naquele local.
Nesse momento, Xiaowen saltou do arbusto. Ele estava com um aspecto cansado, seus cabelos completamente desordenados e o manto completamente sujo.
A adaga na mão de Xiao Yi cortou o ar numa velocidade impossível de acompanhar, indo diretamente na direção de uma árvore. Um buraco circular perfeito se abriu no tronco da árvore.
O adolescente soltou um grito.
O guarda das sombras quase perdeu a força nas pernas e soltou um suspiro aliviado, mas sentia que havia algo estranho.
Era a segunda vez que Tang Xiaowen entrava em seu alcance de detecção sem ser notado. Infelizmente, ele não pensou muito nisso, pois havia coisas mais importantes. Sem desperdiçar o tempo, adiantou-se para obter informações.
— Há algum atalho para a cidade do porto? — Xiao Yi perguntou rapidamente com extrema preocupação.
Tang Xiaowen mordeu o lábio inferior ao ouvir a pergunta.
— O atalho era o túnel e não há como usar talismãs ou pedras de teletransporte, devido à energia yin.
— Então voltaremos por lá. — O guarda das sombras respondeu ansioso e já se preparou para sair. — Há algo errado?
O adolescente esfregou as mãos na lateral da coxa inquieto.
— Seria arriscado senhor… — fez uma breve pausa — a floresta está se enchendo de fantasmas.
Xiao Yi, pela primeira vez em sua vida, não conseguiu se segurar e chorou. Suas lágrimas desceram descontroladamente, mas ele pegou algo de seu anel espacial e jogou para Xiaowen. Era um tablet de jade, servia para comunicação.
— Quando chegar, contate-me.
Ele enxugou suas lágrimas e reafirmou seu objetivo.
“Mesmo que meus pés se quebrem, Cao ge… ge tenha certeza que ficará vivo.”
†
Xi Jin, planícies centrais
A manhã surgiu e com ela, a vergonha também surgiu para alguém cuja face era tão grossa quanto o tronco de uma árvore de mil anos. O quanto ele tinha bebido para se humilhar daquele jeito? Felizmente, ele não se lembra, mas foram doze garrafas de vinho e dois cachimbos de ópio.
Além disso, outro fator estranho era o horário. Início da hora do dragão. Era um insulto a sua pessoa acordar tão cedo. Ainda assim, Cai Xing sentiu que não conseguiria mais dormir e tentou se levantar, sentindo a cabeça doer e o senso de equilíbrio desordenado.
Ele se sentou na cama e ali mesmo vomitou.
“Porra!”
“Nunca mais vou beber…”
Como um alcoólatra em potencial, essa era uma promessa sem fundamento. Não havia como Cai Xing parar de beber.
Assim que parou de regurgitar tudo, a porta de seu quarto se abriu. Shen Zhengyi colocou a cabeça através da porta, como um cão ao sentir receio de entrar em algum lugar.
— Shizun… — Sua voz estava mais rouca e grave que o normal, causando uma sensação estranha no mais velho.
— Está bem? — Ele ignorou o arrepio que sentia e terminou de entrar ao notar o estado de seu discípulo.
Cai Xing abriu os braços.
— Melhor, impossível! — E revirou os olhos.
Shen Zhengyi bufou, ele realmente estava bem.
Em silêncio, ele passou por Cai Xing sentando-se atrás dele na cama e puxou um pente e uma presilha de cabelo. Se ele regurgitar novamente, ao menos não iria sujar o ágata marrom em seus cabelos.
As mãos de Shen Zhengyi passaram com firmeza pelos fios de Cai Xing e estava tão quieto que parecia ter dormido novamente. O pente fino, deslizou com cuidado, reorganizando e desembaraçando os cabelos desgrenhados. E quando encontrava um nó mais complicado, evitava forçá-los ou puxá-los para que o fio não se quebrasse. A cada passada do pente, as ondas escuras tornavam-se mais macias e brilhantes.
Os movimentos relaxantes estavam mais gentis que o costume e o mais novo não deixou tal ação passar despercebida. Os olhos fechados em contentamento e até mesmo a sua postura, com a cabeça pendida para trás, ele pareceu apreciar o gesto mais que o habitual.
Cai Xing se entregou ao cuidado e a gentileza desse homem fazia muito tempo. Com um sorriso adornando os seus lábios, ele quebrou o silêncio.
— Shizun é realmente habilidoso com as mãos.
A tontura e o enjoo haviam passado num instante.
Shen Zhengyi não o respondeu, mas puxou duas mechas de cabelo, unindo-as na parte de trás com a presilha de flores. Assim que finalizou, viu Cai Xing torcer o corpo e olhar para ele.
— Passaria facilmente o resto de minha existência tendo uma vida conjugal com shizun.
Ele arqueou a sobrancelha esquerda e com um olhar significativo, voltando-se para frente. A ereção matinal sempre estava mais animada quando tal pessoa aparecia.
— Não vou demorar shizun. — Ele bocejou indo para trás do biombo.
— Cai Xing…
O mais novo parou.
— Nós… quer dizer… eu gostaria…
Mestre Shen parecia muito nervoso, suas orelhas vermelhas e os punhos fechados. Olhava diretamente para Cai Xing e parecia carregar tantos sentimentos nas írises azuis cristalinas.
— Você poderia usar meu nome? Apenas use honoríficos na frente de outras pessoas… por favor.
Cai Xing ficou sem resposta. Não havia muitas coisas que o deixavam sem fala ou ação. Definitivamente, isso o pegou de surpresa. Ele esfregou a têmpora com o humor ainda melhor. Filho da puta fofo.
— Se é o que deseja… tudo bem Zhengyi. — Ele demorou ao dizer seu nome e, ao mesmo tempo, viu esse filho da puta de vários anos extremamente fofo e seu pomo de adão subir e descer várias vezes enquanto dizia cada caractere sair de sua boca.
Shen Zhengyi não sabia esconder seus sentimentos em relação a ele. Foi por isso, que no passado, o perseguiu com insistência. Caso não fosse correspondido, não teria sequer o olhado uma segunda vez.
Besteira!
“Não minta para si, Cai Xing! Honre seu sobrenome!”
Ele tirou o hanfu e o jogou sobre o biombo.
“Maldição, meu sobrenome também não é Cai!”
“Que se foda!”
— Ah… — Ele entrou na água, que estava numa temperatura perfeita. — Zhengyi…
Por mais um tempo o cômodo ficou silencioso e percebendo que suas últimas palavras podem ter sido ambíguas, viu a necessidade de se explicar.
— Não estou me tocando enquanto está aqui do meu lado. Não agora… já fiz isso várias vezes, mas não agora… é só… esquece! — Não que não estivesse tentado a fazer isso também. — Shiz… Zhengyi?
— Hm?
Cai Xing espreguiçou-se na banheira e as pontas do seu cabelo molhando na água. Ele esticou uma das pernas, levando-a até a borda da banheira.
— Você pode falar o que deseja, Zhengyi. Sempre vou escutá-lo, não importa o que seja.
Mais alguns segundos de quietude. Provavelmente, foi assim que Cai Xing pensou, que o outro estava buscando as palavras corretas para tal.
— Luo Cao.
Cai Xing suspirou, um pouco decepcionado com a resposta. Esperava por outras questões, mas isso foi bom também. Não queria se apressar, pois havia tanta coisa para resolver e conversar entre eles. Se fosse um ou dois dias poderia ter pressa, mas não era. Era toda uma vida de desentendimentos e desencontros.
— Sem ele, entrar no palácio imperial será complicado. — Seu tom de voz, parecia mais firme.
Cai Xing soltou um suspiro quando passou a mão perto da virilha.
— Por quê?
— Se voltar aquele lugar estará morto. — Alguns barulhos atravessaram sua audição. Shen Zhengyi havia arrastado alguma coisa. — Nem eu ou Dewei conseguiríamos protegê-lo.
— Proteção? — Cai Xing questionou.
Mais um barulho de algo sendo arrastado. Cai Xing estava curioso com o que acontecia do outro lado do biombo. Não era possível que Shizun estivesse arrumando o quarto, certo?
“Bem, é possível…”
— O mundo mudou bastante. Sua Majestade Imperial, provavelmente, é a pessoa mais poderosa viva e seus métodos, são tão cruéis quanto os seus já foram.
A mão nervosa da virilha aconchegou-se mais centralizada.
— Huo Ge, não conseguiria entrar na cidade imperial sem que sua característica seja revelada. — Começou a explicar. — Como você sabe, ele é uma fênix demoníaca. — Outro barulho foi escutado, dessa vez parecia algo ser colocado sobre cama. — Há alguns anos, um evento quase destruiu a cidade imperial. Um grupo de bestas demoníacas surgiu da floresta espiritual, controladas por um cultivador. Não sei muito sobre isso, mas após tal evento, levantaram uma formação que cobre a cidade. Animais demoníacos serão detectados pela barreira, mas aqueles que não possuem a cultivação do diabo entram facilmente.
Havia uma grande diferença entre ambos. Diferente dos animais espirituais, os demoníacos não usavam somente meios ortodoxos, como pílulas, matérias medicinais e a própria natureza, mas também cultivação de outros animais, refinando seu sangue e cultivo para benefício próprio.
Cai Xing ficou curioso com isso. Enquanto sua mão fazia movimentos rápidos debaixo da água, tentou controlar sua voz ao máximo, ao falar:
— Fantasmas e cultivadores demoníacos também conseguem passar?
Outra vez, um silêncio. Apenas o barulho da água se movimentar era o pico mais alto naquele cômodo.
— Zhengyi?
— Fantasmas são existências que não regem com as leis dos céus. São existências que não deveriam existir; por isso, são difíceis de detectar e também combater. A única forma de detê-los completamente é destruindo suas cinzas. — Explicou brevemente. — Cultivadores demoníacos sempre encontram métodos para burlar as regras… como, por exemplo, ter dois núcleos… o que talvez, fosse impossível.
— Mas, não é.
— Sim, não é.
Cai Xing mordeu o lábio inferior e a mão que estava livre segurou a borda da banheira. Seus cabelos, que estavam secos, aos poucos foram se molharam diante de seus movimentos para se ‘lavar’. E, enquanto travava essa batalha de cinco contra um, Cai Xing se lembrou de outra informação.
— Zhengyi… — seu tom estava definitivamente mais baixo, tornando a palavra quase um sussurro. — Preciso confirmar algo.
— Hm…
Engolindo um suspiro demorado e franzindo as sobrancelhas, voltou a questionar:
— Luo Cao não odiava Luo Hang, certo? Quando ele me ameaçou, anos atrás, sua intenção assassina não se direcionava a mim, mas a algo mais distante, além de tudo o que eu podia questionar naquela época.
— Dentro da família Luo, ele é o único que possui alguma bondade em seu coração. Mesmo Luo Hang, sua inocência só está no caso com Li Jie.
— Então a reputação de um príncipe dândi é real? — Cai Xing soltou uma risada.
— Não é apenas um príncipe dândi. Você deve saber, já que conseguiu tirar muito de prostitutos em bordéis esses anos. — Havia uma linha azeda em suas palavras, quase imperceptível, Cai Xing também não notou.
Cai Xing pensou um pouco antes de responder.
— Ele seria a verdadeira vadia do culto. O desgraçado tinha amantes, transava com Li Jie e também com a irmã mais velha… ah!… Shizun sabia? Luo Hang tinha um caso com um dos guardas das sombras de Luo Cao. — O maldito corta manga do culto demoníaco ficou assustado com tamanha descoberta — Não faço ideia como ele tinha tempo para se cultivar!
Um calafrio subiu pelo corpo de Cai Xing.
— Mas, seja sincero comigo, Zhengyi… hm… não era apenas ajudar Luo Hang. Suas intenções, quero saber…
Uma risadinha foi ouvida, perto de ser uma ilusão.
— Além de descobrir mais informações sobre o culto demoníaco? — Sua voz parecia lhe dar um tom bem-humorado. — Sei que sua mente está fragmentada, mas para não lembrar de sua aparência Cai Xing?
Assim que suas palavras findaram, Cai Xing pareceu ter um insight. Ele parou sua luta de cinco contra um de imediato.
— Nós…
— Queria ter algo que pudesse ser uma lembrança sua, ou algo próximo de você. Um objeto ou simplesmente alguém que parecesse com você, mas Luo Hang… é igual a você.
Era verdade que não conseguia se lembrar da aparência de Shen Zhengyi, seu nome ou sua voz. Seu passado, são poucas as memórias e elas costumam vir de fragmentos. E, aquelas que vêm, ocasionalmente, são aquelas ligadas à sua espada, Cheng Xing. Seu nome real, também era um mistério.
Contudo, não havia percebido isso. Seu próprio rosto, não conseguia se encontrar consigo. Foi como se sua identidade tivesse sido arrancada dele, se tornando um fantasma e vagando sem um passado incerto.
Cai Xing sorriu.
Ele deveria se lembrar. De quem ele era, de onde veio e como havia chegado até ali, mas ele se sentia estranhamente calmo. Isso não o incomodava. Saber que não se lembrava de tudo queria dizer que estava desgarrado, não completamente, mas parcialmente, de seu passado doloroso.
— Eu era assim? — Sussurrou.
Ele baixou a cabeça, olhando o reflexo na água e analisou com cuidado cada traço e textura daquele rosto.
“Isso é bom…”
— Cai Xing, o que houve? — Shen Zhengyi perguntou ao perceber o silêncio repentino e duradouro.
— Estou bem. — Respondeu. — Nunca estive tão bem.
Cai Xing levantou-se na banheira e saiu. Ele lançou um feitiço que secou seu corpo por completo, em seguida, retirou um conjunto de roupas da bolsa qiankun.
— Quer ajuda?
Seu pomo de adão subiu e desceu e aquele típico sorriso maldoso se apossou do seu rosto. Provavelmente, ele teria um dia bastante duro.
†
Cai Xing prendeu a respiração. Shen Zhengyi estava próximo. Muito próximo. O seu coração batia freneticamente, enquanto ele via Shen Zhengyi rodear seu corpo, ajudando-o a levantar as mangas do robe externo. Tão frio. O som da sua respiração, o toque das suas mãos, aparentemente tão delicadas.
As mãos passando pelos ombros, deixando o tecido alinhado, em seguida, puxando o tecido para frente e a aproximação dele ao transpassar o cinto pela cintura.
Os cílios dele tremeluziam, lindos e alongados, com rapidez. Ele não esboçava reação, como se realmente fosse uma pessoa reta e distinta. Como se não fosse ele o verdadeiro caos.
Ele tentou falar alguma coisa, para quebrar aquele silêncio terrível, mas as palavras não se encontraram na sua mente. Estava completamente perdido, apenas hipnotizado ao observar o tecido e o par de mãos trabalhando para ajustar a roupa no corpo.
Os olhos da cor do mar, fitaram-no com atenção. Não sabia como reagir a isto, visto que a proximidade que mantinham, só bastava um mísero passo para que pudessem se encontrar. Queria tanto beijar esses lábios.
Mestre Shen parecia sentir o mesmo, já que seu olhar não demorou tanto para ser focado nos lábios de Cai Xing, que, inconsciente, os mordeu suavemente.
Era tão perigosa esse tipo de situação.
E então, Shen Zhengyi terminou de arrumar o robe externo, sua mão entrando por dentro do tecido, mas não desviou sua atenção, continuando a encará-lo integralmente.
— Está feito. — O mais velho anunciou, deixando sua mão, pousar levemente sobre a cintura do outro. — Você emagreceu.
— Estive ocupado. — Ele cobriu a mão de Mestre Shen, sentindo a frieza de sua pele. — É uma sensação boa, segurar sua mão.
— Isso é bom. — Mestre Shen respondeu, um sorriso tranquilo e quase imperceptível, trazendo um pouco de suavidade para seu rosto. Ele não moveu a mão, pelo contrário, segurou com mais firmeza entrelaçando os dedos.
O mais novo sorriu ao presenciar tal ação, a certeza de que dessa vez, as coisas poderiam dar certo para eles. Com um pouco de calma, poderiam se resolver.
Cai Xing deu um passo em sua direção e Shen Zhengyi não se afastou.
— Eu posso…
Mas um barulho vindo de fora do quarto os interrompeu. Alguém estava batendo na porta.
Eles se separaram rapidamente, tentando disfarçar a proximidade e suas próprias ações. Shen Zhengyi deu um passo para trás, mantendo a mão na cintura de Cai Xing e parecendo relutante em soltá-lo.
— Vou abrir. — Cai Xing disse, caminhando em direção à porta.
Cai Xing suspirou, sentindo-se um pouco perdido. Ele se perguntou até onde poderiam ter avançado, até onde Zhengyi o permitiria avançar. Porra! Se fosse por ele, já estavam no meio de algo.
Shen Zhengyi ergueu a mão na altura do rosto. Havia um sentimento de perda progredindo em seu peito.
De repente, ele franziu a testa, quando Cai Xing encostou a mão na maçaneta da porta.
— Espere.
Shen Zhengyi acenou a cabeça, indicando para que ele se afastasse. Cai Xing olhou para a porta por um momento e colocou a mão no punhal de Cheng Xing, que havia adormecido.
Ele hesitou por um momento e se afastou da porta, não se movendo para longe. O mais velho se aproximou e com uma das mãos na maçaneta, não hesitou em abrir.
Ao mesmo tempo, uma espada atravessou o portal. Shen Zhengyi só teve tempo de jogar para o lado, evitando a lâmina que cortou uma mecha do seu cabelo. Ele levantou sua espada, defendendo outro ataque, desviado no meio do ar e inclinou a cabeça afastando-se da trajetória de uma agulha.
A figura era um homem alto, os trajes escuros cobrindo o corpo dos pés a cabeça. Sua intenção assassina cobria todo o quarto. Ele avançou em direção à Shen Zhengyi, balançando a espada com uma força impressionante.
Cai Xing, por sua vez, aproveitou-se do momento e lançou um ataque. Cheng Xing golpeou com destreza, exalando um brilho afiado e caiu diretamente no ombro do assassino, muito próxima a uma parte vital. O sangue jorrou e escorreu, sujando toda a madeira e tapetes no chão.
Do outro lado, Shen Zhengyi levantou o pé e chutou o abdômen do homem, com força suficiente apenas para jogá-lo sobre Cai Xing. A espada que estava adormecida acordou e vibrou contra o pescoço do assassino.
Cai Xing o segurou pelas costas. Shen Zhengyi deu dois passos para frente e arrancou a máscara em seu rosto.
— Wei Qi. — Indiferente, o nome do assassino destoou de sua boca.
Assim que terminou de falar, Flor de Outono retornou a bainha, ainda vibrando.
Com os olhos injetados pelo sangue, cobertos por uma fúria incandescente, Wei Qi encarava Shen Zhengyi como se visse a pessoa mais cruel do mundo. Por todo seu corpo, espasmos involuntários deixavam seus membros com movimentos desconexos e era nítida sua confusão mental, com as pupilas tremendo e sem foco, mas, ao mesmo tempo, focado em sua figura com um desejo obsessivo.
Como se tivesse destinado a matar o Grão-Mestre em sua frente. Não importava como olhasse, sua atitude era completamente ridícula e anormal em sua personalidade. Alguém cujo, valoriza tanto a própria vida, não atacaria outro mais poderoso que ele.
Shen Zhengyi acertou seu ponto de acupuntura e Wei Qi desmaiou imediatamente.
— O verme gu não está com ele. — Cai Xing falou ao deixá-lo cair no chão, sobre seu próprio sangue.
O mais velho deixou um olhar questionador para aquele falido Lorde Demônio.
— O quê? — Deu de ombros. — O sangue é dele, não meu. Acabei de tomar um banho, não quero tomar outro… — Ele pareceu ter uma ideia e uma expressão alegre tomou conta de seu rosto. — Exceto se shizun vir comigo.
Shen Zhengyi revirou os olhos, ignorou a face grossa da pessoa a frente dele e se abaixou ao lado do homem desmaiado, colocando a mãos nas costas dele. Ele sentiu o fluxo de qi.
— Desordem. O gu foi retirado à força, mas sem que o proprietário original soubesse. — Levantou seu olhar para Cai Xing. — Não há muitos cultivadores capazes disso.
— Wei Qi queria matá-lo, ele nem olhou para mim. — Cai Xing também se abaixou ao lado do corpo, cutucando o braço dele. — Sinto ciúmes disso.
Os olhos azuis de Shen Zhengyi estreitaram-se ao acompanhar sua expressão desacreditada.
— Você é tão…
— Sem vergonha? Já me disseram tanto isso que passei a levar como elogio! — Havia um sorriso brilhante e inocente no rosto de Cai Xing. — Além de Dewei, não conheço algum mestre gu.
Shen Zhengyi entendeu a implicação, além disso, não precisava responder todas as excitações de Cai Xing.
— Eu confio em Wei Ge até certo ponto, mas ele não é estúpido. Embora ele tenha criado um discípulo muito talentoso. — Mestre Shen apertou com cuidado as costas de Wei Qi, fazendo uma pequena pressão.
— É surpreendente vindo de Dewei. — Cai Xing arqueou a sobrancelha e deixou algumas palavras sugestivas. — Ele detesta “crianças”. — Levantou-se, notando a borda do hanfu sujo. — Vamos levá-lo para a viagem, soube que terá uma competição na cidade imperial e antes disso, um leilão.
Shen Zhengyi abriu a boca, mas antes que alguma palavra se formasse, Cai Xing continuou.
— Gege iria dizer para encontrarmos uma cidade e tentar ajudar as pessoas… — Ele bufou. — Se o submundo realmente estiver vindo ao mundo terreno, não seria melhor pegar alguns dos responsáveis? — Falou ao estalar os dedos num feitiço de limpeza. — Não importa o quão poderoso gege seja, o continente sul ou que seja o mundo é muito grande para poder salvar a todos. No caminho para a cidade imperial, podemos salvar algumas donzelas… além disso, Shen Zhengyi… — Falou pausadamente e levou sua mão até o queixo do outro, fazendo-o ter sua atenção quase por completo, nele. — também preciso que olhe para mim, o quanto puder. Quem sabe quanto tempo até eu perder minha paciência e sair fodendo qualquer pessoa por aí…
Aquela fagulha obscura, que lhe dava a atitude de um cultista demoníaco, emergiu.
— Gege não pode se afastar. — O polegar, que segurava o queixo, deslizou até os lábios. — Precisa me segurar. O que acha?
Durante toda a vida, Shen Zhengyi sentia que Cai Xing tinha alguma habilidade de sedução. Um charme — demoníaco — capaz de quase tirá-lo de compostura.
— É viável.
Tendo o que queria, Cai Xing afastou a mão, de bom humor e girou sob o próprio eixo com as mãos nas costas.
— Finalmente poderei conhecer minha família… — ele baixou a voz, sussurrando — aqueles malditos… vou matá-los por Luo Hang.
COMENTÁRIOS
Sua Comunidade de Novels BL/GL Aberta para Autores e Tradutores!
AVISO: Novos cadastrados para leitores temporariamente fechados. Se vc for autor ou tradutor, clique aqui, que faremos seu cadastro manualmente.