Entre Espadas - Capítulo 44
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- Capítulo 44 - Um Conto de Dois Irmãos (3): Nasce o Lírio.
Quando Gonkuro finalmente voltou para dentro da casa, seus pais ainda permaneciam profundamente adormecidos. Por sorte, talvez eles não suspeitassem de nada se ele simplesmente voltasse para a cama, ficasse quieto e dormisse até tarde. Foi exatamente o que ele fez. Movendo-se em completo silêncio, caminhou até o quarto que havia sido preparado para ele, fechando a porta suavemente, como se tivesse estado ali o tempo todo. No outro quarto, onde seus pais estavam, a voz de Ayame ecoou baixa, finalmente parando de fingir que dormia ao lado do marido.
— Daiki, o que vamos fazer com esse garoto? Mal fez quatro anos e já está saindo escondido… — Ela suspirou, olhando para o marido, que permanecia de olhos fechados.
— Não se preocupe tanto, Ayame. Ele não se machucou. Deixe-o achar que nos enganou por enquanto. Podemos usar isso quando ele entrar na fase de insubordinação aos pais. — O homem propôs com voz sonolenta, puxando a esposa para seus braços. — Agora, vamos dormir, por favor, meu amor.
A loira suspirou, um pouco nervosa, mas considerou a ideia do marido como adequada à situação.
— Muito bem, mas apenas desta vez, e só porque ele parece feliz. Da próxima vez, você deve brigar com ele. Estamos entendidos, Daiki?
O homem apenas concordou, acenando com a cabeça, e finalmente adormeceu. Após aquela noite, os três seguiram suas rotinas como haviam feito desde o início, mas com um detalhe estranho: durante a noite, Ayame notava que o filho sempre se sentava na varanda dos fundos, observando os vaga-lumes. Ela, no entanto, decidiu considerar isso apenas uma curiosidade infantil, aproveitando o tempo com o pequeno enquanto ainda estavam na ilha.
Quando finalmente partiram de volta para casa, a viagem até a residência dos Furukawa levou quase dois meses — um tempo muito maior do que o planejado. Ao chegarem, o trabalho acumulado parecia ter crescido além do esperado. Mal se passou meio dia desde que Daiki pisara na residência, e já surgiram várias pessoas procurando-o para resolver diferentes assuntos. Para Ayame, a situação não era diferente. Sua ausência deixara muitas das mulheres do clã ansiosas por sua volta, todas querendo saber mais e mais sobre a viagem a qual haviam feito. Enquanto isso, ela ainda carregava Gonkuro nos braços, o menino distraído, brincando com o colar que ela usava no pescoço.
[…]
Nos dias que se seguiram, o pequeno herdeiro parecia ganhar cada vez mais confiança, chegando a brincar com outras crianças. Aproveitando o bem-estar do filho, Ayame pôde, enfim, focar em seu trabalho principal com tranquilidade, sabendo que o menino estava seguro e feliz ali perto dela, enquanto o observava brincar. Foi então que passos soaram atrás dela, e uma voz firme ecoou:
— Ayame-sama, o mestre mandou avisá-la que o traidor infiltrado no palácio foi capturado e já está preso no local que a senhora conhece. Ele está pronto para o interrogatório. Devo levá-la até lá? — O homem perguntou com calma e respeito, enquanto falava com sua senhora, que mal fazia questão de olhar para seu rosto.
— Hm, entendo. Mande dois guardas de confiança cuidarem do meu filho enquanto eu estiver fora. E diga ao meu marido que ele ou outro dos guerreiros do clã devem ir até o local para terminar o trabalho, assim que eu obtiver todas as informações . — A mulher ordenou calmamente, se levantando e seguindo em direção a um extenso corredor.
Ela caminhou por longos corredores de madeiras dentro da Residência Furukawa, até chegar aos fundos. Cruzou o jardim, passando pela drama em direção à floresta, onde um velho poço coberto de plantas estava quase escondido. Olhou para os lados, certificando-se de que não estava sendo seguida, e então pulou dentro do poço. Caiu de pé, com precisão, à frente de um longo corredor de pedras iluminado por tochas acesas.
Enquanto caminhava, estalos ecoavam de suas costas, como se algo se estivesse se soltando de sua coluna. De repente, algo se moveu, parando e se enrolando em sua mão, como se fosse o cabo de um chicote. Foi então que uma voz masculina, jovial e não muito grave, surgiu ao seu lado:
— Então, estamos voltando à ativa, Ayame-san? Estava começando a achar que você iria se aposentar, agora que o pequeno Gonkuro nasceu, e se dedicaria a ser uma mulher do lar. — O rapaz de cabelos brancos apareceu à frente de Ayame, caminhando de costas enquanto a olhava. Seus cabelos estavam presos em um alto rabo de cavalo, e suas roupas, bordadas e enfeitadas, lembravam as de um príncipe.
Ayame não pareceu muito incomodada, aparentemente bastante acostumada com o humor do albino. Ela respondeu com um sorriso vago enquanto continuava a caminhar pelo longo corredor.
— Uro-kun, que tipo de amiga eu seria se te abandonasse, mesmo depois de você ter me ajudado a chantagear sua própria irmã?
— Ei, pega leve nas palavras! Nós não chantageamos de verdade, apenas incentivei minha irmã mais nova a fazer um favor para uma amiga. — Ele corrigiu, com um tom sarcástico e brincalhão.
— Nunca vou entender isso… O irmão de uma deusa, morto, com sua espinha transformada em uma arma, e ainda assim com parte de sua alma ainda viva em seus ossos… Um dia você vai ter que me contar onde está o resto da sua alma. — A mulher comentou, soltando algumas risadas, enquanto finalmente chegavam diante de uma porta de madeira desgastada.
— Desista, minha amiga. Você não conseguiria, mesmo se quisesse. Aquela parte de mim perdeu há muito as memórias que eu ainda guardo. É apenas um monstro destinado a sofrer, sem se lembrar do que eu me lembro, sem se lembrar de nossa irmã, dos cabelos ondulados do Deus a quem chamávamos de pai, nem do sorriso amoroso do humano que nos carregou em seus braços e nos aceitou como seu filho. — A serpente falou em um tom melancólico e repleto de tristeza.
— Não fale assim sobre si mesmo, meu velho amigo. Olhe, vamos nos distrair das memórias ruins, como nos velhos tempos. Vamos fazer o trabalho sujo contra os porcos. — A mulher completou, abrindo a porta.
Dentro do recinto, um homem estava preso a uma cadeira por correntes, com a boca livre, sem mordaça ou qualquer coisa que impedisse sua voz. Ele vestia vestes com o símbolo da família imperial, agora sujas de lama. Em seus olhos, o medo era algo impossível de disfarçar.
Com a entrada de Ayame na sala, o homem, que parecia desesperado, teve uma falsa sensação de que seria salvo pela beleza que ali adentrou. Ele ergueu o olhar, prestes a pedir ajuda, quando notou a expressão fria e calculista no rosto da mulher.
— Então, como faremos isso? Do jeito fácil ou do jeito em que eu e meu amigo vamos nos divertir?
A pergunta fez o homem engolir em seco. Ele fechou a boca, engolindo a própria saliva. Percebeu que aquela bela mulher não era sua salvadora, mas sim a pessoa que o faria falar — ou pelo menos tentaria.
— Te…tente a sorte, vagabunda. — Ele rosnou, com raiva, cuspindo ao chão.
— Haha, que fofinho! É sempre mais divertido quando homens como você imploram pela morte. — Ela riu, movendo rapidamente a mão para frente. O chicote, em formato de espinha, prendeu-se à perna do homem, perfurando-a e fazendo-o sangrar. Como se tivesse vida própria, o chicote começou a se mover, subindo pelas pernas do homem, rasgando-as e deixando um rastro de sangue enquanto o cortava. O homem gritou, em meio a dor lenta e excruciante.
— Oh, já está gritando? Assim não tem graça! Vamos lá, você vai entregar seu precioso imperador para nós tão facilmente? Não faça isso… — Ela disse em tom sarcástico, movendo-se em direção a uma mesa de madeira no canto da sala, após deixar o chicote no chão. O chicote, ainda se movendo, continuava a cortar a perna do homem.
Sobre a mesa, diversos objetos estavam dispostos de forma organizada sobre um pano branco. Entre eles, havia agulhas de diferentes tamanhos, facas, linhas, um pequeno machado e outros instrumentos. Ayame passou a mão sobre a mesa, indecisa sobre quais daqueles itens usaria.
Os primeiros que pegou foram duas agulhas de metal, estranhamente grandes e afiadas.
— Será que ainda sei usar isso? …Nossa, faz tanto tempo desde a última vez que peguei um ratinho em nossa casa. Espero ainda ter prática. — A mulher então se moveu animadamente para trás do homem, que agora tentava conter seus gritos, mordendo os próprios lábios até fazê-los sangrar.
— Ah, por favor, não fique calado. Aqui, suas únicas opções são gritar ou me contar o que quero saber, entendeu? — A loira disse calmamente, levantando as duas agulhas acima da cabeça do homem. Uma névoa branca envolvia as agulhas, e um estranho brilho surgiu em seus olhos. No instante seguinte, ela moveu as mãos com uma velocidade anormal, perfurando o cérebro do homem com as duas agulhas em um movimento preciso e perfeito, sem que uma única gota de sangue caísse da ferida.
— Bom, isso deve impedi-lo de ficar calado. Em exatos, três… dois… — No último segundo de sua contagem, o homem na cadeira se contorceu, soltando um grito de dor desesperado e quase desumano, como se nunca tivesse sentido tanta dor em sua vida.
— POR FAVOR, PARE! POR FAVOR, EU TENHO UMA FAMÍLIA! TENHA PIEDADE! POR FAVOR, EU NÃO POSSO DIZER O QUE ELE PEDIU! POR FAVOR, TENHA PIEDADE, SENHORA! — O prisioneiro gritou, em meio a lágrimas e à dor que sentia na perna, que, pouco a pouco, mais parecia carne moída.
A loira apenas riu, voltando à mesa para pegar algumas agulhas menores, mas extremamente afiadas. Parou em frente ao soldado, que implorava por misericórdia.
— Claro que pode dizer. Sabe, você vai falando, por mais que se negue. Uma hora, a dor vai ser demais para suportar. Você vai implorar para que alguém o mate, mas isso só vai acontecer quando você abrir a boca e contar tudo o que sabe. Até lá, você está preso comigo e, meu bem, eu sou pior que a morte.
Ayame falou com um sorriso que ia de uma ponta a outra do rosto, enfiando agulha por agulha nos dedos do homem, até que elas saíssem do outro lado. O homem gritava repetidamente, implorando para que ela parasse, mas ela agia como se não ouvisse nada de anormal. Continuou até que todos os dedos do homem estivessem cheios de agulhas.
Quando acabou, ela se afastou, recolhendo o chicote das pernas do homem, manchando até mesmo suas roupas delicadas de sangue. Então, calmamente, falou:
— Está disposto a falar agora? Ou vamos continuar a brincar? Saiba que o próximo lugar onde Uroborosu vai se prender será no seu peito… A dor vai ser muito mais prolongada do que uma simples perna. Então, como vai ser? — Ela perguntou, limpando o suor da testa.
O soldado, já extremamente ferido e sentindo uma dor incessante em seu corpo, chorou profundamente.
— Eu… eu falo, por favor, pare…
A loira pareceu não dar muita credibilidade às palavras do homem. Empunhou o chicote contra o peito dele, fazendo com que ele se prendesse e se enrolasse ao redor de seu corpo.
— Vamos jogar um jogo. Eu farei uma pergunta. Sempre que você mentir, Uroborosu vai cortá-lo. Se disser a verdade, nada acontece. Vamos começar com a primeira pergunta.
— O imperador já está ciente da existência do meu filho?
O homem respirou fundo e respondeu de forma direta:
— Sim.
O chicote não se apertou.
— Tsk. Quantos de vocês se infiltraram em minha casa?
— Não há mais ninguém. Eu fui o único que conseguiu se infiltrar com sucesso. — O chicote permaneceu parado. Ele estava falando a verdade.
— Quais são as intenções do imperador com o meu filho? — Ela perguntou, ansiosa por uma resposta.
— Eu não sei. — Ele respondeu, engolindo em seco, achando que o chicote não se moveria. Mas, no segundo seguinte, o chicote começou a se mexer, com suas estruturas ósseas se aprofundando na pele do homem, cortando como uma serra contra madeira.
— Sabe, aconselho a não mentir. Caso ainda não tenha percebido, isso não é um simples chicote. Minha arma foi forjada com a espinha dorsal de um Deus maligno de cabelos brancos e pele albina, o filho mais velho de Tsukuyomi. — A mulher explicou despreocupadamente, afinal, aquele homem logo seria morto após contar tudo o que sabia.
Ouvindo sobre a origem da arma, o homem não pôde deixar de tremer ao tomar conhecimento daquilo. De alguma forma, ele podia deduzir que ela não estava blefando — isso explicaria por que a arma se comportava de maneira tão estranha. Então, afinal, o que adiantaria mentir? Só tornaria o tempo antes de sua morte ainda mais doloroso…
— Ele… ele quer observar o crescimento do garoto e tentará levá-lo no momento em que a oportunidade surgir… Ele… ele disse que, se não pode ter a mãe, terá o filho… que esse é o direito dele. — Com a resposta do homem, o chicote se soltou no chão, e a voz da serpente ecoou ao lado de Ayame.
— Me diga, Ayame, o que fará agora que sabe disso? Iremos atrás da cabeça do imperador pelo pequeno Gonkuro? — Uroborosu perguntou com uma curiosidade genuína em sua voz.
— Vamos esperar, Uro-kun. Esperaremos para ver o que eles tentarão fazer. E, se necessário, mancharei meus cabelos de vermelho por meu filho. Enquanto eu viver, ninguém jamais o machucará, nem a ele, nem à sua futura irmã. — Ela respondeu, finalmente se virando e saindo da sala, onde um homem alto de cabelos levemente avermelhados a esperava, olhando para ela à espera de uma ordem.
— Livre-se dele. Eu irei sair agora; já conseguimos descobrir o que ele tinha de relevante para dizer. — A chefe ordenou, voltando a caminhar pelo longo corredor até finalmente sair do poço.
[…]
Em julho daquele ano, Ayame descobriu, após diversos mal-estares seguidos, que estava grávida novamente. Decidiu, então, deixar as investigações sobre o palácio imperial sob a total responsabilidade de seu marido, focando apenas em descansar pelo tempo que fosse necessário.
[…]
Em outubro, quando Daiki finalmente conseguiu se acalmar em meio às constantes vigílias para proteger o filho, que estava na mira do imperador, o casal optou por se retirar da capital. Deixaram os cuidados dos principais assuntos do clã sob a supervisão do ancião mais velho, que já estava acostumado, ao longo dos anos, a aconselhar e resolver questões do líder do clã desde os tempos do pai de Daiki. Com a saída da capital, o casal se preocupou em encontrar um local onde pudessem ter o bebê sem preocupações com ataques de humanos ou youkais.
Pensando nisso, eles seguiram pelo caminho utilizado secretamente para o transporte de mercadorias. Durante a viagem, que já durava cerca de duas semanas e parecia um tanto sem rumo, ouviam de vez em quando relatos dos mercadores sobre um médico milagroso que morava no alto de um templo escondido nas montanhas do Rei Cachorro Youkai.
Segundo os boatos, aquele médico aparecia ocasionalmente, voando pelas estradas à beira da montanha, ajudando velhos viajantes cansados que haviam adoecido durante a longa jornada. Após um tempo de conversa, tanto Daiki quanto Ayame decidiram dar uma chance aos rumores. Ter um médico milagroso para ajudá-los durante a gravidez de Ayame seria uma bênção e tanto.
E assim eles seguiram, mudando a rota que estavam tomando. Deixaram a carruagem e os cavalos para trás, adentrando a mata apenas com o que era realmente necessário. Viajaram por quase uma semana sem parar, enquanto Daiki carregava o pequeno Gonkuro em suas costas. Quando finalmente chegaram à beira a montanha, os três permaneceram em alerta máximo. Afinal, aquela era uma rota usada tanto por humanos quanto por youkais, e, em uma época de guerras, nenhum dos dois lados eram exatamente receptivos com viajantes.
Eles passaram quatro dias seguidos descansando em meio à mata, perto da estrada, esperando por qualquer sinal do tal médico — sem sucesso. Chegaram ao ponto de começar a se arrepender de ter vindo até ali, pensando que, no desespero de garantir uma gravidez tranquila para a família, acabaram caindo em uma mentira.
Sentada e encostada em uma árvore, Ayame descansava pesadamente. O tempo caminhando havia deixado calos em seus pés, e, de vez em quando, ela sentia cólicas que tornavam tudo ainda mais complicado.
— Daiki, se esse médico não existir, creio que teremos que pedir ajuda a algum dos viajantes que passam por aqui. Já nos arriscamos seguindo um boato; pedir ajuda seria o de menos. Ainda temos nossas armas, afinal. — Ela advertiu em um suspiro cansado, acariciando sua barriga.
— Eu sei disso, mas vamos esperar apenas mais alguns dias. Ainda temos comida, mas, se estiver realmente mal, podemos pedir ajuda. Não quero que nem você nem o Gonkuro fiquem doentes. — O homem suspirou, cansado pela viajem estava, enquanto permanecia deitado na grama, olhando para o céu entre as folhas das árvores.
Enquanto seus pais discutiam sobre o que fazer, o pequeno Gonkuro se divertia, andando entre as árvores, brincando e explorando o local. De vez em quando, usava suas habilidades ainda em desenvolvimento para pular até os galhos mais altos, sem preocupações, apenas observando os diferentes animais que conseguia ver ali.
Enquanto brincava, o pequeno youkai começou a notar uma movimentação estranha na copa das árvores. Algumas árvores à frente, ele viu um par de pés aparentemente na direção oposta à de seus pais. Movido por uma curiosidade irresistível, o menino não disse nada, apenas sorriu, concentrando-se e pulou em direção àquele ser, tentando alcançá-lo. No entanto, assim que pisou no galho onde ele estava, o ser desapareceu, reaparecendo alguns galhos à frente, seguido de uma risada descontraída.
Ouvindo a risada da criatura, o pequeno sol não pôde deixar de sentir que estava em uma brincadeira de pega-pega. Assim, pulando de árvore em árvore, o menino tentava alcançar aquela criatura, mas sem sucesso. Finalmente, ouviu uma voz nem tão grave nem tão aguda, tornando impossível dizer se era de um homem ou de uma mulher.
— Você é uma criança diferente. Estou curioso, pequeno youkai. Vou te dar uma chance de ganhar esta brincadeira. Tudo o que precisa fazer é voar até mim! — A voz disse animadamente. Logo em seguida, uma forte rajada de vento passou pelo pequeno Gonkuro, enquanto ele via dois grandes pares de asas subindo ao céu acima das árvores.
Ver aquele grande par de asas tão perto de si e subindo aos céus fez o menino rir alegremente. Era a primeira vez que ele via asas tão grandes de tão perto.
— Não ache que já ganhou! — O menino disse entre risadas, enquanto movia as mãos ao redor do corpo. Uma pequena névoa começou a se formar em sua cintura, até transformar uma nuvem dourada e brilhante. Em um impulso, o menino pulou do galho em direção ao céu.
Passando por entre as folhas das árvores, com o forte vento em seu rosto, a criança subiu até as nuvens. À sua frente, voando com um sorriso no rosto, havia um homem de cabelos castanhos curtos e bagunçados pelo vento. Ele usava brincos de jade em suas orelhas pontiagudas e vestia um hanfu alaranjado com detalhes em azul, vermelho e amarelo. Seus olhos cianos eram envoltos por sombras vermelhas e amarelas.
Ele riu ao ver que o pequeno menino realmente o havia o alcançado e, alegremente, voou até ele, pegando-o em seus braços.
— Você é realmente um youkai e tanto, criança! Um youkai nascido de dois humanos… Os pássaros me contaram tudo sobre você, pequeno Gonkuro. É um prazer conhecê-lo! Meu nome é Huo Liming, e acho que seus pais estão me procurando!
A criança pareceu ficar extremamente encantada com o homem. A última vez que havia visto alguém tão diferente foi na ilha onde conheceu o Nian Liu Guang.
— O que é você?! — Ele perguntou animadamente, sem se importar com o quão longe estavam do chão.
— Ha ha ha, o que eu sou? Eu sou o imperador dos pássaros, eu sou Fenghuang! Mas, para meus amigos, sou Huo Liming, o médico alado! — Huo respondeu animadamente, voando entre as nuvens com o pequeno Gonkuro até se aproximarem do local onde os pais do garoto estavam.
A sensação de voar era diferente de tudo que ele havia experimentado até então. E estar sendo levado por alguém aparentemente tão simpático tornava a experiência ainda melhor. Olhando para baixo, ele conseguiu até ver seu pai observando-o com uma expressão que, de longe, não conseguia compreender. Viu-o levantar-se rapidamente e até escorregar e cair.
— Huo-sama, você poderia nos ajudar? Minha Okaa-chan está grávida da minha irmãzinha, e viemos em busca de ajuda. Eu juro de dedinho que somos pessoas boas! — Ele perguntou, expressando a urgência com um misto de alegria e preocupação no rosto.
— Ha ha, não se preocupe, eu vou ajudá-lo, ou terei problemas com uma certa fera marinha por deixar o amigo dele na mão. — Ele respondeu rapidamente, descendo dos céus com o menino em uma velocidade impressionante. Parou de pé de maneira majestosa, com o pequeno Gonkuro equilibrado seus ombros. Quase como se tivessem ensaiado, ele usou suas asas para fazer uma reverência, enquanto o menino sorria e olhava para seus pais, que estavam um tanto assustados.
— É um prazer conhecê-los, senhor e senhora Furukawa. Meu pequeno amigo me disse que precisam de minha ajuda. Bem, estão com sorte, eu vou levá-los à minha casa, onde é seguro! — Huo Liming ofereceu, estendendo a mão para o casal. Ele se entreolharam e, quase ao mesmo tempo, assentiram em concordância. Ayame então se levantou e decidiu confiar no youkai que estava com seu filho. Ambos deram as mãos para Huo, que, com um sorriso que ia de uma ponta a outra do rosto, levantou voo mais uma vez, em direção a uma alta montanha inacessível por pontes ou por terra.
Ali, entre as nuvens, onde grandes pássaros voavam, um enorme templo estava localizado. Era um local de descanso, onde a caça entre as aves era estritamente proibida. O monte onde as almas dos mortos ascendem em direção ao descanso eterno. O monte onde o Templo do Imperador das Aves reside, junto ao humano que roubou seu coração tantos anos atrás. E foi nesse templo que a mulher que viria a ser a imperatriz entre o mundo humano e o mundo youkai nasceu, no dia dezenove de março de 1355, sob os cuidados de Huo Liming.
Naquele templo, a irmã do sol de Iwasakiyama nasceu: o lírio vermelho que domou o coração de um dragão.
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