Entre Espadas - Capítulo 43
Após um mês do nascimento do pequeno herdeiro do Clã Furukawa, o pequeno Gonkuro não apresentava nenhuma particularidade que o diferenciasse de qualquer outro bebê. Isso permitiu que Ayame e Daiki acalmassem os boatos que circulavam pela casa sobre o suposto nascimento sem vida do filho. Os poucos que sabiam a verdade foram forçados a formar um pacto para manter temporariamente em segredo as circunstâncias reais do nascimento do menino.
Aos olhos de todos, ele era apenas mais um bebê da família Katsura. Seus cabelos loiros, estranhamente claros, e os olhos verdes, semelhantes a belas jades recém-esculpidas, chamavam a atenção. Ayame, já praticamente recuperada do parto, carregava o pequeno Gonkuro em seus braços, vestindo trajes elegantes e adornada com acessórios de ouro. Ela o levava de um lado para o outro, como se estivesse apresentando o herdeiro ao seu lar. Em determinado momento, entraram em uma sala onde manequins de madeira estavam dispostos ao fundo, com armaduras e Katana penduradas nas paredes. Ayame caminhava lentamente pela sala, mostrando ao bebê, em seus braços, cada arma e armadura, como se estivesse iniciando-o desde cedo nos costumes e tradições do clã.
— Aqui, meu pequeno raio de sol, é onde sua mamãe faz seu pai se ajoelhar quando quer treinar um pouco. Ele pode ser todo forte e grande, mas lembre-se de que eu sou bem mais forte que ele. — Ayame falou animadamente, brincando com o pequeno bebê em seus braços, que ria enquanto ouvia a mãe.
Não demorou nem um segundo após terminar de falar quando Ayame sentiu duas mãos em sua cintura, puxando-a para trás. Daiki apoiou a cabeça no ombro dela e disse, em tom brincalhão:
— Já está manchando minha imagem para o nosso filho, meu lírio… Poxa, desse jeito, você acaba comigo. Não escute sua mãe, Gonkuro. Eu e ela temos a mesma força. — Ele distribuiu alguns beijos rápidos no rosto da esposa antes de mudar de assunto.
— Investiguei o que você havia me pedido. Quer que eu conte agora, ou devemos colocá-lo para descansar primeiro? — Daiki perguntou, ainda com um tom descontraído. Em seguida, posicionou-se à frente de Ayame e pegou o pequeno Gonkuro em seus braços, usando a mão livre para brincar com o filho.
— Não tem problema, deixe-o ouvir. Ele é apenas um bebê, além de ser nosso menininho. Não guardaremos segredos dele. Então, o que você descobriu? — Ela perguntou, aproveitando um pouco o fato de ter entregado o bebê para Daiki para esticar os músculos, que estavam começando a doer.
— Segundo o que meus homens no palácio me relataram, é exatamente como suspeitávamos: estava havendo troca de cartas entre a parteira que acompanhava sua gravidez e o imperador. O desgraçado estava enviando ervas para induzir o aborto do nosso filho, Ayame. — Ele completou sua fala com uma ira clara na voz, mas ainda tomando cuidado para não apertar seu filho em seus braços.
Ayame mantinha-se calma com a notícia, como se já esperasse por algo próximo a isso. Aproximou-se de Daiki, tocando sua bochecha e acariciando-a suavemente, enquanto descia o olhar para Gonkuro, que estava em seus braços.
— Certo. Felizmente, a Deusa impediu que ele tivesse sucesso no que desejava fazer. Nosso filho está bem, seguro conosco. Mas… iremos revidar aos poucos. Não deixe a raiva consumi-lo, meu amor.
Daiki respirou fundo, acalmando-se com o toque da mulher.
— Ok, estou calmo. Me diga, o que você quer fazer?
— Vamos deixar que eles acreditem que o Gonkuro está morto, que nosso filho nem chegou a nascer com vida. Assim, poderemos criá-lo com cuidado até que ele tenha idade suficiente para lutar suas próprias batalhas. Vamos ensinar ao nosso menino tudo o que sabemos. Enquanto isso, nossos soldados se infiltrarão cada vez mais no palácio. Derrubaremos o imperador de dentro para fora, ou morreremos tentando! Precisamos acabar com essa guerra para que nosso filho possa viver em um país que não precise esconder quem ele é.
Ouvindo atentamente o que sua esposa dizia, Daiki entendia a preocupação em treinar bem o pequeno Gonkuro. A Deusa havia revelado que, após o rapaz, eles teriam uma filha. Treiná-lo não era apenas para que ele se tornasse um guerreiro forte, como aqueles do clã, mas também para proteger sua futura irmã, caso eles viessem a morrer.
— Muito bem, mas também vou mimá-lo bastante, assim como farei com nossa futura caçulinha. Saiba que já comprei diferentes acessórios de ouro para você e para o nosso pequeno raio de sol… Mas acho que só servirão quando ele tiver pelo menos uns doze anos… Veremos. — Ele disse rindo, evitando prolongar o assunto que sua esposa havia trazido sobre os planos para o futuro, algo que ele preferia adiar o máximo possível. Então, entregou Gonkuro de volta para Ayame. O bebê ficava completamente quieto, quase dormindo, mantendo-se acordado apenas pelo movimento de ser trocado de um colo para o outro.
O ruivo pressionou seus lábios contra os de sua esposa em um beijo apaixonado e lento, trocando sorrisos bobos entre si. Quando finalmente se separaram, ele se agachou, pegou-a e a levantou em seus braços, carregando-a junto com o filho para fora da sala. As risadas dos dois acabaram assustando o pequeno Gonkuro, que chorou por um instante, mas logo se acalmou enquanto os três seguiam para o quarto. Ali, descansaram juntos, aproveitando cada momento daquela paz.
Algum tempo depois, quando Gonkuro completou um ano de idade, o pequeno já conseguia andar de maneira desengonçada de um lado para o outro e até correr. Ele havia aprendido a formar algumas frases simples e chamava seus com pais com facilidade. Sempre que Daiki voltava de uma missão que o mantinha longe de casa, o loirinho corria, entre risadas, para os braços do pai assim que o via, como se tivessem se passado anos desde o último encontro, mesmo que fossem apenas alguns dias. Com a mãe, não era muito diferente: ele a acompanhava para onde quer que ela fosse, seja aconchegado em seus braços, seja segurando sua mão com cuidado ao lado dela.
Aos seus dois anos, o pequeno Gonkuro já começava a apresentar algumas das características previstas por Hoshi. Suas orelhinhas ficaram levemente pontiagudas, e, durante a noite, Ayame às vezes o via dormir planando acima deles em uma pequena nuvem dourada. Ela precisava puxá-lo para baixo, com medo de que ele caísse. Naquele ano, os boatos sobre uma nova arma trazida do exterior para ser usada contra os youkais começaram a se intensificar, chamando a atenção de todo o povo. Todos se perguntavam o que o imperador estava planejando.
Para o Clã Furukawa, que agora estava bem-posicionado dentro do Castelo Imperial, esses boatos já não eram apenas rumores. Alguns dos soldados infiltrados por Daiki relatavam a mesma coisa: o imperador estava trazendo criaturas do inferno de outro país, seres sem alma e sem vida, movidos por uma fome insaciável. Além disso, o homem parecia estar ficando estranhamente mais jovem a cada dia que passava.
Algumas das empregadas do local chegaram a compartilhar que ouviram diretamente da boca do imperador seus planos para o futuro próximo: ele pretendia enviar Daiki diretamente para o campo de batalha, emboscá-lo em meio aos youkais e seus carniceiros, abrindo caminho para, finalmente, tomar a esposa do homem como sua concubina após a morte do marido.
O que o imperador certamente não esperava era que, por mais que tentasse, nunca conseguia encontrar um bom motivo para mandar o líder do Clã Furukawa para o campo de batalha. Sempre que era requisitado, Daiki parecia estar indisposto e enviava alguns de seus homens em seu lugar, frustrando todas as tentativas de assassinato que haviam sido planejadas.
Quando o pequeno terceiro general completou três anos de idade, ele já falava sem parar. Sempre seguia os anciões de sua família, buscando aprender cada vez mais. Afinal, ele nunca havia saído de casa; tudo o que conhecia estava dentro dos muros que cercavam as casas de sua família. Foi visitando e brincando com idosos que, mesmo pequeno, o garotinho lentamente se tornou um ótimo jogador de jogos de tabuleiro.
Quando não estava jogando com os idosos, ele estava sempre com um de seus pais. Às vezes, comia frutas descascadas pelo pai enquanto se sentava em seu colo, ouvindo histórias de batalhas que nem conseguia imaginar. Outras vezes, brincava no tatame com uma katana de madeira sem fio, enquanto Daiki fingia ser derrotado pelo filho, apenas para ver o sorriso no rosto dele. Gonkuro sempre corria para abraçar o pai, preocupado, perguntando se ele havia se machucado de verdade.
Outras vezes, ele estava com a mãe, aprendendo a ler mapas desde pequeno com sua ajuda. Pela pouca idade, é claro que Gonkuro não compreendia nem metade do que ela explicava, mas sempre prestava atenção, tentando entender. Ayame também se esforçava para ensiná-lo a falar e aprender outras línguas que ela já dominava. Aos poucos, o repertório vocal do pequeno Gonkuro começava a se expandir.
Em um dia comum, enquanto passeava com a mãe pelo quintal e brincava com algumas das flores do local, Gonkuro encurralou Ayame com perguntas, sentado no chão e distraído com a terra.
— Okaachan… por que as outras crianças não gostam de brincar comigo? — O menininho perguntou, observando algumas formigas que subiam pelas flores.
A pergunta, em um primeiro momento, pegou Ayame de surpresa, a fazendo se abaixar e sentar ao lado do filho.
— Oh, o que está acontecendo, meu amorzinho? Quem disse que elas não gostam de brincar com você? — Ela perguntou, com uma preocupação e carinho evidentes em sua voz.
— Eu os escutei, Okaachan. Eu estava indo até a casa dos tios quando ouvi um montão de gente falando sobre mim… que eu sou esquisito… que minhas orelhas são anormais… Eu sou um monstro esquisito, Okaachan? É por minha causa que nunca saímos de casa? — O loirinho choramingou, enquanto lágrimas escorriam de seu rosto à medida que desabafava para a mãe.
Vendo o filho chorar e ouvindo o que as outras crianças diziam sobre ele, Ayame o pegou nos braços em um abraço forte, acariciando suas costas para acalmá-lo. — Meu raio de sol, claro que não! Você é lindo, um menino tão bonzinho, inteligente e amoroso. Eles não sabem o que estão falando. Eles é que perdem por não quererem brincar com você. — Ela dizia, tentando confortá-lo enquanto ele chorava em seu ombro.
— Escute, era para ser uma surpresa, mas, como meu pequeno príncipe está tão triste, vou contar agora: no final deste ano, faremos uma viagem. Eu, você e seu pai passaremos seu aniversário em uma ilha bem, bem longe daqui. Há alguns vilarejos por lá, e quem sabe você não faça novos amigos? Além disso, existe uma lenda sobre um espírito protetor que só aparece para aqueles puros de coração. Quem sabe ele não aparece para você, meu bebê? — Ela contou, se levantando com Gonkuro ainda em seus braços, finalmente conseguindo acalmar seus soluços.
Somente após um longo tempo ela finalmente conseguiu acalmá-lo. Pelo resto daquele ano, Ayame ficou muito mais atenta à forma como seu pequeno menino era tratado, notando seu humor melhorar aos poucos. Quando dezembro finalmente chegou, a família logo vez as malas, com roupas para quase três meses. Saíram no início do mês em uma espécie de carruagem particular, viajando por duas semanas até uma cidade costeira do país. Daiki parecia muito familiarizado com o local, já que se tratava de um grande centro comercial de importação e exportação. Ele estava acostumado a ir até lá para receber roupas e joias de outras nações para sua esposa e filho.
Da costa, os três seguiram para um grande navio que Daiki já havia reservado com antecedência, junto com uma equipe de marinheiros de confiança. De lá, partiram em uma viajem que durou quase todo o resto do mês de dezembro, chegando à ilha apenas dois dias antes do Ano-Novo. Ao desembarcar, os três pararam em uma pequena vila costeira, onde almoçaram rapidamente antes de seguir para as montanhas. Durante o caminho, o pequeno Gonkuro ouvia murmúrios entre os locais sobre se esconderem na noite de Ano-Novo por medo de alguma fera. O menino, no entanto, não prestou muita atenção, correndo animado à frente dos pais, seguindo o caminho que eles indicavam.
Sabendo exatamente para onde ir, vez ou outra, entre alguns saltos, o menino parecia flutuar por um breve instante no ar antes de finalmente pisar no chão. A essa altura, o menino parecia um pouco maior, falava melhor e se destacava em relação às outras crianças de sua idade, mas ainda mantinha a inocência de uma criança prestes a completar quatro anos. No entanto, facilmente poderia ser confundido com uma criança de cinco ou seis anos. Aparentemente, ser um meio-youkai também o fazia crescer mais rapidamente em certos momentos.
Quando chegaram ao topo da montanha para a qual estavam caminhando, o pequeno Gonkuro se aventurou a explorar a casa onde ficariam. Era uma casa grande, com boa circulação de ar, localizada no meio de uma bela floresta de bambus. Nos dois dias que antecederam o Ano-Novo, a família manteve em uma rotina descontraída: passeios pela floresta, banhos nas termas no fundo da casa, jantares juntos e muitas brincadeiras com o pequeno Gonkuro, que há muito tempo não se divertia tanto.
Na noite de Ano-Novo, Ayame e Daiki dormiram assim que o sol se pôs. Ambos estavam extremamente cansados depois de brincar com seu filho até a exaustão e não conseguiram ficar acordados por muito tempo. Gonkuro, ainda estava acordado, sentado nos fundos da casa, observando os vagalumes que voavam entre os bambus. Ele ouvia a doce melodia trazida pela floresta durante a noite e, sem saber explicar por que, sentiu uma forte vontade de se aventurar pelo bambuzal. Queria brincar com os vagalumes, ver animais que não conseguia avistar durante o dia, e talvez, apenas talvez, encontrar outra criança como ele ali — outro “monstro”.
E assim ele fez. Em um salto, uma nuvem dourada apareceu em volta sua cintura, o fazendo flutuar para longe. Caminhando entre os bambus, o menino brincava, seguindo os vagalumes sem conseguir pegá-los, mas se sentindo estranhamente guiado por eles. Era como se os insetos se aproximassem de propósito, capturando a atenção da criança que ainda conheci tão pouco sobre o mundo ao seu redor.
Ele não sabia por quanto tempo estava pela mata. Provavelmente já estava longe o suficiente da casa onde se hospedava, e talvez fosse hora de voltar para o conforto de seus pais. Afinal, eles ficariam preocupados se notassem que ele havia saído. No entanto, assim que se virou para retornar, os bambus atrás dele pareceram se mover, chamando sua atenção de volta para o caminho que estava seguindo. Agora, havia uma passagem que levava a uma clareira repleta de vagalumes, que pareciam dançar no ar. E, vindo da clareira, o menino ouviu o que lhe pareceu ser o choro dolorido de alguém.
Com sua atenção capturada por esse detalhe, o loirinho decidiu adentrar a clareira. Os bambus atrás dele se fecharam, impedindo-o de mudar de ideia. Caminhando pela clareira, ele finalmente viu de onde vinha os sons doloridos que estava ouvindo.
Deitado entre os vagalumes, havia uma enorme criatura com escamas verde-escuras e um rosto felino, adornado por uma juba azulada em tons marinhos. Os pelos da mesma cor que se espalhavam por seu corpo, e dois grandes chifres pretos curvavam para trás. Sua cauda lembrava a de um peixe, embora tivesse quatro patas, o que tornava peculiar. A criatura estava de olhos fechados, gemendo de dor. Ao analisá-la de perto, Gonkuro viu grandes lanças cravadas em seu corpo, deixando rastros de sangue entre as escamas. Notando isso, a criança inocente se aproximou do rosto do monstro e se ajoelhou para olhá-lo nos olhos.
— Oi, gatinho grande! Eu sou o Gonkuro. Por favor, não me coma, ok? Você quer ajuda? — O pequeno perguntou, animado, colocando a mão no focinho da criatura. De repente, ela abriu os olhos, de um azul envolto em um suave lilás, e observou o jovem por um momento antes de acenar com dificuldade, indicando que precisava de ajuda.
Tendo recebido uma resposta afirmativa daquilo que apelidou de “gatinho grande”, Gonkuro se afastou e voltou até onde as lanças estavam cravadas. Levantou suas mãozinhas, e seus olhos brilharam em uma cor dourada, sinalizando a força excessiva que o menino parecia estar usando. A criatura, intrigada, observava pelo canto dos olhos o que ele estava fazendo, com certa surpresa em seu olhar. No meio dessa surpresa, uma forte dor surgiu em seus ferimentos quando as lanças foram arrancadas quase ao mesmo tempo e arremessadas para longe. A criatura não conseguiu conter um grito. Aquele pequeno humano havia usado energia espiritual — não apenas usado, mas também o salvara com ela.
— OOH! PRONTO, SENHOR GATINHO GRANDE! — Ele disse, correndo animado de volta para frente da criatura, que o olhava com uma curiosidade estranha. Com a criança diante dele, a criatura se forçou a levantar e se sentar de frente para o menino. Em uma comparação rápida, aquela criatura era muito maior que seu pai, pensou Gonkuro. E, em um piscar de olhos, a criatura desapareceu em uma nuvem de fumaça.
Em seu lugar, surgiu um homem de cabelos pretos ondulados com pontas azuladas como o mar, dois chifres curvados para trás e olhos azuis mesclados com lilás. Ele não usava camisa, e seu corpo era forte e musculoso, com braços marcados por cicatrizes. Seu peito e abdômen eram adornados por um desenho que lembrava ondas do mar. Vestia apenas uma calça longa e cinza de tecido simples. O homem olhou para a criança com um sorriso no rosto.
— Obrigado pela ajuda, Gonkuro, certo? — Ele agradeceu, bagunçando o cabelo do menino com a mão, que tinha unhas grandes e afiadas de cor verde.
Gonkuro ficou maravilhado ao ver aquele ‘gato’ se transformar em uma pessoa. Para ele , o homem parecia especial, assim como ele próprio, por ser diferente dos outros. Em um surto de animação, o pequeno pulou no ar, flutuando enquanto falava alegremente:
— A Okaachan estava certa! O gatinho era o espírito bondoso que só aparece para pessoas boas, não é?! — Ele perguntou, apressado, enquanto o homem se levantava, pronto para pegá-lo nos braços caso parasse de flutuar.
— Um espírito bom? — Ele perguntou rindo, segurando Gonkuro no ar para impedir que ele pulasse tão alto novamente.
— Sim! A Okaachan disse que você apareceria para mim, e uau, você se parece comigo!! Eu nunca vi alguém como eu antes! — O menino continuou falando animadamente, enquanto o homem que o segurava não entendia nada sobre a comparação de serem parecidos.
— Gonkuro, se acalme, ok? — O homem falou, colocando-o no chão e se sentando à sua frente. — Eu não sou um espírito bondoso, criança boba. — Ele finalmente disse, dando um leve peteleco na testa do menino.
Com o peteleco, o loirinho deu dois passos para trás, colocando a mão na testa finalmente prestando atenção.
— Mas, se você não é um espírito bonzinho, por que não me machucou?
— Oras, porque você me ajudou. Além disso, já comi o bastante, não tenho motivo para machucá-lo. E também estou curioso sobre você, pequeno solzinho. — Ele respondeu rapidamente.
— Curioso sobre mim? …Por quê?
— Porque você me parece diferente, pequeno.
— Mas eu não quero ser diferente. As outras crianças dizem que sou um monstro porque sou diferente e minhas orelhas são estranhas… Eu não gosto de ser diferente. — Ele respondeu rapidamente, como se tivesse ficado de mau humor com a resposta que recebeu.
A criatura não ficou muito feliz com o que Gonkuro disse.
— Tsk, não diga isso. Você parece completamente normal para mim. É claro que suas orelhas são pontiagudas — antes, achei que era só minha imaginação, mas você tem sangue youkai nas veias. Por isso é diferente. E ser diferente não te torna menos, te torna único e especial, como eu. — Ele falou, tentando de animar o pequeno. Enquanto ainda sentia dores das feridas que se curavam, deitou-se na grama e olhou para o céu, sabendo que aquela criaturinha curiosa ainda estava ali, observando-o em silêncio.
Mas, no instante seguinte, lá estava ele novamente, agora ajoelhado acima da cabeça de Liu, olhando para baixo.
— Qual é o seu nome? — A criança perguntou, um pouco envergonhada por ter conversado tanto tempo sem nem ao menos perguntar o nome do ser com quem estava falando.
— Meu nome é Liu Guang, mas pode me chamar de Liu, sem formalidades. Só porque você me ajudou, pequeno sol. Mas não deve contar sobre mim para ninguém. — Liu disse com um sorriso no rosto. Fazia tempo que ele não interagia tanto com outro ser vivo.
Agora, o pequeno Gonkuro parecia até mais confortável e feliz enquanto conversava com o seu novo amigo.
— Liu, eu posso tocar nos seus chifres? — Gonkuro pediu, animado, se sentando um pouco acima de onde ele estava deitado.
Liu Guang não pôde deixar de rir com o pedido inusitado, mas entendia a curiosidade daquela criança. Afinal, Gonkuro nunca havia visto uma criatura semelhante a ele em sua vida. Ele se levantou de onde estava e olhou para o menino, que permanecia sentado.
— Venha aqui.
Gonkuro se levantou e foi até ele, obedecendo sem questionar, o que deixou Liu um pouco preocupado com o quão liberais os pais dele poderiam ser. Mesmo assim, pegou o pequeno em seus braços e o colocou sentado em seus ombros.
— Pode segurar meus chifres agora. Apoie-se neles. Vou levá-lo para passear pela ilha, se você quiser, claro.
Como qualquer criança que nunca teve alguém para brincar ou levá-lo a outros lugares, Gonkuro ficou animado e agarrou-se com força aos chifres do Nian. — Quero! Para onde vamos?
— Os vagalumes o trouxeram até mim, certo? Vou lhe apresentar aos outros youkais que vivem aqui. Mas não me solte. Não confie neles; confie apenas em mim. Só eu posso garantir que não vou machucá-lo, entendeu pequeno sol? — Ele terminou de falar com calma, colocando as mãos nas pernas do menino para que ele não caísse enquanto caminhavam.
Pelo resto daquela noite, Gonkuro viveu a melhor experiência se sua infância. Liu o levou para diversos lugares da ilha, o apresentando a raposas, tanukis, kappas, e outros espíritos e youkais que viviam naquela floresta. No entanto, nunca o deixando descer de seus ombros ou ser tocado por qualquer um deles, cuidando para que ele não se machucasse. De maneira sincera, Gonkuro nunca havia se divertido tanto. Nunca ninguém, além de seus pais, havia dedicado tanto tempo para brincar e passear com ele. No fundo do coração, ele desejava que aquela noite nunca terminasse, mas sabia que precisava voltar para casa. Surpreendentemente, pouco antes do sol começar a nascer, ele se viu nos fundos da casa em que estava hospedado, enquanto Liu o tirou de seus ombros e o colocou no chão.
Ele sorriu, bagunçando o cabelo de Gonkuro mais uma vez.
— Está na hora de nos despedirmos, meu pequeno sol. Espero ter lhe mostrado um lado bom em ser diferente, ou, como os humanos dizem, em ser um “monstro”. — Finalmente, ele se virou, prestes a voltar para a mata, mas rapidamente sentiu sua calça ser puxada.
— Espera, Liu! Eu posso vê-lo de novo, no dia cinco deste mês, antes de eu ir embora? É meu aniversário, e você… é meu primeiro amigo. Quero vê-lo no meu aniversário, por favor. — Ele pediu, um pouco sem graça.
Liu Guang se virou para ele, se ajoelhando para ficar na altura do menino. Estendeu a mão completamente aberta, emitindo um pequeno brilho que deu lugar a um colar em formato de um coração anatomicamente correto. Ele o colocou no pescoço do pequeno Gonkuro.
— Escute, sabe por que o chamo de sol? Porque, quando usou sua energia para me ajudar, seus olhos e seus cabelos loiros brilharam como o próprio sol. Quando crescer, tenho certeza de que muitos dirão o quão lindos são seus cabelos. Mas não deixe que qualquer um o encante com elogios, Gonkuro. Estou te dizendo isso porque não nos veremos por um longo tempo, mas não fique triste.
— Esse colar que estou lhe dando será seu presente de aniversário. Nunca o tire, cuide bem dele. Quando quiser se lembrar de mim, segure-o entre suas mãos, e será como se eu estivesse ali para te fazer companhia a você, meu amiguinho. E, se um dia precisar de mim, se estiver em perigo, aperte-o e chame por mim. Peça socorro, e eu virei. Mesmo que não se lembre mais de mim, eu ainda virei, entendeu? Só nunca o quebre, ou eu morrerei, e aí nunca mais poderá me ver, meu raio de sol. — Ele disse com um sorriso sincero, entre algumas risadas. Por fim, deu um último abraço na criança que o havia salvado e, em um piscar de olhos, desapareceu com o início do nascer do sol.
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Notas: Para deixar claro, o Liu não nutri nenhum sentimento romântico ou atrativo pelo Gonkuro enquanto ele é uma criança, ele apenas o vê como um garoto divertido e bobo.
Editora: O Kuro sendo um neném com um amigo “gatinho grande” foi tudooo! O Kuro sendo a luz do fim do túnel do Liu T-T
Autor: É o sol dele amem!!
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