Entre Espadas - Capítulo 18
- Início
- Todos Projetos
- Entre Espadas
- Capítulo 18 - A flor de lotus que desabrocha entre os treze
Enquanto isto ao mesmo tempo no portão principal do castelo.
Após uma longa conversa com Jo Shihei, Masaru havia finalmente resolvido todos os assuntos que realmente precisavam de sua atenção naquele momento. Ela deixou seu discípulo para conferir como estava o segundo general esta manhã, já que provavelmente ele ainda não iria querer vê-la. Ao fazer isso, saiu para acompanhar o quinto general até os portões do castelo, onde os dois estavam parados lado a lado em completo silêncio, antes de Shihei, por fim, quebrar tal silêncio:
“Acho que a senhora nunca me contou como o garoto Toyosaki se tornou seu discípulo, Masaru-Sama. Havia boatos que não tomaria nenhum discípulo por um longo tempo… esses boatos eram falsos?” O jovem perguntou de maneira desinteressada enquanto mexia em seu próprio cabelo como se fosse uma espécie de hábito inconsciente.
Masaru, por sua vez, parecia até mesmo um pouco surpresa com a pergunta do jovem ao seu lado. No entanto, logo se virou para ele com um sorriso gentil no rosto e respondeu à pergunta: “Bem, isso era verdade até oito meses atrás, quando eu pensava que nenhum outro ser existente poderia sequer tentar chegar ao meu nível de poder. Mas digamos que meu discípulo mesquinho tem o dom de frustrar os limites impostos sobre os outros.”
“Eu não sei se compreendo o que quer dizer, mas imagino que não vai me contar mais do que isso, não é?” O general perguntou, mesmo que já soubesse a resposta para esta pergunta.
A Xogum, por sua vez, riu ao notar que seu general já a conhecia tão bem. Antes de respondê-lo, pôde sentir algumas gotas de chuva caírem em sua mão, o que por algum motivo a fez ponderar por alguns instantes sobre o que falar. No entanto, logo voltou a si, colocando a mão na cabeça de Jo Shihei, e falou sorrindo: “Bem, posso te dizer que quando tudo começou, estava chovendo como neste momento. A única diferença é que já era noite… agora vá e lembre-se, tome cuidado, Shihei-kun. Não quero que se machuque.”
E assim, por fim, a grande Xogum se virou e estava prestes a voltar para dentro do castelo. No entanto, por algum motivo que nem ela poderia entender, ela parou por um instante. “Tudo o que precisam saber, Shihei, é que meu discípulo é como uma flor de lótus que irá desabrochar entre vocês.” Por fim, ela partiu para o interior do castelo, enquanto o quinto general se retirava.
Oito meses atrás, em uma noite chuvosa.
“Naquela noite, um massacre havia acontecido. Era a noite em que Ryo havia sido trazido à força para a capital e tivera suas memórias retiradas devido a uma mentira de Masaru. Neste momento específico, Gonkuro havia acabado de devorar as memórias de Ryo, o qual desmaiou no chão logo em seguida. Após fazer tal coisa, o terceiro general, ainda utilizando sua máscara, finalmente a retirou, revelando seu rosto, quando percebeu que o garoto estava desacordado.
“Não sabia que fazíamos isto agora.” Ele dizia enquanto se agachava e pegava o jovem em seus braços, levando-o para deitar em um dos sofás da sala.
Masaru, por sua vez, ainda com um rosto extremamente sério, respondeu com certa hesitação: “O que exatamente quer dizer com isto irmão?”
Quando, por fim, acomodou o garoto no sofá, o general se virou para o local onde sua Xogum estava e começou a falar de forma acusativa: “A senhora sabe o que quero dizer. Mentir para um garoto inocente, dizendo que quem ele ama está morto, e enviar um dos nossos direto para a morte. Não sabia que somos assim agora. Vou me certificar de não esquecer de tal fato.”
Ouvindo o tom áspero com o qual Gonkuro estava falando, a mulher se levantou de seu assento e desceu os degraus que os separavam até ficar frente a frente com ele: “Isso não é justo. Ambos sabemos que este garoto poderia se tornar um perigo para todos nós no futuro. Além disso, não enviamos ninguém para a morte; isso foi apenas um acidente, Gonkuro.” A mulher falava com calma e complacência, quase como se tentasse convencer a si mesma de tais certezas.
“Exatamente, Masaru, poderia se tornar, mas ele ainda não representava nenhum risco a ninguém. Mais pessoas tiveram que morrer por causa de um risco futuro?!” À medida que falava, o homem começava a levantar sua voz para Masaru de uma maneira até mesmo agressiva.
Ao vê-lo levantar a voz, Masaru, sem perceber, começou a se exaltar em suas falas: “Não aja como um hipócrita, Gonkuro. Você concordou com tudo o que eu disse que faria sem ao menos pestanejar. Não venha agir como um santo agora só porque—” Ao perceber o que estava prestes a dizer ao próprio irmão…
“SÓ POR QUÊ, O QUÊ, MASARU? ANDA, FALA! O QUE QUER DIZER?!” Gonkuro gritou, sabendo o que Masaru estava prestes a falar. Aos poucos, perdendo o controle sobre suas próprias emoções, ele começou a chorar em meio aos seus gritos de raiva.
“POR QUE MEU DISCÍPULO MORREU DEVIDO AO SEU PLANO? PERDOE-ME, ESQUECI QUE ISTO É APENAS ALGO TRIVIAL PARA A NOSSA TODA-PODEROSA XOGUM.” Conforme Gonkuro gritava para Masaru, uma pequena massa de névoa dourada começava a se formar sob seus pés.
Ouvindo os gritos de Gonkuro, Masaru ficou momentaneamente sem conseguir reagir a nada do que ele estava falando. Era difícil acreditar que, em todos esses anos que passaram juntos, esta era a primeira vez que ela havia feito seu irmão chorar. “Gon… não, eu não… isto não é trivial, mas por favor, entenda, meu irmão, não havia nada que poderia ser feito. É claro que isto não estava em meus planos… por favor, irmão.”
“Masaru, havia sim algo que você poderia ter feito, mas não serei eu a te falar isso…” Em meio às lágrimas e à decepção estampada no rosto de Gonkuro, aquela névoa dourada agora se espalhava por todo o quarto, adentrando na respiração de ambos, que viram o ambiente ao seu redor ser desfeito e reconstruído como o quarto de Masaru.
“Você…” Ela estava prestes a protestar quando se deu conta de que era tarde demais para falar qualquer coisa. Lá estavam eles em uma das paisagens oníricas de Gonkuro. “Gon, desfaça isso agora. Eu sei o que pretende com isso e não funcionará.”
“O que exatamente não funcionará, minha esposa?” Uma voz grave e suave soou atrás de onde Masaru estava, e ela pôde sentir uma presença se aproximar até sentir o toque suave das mãos daquela pessoa sobre seus ombros.
Ao ouvir aquela voz atrás de si, Masaru sentiu um arrepio percorrer todo o seu corpo e se virou de uma vez, vendo finalmente quem estava atrás dela: “Seiryuu…”
E lá estava ele, um homem alto, de quase dois metros de altura, com uma pele tão pálida quanto as nuvens no céu, exceto por seus braços e mãos, que possuíam uma coloração de um azul turquesa que se escurecia quanto mais próximo do antebraço. Em seu rosto, o que mais se destacava eram suas orelhas grandes e pontiagudas, sem contar seus olhos, que podiam ser comparados a duas turmalinas indigolitas. Por fim, em sua testa, duas pequenas galhadas completamente brancas de chifres, que possuíam um contraste inimaginável com seu curto e bagunçado cabelo preto: “Acho que precisamos conversar, meu Lírio…”
Seiryuu estava claramente irritado. Ela podia perceber isso pelo simples fato de que ele estava completamente sério e sem demonstrar um mínimo sorriso em seus lábios. Antes que ele pudesse falar algo, Masaru o cortou enquanto olhava para ele e depois para Gonkuro. Ambos estavam bravos, para dizer o mínimo.
“Eu não preciso escutar um sermão de vocês dois. Gon, me tire daqui agora.” Ela dizia, se afastando de Seiryuu. Aquela situação claramente a estava deixando desconfortável, mas, sobretudo, o que mais a incomodou foi o silêncio de Gonkuro diante de seu pedido. “Terceiro General, me tire daqui imediatamente. Isto é uma ordem.”
“Não.” Gonkuro respondeu, se afastando e se sentando na cama ao longe, com o rosto abaixado. De longe, Masaru pôde ver que ele continuava chorando, mesmo sem entender o porquê. Afinal, o que aquele garoto significava para ele? Naquele instante, ela sentiu a necessidade de tentar tomar a frente e se aproximar de onde seu irmão estava, mas, assim que iniciou seus passos, foi impedida por Seiryuu, que parou na sua frente.
“Masaru, você não está em posição de dar ordens nem a mim, muito menos ao seu irmão no momento. Sente-se, iremos conversar.” Seiryuu falava de maneira curta, mas não grosseira. Ele sabia que não se perdoaria se fosse grosseiro com sua esposa. Após falar e ter certeza de que falou de maneira adequada, ele tomou a frente, sentando-se na mesa que ficava no centro do quarto dela, e esperou até que ela se sentasse também.
Quando, por fim, os dois estavam sentados frente a frente, por algum motivo, ambos se olharam em completo silêncio por algum tempo, até que, por fim, Seiryuu começou a falar: “Minha esposa, vejo que ainda não consegue compreender o quão prejudiciais suas ações se mostraram ser, não apenas para nós, mas também pelo que seu ato pode significar aos olhos do povo.”
“Eu…” Masaru pareceu se perder em meio aos seus pensamentos antes de responder a ele e, por fim, concluiu: “Eu fiz o que foi necessário. Eu entendo que resultou em uma perda para nós, mas meus atos também evitaram que uma possível catástrofe se formasse no futuro.”
“Ambos sabemos que isto não era necessário, não irei falar como alguém sem culpa nesta situação pois ambos sabemos que realizei o ataque a vila como ordenado, mas também sabemos desde o início qual era minha opinião sobre isto.” O homem continuava a falar de maneira calma e comportada enquanto aos poucos formulava para si mesmo o que falaria.
“Além disso, se perceberem que este ataque ao terceiro distrito veio da capital, ou melhor dizendo, foi executado pela própria Xogum devido a uma mera superstição, você perderia o respeito e a confiança do povo.” Enquanto Seiryuu continuava calmo, aconselhando Masaru e apontando com cautela as consequências que seus atos trouxeram e poderiam trazer mais adiante, Masaru parecia perder cada vez mais a compostura e a paciência.
“Por que eu deveria me importar se eles perderiam o respeito que têm por mim?! O que faço visa o futuro desta nação, um futuro sem guerras. Mesmo que neste futuro eu seja temida, ainda seria um futuro melhor!” À medida que falava, sem perceber, ela havia começado a levantar sua voz para Seiryuu, que permaneceu com uma expressão calma em seu rosto e esperou até que ela terminasse de falar.
“Ainda seria um futuro melhor se, nesse futuro, você estiver sozinha meu lírio?” O tom da pergunta de Seiryuu era de uma real preocupação que, ao mesmo tempo, parecia como um aviso. Tal aviso com certeza trouxe um impacto a Masaru, pois ele pôde ver claramente suas pupilas ficarem cada vez menores. Ele sabia que havia tocado em um tópico sensível para ela, mas era preciso.
“O-O que… por que dizer isto de repente? Eu não estarei sozinha. Você, o Gon, os generais… eu ainda teria vocês.” Só então, pensando sobre tal perspectiva onde estaria sozinha, ela pareceu entender o que Seiryuu queria dizer. “Vocês ainda estariam comigo, não é…?”
O homem suspirou antes de continuar a falar: “Claro, nossa presença ainda seria certa, mas nossa confiança em você seria perdida. Minha amada, por favor, entenda que, acima de tudo, o mais importante em uma família é a confiança. Eu, você e o Gonkuro, principalmente nos três, acima de todos os outros, somos uma família. Masaru e o que você fez… mesmo indiretamente, você é responsável pela morte de alguém a quem ele amava… isto doí mais para ele do que para qualquer um, Masaru…” Enquanto ele continuava a falar, ele se levantou e se moveu para o lado de Masaru, se sentando ao lado dela.
“Pense assim, sobretudo para ele, você é a irmã que ele escolheu para toda a vida. Sabemos que a vida de um youkai é muito longa. Coloque-se no lugar dele e imagine como seria ver a pessoa com quem você possui uma relação tão próxima ser responsável pela morte de alguém tão importante. Ele deveria odiá-la, mas isso é impossível para ele, Masaru…” Ele continuava a dizer, ainda calmo, enquanto olhava para Masaru e depois para Gonkuro ao longe. Antes que pudesse dizer algo, sua fala foi interrompida por Masaru.
“Se é realmente esse o caso… por que seria impossível para ele me odiar?” A mulher perguntou, com os olhos já marejados, olhando na direção de onde Gonkuro estava.
“Porque, acima de tudo, meu amor, para ele você ainda é, e sempre será, a sua amada irmãzinha.” Ele pôr fim concluiu sua fala, sabendo que ali sua tarefa estava feita. Com certeza, Masaru havia entendido o que ele queria dizer e o que ela deveria fazer.
A fala de Seiryuu realmente fez com que Masaru, em partes, entendesse onde ela havia errado na maneira como estava tratando tal assunto com Gonkuro. Por perceber isso, ela olhou mais uma vez para Seiryuu e se levantou: “Eu entendo… obrigada, meu marido.”
Com essas últimas palavras, a mulher caminhou em direção a onde seu irmão estava. No entanto, havia algo estranho. Por algum motivo, ela parecia não sair do lugar, o que a deixou confusa. Mais uma vez, ela olhou para Gonkuro, mas dessa vez havia algo errado. Ele parecia estar… derretendo? Percebendo isso, Masaru estava prestes a gritar algo para Gonkuro quando, por fim, ela e Seiryuu desapareceram daquele ambiente.
Para Gonkuro, que ainda estava na cama em meio às lágrimas, demorou alguns segundos até perceber o repentino silêncio que havia sido feito na paisagem que havia criado. Quando percebeu, ele levantou os olhos e olhou em volta: “O que está acontecendo?”
Olhando para a paisagem que havia criado, ele ficou espantado ao ponto de se recompor rapidamente. Segurando as lágrimas em seus olhos, por algum motivo, aquela perfeita paisagem, aquele perfeito sonho que havia criado, estava se desfazendo. No entanto, não como deveria. Era como se tudo naquela paisagem fosse como um quadro recém-pintado, o qual foi desfeito e derretido pela água em contato com o quadro.
Aquela visão de sua paisagem se desfazendo e tomando uma nova forma abstrata e repleta de cores era como se a pessoa que havia criado tal imagem tivesse enlouquecido e perdido totalmente a capacidade de discernir o real do imaginário. Essa era a única maneira de uma imagem tão estranha ser formada. “Mas eu não estou louco… espera… não sou eu que está fazendo isso… o garoto?!”
Quase como se respondesse à dúvida de Gonkuro, a antiga imagem enfim se desfez. Aos poucos, aquela nova imagem coberta de diferentes cores parecia se misturar constantemente, deixando Gonkuro um tanto tonto. Até que, por fim, tudo ficasse completamente branco ao ponto de doer os olhos. Em meio a esse vazio branco, Gonkuro pôde ver ao longe Ryo ajoelhado, olhando para baixo.
Vendo-o de longe, Gonkuro lentamente tentou se aproximar. No entanto, mais uma vez, ele parecia não se mover do lugar onde estava. Percebendo isso, ele sabia que isso se devia à maneira como seu emocional se encontrava no momento. Afinal, sendo seu sonho ou não, esses ainda eram os domínios do Youkai devorador de sonhos. “Certo… se acalme, Gon. Você terá tempo de sobra para sofrer quando sair daqui…”
Só então, depois de se acalmar de maneira adequada, ele voltou a andar. Agora, finalmente conseguindo se aproximar lentamente de onde Ryo estava. Quanto mais próximo ele chegava, melhor conseguia ver como o garoto estava. Ryo parecia segurar algo em seus braços, e toda aquela aquarela de cores que havia visto estava fluindo de todo o corpo do rapaz como um rio. No entanto, ao chegar ao chão, aquela imensidão incolor continuava intacta.
“O que… o que está tentando fazer, garoto?” Gonkuro perguntou, falando de maneira consideravelmente alta, quando já estava a pouca distância de Ryo. Finalmente, agora podendo ver o que estava em seus braços, Gonkuro ficou perplexo.
“Isto… é uma pessoa?” Havia um homem nos braços de Ryo, ele tinha cabelos pretos curtos e bagunçados, o tom de sua pele era de um castanho claro levemente bronzeada, e usava uma roupa estranha, na visão de Gonkuro, com certeza não eram roupas deste país.
Ao se aproximar mais, agora estando bem atrás de Ryo, Gonkuro pôde ver claramente: o garoto estava totalmente agarrado a este outro e sussurrava constantemente a mesma frase: “Eu menti, eu não quero esquecê-lo, não o leve… eu quero voltar para casa com você, meu amor…”
Ouvindo as palavras de Ryo, Gonkuro conseguiu entender instantaneamente. Este deve ser o amante deste rapaz, aquele sobre o qual Masaru mentiu sobre a morte. Quem diria que as memórias desse garoto sobre o rapaz em seus braços fossem tão fortes ao ponto de impedir que fossem devoradas junto com as outras. Isso era inegavelmente algo raro de se ver. No entanto, Gonkuro precisaria devorar essas lembranças também para ter certeza de que Ryo não os trairia em um futuro distante. “Perdoe-me, garoto, mas você deve esquecê-lo também.”
Ao dizer isso, Gonkuro estava pronto para terminar o que havia começado algumas horas atrás. No entanto, assim que levantou suas mãos em direção a Ryo, ele sentiu o chão abaixo de si se tornar líquido e prender a metade de baixo de seu corpo. Isso o assustou, fazendo-o perder a concentração e impedindo-o de fazer qualquer coisa. Como se essa situação já não estivesse estranha o suficiente, o jovem, que aparentava estar alheio à presença de Gonkuro ali, finalmente olhou para ele e disse: “Se tirá-lo de mim, eu juro que te matarei.” O rosto do garoto parecia sem vida ao responder ao segundo general, mas, em contraste, o lugar parecia manifestar os pensamentos do jovem à frente.
Nas paredes daquela paisagem, como rabiscos de uma criança, diversas frases começaram a se manifestar: ‘Mate-o’, ‘Não deixe que o levem embora’, ‘Leonardo está morto’, ‘Ele está morto’, ‘É minha culpa’, ‘Eu o perdi novamente’, ‘Ele morreu por minha culpa’, ‘Eu deveria estar morto’, ‘Não me deixe sozinho’.
Eram apenas algumas das diversas frases que, aos poucos, preenchiam aquela imensidão incolor. Um contraste. Gonkuro sabia exatamente o que aquele contraste representava: culpa, raiva, medo, luto.
Isso era cruel demais, até para ele. Estava levando um jovem à loucura com a perda de quem ele amava, por uma necessidade de sua irmã… Ninguém deveria sofrer assim. Tanta dor. Ele sentiu isso quando devorou as memórias de Ryo. Uma dor tão grande. Mas de onde vinha tamanho sofrimento? Nesse momento, ele ansiou por mergulhar profundamente nas memórias de Ryo e descobrir a origem dessa dor. No entanto, tudo parecia tão pessoal, tão inapropriado para ser visto levianamente. Ele não faria isso. Devolveria essas memórias. Mas também precisava cumprir as ordens de sua irmã, mesmo que, no momento, preferisse frustrá-la. Teria tempo suficiente para fazer isso quando despertasse.
“Essa é realmente uma situação irritante… Se eu tentar pegar o restante dessas memórias, parece que serei preso aqui…” O homem suspirou lentamente, pensando em uma solução que agradasse a ele, Masaru e ao jovem Ryo. Até que, finalmente, depois de quase três minutos, ele conseguiu chegar a uma decisão.
“Certo, isso pode dar certo…” Ele sussurrou para si mesmo e, enfim, olhou para Ryo, que se mantinha agarrado ao homem em seus braços, mas olhava fixamente de maneira agressiva para Gonkuro. “Escuta, garoto, se eu devolver suas memórias e apenas trancá-las temporariamente, você poderia me soltar? Prometo garantir que possa recuperar suas memórias posteriormente e prometo garantir a segurança dessa pessoa importante para você.”
Ouvindo as palavras de Gonkuro, aquela versão de Ryo pareceu compreender o que ele dizia. Aos poucos, o homem foi tirado de dentro do chão, o que claramente deveria ser um sinal de que concordava com a oferta feita por Gonkuro.
E ele havia entendido a concordância do rapaz sobre essa questão. Então, respirando fundo, enfiou a mão dentro de sua própria barriga, de onde retirou uma espécie de orbe violeta, semelhante aos olhos de Ryo. Aquelas eram as memórias dele. Ao pegá-las, Gonkuro pareceu se perder por um breve momento antes de levá-las perto da boca e sussurrar algo que este Ryo não pôde entender. Enfim, o homem desapareceu daquele local, ouvindo pela última vez antes de acordar a voz do subconsciente de Ryo dizer uma simples palavra, mas que abalou o general: “Obrigado…”
O que Gonkuro não havia contado a Ryo era que ele havia imposto uma condição para que pudesse se lembrar. Uma condição que pensou assim que tocou as memórias de Ryo para devolvê-las: ele precisaria encontrar alguém de seu sangue que já havia morrido, sua irmã mais velha, Kaede Toyosaki.
E, por fim, Gonkuro acordou. Lá estava ele, caído sobre os braços de Masaru. Quando abriu os olhos de uma vez, de maneira ofegante, aos poucos se levantou com a ajuda dela. Expressando sua preocupação, Masaru perguntou: “Gonkuro, o que houve? Em um segundo, estávamos lá, e eu estava indo até você. De repente, estava de volta ao salão, e você caiu…”
Masaru parou de falar quando viu Gonkuro se afastar instantaneamente ao se levantar e ir em direção à porta para se retirar. Ele parou bem em frente à porta antes de abri-la e falar sem sequer olhar para ela: “Não pense que estamos bem, não estamos. Mas devo dizer que vejo potencial no jovem Toyosaki. Se deseja meu perdão, comece fazendo dele seu discípulo. Afinal, ele foi o primeiro a conseguir tomar controle da minha paisagem onírica, mesmo sem consciência disso.” E, por fim, com essas últimas palavras, o homem se retirou do salão, deixando apenas Masaru e Ryo ali.
Masaru então virou seu olhar para onde Ryo ainda estava adormecido e o observou com curiosidade ao escutar o que seu irmão havia falado: “Então eu estava certa… ele realmente se tornou perigoso…”
————————————————————————————————————————
Notas: Caso estejam se perguntando “onde está o Seiryuu e por que só o vemos como arma fora da paisagem onírica?”
Lembrem-se que a Masaru é uma pactuada e que o Seiryuu está dentro de sua arma o que faz com que ele só possa tomar essa aparência humanoide em um local como a paisagem onírica que se trata de uma paisagem dentro de um sonho criado pelo Gonkuro!
Publicado por:
minhas outras postagens:
COMENTÁRIOS
Sua Comunidade de Novels BL/GL Aberta para Autores e Tradutores!
AVISO: Novos cadastrados para leitores temporariamente fechados. Se vc for autor ou tradutor, clique aqui, que faremos seu cadastro manualmente.